(...) mas quando parei na porta senti meu corpo pesar ao ponto de as pernas fraquejarem e precisei me apoiar no batente para que não caísse.

A cena que encontrei não foi nada do que imaginei, na verdade, nem que tivesse a imaginação fértil eu conseguiria ter imaginado aquilo. Não havia um Edward de terno e gravata, com tênis all star e um sorriso bobo me esperando, não tinha um buquê ou algum convite de baile nas mãos. O que existia naquele quarto, era trajes de festa, jogados ao chão, e dois corpos se amassando em minha cama. Senti nojo e coloquei a mão na boca porque previ que voltaria o pouco que havia comido, quis gritar, mas não havia voz, quis correr, mas as pernas não correspondiam ao comando. Os olhos azuis dela se encontraram com os meus e um sorriso malicioso surgiu em seus lábios que logo soltaram um gemido. Ambos nus, Edward estava sobre Tanya que tinha as pernas em volta da cintura dele, este apoiava com o braço forte na cama enquanto as mãos dela arranhavam suas costas e ele beijava o seu pescoço.

Finalmente consegui correr dali, mas ao tentar sair do corredor e ir para as escadas a porta estava trancada. Segurando, com esforço, as lágrimas, concentrei e forcei a maçaneta, torcendo para que o empecilho fosse apenas o meu nervosismo, porém algo impedia que a maçaneta girasse por completo e eu me vi presa naquele lugar sujo. Fechei os olhos para que não visse mais aquela cena, mesmo com a distância, eu ainda podia ver, como se estivesse a milímetros de mim, só que os gemidos aumentaram. Os barulhos que Tanya fazia ecoavam pela casa e penetrava em meus ouvidos, estraçalhando com tudo dentro de mim, contorcendo meus músculos, e me fazendo perder as forças, e as lágrimas saírem descontroladas de meus olhos. Aquilo não podia estar acontecendo, belisquei meu braço querendo acreditar que era apenas um pesadelo, que logo eu acordaria, mas não, eu continuava ali com aquela cena horrível. Na minha cama, no meu quarto, na minha casa, praticamente na minha frente, Edward não podia ter feito isso comigo, eu aceitei o namoro dele, fiquei feliz quando ele ficou quando Tanya o aceitou, sempre estive ao seu lado e quando houve uma oportunidade, ele transou com ela na minha cama. 

  - Ai Edward, você é tão gostoso! – a voz de Tanya saiu arrastada.

Solucei alto, e tampei a boca querendo que não notassem a minha presença ali.

  - Vai Ed, maaaaaais! – gritou outra vez, seguido por um urro.

 Levantei mais uma vez, e por sorte a maçaneta não estava mais emperrada e eu consegui me ver com o caminho livre para fugir dali. Saí correndo, tropeçando em alguns degraus e me apoiando no corrimão, segurei o vestido para que ele não me impedisse e me vi correndo pelas ruas, sozinha e totalmente desolada.

Fazia frio e eu cruzei os braços tentando me deixar mais quente. Sentada no banco da praça, não tinha a mínima noção de quanto tempo fiquei ali, só que a imagem continuava intensa em minha mente. Balancei a cabeça, inutilmente, querendo tirar de mim aquilo, queria não lembrar, não pensar, não viver, mas era impossível, isso ficaria marcado em minha mente, como brasa. Olhei para o céu e mesmo com alguns pontinhos brilhantes, a única coisa que eu via era escuridão, o vazio, o silêncio. Como pode uma pessoa, uma mísera pessoa, mudar sua vida completamente? Ter a capacidade de te deixar extremamente feliz e em um piscar de olhos te despedaçar. Solucei mais uma vez e limpei algumas lágrimas que ainda restavam em meu rosto, fechei os olhos e procurei prestar atenção apenas na minha respiração descompassada, no batimento irregular do meu coração, na dor que percorria todos os sistemas do meu corpo.

  - Bella?

Assustei ao ouvir meu nome e quando olhei para o lado encontrei Mike, com um sorriso de leve em seu rosto, mas que foi desmanchado quando viu meu estado.

  - Ta tudo bem?

Assenti. Mentira. A maior mentira de todas. Eu não estava bem, e as lágrimas que resolveram voltar acabaram me denunciando.

  - Você está chorando? Ah meu Deus Bells, não chore. O que aconteceu? – ele disse me abraçando, sem jeito – Se não quiser falar, tudo bem, eu entendo.

  - Prefiro não falar. – minha voz saiu rouca.

  - Ok, agora só me responde, porque está aqui sozinha? E vestida assim, você não vai ao baile?

  - Não quero nem saber desse baile idiota! – afastei devagar dele.

