Digimon Beta - E o Domador Inicial escrita por Murilo Pitombo


Capítulo 1
Recomeço




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“O dia de hoje ficará marcado por toda minha vida”.

João, um jovem de dezoito anos, estava sentado em uma pedra, atrás do Farol da Barra. Era final de tarde na cidade de Salvador. Um lindo pôr-do-sol fazia vários casais subirem ao rochedo para apreciar aquela belíssima visão. João estava desacompanhado. Tinha arranhões e hematomas espalhados pelo corpo. Braço direito engessado. Estava perdido em seus pensamentos.

“Uma sucessão de derrotas me fizeram temer e duvidar das minhas atitudes. Perdi meu grande amigo e um grande domador da nossa equipe. Perdi um irmão para ser mais exato. Ninguém que nunca tenha sentido o que é essa perda pode se colocar em meu lugar. Um sentimento que nem o mais experiente dos atores pode representar”.

 

Um rapaz caminhava apressadamente pelo saguão do Aeroporto Internacional de Salvador. Leon é alto, magro e de pele branca. Seus cabelos castanhos e extremamente lisos caiam sobre os olhos e o obrigava a constantemente jogá-los para o lado.

O rapaz possuía algumas escoriações pelo rosto, um curativo na testa e o braço esquerdo seguro em uma tipoia. Carregava consigo uma mochila e uma pequena mala com rodas. Estava muito atrasado para o voo que saia às 18:23 com destino a Lisboa. De lá, pegará um voo para Madrid. Esse exato momento, falava ao telefone.

— Se eu não aparecer no Mundo Digital, cuida do Veemon para eu Júnior. Voltaria rapidinho para Brasil. Ahora estoy en el avión. Adiós. - Rapidamente desliga seu aparelho celular e corre até a fila do check-in.

 

“Eu preciso ser forte. Não posso me deixar abater por isso. Carlos, Terriermon, Angler e o calouro que foi morto pelo Mugendramon serão vingados”.

João rapidamente volta à realidade e nota todas aquelas pessoas felizes a sua volta. Algumas se beijavam, outras estavam abraçadas. O trânsito continuava intenso na avenida próxima. Algumas pessoas mergulhavam no mar.

“Mal fazem ideia do perigo que todos corremos”.

O digivice de João apita. Acabara de receber uma mensagem de Bento pelo digivice de Bárbara:

 

Olá, João. Aqui quem fala é Bento.

Antes de qualquer coisa, quero lhe agradecer, e muito, pelo que vocês fizeram para me libertar de Calamon. Eu não suportava mais aquela vida uó.

Estamos bem. As cartas estão seguras conosco. Bárbara está aqui do meu lado com Fanbeemon. Achamos melhor não trazer Etemon. Ele quem pediu pra ficar lá, e também não teríamos como escondê-lo aqui, na nossa casa. Meus pais ficaram felizes em me ver. Eles juravam que eu tinha fugido por causa da minha opção sexual. Por um lado foi bom, tivemos um papo aberto e acabei me assumindo para eles. Foi um chororô só, mas no final tudo ficou pink, exatamente como Báhzinha tinha dito quando nos despedimos de vocês. Minha mãe perguntou sobre nossos machucados. Bárbara disse que não podia dizer o motivo e que no momento certo eles saberiam. Ficaram com medo de ter algo relacionado com meu desaparecimento. Devem estar pensando que me envolvi com alguém violento ou algo do tipo.

BLAZE FOI UMA DECEPÇÃO EM MINHA VIDA!

Mando vibrações coloridérrias para que todos tenham voltado sãos e salvos (se é que já voltaram).

Beijos! Ops, abraços!

OBS: Respondam logo. Estamos numa aflição só.

 

João havia se esquecido, por alguns instantes, de Bárbara. Ela e o irmão não faziam ideia da tragédia que havia acontecido minutos depois que deixaram o Mundo Digital. Não só ela, como os demais domadores que haviam perdido seus digivices e estavam passando por sérios apuros para esconder seus digimons. João precisava reunir todos eles o mais rápido possível, precisava contar toda a verdade... Precisava ser forte! Em momentos de fraqueza, Carlos estava ao seu lado para lhe estender a mão e dizer que não podia desanimar. Que ele tinha que ser forte, ser maduro. Tinha que ser o líder!

João rapidamente se levanta da pedra. O garoto andava com certa dificuldade, mancava de uma das pernas. O garoto de barba cerrada se afasta da praia, caminhava de maneira decidida. Iria buscar ajuda.

Horas antes, logo quando chegou em casa, João fez o que havia recomendado a alguns domadores ainda no Mundo Digital.

 

— Onde você estava?

João estava sentado em sua cama, de cabeça baixa. Porta do quarto aberta. Cláudia passava pelo corredor quando o vira sentado, em meio à penumbra e quieto, e o questiona.

— Espero que você esteja estudando para as provas finais. Carlos me ligou...

