Ele escondeu o riso com a mão. Seu olhar vacilou, e ele sentiu-se tão envergonhado, tão encabulado; tentou encontrar algo que o apoiasse na realidade e o fizesse abandonar de vez os devaneios conhecidos, aqueles sempre à sua espreita, os mesmo que ameaçavam engolfar sua existência àquele exato instante. Deu um passo para trás, erguendo as sobrancelhas só o suficiente para que sua expressão, outrora temerosa, se mostrasse apenas reticente. De todas as formas, ele era adorável, concluiu Kyuhyun sem se importar em esconder suas emoções: ele sorria abertamente, com um ar apaixonado e encantado.

Zhou Mi parecia com aquelas personagens kawaii dos animes a que eventualmente assistia. Sorrisos doces e enlevados, logo disfarçados; olhares enviesados constantemente à procura da pessoa amada – no entanto, quando esta percebia ser alvo de admiração tão profunda, os orbes grandes e amendoados eram prontamente desviados, rondando por qualquer canto menos importante, focando-se em um ponto nada convincente. E ficava claro que ele estava tentando disfarçar a todo custo.

Mas Kyuhyun sabia. Ele sabia que o chinês sentia por si algo tão forte e bonito, um sentimento inteiramente recíproco. Ameno, mas intenso. O mais novo jamais poderia encontrar uma metáfora que simbolizasse melhor a extensão do que viviam... O amor de Zhou Mi era como uma onda. Uma onda que abraça a enseada, que se deixa absorver pelas areias que circundam a praia, que penetra diligentemente essa superfície porosa, a onda que volta ao mar como apenas um resquício da grandiosidade que antes possuía. Ela volta rápida, furiosa. A onda que então se junta às águas das quais se criou e recupera sua magnificência original. A onda que permanece nesse ciclo por toda a eternidade.

O amor de Zhou Mi era como uma onda. Porque Zhou Mi se deixava envolver e envolvia. Zhou Mi chegara como uma tormenta - um tsunami, talvez – arrastando tudo consigo, estabelecendo nova ordem ao que era velho e sem graça. Zhou Mi, sensível e firme, sereno e colérico, regularidade e caos. Um universo contido em um corpo. O corpo que Kyuhyun adorava tomar para si.

Zhou Mi e sua gentileza, Zhou Mi e sua delicadeza, Zhou Mi e seus bons modos, Zhou Mi e sua meiguice, Zhou Mi e... Zhou Mi e seu Kyuhyun. Seu oceano atapetado por bilhões e bilhões de pequeninos grãos de areia. Seu Kyuhyun, que não era nada além de outra versão de si mesmo. Ou seria o contrário? Era Zhou Mi a continuação de Kyuhyun? E o que importava quem era o quê?

Kyuhyun arriscou um passo, o desejo tremulava em sua íris e seus gestos demonstravam toda a ânsia que lhe dominava. Ele se aproximou, gota por gota, estímulo criador que ergue ondas, e quedou-se tão perto de Zhou Mi, seus corpos estavam juntos, e havia um certo ritmo no funcionar destes, como se seus corações houvessem combinado e cada batida fosse compartilhada, como se a mente de ambos houvesse se conectado por algum fio invisível e inexorável, e seus pensamentos eram os mesmos. Havia uma cadência, uma coerência entre eles. 

Havia harmonia.

Um suspiro caiu dos lábios de Kyuhyun. E ele os colou nos lábios de Zhou Mi.