Love Forever, Love Is Free escrita por NoOdle


Capítulo 22
Partida




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Era quase quatro horas da manhã na Plastic Beach. Em uma madrugada normal todos estariam dormindo, lá pelo seu décimo sono, mas essa não era este o caso.

O vento fazia tudo balançar e as lágrimas nos olhos de uma menina japonesa faziam parecer que até a casa tremia um pouco por causa do frio. O baterista da banda dormia tranquilamente, coberto em grossos cobertores, mas do lado de fora estava um homem de cabelos azuis, outro de cabelos brancos e duas meninas.

Noodle abraçava Hina, irmã de Ray, se despedindo. A garganta já estava seca de tanto conversarem, desde as duas da manhã estavam colocando o papo em dia. Já fazia mais de 4 anos que não a via.

2-D fora praticamente obrigado a estar ali. Se não fosse por Noodle ele estaria dormindo tranquilamente, nem pensando em estar sentado em uma madeira dura e fria de um barquinho meio velho, com as velas amarradas e a âncora solta.

Mas tinha que admitir: Ray fora importante naqueles tempos. Tinha que agradecer por ele ter cuidado de sua mão quando estava quebrada, cuidado dos ferimentos de Noodle e entre outras coisas.

Ray, por sua vez, dormia encostado na proa do barquinho, depois de ter desistido de tentar lançar olhares de ‘vamos embora logo’ ou ‘deixa de enrolar’ para sua irmã. Não queria que aquele dia cegasse, mas como chegou queria que passasse o mais rápido possível.

Até que, quando já dava umas quatro e meia da manhã, Hina se levantou, enxugando algumas lágrimas. “É melhor eu já ir... A viagem é longa e preciso revezar o turno da tarde com Ray...” Disse, segurando na mão de Noodle.

“Entendo... Ah, não acredito que já vão partir!” Ela disse, abraçando a irmã de Ray, qual considerava sua irmã caçula.

“Eu também não!”

“E eu também não...!” Ray falou, se espreguiçando e se afastando do barco. “Finalmente pararam de falar!”

As duas se viraram com um olhar de ‘morra’, fazendo-o tropeçar em uma pedra arás de seu sapato. 2-D descia do barco, arrumando o cabelo.

“Por favor, cuida desse desastrado por mim...!” Noodle pediu, sorrindo e se afastando dela, pronta para depois se virar e se despedir de Ray mais uma vez. “Ele é um babaca, mas é meu babaca...” E sorriu, abraçando-o.

“Adeus, Noodle.” Ele falou, beijando a cabeça da menina. Ela olhou para cima, fitando-o.

“Vê se não se mete em encrencas lá, ok? Com esse seu jeitinho de ser não duvido nada que quando você chegar lá já vai pular em cima de um que for um pouquinho esverdeado!” Disse, rindo. Suspirou, um pouco triste. “Pena que minha idéia não deu certo...”

Ray entortou a cabeça, franzindo as sobrancelhas. “Que idéia?”

Ela sorriu um pouco, brincando com um botão que tinha na gola da blusa do garoto, ainda abraçados. “Ontem antes do almoço, quando fui no seu quarto, estava pensando em amarrá-lo ou acorrentá-lo por lá para você ficar preso e não sair... Mas não consegui, você estava sem blusa...” Disse, respirando fundo, fingindo um desapontamento.

Ele riu e se aproximou para beijá-la. 2-D pigarreou alto, fazendo Noodle e Hina rir. “O que eu te falei...?” Noodle falou para ela, se virando um pouquinho.

“Igualzinho! Tenho certeza que sim, Noodle!” Ela disse, rindo.

“Do que vocês estão falando?!” Ray perguntou, agora soltando a menina e segurando em suas mãos. Ela só sorriu.

“Nada de importante.” Se aproximou e deu um beijo em sua bochecha. “Boa viagem. Vê se um dia, pelo menos daqui alguns anos, você volta, ok?”

“Prometo.” Ray disse, entrando no barquinho logo atrás de Hina. Noodle ficou ao lado de 2-D, encostando sua cabeça, sonolenta, no ombro dele.

Os dois tentavam arrumar algumas ultimas coisas no barco quando ouviram um grito.

“Esperem!!!!!!!” Gritava alguém, provavelmente correndo. “Esperem só um pouquinho, merda!!!!!”

Todos se viraram, procurando de onde vinha a voz.

Correndo e ofegando, um pouco mais para frente da porta da Plastic Beach, vinha um homem com uma roupa de capitão de barco e um cigarro na boca, segurando uma garrafa de champanhe e três copos na mão.

“Murdoc!! O que você está fazendo??” Noodle perguntou, quando ele já estava praticamente ao lado dela.

Murdoc respirou fundo, ajeitando o champanhe em sua mão. “Eu falei que viria para comemorar! Estou aqui!” Disse sorrindo.

A menina levantou a mão para dar um tapa nele, mas logo já abaixou, rindo.

Não sabia porque, mas estava rindo.

Aquela situação estava muito engraçada, todos lá, deprimentes, e chega Murdoc, pensando em festejar. Ray começou a rir também, e logo todos riram e festejaram.

Murdoc chacoalhou a garrafa colocando-a entre as pernas e puxando a rolha, fazendo-a voar.

