Amor é Destino? escrita por BellsCF


Capítulo 1
Um. O início de tudo




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Era uma quinta-feira, numa tarde de um dia qualquer de agosto, em que resolvi dar uma volta numa praça perto de casa para espairecer. Não agüentava mais ficar trancada ali, ouvindo o heavy metal idiota do Bruno, meu irmão, através das paredes finas. Peguei meu Crepúsculo da prateleira e fui em direção da praça, para sentar-me embaixo de uma árvore e me desligar. Pena que não consegui fazer isso. Não consegui prestar atenção em meu livro, pois estava perdida nos ridículos pensamentos de sempre: o fato de não ter amigos, ou alguém com quem pudesse dividir minha vida.

Ninguém nunca reparou em mim, ninguém nunca me viu como uma pessoa confiável. Ou se viu, nunca me contou, pois as pessoas nunca me procuravam pra contar segredos, ou simplesmente passar algumas horas se divertindo comigo. Talvez tenha sido por isso que eu tenha me refugiado nos livros. Aquelas garotas, com tantos problemas (alguns até iguais aos meus), eram como amigas pra mim. Eu chorava com suas histórias, sofria junto com elas em suas aflições, me emocionava em seus melhores momentos e me sentia feliz, sorrindo como boba, quando finalmente tinham seus finais felizes. Mas, com o final dos livros, minhas 'amigas' me deixavam, e eu logo corria para achar outra história que acabasse com esse vazio, e voltava a torcer como doida e 'virar amiga' das personagens.

Estava tão perdida no meio de tantos pensamentos frustrados, que nem vi a bola imensa que vinha em minha direção. Merda, já não bastava estar gozando de tanta depressão embaixo de uma árvore, ainda vem um fdp pra me dar uma bolada no meio da cara?

– Hei, moça, desculpa aí. Foi sem querer! – Acredite ou não, no meio de toda a dor que eu estava sentindo, ainda assim não deixei de notar o belo 'moçoilo' que se ajoelhou na minha frente.

– PQP. O que tem dentro da sua cabeça? – mesmo tendo notado isso, não sou tão simpática ao ponto de deixá-lo perceber, então fui grossa mesmo!

– Não sei se você percebeu, mas eu te pedi desculpas, garota! – é, ele também não devia ser simpático...

– Oh, é verdade! Minha cabeça nem está mais doendo infernalmente, obrigada meeeeesmo! – eu disse sarcástica.

– Fala sério, como você é chata!

– Eu? Ah, você não viu nada! Deixa eu dar uma linda bolada no meio da sua cabeçona, aí sim você vai poder me chamar de chata! – resolvi ir embora dali, mas quando me levantei senti uma pontada fdp na cabeça, e quase caí no colo dele...

– Cara, você não ta bem! Onde é a sua casa? – ele estava com uma cara assustadíssima, parecia que tava vendo um defunto.

– É pra lá... – tava tão tonta que apontei pro céu.

– Você não ta me zoando, né?

– Não, VOCÊ tá me zoando. To aqui morta de dor e você quer que eu lembre da minha casa? Aaaaaaaai! – Nessa hora, senti uma pontada ainda mais forte e apaguei depois.

Quando eu acordei, tava em cima de uma maca, em um quarto bege. Tentei me lembrar como eu tinha ido parar ali, olhei pro lado e lá estava o cara. Nessa hora eu lembrei da bolada, e voltei a ficar com raiva dele.

– Onde eu tô?

– No hospital. Depois que você desmaiou eu fiquei com medo de você ter machucado alguma coisa e te trouxe pra cá. – O garoto disse com um sorriso idiota no rosto.

– E você me machucou?

– Não. O médico disse que não foi nada, tava só esperando você acordar pra poder ir embora.

– Sorte sua! – eu me levantei e fui em direção a porta.

– Sorte minha nada. Sorte sua, que não teve a morte mais idiota do mundo, por causa de uma merda de uma bola de vôlei.

– Ah, cala a boca! – Eu gritei.

– Era brincadeira garota. Você não sabe ser simpática com as pessoas? – ele me olhou de cara feia.

– Claro! Mas não com pessoas que me dão uma bolada na cabeça! – eu ainda estava gritando.

– Eu já te pedi desculpas!

– E eu já disse que não aceitei! – porra, que garoto chato!

– Foda-se! Vamos embora logo.

– Vamos? Que mané vamos! Eu sei usar as pernas!

– Sabe tanto que caiu de cima delas agora a pouco... – disse o garoto do sorriso metido.

– Claro, poucas pessoas conseguem andar depois de levar uma droga de uma bola na cabeça, sabia?

– É verdade! Então vamos! – ele pegou minha mão e me puxou.

Brigamos por mais um tempo, até que o médico chegou e me obrigou a ir com ele. Eu não ia aceitar, mas depois ele ameaçou me internar para não correr riscos, daí eu aceitei.

Saímos de lá com alguns remédios para uma eventual dor de cabeça, e ele me levou para um carro vermelho, muuuuito lindo. Depois de um tempo em silêncio ele quebrou o gelo:

– E aí, como você tá?

– Pior impossível!

– Mentira! Eu sei que você ta adorando o passeio! – ele deu uma risada. Fuzilei ele com os olhos e voltei a olhar pra fora.

– Ah, qualé. Não é pra tanto! Eu só chutei uma bola em você SEM QUERER! Será que mesmo depois de eu correr contigo prum hospital, você não pode me perdoar?