Ao ouvir o nome do seu amigo, o garoto começa a chorar.

— O que aconteceu, João? Por que está chorando dessa maneira?

João nada respondia, somente chorava. Cláudia estava assustada. Fazia muito tempo que não via seu filho chorando daquela maneira. Ao se aproximar, nota que seu filho estava com as roupas sujas e rasgadas. Cláudia corre até a porta e bate a mão no interruptor, ascendendo a luz. João estava com o rosto sujo de terra e marcas de sangue.

— João o que aconteceu? Por que você está desse jeito? – Cláudia estava com a voz chorosa, mas era nítida seu esforço em manter a serenidade.

— Carlos, mainha... – João chorava ainda mais. A lembrança lhe trazia dor.

— O que aconteceu com ele? Vocês brigaram? Foram assaltados?

— Não! Não foi isso, não.

Cláudia se senta ao lado de João e o abraça, comprimindo seu braço machucado. O garoto grita de dor.

— Você está me assustando, João. Diz logo o que ta acontecendo!

— Carlos... Ele... Ele ta MORTO! – João, que quase não conseguira pronunciar a última palavra, volta a chorar com mais intensidade.

Cláudia se assusta com a notícia e também chora ao ver o desespero do filho.

— Como que isso foi acontecer, João? Você estava perto? Você viu tudo?

— Mãe, eu vi Calamon o matar a metros de distância de mim.

— Calamon? Quem é Calamon, João?

— Tem algo que eu preciso te contar.

— O que foi, João? Vocês estavam se metendo com... Os pais dele já sabem?

— NÃO! – Diz abruptamente. - Eu tenho que contar a eles pessoalmente tudo o que vou contar a você. Verônica tem que estar presente.

— Verônica estava com vocês?

— Estava. Ela e outras pessoas que você não conhece.

— Quem são essas pessoas? – Cláudia estava nervosa. Segurava as mãos do garoto de barba cerrada com força. - Por que você está machucado? Por que Carlos morreu? Me conte filho!

— Preciso que você seja forte, mainha. – João respira fundo, tentando se acalmar. Enxugava os olhos com o dorso da mão. – Antes de tudo, preciso lhe apresentar alguém. Betamon, Culumon.

Do banheiro do seu quarto, saem dois pequenos monstros. Um de aparência inocente, branco e com as extremidades das orelhas e dos pés na cor roxa. Já o outro possui a pele úmida e lisa, um anfíbio com uma grande barbatana laranja sobre as costas. Esse último é quadrúpede e se arrasta com dificuldade, já o primeiro lembra um boneco de pelúcia e anda com facilidade.

Cláudia observa com curiosidade.

— Oi. – Diz Betamon, sério.

— Oi, culú.

Cláudia desmaia tamanho o susto que leva. João apoia a cabeça da mãe sobre a perna.

— João, isso é realmente necessário, culú?

— Eu disse que a partir de agora contaríamos a verdade. Não temos mais como esconder. – João passava a mão sobre o rosto da sua mãe. – Por enquanto, quero restringir somente a nossas famílias.

Após recuperar a consciência e novamente se assustar com Culumon a observando acordar, Cláudia fica sabendo de tudo o que era necessário para acreditar em cada palavra dita pelo seu filho.

— Então aqueles monstros que a mídia vivia noticiando...

— É a mais pura verdade, mainha!

— E seu Pai? Você vai contar a ele?

— Por enquanto não. Preciso ter certeza de que isso deve ser feito.

 

— Verônica está, Dona Célia? – João havia caminhado até a casa de Verônica. Normalmente o percurso “Farol da Barra - Casa da Verônica” não dura mais do que cinco minutos.

— Ela disse que estava...

João entra antes mesmo de ouvir tudo o que Célia iria falar.

O garoto passa pela sala e se desloca até o corredor que leva a todos os quartos da casa. O garoto estava disposto a esclarecer todos os problemas que haviam acontecido entre os dois e voltar às boas com Verônica. A fatalidade deixara ambos sensíveis. Um precisava do outro naquele exato momento. O garoto chega até a terceira porta do curto corredor e gira a maçaneta. A porta se abre rapidamente, se esbarrando contra a parede. Verônica e Murilo se beijavam de maneira enlouquecida. João fica sem reação ao ver a cena. Verônica empurra Murilo, estava com o rosto úmido e a voz chorosa. Murilo respira fundo e vai até a janela. Estava visivelmente abalado.

— João? O que você está fazendo aqui? - Verônica tentava estampar um sorriso desconcertado no rosto.

— Eu estava pensando que... Esquece! – João não consegue raciocinar direito depois do que presenciou, dá meia volta, e caminha em direção à porta. Estava disposto a sair da mesma maneira que chegou: sem fazer alarde. 

— Espera, João. - Lágrimas passam a rolar do rosto da garota. - Você tem que entender...

— Eu não tenho que entender nada, Verônica! – João a interrompe se voltando rapidamente. Permanecia com o tom de voz sereno.

