Eu sempre soube que havia algo de errado com minha família, meus pais nunca comentavam sobre nossos parentes, não tínhamos fotos pela casa e meus pais nunca comiam junto comigo. Desde que eu completara 10 anos. A escola se tornava cada vez mais chata, lá tudo parecia ir devagar, a temperatura nem sempre era agradável. O ar não era frio o suficiente ou talvez fosse o calor que também não era suficiente. Hanna Sheeba Era a única que entendia quando eu queria ligar o ar-condicionado da sala de aula em pleno inverno, ou o aquecedor no verão, Seus olhos negros pareciam tão profundos quanto o oceano. Descobri que nossos pais eram amigos de infância. Sua mãe e meu pai eram primos de 3° grau, e minha mãe seu pai havia estudado juntos. Hanna e eu nos tornamos grandes amigas. Com o passar dos anos, Hanna se tornava cada vez mais meiga, gentil,  e delicada, ninguém conseguia entender como podíamos ser tão amigas se éramos tão diferentes.

O que ninguém entende é que, amizades não é simplesmente, a combinação entre pessoas que tem gostos e estilos parecidos, amizade é muito mais que isso. Talvez amizade se resuma em uma única palavra. “Cumplicidade”.

Hanna e eu éramos cúmplices em tudo. Se bem que, ela era minha cúmplice, tudo começou quando tínhamos 6 anos e estávamos no jardim de infância. Não sei bem o porquê, talvez agora eu saiba, mas na época, eu não tinha amigos, a não ser Hanna, a garota tímida de cabelos loiros e olhos tão negros e brilhantes quanto o céu em uma noite de verão. Ela era a única que não se intimidava com meus pais ou até mesmo comigo. Agora, nós crescemos e continuamos unha e carne. Hanna é certinha demais para o meu gosto, notas impecáveis, vocabulário elaborado, nunca vi seu quarto com um único grão de poeira fora do lugar. Ela nunca se metia em confusões, a não ser quando tentava me tirar de uma.  

A maioria dos garotos do colégio faziam fila, a espera que nos os escolhêssemos, para qualquer coisa, desde para carregar nossos materiais, até para ser nosso par nas festas. Não era difícil me pegar rindo com Hanna sobre isso, apesar de ela não achar graça em ver os garotos se rastejando a nossos pés e eu os dispensando, sempre que um deles tentava fazer algo desse tipo com ela, Hanna tentava dar um jeito de se desvencilhar do garoto inventando qualquer coisa, Já a ouvira dar as desculpas mais esfarrapadas e mais fofas, quando eu lhe perguntava por que fazia aquilo, ela sempre respondia.

- Eles não merecem o que você faz, mas não entendo como eles conseguem continuar a insistir, e eu então decidi, que talvez mudando de tática eles parem com isso.

Enquanto ela dizia isso eu via a pele de marfim do seu rosto em forma de coração adquirir um tom muito forte de vermelho, foi com isso que ela conseguira ganhar o apelido de tomatinho, entre nossas famílias. 

Talvez se eu não tivesse real ciência da beleza excêntrica de meus pais eu diria que os pais de Hanna eram lindos, maravilhosos, eu seria capaz de classifica los como... Perfeitos.