É claro que o jantar foi perfeito. Tanto tempo longe daqui, tinha ate me esquecido de como a comida dos meus avós era boa.

Depois de comer tudo que tinha pela frente, fui me sentar na frente da casa.

Fiquei encarando a neve caindo.

Estava frio mas eu não queria sair de lá. De certo modo, ficar naquele lugar vendo toda aquela imensidão branca me acalmava.

Em algum momento ouvi alguns passos atrás de mim, mas não dei muita importância. Até alguém dizer:

–Não ta com frio?

Me virei um pouco e pude ver Justin me encarando curioso.

É, acho que a pessoas não consideram normal ficar encarando a neve anoite.

Eu acho normal...

–Morrendo de frio.

–Então porque não entra? - ele pergunto.

Dei de ombros.

Justin andou um pouco até estar fora do alcance do telhado. A neve que caia suavemente começou a manchar todo o seu casaco preto de branco. E a molhar seus cabelos.

–O que ta fazendo? - perguntei rindo de leve enquanto ele fechava os olhos e abria os braços.

Depois ele virou seu rosto pro céu e disse: - Nada.

–E eu posso fazer nada com você? - perguntei rindo.

–Claro - ele riu também.

Fui ate ele, o encarei um pouco. Ele era tão... Tão...

Inexplicável.

Suspirei e fui ao seu lado ficar na mesma posição. Era ainda melhor do que apenas encarar a neve. Agora eu estava sentindo a neve.

Ouvi um barulho estranho e quando fui abrir os olhos pra ver o que era, fui atingida por uma bola de neve bem na barriga.

Me curvei pra trás quando senti o gelo atingindo a minha blusa.

Olhei para a frente e vi Justin rindo.

–Heey! - gritei - Não vale, eu não estava esperando por isso.

Quando ele continuou a rir, eu me irritei e peguei a maior quantidade que conseguia de neve com as duas mãos e fiz uma bola mostro gigante.

Amassei e joguei com toda a minha força nele.

Talvez força demais. Porque quando atingido ele caiu pra trás e fez um grande ruído de dor.

–Merda! - exclamei, e só depois fiquei com medo dos meus avós ouvirem. Sim, eles brigariam se eu falasse palavrão.

Corri ate onde o Justin estava jogado na neve se contorcendo e dor e com a mão onde a neve atingiu.

–Justin, esse não... Me desculpa - comecei a pedir desculpa desesperada enquanto me ajoelhava perto dele. -Tá doendo muito?

–Só... Só um pouco - ele disse com a voz fraca. - Mais isso com certeza mais doer mais.

Depois de falar isso ele pegou um monte enorme de neve e tacou na minha cabeça, e se jogou no chão novamente rindo.

–SEU FALSO! - gritei, enquanto pegava mais neve e jogava nele. -Você acaba de provocar o começo de uma terceira guerra mundial!

Nossa linda guerra continuou até minha avó aparecer na porta da casa gritando que tinha feito chocolate quente e que era pra gente sair da friagem antes que ficássemos gripados.

–Gripados vocês não conseguem aproveitar as férias - ela continuou com a bronca.

–Já estamos indo - Justin gritou.

Joguei a minha ultima bola de neve na cara dele e fui correndo ate o chocolate quente.

Ok, eu tinha acabado de jantar praticamente. Mas ninguém resiste ao chocolate quente da minha avó.

Me sentei em uma cadeira que tinha na varanda e comecei a tomar. Logo depois Justin se sentou do meu lado me espremendo na cadeira.

–Tem duas cadeiras sabia? - reclamei.

–Tó com frio - ele disse simplesmente e começou a tomar o seu chocolate quente.

Sinistro.

Justin tomou o chocolate inteiro em praticamente só um gole, e quando tirou a caneca do rosto pude ver a marca de ‘bigode’ que o chocolate tinha deixado.

Comecei a rir e ele me encarou confuso.

–Que foi?

–Chocolate... Marca... Bigode... Você - disse em meio a risadas.

Que foi? Um bigode marrom na cara do meu primo é bem engraçado.

Ele riu também e me deu um beijo na bochecha.

Repito: sinistro.

–Que que foi isso? - perguntei.

–Agora a marca ta com você - e ele limpou o chocolate da boca e saiu rindo.

Minha família é tão estranha.