— Só vim aqui porque temos que conversar com Celso e Renata. Estava em casa e não suportei, tive que sair por causa das ligações deles atrás de Carlos - João volta a chorar, tenta falar e não consegue. Verônica também entra em prantos. Murilo era o mais calmo, mas nem por isso o menos abalado com a fatalidade.

— E, também, pensei que você precisasse de alguém. – João sorri. – Estava enganado.

 Verônica chorava olhando no fundo dos olhos de João. Aquele brilho no olhar que lhe é característico havia se perdido no mar de lágrimas que o inundava.

João sai e deixa os dois a sós.

Murilo a abraça e a conforta.

 

Levi retornou à sua casa após sete meses desaparecido. Não sabia o que dizer nem como se portar. Estava nervoso. Sua família havia perdido as esperanças de encontrá-lo com vida. Davi, seu amigo e também domador, o ajudou nesse delicado momento. Uma grande comoção havia se instaurado na casa do garoto magro e de pele morena. Abraços, choros e agradecimentos eram bradados por todos. Levi era atingido por uma avalanche de perguntas. Sua mãe, seu pai, sua irmã, todos queriam saber o que de fato aconteceu. Havia chegado o momento de falar a verdade. Davi, um garoto mais alto do que ele e ruivo, queria convencê-lo do contrário, mas não havia muito a ser feito. Não existia resposta cabível para esses meses em que ficou desaparecido.

— João também concorda que façamos isso.

— Quem é esse tal de João, Levi? – Pergunta a mãe do garoto. - Você nunca comentou nada sobre ele.

Levi respira fundo após olhar para Davi e sentir seu total apoio, apesar de não concordar com sua atitude.

— Esse João é um primo de Davi que mora em Salvador. O que eu vou contar para vocês, agora, tem a ver com ele. Com ele e com Davi.

Levi começa a falar tudo o que lhe tinha acontecido nesses últimos sete meses. Davi complementava as explicações do amigo sempre que podia. Por diversos momentos a sanidade mental dos dois era questionada. Era impossível, para a família de Levi, que aquele mundo de fantasias pudesse existir.

— Isso não é hora para brincadeira! – Grita completamente nervoso o pai do domador, se levantando rapidamente do sofá.

— Eu tenho como provar!

— Chega! Você está indo longe demais! – Davi o segura pelo braço.

Levi se livra com força.

— Cheguei até aqui e vou contar tudo! Renamon.

Por alguns instantes uma grande expectativa se formava. O nome dito por ele soava estranho para seus pais e sua irmã mais velha. Todos aguardavam em silêncio.

Um enorme ser coberto de pelos amarelos e da mesma estatura que Levi, entra pela porta que já estava aberta. Renamon possui uma longa e peluda calda. Luvas roxas que seguiam até próxima dos seus ombros e olhos apertados na face que lembrava uma raposa.

Renamon se posiciona atrás do seu domador.

— Me chamou, Levi?

 

No Mundo Digital, a notícia do que havia acontecido assustara a todos os digimons. Calamon se tornara o digimon mais poderoso. Muitos digimons conheciam sua história e todos afirmavam que estava morto. Fazia parte do seu plano, deixar com que todos acreditassem que foi destruído pelas suas criações, os ditadores. Com isso conseguiria trilhar seu caminho em busca das vinte Cartas Acessórias que Culumon havia aprisionado em algum ponto do Mundo Digital. Essas cartas lhe concederiam força para se tornar o digimon mais poderoso que existiu.

Calamon estava em sua forma original voando pelo vilarejo que possuía construções de ponta cabeça. O digimon negro de olhos amarelos pousa sobre um banco que estava de ponta cabeça, quando é alcançado por um Armadimon, um digimon semelhante a um tatu de casco tão resistente quanto o diamante.

— O senhor se tornou a notícia mais comentada nas últimas horas.

— Onde esteve durante a batalha, Armadimon?

— Estive tratando de negócios do seu extremo interesse. Em uma batalha daquela magnitude, eu só iria atrapalhá-lo.

Calamon sorri com a observação feita pelo seu servo.

— Você vai longe, Armadimon. É um digimon esperto, apesar da pouca experiência. Saiba que enquanto estiver do meu lado será muito bem recompensado.

— Obrigado, senhor.

— Sobre o que mais ficou sabendo?

— Os domadores que fugiram com as cartas, a garota que não consegue ver e o rapaz que era seu refém, deixaram Etemon para trás.

— Por que fizeram isso?

— Não sei lhe dizer ao certo, mas tenho certeza de que o senhor poderá tirar proveito dessa situação.

— Agora que descobri como funcionam os digivices, preciso recrutar humanos que se aliarão a mim. Serão os meus Imperadores. Calamon não perde por esperar, Armadimon. Irei fazer com que uma ameaça eminente ataque o Mundo dos Humanos. Algo todos eles temem acontecer.

 

Continua...


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