Um grito soou pela praia, junto com a ‘buzina’ do navio. Noodle olhou para ver o que tinha acontecido.

Ray estava com a mão na testa, aparentemente a rolha tinha voado e acertado ele. Isso a fez rir ainda mais, acenando.

Depois de um tempo quase não conseguia ver o pequeno barco, escondido sobre a neblina da noite escura. Noodle continuou fitando o nada, sorrindo de leve, abraçada com 2-D, Murdoc comemorando ao seu lado.

Passou alguns minutos até que o cantor colocou a mão em sua cabeça e falou baixinho: “Querida, acho melhor agente entrar, se não você vai ficar gripada...”

Ela enxugou uma lágrima e o olhou, tentando sorrir. “Sim, sim, vamos.”

Andaram os dois mais atrás, segurando um copo do champanhe barato que Murdoc tinha dado para eles. Murdoc foi na frente, fumando seu cigarro.

A pequena caminhada até a porta de entrada nunca fora tão longa e os passos de Noodle nunca foram tão pesados para ela. Agora estava absorvendo a realidade: Ray se fora e, com ele, todas as lembranças.

Não queria pensar, não queria lembrar, não queria sorrir, não queria chorar por causa disso.

Mas o mais estranho era que ela queria pensar, queria lembrar, queria sorrir e queria chorar por causa disso.

Quando se deu conta estava no elevador, onde se separou de 2-D, se virando para ele e corando para falar: “2-D-San, eu... posso... por favor, eu... posso dormir com você hoje?”

Ele sorriu, olhando-a carinhosamente. “Claro que sim, querida. Afinal, quantas vezes você já não me deixou dormir com você?”

Murdoc bufou ao lado deles. “Afe, vão se ferrar. É só uma despedida de um garoto que só trouxe encrencas. Eu vou dormir no meu quarto sozinho e, quem sabe, brincar um pouco.” Disse, saindo e indo para o corredor escuro.

O elevador começou a descer, indo agora em direção ao quarto de 2-D. O silêncio era frio e mórbido, poderia fazer qualquer um tremer lá dentro. Mas do nada Noodle agarrou 2-D, chorando em seu peito.

“Não queria que ele tivesse ido embora, 2-D-San...!! Ele não precisava ter ido, é tudo culpa minha, tudo culpa minha...!”

2-D ficou sem reação, de boca entre aberta. A porta se abriu e ele a abraçou, puxando-a para fora. “Vai ficar tudo bem, querida, eu estou aqui. Vai ficar tudo bem. Você... ainda o amava?”

Noodle se separou dele, enxugando as lágrimas. “Não, não amava. Isso é que é estranho. Eu sou muito estranha! Acho que devo me matar!!” E começou a chorar de novo, entrando no quarto.

“Não, não, não! Se matar não!” 2-D falou, puxando-a para seu peito, perto da cama. “Já tivemos essa conversa quando você tinha uns 16 anos!” Disse, abafando o choro da menina. “Eu não consigo viver sem você, querida... Você sabe disso! Como é que eu ia viver aqui sem o único motivo concreto que me faz ficar aqui!?”

Ela se afastou, olhando-o. “Sério que você gosta de mim? Não me acha tão má assim?”

Ele sorriu carinhosamente e chegou mais perto, dando um beijo nela. Foi um beijo pequeno, tipo um selinho, mas ela entendeu.

“Obrigada, 2-D-San...” Disse, enxugando as ultimas lágrimas. Ele colocou a mão em seu rosto, afastando a franja.

“Já te disse o tanto que você é bonita...? Você é minha menininha. Não vou deixar nada acontecer com você.”

Ela corou, sentando direito na cama. “Obrigada de novo, 2-D-San... Não sei o que eu faria sem você.” Disse, sorrindo. Ficaram algum tempinho quietos, logo ela se afastou e deitou em seu lado da cama, sorrindo para ele.

“Está roubando a minha fala...” Brincou 2-D, também deitando. “Boa noite, querida.”

“Ham... Só mais uma coisa...” Ela disse, se apoiando com a mão no colchão, agora fazendo uma cara mais levada e um sorriso desafiador. “Quem deixou você me dar aquele indício de beijo...?” Falou, meio rindo. “Aqui sou eu quem dou beijos...!” E se aproximou e deu um beijo que o fez virar para cima. Se afastou, satisfeita, deixando 2-D pasmo do seu lado. “Agora sim... Boa noite!”

Desligou a luz e fechou os olhos, virada para seu lado. Tentou não pensar em nada e, pela primeira vez em muito tempo, conseguiu: dormiu muito rápido.

2-D, por sua vez, ficou acordado até perceber que o sol estava querendo aparecer. Essa insônia que não o deixava... Era a melhor insônia do mundo.

E já a muitos quilômetros dali um japonês de cabelos brancos fitava o céu, sorrindo. Aquela sensação do vento batendo no rosto, as estrelas no céu brilhando mais do que nunca e sua irmãzinha dormindo logo perto dele era a melhor coisa do mundo.

Só faltava uma única coisa para ficar perfeito...

Só faltava uma única pessoa para ficar perfeito...

Sorriu silenciosamente para o vento. Talvez fosse melhor assim. Tudo acabar assim. Era um bom final.

Um final que no fundo ele não queria que existisse.


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