Carta do Esquecimento escrita por Ana Bela


Capítulo 1
Desculpe-me




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Querido Eduardo,

Já se passam da meia-noite. E estou aqui, escrevendo isto que chamam de carta, que a meu ver só tem estrutura de uma carta, pois cartas são alegres, e bem não sei como dizer isso claramente... Talvez você nunca mais se esqueça desta bela carta...

Oh, lá fora está tão frio... Eu gostaria de dar um passeio, mas como eu já lhe confessei, tenho medo do frio. Talvez porque a temperatura do meu corpo caia com facilidade ou simplesmente como mamãe diz, sou muito boba e sem cérebro em não querer sair lá fora. Ela tem razão, e já sei você ao ler isso pensou “não, você é normal”, mas sim!Ela sempre soube que tenho problemas. Meu medo anormal de sair de casa, essa fobia que me devora pelo frio, afinal moramos em um país que maior parte do ano está coberta por aquela coisa branca que se chama de neve...

E eu odeio o branco, não é?

Mas nada mais importa porque estou perdendo tempo e preciso finalizar isto aqui. Não escreverei com meu vocabulário extremamente difícil que você detesta quando o pronuncio. Já faz dois anos, querido Eduardo. Dois anos que estou presa por ela. E ela tem me machucado tanto, e você é o único que sabe sobre ela. Se mamãe soubesse talvez eu estivesse fora de casa...

Eduardo, eu... Eu... Eu tenho medo de fazer qualquer tipo de besteira, porém tem algo que não posso ignorar... Eu quero morrer, eu preciso morrer não aguento mais!Ela me prende cada vez mais!A depressão me devora. Você sempre disse que estaria ao meu lado quando ela tentasse me machucar, mas é mentira!Quando estive triste você não estava aqui.

Você dava mais razão aos seus amiguinhos não é?Eu confiei tanto em você, confio ainda, mas é tarde demais. Eu tentei não ter medo, tentei vencê-la, mas ninguém entende o que se passa dentro da minha mente.

Eu sou louca!

E agora o que me resta é a morte. Estou cansada de me mutilar todos os dias, com aquela navalha enferrujada, passá-la sobre minha perna, meus pulsos, e sentir o vermelho quente começar a escorrer. Essa última vez que cortei meus pulsos eu senti uma dor diferente...

Sim, quando estiver lendo isto, não vou estar mais aqui, desculpe-me, mas não consegui ser forte o suficiente, não consegui lutar!Sou fraca demais e você nunca esteve ao meu lado quando eu chorei, gritei pelo seu nome, sussurrei seu nome em meus delírios.

Eu fui ao sótão mais cedo. E peguei a espada do papai. Ela tem uma lâmina tão afiada, brilhante e com ela será meu adeus vou colocar esta carta sobre a minha cama bem arrumada em lençóis cor-de-rosa com flores negras para não manchar nenhuma vírgula com sangue.

Sim, eu sou tão patética, tão burra, tão fraca, e por isso peço desculpas, sei que você não será o primeiro a ver meu corpo jazido no chão do meu quarto sem janelas, mas eu sei que lerá essa carta. Então, Eduardo, esqueça essa carta. Lembre-se apenas dos dias de sol que sai de casa, em que você vinha me visitar, em que nós riamos juntos. Não se lembre do meu sangue, dos meus cortes espalhados pelo corpo, da minha face, segundo você,”estranha” quando eu estava sofrendo.

Com todo amor e carinho que ainda restam em meu coração quebrado,

Angelina


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