Madelines Eyes escrita por Paula C


Capítulo 3
Capítulo 3 - Minha Responsabilidade




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Eu estava bastante curioso para ver como seriam as aulas de Madeline para aquelas crianças. Não posso negar também estar com um pouco de medo. Mesmo acreditando profundamente que aquela doce garota, embora não batesse bem da cabeça, não faria mal a ninguém. 

 

Na verdade, a palavra "responsável" pesava bastante. Ser responsável de mim mesmo já é um baita trabalho, imagine ter de tomar conta de Madeline também. 

 

Eu também não conseguia imaginar como seria ela dando aula. Eu a vi timidamente dedilhar seu pequeno violão no palco. Não a culpo, Peter é bem intimidador. E também não queria imagina qual seria a atitude das crianças. Já vi como os filhos de Joe e Shannon podem ser malvados. 

 

Outro dia vi Lyla queimando uma formiga com cera quente de vela. Eu a vi olhar para a formiga, vendo seu sofrimento! E Brendan? Bem, Shannon conta sempre a Emily que ele já perdeu três porquinhos da índia. Eu prefiro não pensar no que ele fez com aquelas pobres criaturas. 

 

A primeira aula de Madeline seria na quarta-feira, hoje. Pouca gente vem a igreja esse dia da semana. Por tanto, além de responsável por Madeline, também era responsável pela porta do complexo da igreja, onde estava o auditório em que minha responsabilidade daria aula.

 

Assim que virei a esquina da rua, vi uma garota sentada na escadaria de entrada, com a cabeça deitada no joelho e os longos cabelos castanhos ondulados caírem de forma que eu não pude ver suas pernas, apenas o seu all star azul surrado. 

 

Ao seu lado, Madeline apoiara seu violão e sua mochila caia aos seus pés. Ela brincava com um graveto fazendo círculos no chão de cimento fresco. 

 

Estacionei meu velho Corcel II logo em frente e corri ao seu encontro. 

 

- Perdão, Madeline pelo meu atraso. Eu sou muito lerdo no volante. - eu disse me apressando a encontrar a chave da porta. 

 

- Não tem problema. - ela me respondeu, levantando-se. - Não estou aqui há muito tempo. 

 

Olhei para seu rosto e vi um sorriso leve de compreensão. Eu sorri de volta. 

 

- Lembra de mim, não é? - disse eu ao finalmente abrir a porta. 

 

- Como poderia esquecer? - disse ela me acompanhando pelos corredores. - Você quem me ajudou aquele dia com aquele cara mal-humorado. Só não me lembro de seu nome. 

 

- Sou David. Mas você pode me chamar de Dave. - eu estendi a mão para ela apertar, só que não havia reparado que ela ficara para trás, tomando um gole água. Olhei para os lados um tanto embaraçado e segui em frente. 

 

Madeline, ao reparar que estava bastante distante, correu para me alcançar. Pude ver seus longos cabelos balançarem freneticamente de um lado para o outro e só se acalmarem ao chegar perto de mim. 

 

Abri a porta do auditório, acendi as luzes e olhei para Madeline, que sentara-se no mesmo banquinho da audição de sexta. Ela já dedilhava um pouco em seu violão. 

 

- Está nervosa? - perguntei sentando-me na primeira fila. 

 

- Por que estaria? São só crianças. - disse ela olhando para mim com seus enormes olhos escuros que tanto me afetavam. 

 

- As crianças de hoje em dia podem ser verdadeiros monstrinhos. 

 

- Você não deveria colocar medo em mim, deveria? - perguntou ela rindo. 

 

- Não acredito mais que possa ter medo momento nenhum. 

 

Passei mais algum tempo com ela, esperando todas as crianças chegarem. Por enquanto, todas elas pareciam anjinhos. Eu realmente espero que continuem assim, pois Madeline parecia bastante empolgada e animada como nunca antes ela deveria ter sido. 

 

Quando a última criança entrou na sala com seu violão, não percebi o olhar de Madeline para mim até ouvir seu pigarro. 

 

- O quê? - perguntei. 

 

- Você vai ficar aqui? Olhando? - ela me perguntou. 

 

Eu realmente não deveria ficar embaraçado, só haviam crianças ali. Mas a risadinha abafada deles me deixou um tanto constrangido.

 

- Perdão? - perguntei. 

 

Ela então deixou o violão e desceu um tanto apressada e pediu que eu baixasse um pouco para ela me falar próximo ao ouvido. 

 

- É que... eles são só crianças. Mas você já é bem grande. Tenho um pouco de vergonha. Será que... 

