Love Forever, Love Is Free escrita por NoOdle


Capítulo 21
Niver do Murdoc




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Era madrugada na Plastic Beach. O vento constante passava pelas janelas, fazendo um barulho estranho.

Mas não era uma madrugada qualquer. Era domingo, a lua estava cheia e soltava as luzes do sol escondido, luzes amarelas esverdeadas, que faziam as sombras dos coqueiros dançantes pelo vento ficarem assustadoramente sinistros.

Pelos corredores da casa se ouviam passos apressados, ansiosos e aflitos, tentando chegar ao seu destino. Atrás de uma estante de livros, depois de descer uma escada absurdamente grande, lá estava a porta, por trás desta o aniversariante provavelmente estaria dormindo.

Noodle bateu, sorrindo.

“Vá embora! Estou ocupado!” Uma vós masculina respondeu.

“Murdoc! Abra! É seu aniversário, queremos comemorar!!” Ela gritou, animada.

Ouviu-se um barulho, provavelmente algo tinha quebrado. “Eu sei, eu sei, obrigado... ai... obrigado por lembrar! Tchau!” Barulhos de coisas caindo no chão, seguido por um barulho realmente estranho na cama.

“O que está acontecendo aí? Tudo bem?” Noodle perguntou, agora preocupada. Russel se mexeu atrás dela e 2-D se encolheu na parede.

“Acho que devíamos voltar outra hora...” 2-D falou, bem baixinho.

“Não, ele também merece um parabéns logo de manhãzinha!” Ela disse, colocando a mão na maçaneta. Os barulhos tinham cessado. “Vou entrar!!”

Mas o pequeno círculo que era a maçaneta girou sozinho, e a porta se abriu.

Andróide, enrolada em um fino lençol, apareceu, realmente séria. “Olá. Sr. Murdoc não quer receber visitas agora. Por favor, voltem mais tarde.” Disse, com uma vós fina e dentes cerrados.

2-D soltou uma exclamação e Russel fez menção de avançar, provavelmente para tampar os olhos de Noodle ou mesmo para entrar e espancar Murdoc, mas Noodle o parou, sem tirar os olhos de Andróide.

“Não me importa o que ele está fazendo. É o aniversário dele e ele é família. Vamos vê-lo agora.” E colocou a mão em Andróide, afastando-a.

Murdoc estava amarrando um calção que provavelmente acabara de colocar. Respirava fundo, de costas para a porta. O sorriso de Noodle voltou e ela correu até ele, pulando em suas costas para dar um abraço.

“Parabéns!!! 44 anos!!!”

Murdoc ficou parado, sem reação. Ela se afastou, pulando de alegria. Ele se virou devagar, o rosto com uma visível dúvida.

Então aconteceu.

Murdoc sorriu.

Ele esticou a mão, colocando-a no rosto da menina alegre. “Obrigado, querida.” Continuou observando-a, como um pai vê sua filha. “Tá! Agora saiam! Andróide estava... Me dando o presente de aniversário dela!” Murdoc falou, voltando ao normal, com seu olhar ranzinza e cansado.

“Mas eu também te trouxe um presente!” Noodle falou, tentando se defender e não ficar em segundo plano.

Ele a olhou de cima para baixo e deu um sorriso, com segundas intenções. “Olha, se o que você for me dar for tão bom quanto o dela eu aceito um ménage a...”

Russel avançou e Murdoc recuou, assustado. Noodle o segurou pouco antes do pulso dele chegar ao rosto do baixista.

“Não, Russel-Kun, hoje é o aniversário dele então temos que aguentar.” Disse, pegando uma sacola que tinha uma coisa embrulhada dentro. “Aqui seu presente!”

Murdoc pegou o embrulho, tirando uma garrafa de champanhe barato. “Ah... ual! Obrigado...” Ele falou, colocando o presente em cima da mesa. “Agora vão!”

“Ta bom, mas eu vou preparar um almoço delicioso para todos nós. Não vai faltar, ein??” Noodle falou, ainda animada. Saiu pulando de felicidade, mas parou na porta, fitando Andróide. Ela continuava séria, sem expressão. Noodle deu uma ultima olhada para Murdoc, ainda com o calção mal-amarrado. “Boa sorte, vai precisar...” ela desejou, saindo do quarto. Russel olhou firme para Murdoc e saiu, seguido por 2-D logo á sua cola.

Andróide piscou para 2-D, rindo baixinho. Ele tremeu, se escondendo atrás de Russel. A porta se fechou. A robô demorou-se na maçaneta do outro lado da porta, respirando fundo. ‘Tudo para agradar Sr. Murdoc e ele não se esquecer de mim. Calma, eu consigo!’ Pensou, se virando devagar enquanto ouvia seu criador falando com ela.

“Onde foi que paramos...? Ah, sim, meu presente, querida...” E foi tirando o calção, fazendo uma onda de náuseas invadir Andróide.

‘É só eu não olhar e não pensar. Vou lendo alguma coisa em minha mente enquanto isso.’ Ela pensava, ignorando a vontade de vomitar alguma coisa que não tinha em seu estômago. Selecionou um arquivo de memória na mente, querendo ler algo do passado da sua fonte. Parou, analisando.

