Capítulo 12 - Você pode esperar qualquer coisa numa caçada noturna...

 E a investigação na escola finalmente se inicia. Grupos separados: Wilson, Karina e Jorjão de um lado; Demi e eu de outro. Pessoalmente gostei da divisão, como já comentei. Mas ficar à noite numa escola não era bem minha atividade preferida

- É isso aí! Hora de começar a procurar! - dava para ouvir a voz de Wilson, assim que saímos. Quanto tempo ainda vai demorar para eu me acostumar com isso, heim?

- Então..vamos? - diz Demi, claramente amedrontada.

- Não tem outro jeito, né? - suspirei e comecei a andar com ela de lanterna acesa.

Andamos por um tempo pelos corredores, mas não havia nada de suspeito. Apenas uma escuridão silenciosa e profunda. Por outro lado, isso é o que estava dando medo na minha parceira.

- Ai, ai, ai...odeio esse silêncio - ela comenta, andando bem perto de mim. Tentei ficar calmo, afinal, eu teria que assumir as rédeas da situação (que ironia, justo eu fazer isso?)

- Relaxe. Tá na cara que não existe fantasma nenhum - argumentei - Vamos apenas andar por aí e falar que não encontramos nada...e escrever alguma coisa bizarra que o Wilson inventar. Só isso

- Não sei, não. Detesto lugares escuros e silenciosos assim..dá um medo!

- Tenha mais medo dos vivos. Mas...se estamos na escola, acredito estarmos seguros

- Será?

Nisso, ouvimos um barulho. Demi quase grita, mas eu me viro rapidamente com a lanterna. Ninguém menos que o guarda-noturno da escola. E, sim, ele sabia que estávamos lá.

- Opa. Crianças - ele cumprimenta, simpaticamente - Acharam alguma coisa?

- Hã? Seu Tomé? - perguntei.

- Hauhauhuaha! Vocês parecem estar bem ocupados, não é? Boa sorte na caçada de vocês..só estava dando uma passada por aí - ele completa, com toda a calma do mundo.

Inacreditável. No fim das contas, o guarda-noturno havia mesmo dado permissão para explorarmos a escola. Tinha alguém naquele lugar que batia bem das ideias? De qualquer forma, ele realmente não estava nem aí para o que iríamos fazer.

- Boa sorte..apenas tomem cuidado para não quebrar nada. Até mais

- E-Espere - chamei, tentando colocar alguma razão naquela história toda - Não ficaria mais fácil acender as luzes da escola?

- E vocês acham que algum fantasma vai aparecer com as luzes acesas? É melhor continuar do jeito que está!

 "Não acredito que ouvi isso", pensei.

 - Ah! - ele parece ter se lembrado de algo.

- Sim?

- Se virem o Wilson...peçam para ele trazer mais daquele suco de acerola da mãe dele. É ótimo!

- Ah, tá...tudo bem

- É isso. E...tomem cuidado com o estagiário fantasma

- Ele existe mesmo? - pergunta Demi - O senhor é guarda-noturno...deve saber de alguma coisa

- Olha - ele diz com uma voz não muito confortante - Eu, falando eu, Tomé, nunca vi nada de extraordinário, mas...confesso que uma vez já algumas vozes por aí

- Aaaiii - Demi gemia assustada, ainda apertando meu braço - Não fala isso

- Por isso, eu repito...tomem cuidado! - ele diz, em tom de aconselhamento. Mesmo assim, ainda não era suficiente para acreditar, embora Demi estivesse assustada de verdade.

 Passado o encontro com nosso guarda-noturno cúmplice, continuamos as buscas, mas não encontramos nada de surpreendente. A não ser o fato de que, no escuro, as coisas ficam mais assustadoras. A sombra de uma cadeira pode passar a impressão de um monstro, a sombra de uma vassoura encostada pode parecer com um serial-killer tentando te matar e barulhos de aparelhos elétricos podem parecer mais altos do que de costume. Em cada uma dessas ilusões assustadoras, Demi ficava cada vez mais colada em mim. Bem, tudo tem que ter seu lado bom, não é?

- Calma, calma...é só o barulho do refrigerador - argumentei, na última vez que ela agarra meu braço.

- Nossa! Dá para ouvir daqui! A noite as coisas ficam muito piores! - ela tremia.

- Já falei para relaxar. As coisas são as mesmas de sempre, só está escuro

- Mas o escuro já dá medo! - ela falava com voz manhosa.

- Não se preocupe...mesmo que tenha um fantasma...

- Hmm

 E é aqui que falei algo que não devia

- Mesmo que tenha um fantasma - continuei - Eu estou aqui, não estou? - terminei com uma voz um pouco mais encabulada. Bem, pelo menos eu imaginava que era nessas horas que surge o que chamamos de clima...

