Terrara: Guerra Familial escrita por Kristain


Capítulo 9
Capítulo 8 – Grão Duque do Reino Kristain?!


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo feito com toda dedicação para vocês!
Neste tem o fim da batalha dos magos negros!
Entre outros assuntos!
Espero que gostem!
E desde já agradeço pelos reviews no capítulo anterior, me animaram bastante!
BOA LEITURA!!!
XD
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Leitor BETA: Tyras



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Ao extremo leste do Reino Kristain, existia uma gigantesca mansão que outrora fora conhecida como a mansão da Família Amorim. No entanto agora não passava de um velho edifício abandonado, tomado pelos animais selvagens e plantas silvestres. A entrada do mesmo estava coberta de lama, tinha até mesmo um cadáver de cervo em meio à porta, exalando um odor enjoativo que poderia causar até vômito. Os corredores daquela mansão eram mortos, escuros, sombrios, mas de repente um morcego surgiu voando em direção a um homem que acabara de adentrar a mansão.

Tal homem apenas se abaixou, desviando do morcego, e fitou sua antiga casa, toda acabada. O jovem tinha um semblante sério, seu corte de cabelo bem recatado lhe dava um ar de mistério, mas suas vestes eram evidentes. Um sobretudo verde escuro com um escudo azul estampado, o qual era atravessado por uma linha vermelha e ilustrado com três torres espalhadas.

Era evidente que se tratava de um Amorim. Mais ainda quando seu cenho demonstrava um ar de tristeza ao presenciar toda a mansão destruída.

O rapaz andou pela mansão, entrou em várias salas, até mesmo em uma que tinha o escudo da Família Amorim ao fundo de um pano branco, rodeado por inúmeras flores alvas, representando que aquela família pertencia ao Reino Kristain. O rapaz lembrou que aquela era a antiga sala de reuniões.

Mas então aquele Amorim prosseguiu seu passeio. A mansão dos Amorim tinha três grandes torres, com gigantescos telescópios criados com a arte da tecnomancia. Magia a qual apenas os Amorim conheciam.

Tomado pela curiosidade o jovem subiu à torre que apontava para o norte, o telescópio estava enferrujado, mas nada que atrapalhasse a visão que lente oferecia. Pôde ver a quilômetros de distância a cidade Krisamor - a cidade dos enamorados - em sua calmaria habitual.

Então o jovem se dirigiu a torre que apontada para o oeste. Quando olhou através do telescópio logo pode ver a cidade real, o castelo imponente do Reino Kristain. Parecia que nada tinha mudado.

Por fim, foi à torre do sul. Não tinha grandes expectativas para ver a cidade Krisalia, pois sabia que era uma cidade pacata que muitas das vezes não proporcionava novidades, até então. Porém, quando olhou pelo telescópio, notou as casas da cidade pegando fogo. As nuvens daquele local estavam escuras e parecia estar de noite. O jovem Amorim foi movimentando o telescópio – ao som de ruídos da ferrugem – para observar o perímetro da cidade, então viu dois homens se encarando longe, mas pareciam duas formigas na sua visão. Enroscou um pequeno botão no telescópio, o mesmo quase desmoronou com isso, contudo o rapaz pode ver os dois homens. Seus olhos se encheram de uma determinação inexplicável ao notar o homem que segurava o cetro, tanto que pôde pronunciar seu “nome” amargamente:

- Mordekai...

Realmente, em Krisalia a coisa estava ficando feia. Na cidade, Athos ainda permanecia desacordado, protegido por dois de seus soldados enquanto estava esparramado no feno. A batalha estava se tornando crítica, parecia que com a vinda de Etrom, os samurais Obi tinham ficado com medo, a moral do exército da Aliança estava maior, apesar do seu comandante estar desfalecido. Com isso, os soldados da Aliança Familial avançavam com tudo que tinham para o fim da batalha.