– Tá, tá! Perdôo você! Ta feliz agora? – não aguentava mais aquela vozinha no meu ouvido.

– Se for um perdão sincero, eu fico suuuper! – Não consegui resistir, e ri da carinha retardada que ele fez.

– Aê, isso é um siiiiiim!

– Ah, fica quietinho aí e dirige, vai!

Depois de alguns minutos, eu percebi que ele estava desviando do caminho que eu tinha explicado.

– Hei, a minha casa não é por aqui! – Eu reclamei.

– Eu sei.

Eu fiz aquela cara de interrogação, ele riu e falou:

– Calma, não vou te seqüestrar. Só estava pensando em me redimir com você, te pagando um sorvete!

– UM sorvete? – eu ri alto. – Pelo que você me fez, eu mereço o Mc Donald’s inteiro! Sabia que eu podia ter perdido a memória por isso? – é, o meu humor estava de volta. Já que minha cabeça não tava mais doendo mesmo, nada a ver eu me aproveitar das boas intenções dele.

– Eu morreria se isso acontecesse. – Cara, ela tava sério.

– Morreria? E por quê? – Eu arregalei os olhos.

– Putz. Eu não iria ter dobrado a guria mais estressadinha que eu já vi. Parabéns pra mim! – ele tinha o sorrisinho mais idiota possível...

– Parabéns mesmo. Mas não fica pensando que você me dobrou. Só ficarei feliz depois do meu sorvete!

Nós rimos um mooonte e finalmente chegamos no Mc. Eu tava morta de vontade de poder tomar um sorvete enorme, mas fiz uma cara de quem não precisava estar ali.

– Espera aqui, eu já volto! – ele se mandou, e eu sentei numa mesinha, na "varanda", de frente pra rua. Ele demorou quase 1O minutos, e quando voltou chegou me dar medo: tava com uma banana split enoooorme na mão me olhando com uma cara de graça. Ele colocou ela na minha frente, todo feliz, e eu percebi que ela era ainda maior.

– Pronto. Me perdoa?

– Rá. Você não acha que eu vou comer tudo isso né?

– Claro que acho. Você disse que dependendo do sorvete, você me perdoaria. Agora você me perdoa né?

– Não. Agora eu to pagando um mico enorme e todo mundo ta me olhando.

– E daí?

– Daí que eles já devem estar vendo o tanto que eu vou engordar se comer isso aí.

– Ah, que nada. Sorvete não engorda não!

– Sério? Então ta, é todo seu! – Empurrei o sorvete pro garoto e ele riu.

– Não. No mínimo ele é todo nosso! – Ele empurrou o sorvete para o meio da mesa.

– Ok então. Pode começar!

– Comecemos então! – ele disse.

Cara, não sei como, mas nós comemos tudo. Me assusto com isso até hoje, como duas pessoas normais puderam comer uma banana split de uns três quilos em menos de 5 dias (no nosso caso, menos de 4 horas)?

Não vou mentir que o papo ajudou muito. Ele era legal e muito divertido, me fazia rir de 5 em 5 minutos. Falamos de todos os assuntos possíveis, inclusive de nossas vidas. Contei que tinha um irmão mais velho (e mais chato), que meus pais eram chatos, que estudava num colégio no centro (nessa hora ele quase enfartou, e disse que já tinha estudado lá) e que eu tinha um cachorro doido (eu sei, emocionaaante a minha vida).

Ele me contou que chamava João Pedro, tinha 19 anos, trabalhava em uma locadora pertinho de casa (coisa que quase me fez enfartar, porque eu NUNCA tinha visto ele por ali), tinha um cachorro chamado Duque que era a vida dele,não tinha irmãos e morava com a mãe.

– Putz, melhor eu ir. Saí de casa a tarde e já ta de noite, e eu não avisei ninguém ... – Eu disse.

– Aaaaaaah, fica só mais um pouco, Carol!

– Não posso, é sério! – ele fez uma cara de tristeza, eu também, mas por dentro tava super feliz por ele querer que eu ficasse mais.

Nos levantamos e ele foi pagar a conta. Eu fiquei com vergonha por ele ter que pagar, mas eu estava sem nenhum, então fui pro carro e devia estar da cor dele (vermelho), porque o Pedro chegou e perguntou:

– O que foi?

– Que foi por quê?

– Você ta mó vermelha! – ele parecia assustado.

– Ah, eu fiquei sem graça de você ter que pagar. Mas pode deixar que eu devolvo tudo!

– Que é isso Carol, eu te devia isso!

– É devia mesmo. Então vamos! – Eu ri.

Rimos mais uma vez, e aquela vergonha saiu da minha cabeça. O nosso assunto nunca acabava, e a gente se divertia um monte, em meio a um pagodinho ou um sertanejo.

Finalmente (ou melhor, infelizmente) chegamos na minha casa. Já devia ser umas oito da noite, e minha mãe já devia ter chegado. Nos despedimos com um beijo no rosto, e a certeza de que aquela não seria a ultima vez que nos víamos (nós não combinamos nada, mas sabíamos disso).

Então eu saí daquele carro e voltei á realidade. Ele ficou ali parado, me olhando por alguns segundos, me deu um sorriso que salvou minha noite, e foi embora. Me conformei por aquele dia ter acabado e entrei em casa.


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Notas finais do capítulo

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