Sou eu quem está sentado na janela, janela de um oitavo andar, não eu não me quero atirar, não eu não tenho medo de me atirar, simplesmente sei que isso não ia resolver os meus problemas. Ou talvez eu tenha medo, sim talvez seja isso, eu tenho medo. Raios o que eu estou a pensar.

Na realidade eu estou a esperar, sentada na janela no penúltimo andar de um prédio. E estou a esperar, a esperar por quem não vem. Mesmo assim eu estou a espera-lo, a ele, aquele que me deixou sozinha. Aquele que apareceu na minha vida e com um sorriso meigo me conquistou, aquele que me levou pelas palavras meigas e doces, tão doces como um veneno. Veneno esse que destruiu as defesas que levei anos a erguer. Entrou no meu mundo e arrasou tudo o que eu tinha construído para mim, as certezas que eu tinha, tudo arrasado. Quanto tempo ficas-te comigo? Eu não seu dizer, dias, meses, anos, eu não sei dizer ao certo. E não importa porque bastou um sorriso para que tudo desabasse na minha redoma de cristal. Era assim que chamavas o meu mundo, “Redoma de cristal”. Chamavas-me boneca de porcelana, que não demonstra emoções, que parece perfeita á primeira vista, mas que se sabe repleta de imperfeições.

Foi talvez por isso que ele partiu por ser tão aparentemente perfeita, por não gostar de sorrir, por não gostar de falar, por ser tão opaca. Ele foi embora sem que eu ao menos disse-se que o amava. Eu gritei para ele voltar eu chorei para ele não ir. Mas ele partiu abandonou-me deixou-me sozinha na minha redoma quebrada. Incapaz de voltar a estruturar o que ele desestruturou.

Agora apenas um pensamento passa na minha mente, talvez atirar-me não seja má ideia, dou mais uma olhada no sol que se começa a por. Sim, realmente não é mesmo má ideia. Um sorriso aflora nos meus lábios. Sim, eu vou, vou cair, vou ter contigo, vou voltar a ver-te meu doce anjo caído.