  - É por causa de algum garoto que você ta assim? – disse limpando minhas lágrimas com o dedo.

  - É, é sim – tentei sorrir.

  - Sei que não quer falar, e do jeito que você ta não deve ter sido muito legal. Mas esse cara vai ta no baile?

Assenti mais uma vez e olhei para Mike. Tão contraditório, o irmão do garoto que me deixou assim é que está me dando conselhos, mais novo e de vista imaturo, mas agora parecia ser bem mais homem do que aquele moleque que pegava a líder de torcida na minha cama.

  - Então eu acho que você não deveria deixar de ir ao baile.

  - Por quê?

  - Porque linda do jeito que você está, precisa ir lá e mostrar que aquele garoto não te rebaixou que você é forte o suficiente pra seguir sua vida sem ele.

  - Não sei Mike, não é verdade.

  - Mas deveria ser. Olha eu li numa revista dessas de mulherzinhas, que você precisa se amar primeiro antes de qualquer coisa. Se você quiser posso ir ao baile com você, e você mostra ao garoto que não precisa dele. Não precisa ficar comigo o tempo todo, eu te ajudo encontrar algum garoto e tal...

Sorri e dessa vez, por incrível que pareça, saiu verdadeiro. Mike estava certo, eu precisava levantar a cabeça, e acreditar que eu sou linda e sou mil vezes melhor que a Tanya, porque eu posso não ser um modelo de beleza, mas eu sou linda pra mim, do jeito que eu sou. Acima de tudo eu tenho caráter, um rostinho bonitinho não é só o que faz uma mulher, e eu não preciso do Edward, sei que vai doer, mas vai passar. Uma coisa que minha mãe sempre me dizia: Tudo dá certo no fim, se ainda não deu certo é porque não chegou ao final.

Segurei a mão de Mike e saímos juntos em direção ao salão. Andamos num ritmo mais acelerado pelas ruas, e assustei quando soltei uma risada e ele começou a rir comigo. Eu ficaria bem, não iria demorar, eu ia conseguir me reerguer e isso seria enterrado em algum buraco no meu coração, pra eu não precisar lembrar nunca mais. Quando chegamos ao salão todo decorado, antes de entrar, peguei um lencinho na minha bolsa e um espelho, arrumei a maquiagem, o vestido e assim que terminei, olhei para Mike e puxei sua mão, mas ele continuou no mesmo lugar.

  - Antes quero te dizer uma coisa. – falou baixo.

Engoliu em seco e segurou meu rosto com suas mãos, aproximando-se de mim até nossas testas se tocarem. Seus olhos azuis profundos encaravam os meus chocolates com intensidade, e eu podia sentir meu rosto ruborizar. Então senti seus lábios tocarem minha bochecha e ele sorriu.

  - Você é linda Bella, nunca se esqueça disso.

  - Obrigada Mike. Você apareceu na hora certa, obrigada por me salvar.

Sorrimos um para o outro, respiramos fundo e enfim entramos. O salão estava decorado de acordo com o tema: “Noite em Paris”, na entrada um banquinho de pedras, com uma iluminaria típica falsa ao lado, um projeto de Torre Eiffel contornada por pontos de luz, e em geral, o recinto foi preparado para parecer a noite, com estrelas e lua, mais algumas luminárias, umas árvores falsas, mesinhas de madeira, o globo de espelhos no meio da pista de dança que já estava repleta de pessoas dançando e o balcão de bebidas e comida. Em suma tudo maravilhoso. Posamos para a foto do anuário e seguimos devagar para o centro do salão, procurei com os olhos alguém que eu conhecesse, mas não vi ninguém. Em uma mesa com os jogadores e as lideres de torcida estava ele, com sua namorada, assim que me viu, acenou animado, mas eu devolvi um olhar de repulsa.

Dancei várias vezes com Mike. Finalmente Emmet me encontrou, me deu a honra de uma dança, mas estava tão bêbado e a fim de curtir a festa que logo me deixou de lado. Não encontrei Sophie e Jennifer e muito menos a Ângela, por isso passei a festa inteira com o irmão do garoto que eu amava. Nos divertimos muito, eu não podia negar, apesar de que eu desmoronava toda vez que encontrava o casal, bebendo animados. Edward estava visivelmente bêbado, de um modo que eu nunca tinha visto antes, vi ele se aproximar de Emmet e perguntar alguma coisa, os dois riram por algum tempo e depois meu irmão começou a balançar a cabeça enquanto Edward justificava alguma coisa, ele negou outra vez e enfim o outro desistiu. E dirigiu-se para fora do salão com a sua nova turma. Pedi licença e sem saber por que estava fazendo isso, fui até Emmet para perguntar o que tinha acontecido.