Ao longe da cidade, Emanuel e Adoniram Amorim, ou seja, Mordekai, se encaravam. Aquele seria o fim da batalha. O príncipe Okamoto estava um tanto que esmorecido, mas tinha um plano e sabia que não podia falhar, pois não teria uma segunda chance. Afinal estava lutando com o sacerdote da magia negra, o mago negro mais forte de todo Continente Familial, conforme os boatos. Então seria tudo ou nada.

- SAVERT ENOR! – berrou Emanuel, espalmando suas mãos aos céus, lançando dez bolinhas roxas das pontas de seus dedos.

- Magia de sufixo “enor”?! – indagou Mordekai. – Já está poupando magia, Príncipe Ichiro?!

Emanuel nada disse, só deixou que as pequenas esferas se espatifassem no chão ao redor do seu inimigo, levantando uma imensa cortina de fumaça lilás que o envolveu por completo.

- Ah agora vai ser jogo de esconde-esconde é?! – berrou Mordekai.

O Okamoto mirou sua mão direta em direção a nuvem de fumaça criara e em seguida segurou seu próprio pulso da tal mão e conjurou em língua arcana:

- Oam que ocovni, erraga uem ogimini e o eugamse! MÃO OCULTA!

O chão começou a tremer e o príncipe começou a levantar vagarosamente sua mão. Por detrás da nuvem de fumaça que cercava Mordekai, emergia do chão um conjunto de ossos, pareciam ser garras no inicio, mas quando Emanuel jogou seu braço para cima com força, o chão tremeu pavorosamente e o conjunto de ossos agora estava todo visível.

Um enorme braço cadavérico estava ali, bem atrás da nuvem de fumaças. Conforme Emanuel mexia seus dedos, os ossos dos dedos mexiam no braço esquelético também. Não demorou mais nem um segundo e o príncipe desabou seu braço em direção ao chão, gritando:

- MORRA, MODERKAI!

O braço cadavérico também desceu com tudo, em direção a nuvem de fumaça, prestes a esmagar o sacerdote negro.

A nuvem de fumaça se dissipou, um estrondo ecoou quando a Mão Oculta esmagou Mordekai, levantando agora nuvem de poeira.

O silencio tomou conta do local, todavia o desespero batia na alma de Emanuel. Aquilo seria capaz de matar Mordekai? O príncipe não sabia a resposta, por isso, em sua agonia, continuou socando sua mão no chão. O braço cadavérico espelhava os movimentos de seu mago. Socava o chão, batia, esmurrava com tanta força e sincronia que pareciam estar em pleno terremoto.

Finalmente o Príncipe Okamoto se acalmou, a mão que invocara tinha parado. A poeira que envolvia Mordekai se dissipado e inacreditavelmente, lá estava ele. Com seu cetro levantado aos céus, dando gargalhadas gostosas.

- Tão previsível! Tão previsível! É mesmo um moleque perante mim! – berrou o sacerdote negro.

Não fora nem um pouco difícil para Mordekai usar uma magia de proteção em meio a fumaça que Emanuel criou. Já que o sacerdote negro estava escondido, o príncipe nunca poderia ter visto sua façanha.

Entretanto o Okamoto esboçou um leve sorriso de canto.

Ergueu sua mão novamente e continuou batendo contra o chão. A mão cadavérica seguia fielmente às ordens de seu mestre. Mordekai manteve seu cetro erguido e conjurou novamente a magia de proteção. A Mão Oculta de Emanuel tapeava o escudo do sacerdote, socava e dava várias pancadas. Então o sacerdote de Kisara, tomado pela raiva, gritou:

- Não está vendo que isso é inútil, seu idiota?! Posso manter esse escudo por horas! Nenhum de seus ataques terá efeito em mim! Nenhum!

Emanuel continuou calado, contudo com sua mão cadavérica bateu novamente em cima de Mordekai e ficou esmagando seu escudo. O sacerdote não estivera gastando um pingo de suor com escudo, mas a teimosia do garoto estava lhe deixando bravo.

- O que está pensando, moleque?! Sua derrota é iminente!

- Se esqueceu apenas de uma coisa, Mordekai... – começou Emanuel ainda sorrindo. – Seu escudo lhe protege de ataques físicos, mas e quanto a ataques térmicos?