“Hm... Senhor Murdoc...?”

“O que foi, querida?” Ele falou, olhando-a.

“Acho melhor você não se atrasar para o almoço hoje, Noo... ham... Minha fonte vai ficar decepcionada, igual da ultima vez.” Ela disse, olhando para baixo. Se pudesse corar, corava, mas não tinha sangue para fazê-lo. Murdoc se afastou, observando-a, confuso.

“Como você sabe o que aconteceu da ultima vez?”

“Ah, eu tenho a memória dela, e ler os sofrimentos é um bom hobby meu. Mas acho que se ela sentir de novo o que sentiu é capaz de te atacar e te matar de tanta raiva, e não estou boa o suficiente para te proteger...”

Murdoc suspirou, aliviado. “UFA!! Achei que você já estava começando a se preocupar com o sentimento dos outros!! Tudo bem, querida, vou trocar de roupa agora mesmo e já subo.”

Andróide sorriu por dentro, feliz com sua liberdade. Começou a vestir sua roupa, pensando no que faria naquele dia para irritar alguém da casa.

A mais ou menos duas semanas atrás a banda tinha entrado em um acordo e ninguém andaria armado e atacaria por nada, só se rolasse uma briga. Então ela estava fazendo de tudo para arrumar uma.

Tinha que fingir que estava tudo bem, e não dava conta! Tentava fazer a vida dos outros virar um inferno para ver se eles a atacavam, aí sim ela poderia lutar.

Fechou o zíper do minúsculo short, saindo pela porta e subindo a escadaria. Já sabia aonde ia.

Chegou na pequena sala onde tinha o elevador. Apertou o botão, chamando-o, e olhou em volta enquanto esperava. O pequeno polvo que Murdoc usava para encher o tinteiro a olhava, assustado, provavelmente porque Andróide o tinha engolido quando estava chegando na Plastic Beach. A robô tremeu, lembrando o quanto foi estranho a sensação de botá-lo para fora... 2-D tinha ficado louco de medo, lembrava ela, agora sorrindo.

O elevador chegou e ela se virou, pronta para entrar. Parou bem na porta, surpreendida. Noodle estava dentro também. A menina fez uma cara muito surpresa, mas foi para o canto e sua cópia entrou, apertando um botão.

O silêncio foi tenso e até o ar do pequeno e mal iluminado elevador estava pesado. Noodle estava inquieta e Andróide muito calma.

“Não se preocupe.” Ela falou, sorrindo quando a porta se abriu e Noodle descia. “Ele não vai perder o almoço.”

A menina parou, olhando-a, de boca aberta. Mas sua expressão mudou e ela sorriu carinhosamente. “Obrigada”. A porta se fechou.

Andróide se arrepiou, descendo mais.

Noodle se arrepiou, indo para o quarto de Ray.

Ela abriu a porta sem mesmo bater, já entrando. O garoto estava na cama, com uma mala grande e muita roupa envolta bagunçada.  Se levantou, estralando as costas e encarando a ‘intrusa’.

“Não bate mais não, é?”

“Não. Desde que você começou a inventar que não vai mais morar aqui não bato mais.” Ela falou, sorrindo desafiadoramente.

Ele riu, coçando os olhos cansados e bagunçando o cabelo. Noodle se aproximou dele, colocando os braços pelo seu pescoço e ele suas mãos na cintura da garota.

“Como eu vou viver sabendo que não vou ter tudo isso...” Ela disse, olhando-o de cima para baixo “Aqui em casa para minha disposição...?”

“Aah, você aprende...” Ele falou, rindo e chegando perto para beijá-la. Noodle colocou a mão em seu rosto, fazendo-o parar.

“Você tem que fazer a barba. Está começando a ficar desleixado!”

E saiu de seus braços, sentando na cama, observando-o fazer a mala, ainda com o sorriso desafiador. “E como foi com o Murdoc lá...?” Ele perguntou, enquanto dobrava uma blusa preta.

“Normal. Eu cheguei lá ele tava com a Andróide fazendo... bom... ele estava com a Andróide, mas já se separaram, eu a encontrei no elevador.”

“Sério? E não aconteceu nada enquanto vocês duas estavam juntas? Ela não te atacou?”

Noodle deu de ombros, fitando a parede, pensativa. “Não. Na verdade ela foi até gentil comigo. Eu acho que o que aconteceu no quarto do Murdoc deve ter afetado os fios dela!”

Ray se ajeitou, colocando uma bermuda na mala. “O que aconteceu no quarto do Murdoc??”

A menina o olhou com uma cara cética. “Preciso mesmo explicar...?”

Ele se aproximou dela, subindo na cama e segurando sua cabeça. “Foi uma coisa mais ou menos assim...?” E a beijou, fazendo-a deitar.

Ela riu, beijando-o. Ele estava sem blusa e ela não resistia a sua barriga tanquinho, mas tinha que ser forte, então tentou afastá-lo devagar. “Não... Deve ter sido horrível... E o que eles fizeram não é uma coisa que vamos fazer...!” Noodle falou, cochichando na orelha de Ray.