 

- Não, tudo bem. Mas Madeline, eu já te vi tocar. E além do mais, você é minha responsabilidade com eles. - eu lancei um olhar para as crianças que encaravam a cena um tanto confusos. 

 

- Você está com medo de que eu faça algo com essas crianças, Dave? - perguntou ela espantada. 

 

- NÃO! Não é isso. É que se... talvez acontecer algo... em fim, sei lá... se alguém sair do auditório e quebrar o braço... bem, você não poderá mais dar aula. 

 

- Se você estiver aqui, eu não vou conseguir. - disse ela me lançando um olhar triste, que eu não pude resistir e passei a gaguejar um tanto. 

 

- AH, ok... está... está bem. Eu saio. Mas virei ver como andam as coisas a qualquer momento. - disse. 

 

Madeline apenas sorriu e quando eu sai, vi pela janelinha de vidro quando ela voltou para o palco e se juntou com as crianças que estavam todas sentadas no chão em círculo. 

 

Ao me ver na janelinha, Madeline me encarou e com os olhos pediu que eu saísse. 

 

Passei a meia hora mais demorada arrumando os livros da biblioteca infantil, o que eu fazia na sexta-feira retrasada, antes da senhorita Bretshot me colocar para fazer audições com o Peter. 

 

Geralmente eu sinto o tédio disso apenas depois de uma pratileira, mas já estava fazendo tudo errado apenas no início da primeira. Andei de um lado pro outro no corredor, evitando chegar muito perto do auditório. 

 

Quando bateu 30 minutos exatos no meu relógio, caminhei até o auditório e ouvi vários violões tocando alto. Olhei pelo vidrinho da porta e vi Madeline ajudar um garoto a por os dedos nas cordas certas, tentando formar um Lá. Até o momento, todos pareciam estar animados e comportados. 

 

Madeline me viu na janela e correu até mim. Eu pensei que ela falaria algo da minha atitude insistente, mas ela veio toda a sorrisos. 

 

- Eles gostam de mim! Estou tão feliz e confiam em tudo o que eu falo! É extraordinário!

 

Deixei um sorriso enorme abrir em meu rosto. Mas não tão grande quando o de Madeline, que me trouxera um sentimento de profunda satisfação. Iluminou-me por dentro.

 

- Então, agora posso vê-la dar o restante da aula? - perguntei. 

 

- Não. - disse ela correndo de volta para a sala de aula rindo. 

 

Eu não pude me conter, e comecei a rir também. 

 

A meia hora seguinte passou voando. Fiquei sentado no mesmo degrau que eu a encontrara assim que cheguei. As crianças quase me pisotearam quando saíram do complexo. Algumas saíam tocando violão. Me levantei apressadamente e caminhei até o auditório. Vi Madeline conversando com um pequeno de não mais que seis anos. Usava óculos de um alto grau e trazia em seus braços um violão enorme. 

 

- Não precisa se preocupar. Meus dedos doíam no início, mas acredite, você verá que depois não vai doer mais. - dizia ela agachada para poder ficar no mesmo tamanho que ele. 

 

- E meu violão é grande demais. - dizia o menininho olhando para baixo. 

 

- Na próxima aula, eu deixo você tocar no meu e eu toco no seu. O que acha? Até sua mãe poder lhe comprar outro. 

 

- Jura? - perguntou o menino abrindo um enorme sorriso. 

 

- Sim!

 

- Obrigada, Madeline. 

 

Ele lhe deu um breve abraço nela e saiu correndo até a saída do complexo. 

 

- E então? - perguntei me aproximando mais dela. 

 

- Mal posso esperar para sexta-feira! Foi um dia muito bom. Obrigada por tudo! 

 

- Por nada Madeline. Pra onde vai agora? Posso dar-lhe uma carona. 

 

- Não! Não precisa. Eu gosto de ir a pé... gosto de caminhar pelo mesmo caminho, não faço caminhos diferentes. 

 

Quem a ouvisse falando daquela forma, talvez risse. Mas eu estava muito curioso para entender o porquê de tal atitude. Tudo nela, me... deixava curioso. 

 

- Posso dirigir pelo mesmo caminho que você vai. 

 

- Seu carro não passaria no beco da rua 12. - disse ela colocando um monte de folhas dos alunos em sua mochila. - Mas quando você descobrir, eu prometo aceitar sua carona. 

 

Madeline então deu um breve sorriso e acenou. Fiquei então apenas observando-a partir. 

 


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Madeline é meio louca, huh? Até em seu nome tem loucura. Mad-eline. Isso não foi de propósito. Próximo capítulo amanhã mesmo. Talvez neste mesmo horário. Deixem reviews e façam uma crianças, eu, feliz.