  - E ai Em.

  - Maninha do meu coração! Já falei que você ta uma gata? Se não fosse minha irmã, te pegava! – ele riu.

  - Vou encarar isso como um elogio. Agora, o que o Edward veio falar com você? – perguntei parecendo desinteressada.

  - Ah ele queria ir num racha.

  - Como é que é? – gritei.

  - Ele falou que os amigos dele chamaram e ai ele me chamou também! – disse tropeçando nas palavras – eu falei que não queria, to bêbado, mas não sou bobo né? É pedir pra morrer.

  - Claro Emmet! E você não o impediu?

  - Tentei Bells, mas ele não me ouviu. Falou que vai ser bom demais, que ta doidão, que nunca fez e tal...

  - Emmet, que saco! Ele pode morrer, porque não sei lá, segurou ele no braço e mandou não ir?

  - Ah tenha dó Bella, eu não sou de ficar segurando macho não. E porque ta preocupada?

Boa pergunta, porque estou preocupada? A vida é dele, ele faz o que quiser, desde que não transe no meu quarto mais, ele podia fazer o que quisesse! Mas meu coração apertava, não era o certo, eu não podia deixar, é meu melhor amigo acima de tudo, me importo com ele, mesmo que eu não queira, não posso vê-lo morto, não sei se agüentaria. Movida por uma necessidade de salvação, saí atrás dele, e logo encontrei um conversível com Edward no volante e os outros meninos e meninas se agarrando, enquanto Tanya o alisava. Tentei engolir a repulsa e fui até o carro, colocando as mãos nele chamando sua atenção.

  - E ai Bella, resolveu falar comigo agora?

  - Edward o que pensa que está fazendo?

Evitei as risadas e brincadeirinhas de mau gosto que as pessoas falavam, e tentei evitar mais ainda, a cara de nojo que Tanya fez ao lado.

  - Vou ao um racha.

  - Você está louco? Quer morrer?

  - Ah tenha dó Bella! Sei muito bem o que estou fazendo! – disse rindo.

  - Não você não tem. Está completamente louco, será que não percebe? Isso é muito arriscado, é completamente imprudente! – gritei passando a mão pelos cabelos.

  - Quantos anos você tem?

  - O que isso tem a ver Edward? Eu só...

  - Responde minha pergunta!

  - 15, e daí?

  - Eu tenho 17, quem você acha que sabe mais? – levantou a sobrancelha, arrogante.

  - Idade não importa Edward, você está sendo mais imaturo do que seu irmão!

  - Ah cala boca Bella, eu sei muito bem o que fazer. E outra, porque está falando comigo? Me evitou a festa inteira, sendo que não fiz nada pra você, não sei porque fica ai falando, cuida da sua vida que eu cuido da minha!

  - Não precisa ser sem educação Edward, antes de tudo achei que fossemos amigos. Não peço por mim, peço pelos seus pais, por Esme e Carlisle, que te amam tanto! Eles não suportariam vê-lo morto.

  - Não vou morrer Bella! E não me importa, eles não se importam comigo.

  - Que idiotice, eles se importam muito com você.

  - Não interessa. – gritou e girou a chave na ignição.

  - Edward, por favor, não! Por mim, saia desse carro e vamos conversar.

  – AH SAI DAQUI PIRRALHA! – as risadas aumentaram.

  - Edward, por favor. Não acredito que esqueceu tudo que me disse... Que passamos. – falei em um fio de voz.

  - Nunca arrependi tanto de ter ficado com você, nunca deveria ter te beijado. – disse rindo.

  - Arrependeu? – o choro estava próximo, engoli em seco.

  - A pior coisa que fiz em toda minha vida foi ter ficado com você, entendeu? P-I-O-R. Agora sai da minha frente que eu tenho mais o que fazer! – ligou o carro e saiu cantando pneu.

Respirei fundo e olhei para o teto tentando evitar as lágrimas, olhei para o relógio na escrivaninha que já marcava uma da madrugada, talvez fosse hora de parar, eu precisava descansar desse turbilhão de emoções. Edward estava boquiaberto, e seus olhos verdes estavam marejados, como se quisesse chorar. Deslizei uma mão sobre a outra, demonstrando o nervosismo, depois as levei até o cabelo, e suspirei profundamente.

  - Bom, foi isso que realmente aconteceu. – finalmente disse.

  - Bella... eu não acredito. Não posso crer que fiz isso com você.

  - É você fez, tenho certeza que Tanya não deve ter te dito isso.

  - Não disse. Ela nunca falou isso. Falou que você e Emmet tinham ido embora pra Forks de propósito, porque não se importavam comigo.

