Love Forever, Love Is Free escrita por NoOdle


Capítulo 17
Depois do Niver do 2-D


Notas iniciais do capítulo

2-D escorregou na parede do elevador, sentando no chão. A luz voltou e a musica tocou, ainda descendo na direção onde o botão apertado mandava.
Ela estava acordada...? Sim, no fundo no fundo sabia que aquele dia que tinha passado era o impossível, que logo Andróide voltaria a funcionar e a caçada para a morte de Russel re-começaria. Era só uma questão de tempo.
E agora esse tempo chegou, e todos corriam perigo, como sempre. Era para Ray e Russel já terem bolado uma ‘negociação forçada’ para fazer Murdoc reprogramar Andróide, mas... nada.
A porta do elevador se abriu, mostrando o corredor escuro. 2-D se encolheu ainda mais no canto, sem ter coragem de sair. E se ela decidisse passar no quarto dele primeiro e trancá-lo? Afinal ele tinha dado um tiro no ombro dela... Olhou o relógio: 22:40. Ainda não era de madrugada, se Murdoc não a tivesse reprogramado isso queria dizer que Russel ainda estava salvo. Mas ele não.
A porta se fechou, agora subindo. 2-D ficou parado, respirando. Andróide não pegaria o elevador, era mais ‘comum’ ela pegar a escada. Apalpou os bolsos, procurando por um cigarro. Por sorte estava com dois na blusa de frio. Pegou um isqueiro e acendeu, quando a porta do elevador se abriu. Ele se encolheu no canto, fechando os olhos, temendo a morte.
"Sou eu, acalme-se. Estou indo para o quarto da Noodle, acho que Russel pode estar lá. Vamos conversar sobre o que faremos." Falou uma voz. 2-D relaxou, e, ainda de olhos fechados, fumou uma tragada do cigarro, respirando fundo. Olhou para frente, sem conseguir encarar Ray.
O elevador estava escuro, com uma luz muito fraca, e a música estava pulando. Virou a cabeça, respirando para perguntar-lhe uma coisa.
Mas levou um soco, caindo no chão, o nariz sangrando. "Que merda, o que...?" Começou, mas levou um chute no estômago. A porta se abriu e a dona da voz falou: "Isso foi por ter me dado um tiro. Depois vá para seu quarto, barata, Murdoc tem que usar o elevador e ele não pode estar sujo de sangue."
Não estava ouvindo mais nada. Ele estava com Andróide ao seu lado, e tinha sido enganado por ela, deixando-a passar e ir em direção ao quarto de Noodle!!
Tinha que fazer alguma coisa, mas sabia que não era a melhor pessoa e a mais corajosa para ajudar na situação. Então, se arrastando, apertou em um botão, entrando novamente no elevador.
Limpou o sangue do nariz, passando depois a mão pela barriga. A porta se abriu e, engatinhando, foi em direção á um quarto onde estava dormindo Ray. Entrou gritando.
"O que você ta fazendo!?!?!" Falou, fazendo Ray cair da cama, de cara no chão. "Andróide acordou e está lutando com Noodle!! E ela tava dormindo!!"
"É, e eu também!!!" Ele falou, coçando a cabeça. Logo já se sentou, com os olhos arregalados. "Andróide o que...?"
"Ela acordou, sei lá, não vi como ela estava! Me deu um chute e saiu!" 2-D disse, se levantando. Ray passou por ele, abrindo espaço, o que o fez cair de novo.
"Não temos tempo então! Estou indo!" E saiu correndo, entrando no elevador.
Ray chegou rapidamente, era logo no andar de cima. Entrou correndo, e chegou bem na hora. Ele bateu na porta, fazendo Andróide parar de fazer o que estava fazendo.
A cena era horrível. Noodle estava deitada, coberta, e ao seu lado estava Andróide com a arma apontada para ela, pronta para atirar. Quando ele entrou Noodle acordou, sentando na cama.
Não demorou mais de 3 segundos para ela entender a situação: já esticou as pernas, fazendo a arma cair da mão de Andróide. "O QUE ESTÁ ACONTECENDO?!" ela gritou, enquanto ficava em pé com muitos cobertores cobrindo seu corpo.
"O que você acha?!?! Decidimos fazer uma reunião amigável no seu quarto!!" Ray gritou, pulando para cima de Andróide. Noodle corria para o closet para poder trocar de roupa. "Isso é mesmo hora para escolher uma roupa!?!"
"Não vou aparecer com meu pijama!! Ele é... indecente...!"
"Indecente vai ficar a sua cara quando eu quebrar!!"
Noodle apareceu, já com uma calça e uma blusa, com muito mau humor. "Eu tenho direito de trocar de roupa quando eu quiser, ok?! Não quero discutir isso agora!! Acaba logo com ela que estou com sono." Falou, em um tom nervoso mas descontraído. Ray a olhou, pasmo. "Ta bom, ta bom, eu te ajudo..." Ela disse, enquanto ele tentava defender os golpes da Andróide, que estava muito lerda, devia ter acabado de ser concertada. Noodle caminhou em direção á escrivaninha, pegando uma arma e apontando-a para a robô, que parou na hora. "Isso mesmo." ela disse. "É melhor ficar parada. Você estragou minha noite e estou de muito nervosa."