- Bem...- ela diz, com uma voz não muito confortável - Acho que qualquer coisa podemos chamar o seu Tomé, não é?

"Em resumo...ela não confia em mim. Não a culpo", pensei não muito animado. Nisso, ouvimos um barulho estranho.

- O que foi isso? - Demi se assusta.

- Deve ser alguma coisa que caiu - argumentei.

- Não parece

Não queria admitir, mas realmente parecia alguma coisa diferente. Lembrava alguma voz. Nisso, Demi faz a pergunta que eu não queria que fizesse.

- Parece que veio lá de trás. Quer ir lá ver?

- O-o que? Ir lá ver? - respondi com outra pergunta.

- É...se o barulho aumentar pode ser o fantasma mesmo

- Q-Que nada - retruquei - Fantasmas não existem, lembra? Não há de ser nada...vamos para esse lado

- Mas não é melhor conferir?

- Já falei. Não deve ser nada. Talvez seja o Wilson que tenha caído em alguma coisa ou algo assim...

Demi não parecia estar levando muita fé.

- Você está com medo, Daniel? - ela pergunta, fazendo uma cara provocativa. Mesmo no escuro, dava para deduzir que era algo assim.

- M-Medo? Eu? Que bobagem! Por que teria medo de algo que não existe?

- Sei...

- Vamos ver para esse lado e depois a gente volta pra lá, tá bom?

- Tá. Então, tá.

- É...vamos lá - foi a última coisa que disse, até começar a andar de novo e ouvir um tipo de gemido mais forte. Parecia falar algo como "back-uuuup"

- Ouviu agora?

- Ouvi o que? - perguntei, me fazendo de desentendido claro.

- Não acredito que não ouviu! - ela estava mesmo assustada - Parecia falar...back-uuup...back-uup...lembra? O estagiário fantasma morreu porque não terminou os back-ups!

- Bobagem, Demi! Fique tranquila! Não tem fantasma nenhum...vamos continuar andando

- Espero que você esteja certo... - ela segura forte na minha mão e começamos a andar. "Até que não seria má ideia aparecer um fantasma...quer dizer, estou aqui, andando de mãos dadas com a Demi Gomez...se aparecer alguma coisa, ela pode até me abraçar...é...não seria nada mal e..."

 Mas essa coisa de andar viajando em pensamentos (ainda mais com uma mocinha bonita segurando a sua mão) não era algo muito seguro. Era fácil esbarrar em alguma coisa e...foi justamente o que aconteceu. Esbarrrei em alguma coisa ou alguém e só deu para ouvir gritos de todos os lados. Mas, quando abrimos os olhos, vimos ninguém menos que nosso líder Wilson, junto com Jorjão.

- Ah! São vocês! - diz Wilson, aliviado.

- Que susto! - bronqueia Demi, se levantando (e, infelizmente, soltando a minha mão) - Vocês não deviam estar do outro lado?

- Estávamos, mas ouvimos uma coisa mais interessante por aqui - ele responde - Alguma voz gemendo e parecia estar falando back-uuup...o estagiário fantasma queria fazer os back-ups, lembram?

- Você não está pensando em? - perguntei, mesmo sabendo a resposta que viria.

- É claro que estou! - sim, ele estava - Vamos investigar o safado agora! Se o estagiário fantasma existe mesmo, iremos registrar em fotografia imediatamente! Jorjão!

- Tá na mão! Nossa máquina fotográfica megapix paga em 24 prestações! - atente Jorjão. Wilson pega a câmera imediatamente e já trata de colocar seu confiante sorriso na cara

- É isso aí, amigos! Tá na hora da NERD mostrar que não tem medo de estagiário fantasma nenhum! Vamo pegá o bicho!

- Isso aí! - Jorjão apoia - Vamos nessa!

- Aiiii! Só espero que ele não pegue a gente primeiro! - diz Demi, toda assustada.

- Claro que não! Vamos pegar ele antes...é só ir com cuidado e...

- Falando em tomar cuidado.. - interrompi Wilson - Cadê a Karina?

- É que ela raramente fala. Não está aí atrás de você, Jorjão?

Jorjão olha para trás, mas responde que não. Wilson começa a ficar preocupado.

- P-Peraí...como assim? Ela devia estar com a gente

- Você nem reparou que a Karina tinha sumido?! - bronqueie

- Calma, calma...é só ligar para o celular dela e....

Mas também foi inútil.

- Então? - pergunta Demi.

- Nada...parece que...ela sumiu

E nisso, ouvimos outro barulho estranho. Todos se abraçam e soltam um grito.

- De quem foi a ideia de vir pra cá?! - reclamei.

- Não é hora de reclamar! - responde Wilson - Precisamos achar nossa companheira de gangue...custe o que custar!