Ri sem humor. Ela nunca diria a verdade, e talvez tenha sido melhor, eu me afastei de Edward e consegui não alimentar o amor destrutivo que sentia por ele. Isolei em Forks e busquei me preocupar com coisas opostas, que não me fizessem lembrar do que tinha acontecido naqueles dias, como se eu tivesse arrancando a página de um diário, amassado e guardado no bolso, porque queimá-la para sempre, eu nunca consegui.

  - Bella eu não me lembro de nada disso, juro que não me lembro. Eu não teria falado nada daquilo se não estivesse bêbado, eu nem me lembro de ir a um racha!

  - Mas lembra do seu momento na minha cama.

Uma lágrima desceu pelo seu rosto, e ele abaixou a cabeça, visivelmente envergonhado.

  - Tanya me chamou para ir à sua casa, disse que queria me fazer uma surpresa. Eu achei estranho, claro, mas depois parei pra pensar: elas são amigas agora, talvez Bella tenha a ver com isso. Bella, eu nunca imaginei que você era apaixonada por mim, que você veria aquilo! Quando percebi o que ia acontecer, eu tentei evitar, falei pra Tanya pra que fossemos para um lugar mais apropriado, mas ela estava sedenta por isso, e eu também. 

  - É claro. Acho que vou dormir, preciso descansar. – disse me levantando.

  - Espera Bells – segurou meu braço – por favor, me escute. Desculpe, por todo o sofrimento que te causei, nunca quis te magoar, eu não sei o que aconteceu, não tinha ideia do que estava fazendo, não fiz de propósito.

  - Dizem que quando você bebe é quando você finalmente consegue falar as verdades.

  - Não Bella! Aquilo não era verdade! Eu amei nosso beijo, senti coisas que não senti quando beijei a Tanya. Eu sabia daquilo, só não queria admitir pra mim mesmo.

  - Por quê?

  - Porque ficava preso em um amor platônico. Preciso te dizer, sou completamente, enlouquecidamente, irrevogavelmente apaixonado por você Bella. Sempre fui, eu só não sabia, mas sempre foi você, só você o amor da minha vida.

Meu coração doeu, a fagulha de esperança adormecida voltou com todo vapor. Por quê? Porque depois de tudo ele resolve descobrir isso agora? Não, eu preciso ser forte, não passei por tudo, pra agora me render aos encantos desse homem maravilhoso. Balancei a cabeça e soltei meu braço de suas mãos, olhei em seus olhos e os encontrei me encarando, sua mão deslizou pelo meu rosto, mas eu me afastei.

  - Não Edward, não posso.

  - Porque não Bella? Eu sinto tanto, eu moveria mundos e fundos para tentar voltar no tempo e mudar aquilo, só que não posso, infelizmente.

  - Agora não adianta Edward, desculpa alguma no mundo vai retirar o que eu sofri.

  - Eu sei Bells, quero te mostrar que mudei. Quero poder te mostrar o quanto meu amor é grande, quero te fazer feliz, vou cuidar de você para que não derrame mais nenhuma lágrima, te quero do meu lado.

  - Edward, no momento que te vi na minha cama e que você me disse aquelas coisas, um buraco profundo se abriu no meu peito, bem aqui – apontei para o lado esquerdo do meu peito – onde costuma ficar o coração. Ficar longe de você, tentar te evitar e te esquecer, foi o pior veneno que eu precisei tomar, me corroia por dentro, doía todos os sistemas do meu corpo. Mas eu tive que dar um jeito, precisei criar uma força para superar isso tudo, tive que construir uma nova Bella, uma Bella forte e decidida. Só que agora, com você me dizendo isso tudo, você só está perdendo seu tempo, eu só posso permitir meu coração a quebrar-se uma única vez por você.

Olhei outra vez para a luminária forçando as lágrimas a não saírem dos meus olhos, era minha hora de demonstrar que sou forte, por mais que eu queira pular nos braços dele e dizer que sinto a mesma coisa. Respirei fundo e vi que ele limpava algumas lágrimas que saíam de seu rosto, passou a mão pelo cabelo bagunçando um pouco e finalmente olhou pra mim.

  - Eu entendo. Só espero que algum dia possa me perdoar por todo o sofrimento que te causei, que do contrário de mim nunca vou conseguir me perdoar. Eu só quero que saiba que amo você.

Tentei dizer alguma coisa, mas as palavras ficaram guardadas no peito, era a minha deixa, não podia ficar mais nenhum minuto ali. Corri para o quarto e desabei na cama, juntamente com as lágrimas que a muito estavam guardadas.