Ela se virou lentamente, dando as costas para Ray e encarando Noodle. Falou, com uma voz muito parecida com a de sua réplica humana: "Já tivemos essa discussão antes, você não vai conseguir atirar porque tem muito amor e afeto no coração. Agora licença, estou muito nervosa quero matar um hoje."
Noodle atirou, errando por pouco e passando pelos cabelos dela. "Não duvide de mim, garota, não duvide de mim. Agora saia e vamos resolver isso na conversa. De preferência amanhã."
Ray se mexeu, afastando um pouco para ver se alcançava a arma da Andróide que estava no chão. Ela sacou uma arma da cinta. "Onde está Russel?" perguntou, apontando o revolver para Ray, que parou na hora
Noodle se mexeu, inquieta.
"Eu acabei de acordar. Acha mesmo que eu sei?" Andróide atirou, acertando em cheio o tornozelo dele, que gritou.
"Onde está Russel?!" Ela repetiu, agora apontando para as 'partes baixas' de Ray, carregando novamente a arma. Ele colocou as mãos na frente, tentando se proteger. Noodle engoliu seco.
"Para, Para!!" Falou, com os olhos cheios de lágrimas. "Já disse que não sei onde ele está!! Nos deixe em paz!!" Andróide virou a arma para ela, chegando mais perto. Ray, logo atrás, se abaixava, indo para um canto para tentar retirar a bala do tornozelo e não fazer uma fratura exposta tão grave.
"Você acha que pode me enganar? Você sabe qual é a diferença entre nós duas, docinho?" Ela perguntou, colocando o cano da arma na cabeça de Noodle, que as mãos tremiam loucamente. "Você morre tão fácil...!"
Então uma série de coisas aconteceram. Dois tiros ao mesmo tempo, uma paulada, um corpo desmaiado e um corpo ferido no chão.
2-D chegara, muito silenciosamente, com um pau de ferro muito grande. Noodle tinha percebido. Ela abaixara a arma para mirar na barriga de Andróide, e, quando ele deu uma paulada na cabeça da robô, ela atirou ao mesmo tempo. O segundo tiro veio da arma dela mesmo, que estava pronta para atirar na cabeça de Noodle, mas, atingida pelo ferro, a bala desviou e foi parar no ombro da menina.
Andróide não estava destruída, mas ficava inconsciente no chão. Ray levantou correndo, indo para tirar a bala do ombro de Noodle. 2-D continuava em pé, com o pau na mão, abismado com o que tinha feito.
Ela gritava de dor, a bala tinha perfurado mais para baixo e atingido um osso perto da coluna, o que a desestruturou totalmente, um pouco mais para a direita tinha morrido. Mas sua respiração era fraca, o começo do pulmão também fora atingido. "Me ajuda, por favor!" Ela falava.
"Calma, estou aqui, já vou fazer ficar melhor...!" Ray tentou começar a falar, mas Noodle não deixou:
"Não é sobre isso que estou falando!! Me ajuda a fazer isso parar!! Não, isso não pode acontecer de novo!! Eu quase te perdi, quase perdi Russel...! Me ajude!" Ela agora chorava, e abaixou a cabeça, respirando rápido e forte. Ray não sabia o que fazer.
Mas sentiu uma pequena e mínima movimentação em seus pés. Olhou de vagar pelo canto do olho: Andróide estava acordada e tentava alcançar a arma.
A raiva subiu pelo seu corpo, uma raiva incontrolável e inaceitável. Pegou a arma da mão de Noodle e se levantou com cuidado, gritando: "Você nunca vai nos deixar em paz!?!?! Sua filha da mãe, olha o que fez com todos!!!" E apontou a arma, atirando 4 vezes seguidas nos ombros dela. Noodle o interrompeu, segurando seu braço.
"Não!! Ela não merece!!! Não é culpa dela!! Ela foi programada a agir desse jeito!!"
Ray a olhou, e ele mesmo estava chorando. Suas lágrimas se misturavam com o suor. Tanto Noodle quanto ele ofegavam, e podiam ouvir as exclamações mudas de 2-D logo trás deles. Mas o que penetrou o ouvido de todos foi algo bem pior.
Andróide ria.
Ria uma risada fina e aguda, um sorriso puxado só de um lado, os olhos maníacos e saltados aparecendo por de baixo da franja. O óleo escorrendo pelo seu ombro.
E a risada continuava, todos se viraram para encará-la. Ela esticou uma mão para a blusa, agarrando-a e puxando-a. Havia um fraco colete a prova de balas lá.