Ele levou numa boa e se levantou, rindo. Pegou alguns shorts jogados e os dobrou, voltando a fazer a mala. Noodle só o observava, sorrindo.

“Sabia que sua barriga é uma arma mortal...?”

Ray se virou para ela, rindo e confuso. “O que...?”

“Você é muito lindo e tem uma barriga muito perfeita. Isso é irresistível. Uma arma mortal.”

Ele riu uma gargalhada longa e gostosa. “Falou a que foi programada para virar uma pequena bomba atômica!”

Ela também riu, mas logo já completou: “Vamos ir, acho que a comida que estou fazendo no forno já está pronta. Não demore para descer, ok?”

“Ok. Já estou indo, só vou terminar a parte das calças e shorts.”

Ela passou por ele, piscando, e saiu pela porta, pegando o elevador. Apertou um dos últimos botões, pronta para ir ao quarto de 2-D e chamá-lo para ir almoçar.

Sua cabeça começou a viajar para longe, pensando em muitas coisas ao mesmo tempo. Para não deixar isso acontecer e começar a ficar triste de novo, Noodle assobiou a musica do elevador. Era “5/4”, lembrou ela. ‘Naquela época era tudo tão mais fácil...!’ Pensou, se preparando para sair com a porta se abrindo.

Andou o pequeno corredor e parou na porta, ouvindo vozes.

“Não... Não... Não, por favor, vai embora, eu...”

“Ah, 2-D, eu sei que isso não te incomoda porque eu sei que você quer...!”

“Não, eu... Eu... Não...”

Noodle avançou, entrando no quarto e se deparando com a cena. 2-D estava quase ultrapassando a parede de tão espremido que estava e Andróide o cercava, sem deixá-lo escapar. A robô se virou para a menina na porta do quarto, tempo perfeito para 2-D passar por debaixo dos braços dela, correndo até Noodle.

“O que está acontecendo aqui...?” Ela perguntou, franzindo as sobrancelhas.

Andróide sorriu de lado. “Nada. Só estava chamando 2-D para ir no almoço.”

“Era o que eu ia fazer. Se não se importa, por favor, suba e espere na cozinha.”

Andróide passou por ela, rindo e piscando para 2-D. Noodle respirou fundo, voltando a ficar calma.

“Vamos, 2-D-San? A comida já está pronta!” Disse, sorrindo.

Ele se arrepiou, esquecendo o que tinha passado e virando-se para ela. “Sim, sim... Vamos... O que você está fazendo mesmo?”

Noodle parou, entrando no elevador. “Sabe que eu não sei? Coloquei no forno e saí para dar os parabéns á Murdoc, mas... acho que era frango... Você sabe o quanto eu nunca fui boa em cozinhar!” Ela riu, agora já andando pelo corredor até a porta da cozinha.

Foi até o forno e puxou uma forna com um grande pernil bem torradinho dentro. Colocou em cima de uma mesa arrumada com alguns pratos, garfos e copos. 2-D, encostado na bancada, perguntava: “Quando é que Ray vai embora mesmo?”

A menina ficou séria, lembrando do assunto. Abriu a boca para responder, mas algo a interferiu.

“Ray vai embora...?! Não acredito!! Essa é a melhor notícia de aniversário que podia ter ganhado!!” Murdoc falava, entrando e se sentando na mesa. “Despesas e preocupações a menos!!”

Noodle se virou para ele, sorrindo novamente. Abriu a boca para falar, mas foi interrompida mais uma vez.

“Sim, eu vou embora. E acho que será amanhã. Hina, minha irmã, virá me buscar com um barquinho da nossa família.” Ray falou, também se sentando e encarando Murdoc. Noodle deu uma cotovelada em sua barriga e ele sorriu, dizendo: “Feliz aniversário, Murdoc...!”

“Obrigado!! E já estou até vendo quando vou usar minha garrafa de champanhe que ganhei!!” Ele disse, servindo uma pratada de comida.

“Não vejo porque comemorar a partida de Ray. Ele vai embora de madrugada e ninguém vai ver. Só eu, é claro, porque faz muito tempo que não vejo Hina.. adoro ela!” Noodle finalmente falou, servindo um prato para 2-D, que agora estava se sentando ao lado de Murdoc. Andróide entrava silenciosamente e se sentava na ponta da mesa.

“Bom, eu vejo um por que. Porque é meu aniversário e quero que todos comemorem! Mas não agora, de noite, quero dormir agora à tarde. Estou cansado de hoje de manhã.” Murdoc falou, de boca cheia. “Isso está realmente bom. Onde aprendeu a fazer?”

Noodle se impressionou com o elogio repentino, mas sorriu e disse: “Estava escrito como fazer na caixa de onde veio esse frango aí! Obrigada!”

Se sentou ao lado de Ray e também comeu, todos ficando em silêncio.

Russel logo chegou e ocupou a outra ponta, acabando com a comida. Todos sentados na mesa, almoçando.

Noodle sorriu largamente, muito feliz. Isso era o que ela mais queria: a família toda reunida, comendo, felizes.

A melhor coisa que podia ganhar.

E a mais difícil de encontrar.


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