Love Forever, Love Is Free escrita por NoOdle


Capítulo 6
É mais fácil dizer 'olá' do que dizer 'adeus'


Notas iniciais do capítulo

O quarto estava totalmente vazio, sem nenhum móvel, sem nenhum bicho, sem nenhum instrumento, a única claridade vinda de uma pequena janela no canto direto. Somente uma menina estava no mais possível canto do cômodo, tremendo e chorando.
Colocava a cabeça entre as pernas, bem agachada, e envolvia seus joelhos com seus braços. Em uma mão segurava muitas fotos e na outra um pequeno revólver calibre 7, todo carregado de balas.
Não queria mais viver, não queria mais estar ali, não tinha mais por que estar ali. Não ia chorar em seu quarto, por isso procurara aquele bem longe de tudo, sem nada dentro e bem escondido para ninguém incomodá-la.
Pelo visto não tinha dado certo, Russel, 2-D e Murdoc ouviram seus gritos e descobriram sua localização, por isso a porta estava cheia de tiros. Não queria que ninguém estivesse ali, queria morrer sozinha.
Imagens do ocorrido passavam pela sua cabeça, como pequenos ‘flash backs’ que a atormentavam e a faziam puxar o gatilho mais uma vez.
‘Ray mexia, tenso, na mão dela, olhando para o chão toda hora. Ela não entendia o que podia estar acontecendo e começou a ficar preocupada com o garoto.
“Tem certeza de que está tudo bem com você...?” Perguntava, comendo mais uma garfada do macarrão.
Ele tentava não olhar para seus olhos, mas sempre dizia: “Sim, por enquanto sim, por enquanto está tudo bem, ou vai ficar bem...”
Desistindo de esperar ele falar, ela disse, deixando a comida de lado: “Olha, você precisa confiar em mim e me contar o que está acontecendo, estou ficando preocupada. Me conte o que está havendo!”
Ray se ajeitou na cadeira, respirando fundo.’
Mais um tiro do revólver soou pela sala e mais lágrimas molharam o chão. A bala acertou a parede oposta. Não queria mais lembrar isso!! Não queria ouvir as palavras dele mais uma vez!!
Mas parecia que quanto mais não queria lembrar mais alto elas eram em sua cabeça.
‘Depois de ter explicado a situação de sua família no Japão e Noodle tentara convencê-lo de que não era necessário ele ir, que ele podia ficar, que ele não podia abandoná-la, Ray apelou para o lado mais crítico da coisa.
“Não, eu não vou ficar, tenho que ir!” Gritava, abafando os gritos de Noodle. “Você não entende que família é a coisa mais importante que se tem nesse mundo??”
“Não, não entendo porque nunca tive uma!! Fiquei presa naquele lugar sendo treinada para ser uma máquina mortal!! Aparentemente isso não importa nada para você porque de todo jeito você vai me deixar para...”
“Não importa mesmo!!” Ele gritou, ofegando e finalmente calando a menina. “Não importa o que você tenha passado! É a minha família e não vou perdê-la!!”
Noodle chorava, desesperada. “Está dizendo que tudo que a gente passou não valeu por nada?? Tudo que você me disse era mentira?!”
Ray passou a mão pelo próprio rosto, cansado e nervoso. “Não, na época era verdade. Mas não mais agora. Noodle, você tem que entender que não dá, eu preciso voltar e vou voltar. Eu não te amo mais e não quero mais ficar com você. Está acabado.”’
Dois tiros seguidos ecoaram no quarto, um pegou bem perto do pé da menina que chorava mais alto e mais intensamente agora.
Podia ver perfeitamente todos os objetos que tacara no garoto voando e quase o acertando, a cadeira, o ferro de passar roupa, o sapato... Também ouvia os xingamentos como se alguém os pronunciasse ali e naquela hora, gritando e batendo a porta, saindo para sempre da vida dele.