As expressões foram às mesmas: queixos caídos e lábios inexpressivos. Noodle ainda segurava o braço de Ray, mas mesmo se ela o soltasse ele não ia conseguir se mexer. Estavam pasmos. A risada se apagou no frio da noite, e ela começou a falar:
"Sabia que vocês iam desistir... Oh, pobre robô que parece com a menina que tanto amamos! hahahaha.... São fracos. São trouxas. Idiotas. Querem mesmo lutar comigo? Não com a cópia barata dessa nojenta? Então lutem comigo." E esticou o braço ao rosto, segurando sua própria pele muito elástica.
De pouco em pouco ela foi rasgando, deixando aparecer a verdadeira Andróide, com os fios por toda parte, a boca como se fosse um esqueleto, sem lábios e feições, e os olhos como se tivessem sido beijados pelo próprio demônio. Noodle se arrepiou, lembrando de seu sonho. Andróide voltou a rir.
"Agora estou pronta. Podem vir." E se levantou de vagar, fazendo mais óleo cair de si mesma. Havia sido ferida, com certeza, e o bastante para só conseguir ficar sentada. Mas ela resistia. Seu ódio era maior.
2-D caiu no chão, aterrorizado com a 'pele de Noodle' jogada, Ray deu um passo para trás e se sentiu novamente na cama, vendo a robô tentar se levantar, meio sem sucesso por que escorregava toda hora no próprio 'sangue'. Noodle ainda estava boquiaberta.
"Então... Posso acabar mesmo com ela...?" Perguntou Ray, carregando a arma.
Noodle piscou, olhando para ele, indignada. "Não! Já falei! Se ela foi feita de mim, tem uma parte minha nela! E ela não tem culpa se foi programada para o mal..." Falou, segurando o criado mudo para se levantar, com a outra mão no machucado profundo. Andróide parou de tentar se levantar, olhando fixamente Noodle. "Ela pode não estar parecida comigo. Mas ainda sou eu... Em outra forma. Vamos deixá-la ir embora. Então ela fica nos devendo uma!" Falou, agora olhando para Andróide e sorrindo, um sorriso meio tristonho.
"TA MALUCA?!" Ray gritou "Ela é uma robô não sabe diferenciar o que..."
"Hum, hum..." 'Pigarreou' Andróide. "Desculpe tirar a atenção de vocês essa noite. Vou me retirar, não posso perder o foco da minha missão principal. E nela não está incluída eliminar vocês, ainda." E, escorregando mais duas vezes, ficou de pé e pegou sua pele, saindo do quarto, tranquila.
Antes mesmo de sair deu um peteleco na testa de 2-D, como brincadeira.
Noodle sorriu, satisfeita, e olhou para Ray, que estava inconformado. "Viu...?"
"Mas, mas, mas..." Ele tentou falar, de boca aberta. "Essa merda não fez sentido nenhum!!"
Noodle bufou, como se fosse obvio, e caiu na cama, explicando: "Ta muito claro que ela achava que eu só tinha mandado você parar porque todos á viam como... Eu mesma. Mas quando mostrei um certo carinho por ela robô ela desistiu. Achou inútil. É igual tentar irritar alguém que leva tudo na brincadeira e é muito calmo: não tem graça. E também não estou com paciência nenhuma para lutar: eu já disse, to de mau humor e com sono. E machucada...!” Ray piscou, incrédulo. "Dá pra me ajudar no meu braço ou ta difícil!? Quero voltar a respirar bem ainda hoje!!" Noodle cobrou.
Logo ele já pegou seus equipamentos descartáveis e começou a costurar o local. 2-D continuou sentado até tudo acabar e Ray sair mancando até seu quarto, com alguns pontos no tornozelo. Noodle se deitou e apagou a luz para dormir. Ele gemeu.
"Ah! 2-D-San!! Puxa vida, você ainda está aqui!?"
Ela se sentou, encarando-o. Ele estava com os olhos arregalados, as sobrancelhas juntas.
Noodle adivinhou; "Sim, você pode dormir aqui hoje. Mas só hoje." Ele sorriu um pouco de lado, se levantando e indo tropeçando até a cama dela.
"Boa noite..." Ela falou, desligando a luz e se virando para o outro lado. 2-D engoliu seco.
"Você... acha que..."
"Não acho que ela vai voltar aqui hoje à noite. Não sei se Murdoc vai vir aqui hoje para gritar conosco, e te garanto, se ele vier vai ser a ultima coisa que vai fazer na vida." Ele se calou, percebendo que não adiantava puxar assunto. Virou para o outro lado, com insônia, como sempre
Porque não entendia mais nada sobre nada. Nunca entendeu, na verdade, e decidiu que não entenderia mesmo. Se tentasse entender e se estendesse o mundo estaria perdido. Pois entender isso tudo é a mesma coisa que entender a mente de uma garota: impossível.
Então só fechou os olhos, tentando imaginar um lugar feliz. Em seu lugar feliz Noodle pequenina estava lá, tocando guitarra, enquanto ele tocava o teclado e Murdoc fumava ao mesmo tempo que estava com o baixo, cercado de mulheres. Russel na bateria, formando a melhor banda do mundo. Era onde queria estar, o que era impossível conquistar.
Impossível.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/94710/chapter/17


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Love Forever, Love Is Free" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.