- Hã?! – o sacerdote negro ficou completamente confuso.

- ZAFÊNIX!

As cinzas da fênix negra que estavam espalhadas pela grama dos campos, começaram a levitar em direção ao céu. Juntaram-se em meio a turbilhão que se formava no ar e de repente aquele pequeno redemoinho se inflamou, tão rápido como um piscar de olhos, se ouviu um chiado estridente. As chamas roxeadas aumentaram e a Zafênix abriu suas asas mais uma vez. O pássaro em chamas estava vivo novamente, bem ali na frente de Mordekai.

- Essa coisa inútil voltou de novo?! – gritou o sacerdote.

- Você subestimou Zafênix, Mordekai! Ela pode ser uma invocação proibida fraca, mas não importa quantas vezes você a derrote! Uma fênix sempre volta das cinzas!

Mordekai engoliu seco, sabia que não conseguiria suportar a temperatura das chamas daquela invocação. E também, enquanto estivesse se protegendo da mão cadavérica que o esmagava, não poderia esquivar. Realmente, Emanuel tinha sido esperto, isso ele tinha que admitir, todavia seu desejo de ter a alma do príncipe aumentara.

- INCENDEIE, ZAFÊNIX! – Emanuel gritara com um sorriso vitorioso no rosto.

A fênix negra chiou, batendo suas asas com ferocidade, lançando uma enxurrada de chamas em direção ao sacerdote negro. As labaredas circundaram o escudo de Mordekai e logo pôde-se ouvir um urro vindo das chamas.

O adorador de Kisara estava queimando, isto era certo. As chamas haviam englobado todo o escudo, a temperatura ali dentro estava infernal. Mordekai já respirava forte ao perceber que o oxigênio estava quase nulo. Mantinha seu cetro ainda sobre sua cabeça, se protegendo da mão esquelética que teimava em esmagá-lo.

A morte era a única coisa que esperava Adoniram Amorim naquele momento. Olhou penoso para suas esferas balançando no seu cetro. Podia sacrificar alguma alma dali, para lançar alguma magia proibida, porém ele não queria estragar sua coleção. Tinha pego as almas das pessoas mais importantes de todo continente. Desde o casal real Miranda até a antiga princesa do Reino Kristain, a alma que tinha lhe trazido a fama de hoje e a desgraça para os Amorim.

Por isso não podia deixar de se dar ao luxo de gastar aquelas almas que roubou com tanto gosto.

Contudo uma ideia surgiu em sua mente insana, enquanto queimaduras formavam-se no seu corpo. Iria gastar sua alma, em uma última e derradeira magia. Mordekai iria ser imortal, sim, esse era o ideal dele. Ser imortal para apreciar as lindas almas que a humanidade proporcionaria ao redor dos séculos. Não iria morrer ali com Emanuel, um simples mago negro que dizia que usava as trevas para o bem. Iria lhe dar um lição, tão torturante e perversa, que nunca esqueceria, trazendo-lhe o desejo de querer a própria morte.

- FRENESI DA ALMA! – berrou Mordekai, após bater seu cetro no chão.

Um círculo arcano surgiu sobre os pés daquele Amorim, o círculo era cheio de runas mágicas, era alvo como a neve, todavia aquele branco começou a ser consumido por uma coloração preta. O arco começou a tremer incessantemente, o chão começara dali começara a tremer. A roda que envolvia o sacerdote negro se quebrou como se fosse vidro. Mordekai começou a berrar, seu corpo emanava jatos de energia para todos os lados.

Adoniram tinha quebrado o selo de sua alma. A magia da vida transbordava loucamente do seu corpo.

A mão cadavérica foi lançada longe e começou a se desintegrar após receber aqueles jatos negros de pura magia. As chamas que outrora haviam envolvido o sacerdote negro, não mais existiam.