Não valia a pena chorar por aquele idiota, disso ela sabia, mas não resistia. Ainda o amava e não conseguia entender por que ele fora tão grosso com ela, porque ele tinha desistido de tudo justo agora que iam fazer quase dois anos que estavam juntos.
No que ela tinha errado? Era algum problema com ela?
Todos os momentos juntos, na casa dele, ali mesmo na Kong Studios, no parque, no restaurante, no quarto dela, todas as risadas, as brincadeiras, os choros, os carinhos, e até mesmo quanto estavam quietos olhando para o céu, como sempre faziam. Tudo em vão, nada importava mais.
Atirou mais umas três vezes e levou o revólver para sua cabeça. Se não importava mais não valia mais a pena viver. Se bem que toda sua vida nunca tivesse mesmo significado nenhum.
Carregou a arma, fechando o olho e deixando cair uma lágrima.
A porta se abriu, 2-D entrou correndo e gritando. “Não!! Não faça isso!!” Pulou em cima dela, fazendo o tiro ir parar bem no teto. Noodle o olhou de boca aberta, sem saber o que dizer. “Não...” Dizia, ofegando. “Nem pense em fazer isso...!!” Pegou a arma da mão dela, tacando-a longe.
Sentou ao seu lado, envolvendo-a em seus braços. Ela continuou chorando, confusa e desesperada, enxugando as lágrimas na blusa do cantor, que passava a mão por sua cabeça, tentando consolá-la.
“Noodle, querida, já passou. Já fazem quase dois dias que você está aqui, trancada, sem comer nem beber nada. Já passou, Russel foi atrás daquele imbecil e bateu nele até falar chega.”
A menina levantou o rosto, olhando 2-D. “Russel-Kun foi até ele?? Como ele estava?? Estava muito triste?? Estava chorando?? Ele ficou todo quebrado quando RusselKun foi embora?? Ah, por favor, fala que ele quase morreu quando Russel-Kun o deixou...!” E continuou chorando, escondendo o rosto novamente na blusa dele.
“Sim... Russel disse que Ray estava arrasado quando ele entrou no apartamento, disse que estava cheio de olheiras e cansado... E sim, ele o deixou quase morto quando saiu... Pelo visto o garoto não estava com forças para lutar...”
Noodle sorriu, soluçando. “Bem feito. Mereceu.”
2-D se virou olhando para ela. “Já está na hora de você subir para a cozinha e comer alguma coisa, não, querida...? Se acabar emagrecendo mais do que isso vai sumir!” Falou, rindo um pouco.
Ela tentou ficar de pé, bem fraca. Enxugou o rosto, ainda soluçando. “O que eu faria sem você...” Disse, abraçando e se apoiando na cintura de 2-D, andando de vagar.
“Bom, no momento sem mim você estaria estatelada ali no chão, com uma possa de sangue bem grande em volta de sua cabeça...” Brincou, mas logo ficou sério. “No que estava pensando, menina?” Mas parou, vendo que Noodle tinha parado de andar.
Ainda encostada nele a garota dormia, exausta, sorrindo levemente. 2-D a pegou no colo, saindo do quarto vazio. Logo Russel apareceu para ajudá-lo a deixá-la em seu próprio quarto.
2-D seguiu se caminho à cozinha para preparar alguma coisa para Noodle comer quando acordar, pensando. ‘Pelo menos agora o pior já passou. Não era para ser tão difícil assim, era...? Bom, agora eu sei que aquele menino não entra mais aqui... Nunca mais. ’ E sorriu, cortando um pão mal iluminado da lâmpada.
E, do outro lado da cidade, no escuro daquela noite, partia um avião com um passageiro deprimido, indo em direção ao Japão.
Porque até esse passageiro sabia que o que tinha falado anteriormente para uma garota era mentira, mas tinha que ser assim, ou então não ia conseguir voltar e ajudar sua irmã com o falecimento da mãe...
Mas tinha exagerado, até ele mesmo sofria ao lembrar das próprias palavras e do rosto da ex-namorada. Agora já tinha passado.
Tinha que seguir em frente, só em frente.
E nunca mais olhar para trás.



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