Mordekai ria completamente insano enquanto a vida despejava do seu próprio corpo. A quantidade de magia que agora percorria por aquele homem era surreal. Ele apenas mirou seu cetro para a fênix no céu, gritou “DESAPAREÇA!” e seu cetro começou a relampejar ligeiramente. Um enorme relâmpago em forma de arpão atravessou a fênix em um piscar de olhos. Um clarão azul vindo do raio cegou a visão de todos no raio de dez quilômetros. Seguidamente um estrondo irrompeu e quando já se era possível ver, do céu caiam apenas algumas penas roxas, eletrizadas ainda.

Emanuel arregalou os olhos ao ver que sua invocação nem tivera tempo de entrar em combustão, havia sido literalmente aniquilada com aquele poderoso raio. O Okamoto empalideceu-se. O que tal monstro estaria pensando a ponto de sacrificar sua própria vida?

O sacerdote negro, ainda emitindo grandes quantidades de magia, vinha andando lentamente em sua direção. Enquanto ria é claro, ria insanamente.

- Príncipe Ichiro! Porque essa expressão?!

- Idiota! Sabe que a morte é a única coisa que lhe espera com tal magia!

Mordekai gargalhou profundamente.

- A morte é só um empecilho para um grande mago como eu! Eu só tenho que contorná-la, sendo em seguida imortal! Além disso, se eu tivesse medo da morte, nunca teria entrado em uma guerra!

- Afirma não ter medo da morte, mas busca a imortalidade?! Isso me parece meio contraditório! – gritou Emanuel, tentando irritar seu inimigo para ganhar tempo.

- Já morri várias, seu moleque! Fui e voltei do submundo inúmeras vezes! Não importe quando vezes eu morra! Eu busco a imortalidade para não ter que voltar mais para aquele lugar infernal! Apesar de Kisara sempre me dar a vida de novo, pois sou seu seguidor mais fiel!

- O único capaz de dar a vida a um ser humano é o Santo e Poderoso Palacium!

- QUEM DISSE QUE EU SOU HUMANO?! - Mordekai disparou em direção à Emanuel. – PORVENTURA PAREÇO HUMANO PARA VOCÊ?! – o cetro do sacerdote negro se inflamou rapidamente, em um piscar de olhos residia uma foice devidamente afiada nas mãos daquele “monstro”.

Emanuel encarou o Amorim, já com um plano em mente e apenas deu um passo para trás, esperando seu inimigo.

Mordekai levantou sua foice, no exato momento Emanuel puxou o pedaço de pano ensanguentado que protegia seu antebraço ferido e o pôs na frente do seu corpo.

O sacerdote negro desferiu um corte contra o príncipe, que tentou se jogar para trás, para não ser dilacerado ao meio, contudo não conseguiu à tempo, tendo que colocar seu braço ferido para defender. A foice rasgou um pedaço da pele do Okamoto, abrindo seu antigo ferimento no antebraço a condições sobre-humanas, o qual jorrava sangue feito uma torneira aberta.

O ataque com a foice tivera sido tão poderoso que o vento criado pelo impulso do mesmo arremessou Emanuel para longe.

- Desista, seu moleque! O próximo ataque eu não errarei, disso você pode ter certeza! – Mordekai berrava.

Uma gota de suor, ou melhor, de preocupação percorreu o rosto do mesmo, sabia que não podia matar Emanuel, precisava do mesmo para poder completar seu plano de imortalidade. Sua vida estava acabando, sua alma estava desaparecendo, tudo estaria naquele último ataque do sacerdote negro.

- ACABOU, MORDEKAI! – Emanuel riu vitorioso novamente.

Era incrível como aquele príncipe era metido, mesmo naquele estado ainda cantava vitória. Aquilo realmente perturbava seu inimigo.

- Já que não tem medo da morte, lhe darei o gosto de apreciá-la! – proclamou o Okamoto, enquanto apertava seu ferimento, fazendo este jorrar mais sangue.

O Amorim observou a poça de sangue que havia se formado ali a sua frente e tal poça continuava a crescer, o sangue de Emanuel percorria todo aquele caminho e começava a brilhar intensamente.

Mordekai conhecia aquela magia mais do que qualquer outro, por isso foi em disparada contra o príncipe novamente.

- Receba minhas condolências, Mordekai! – Emanuel ria ironicamente. – Mas você terá uma visita forçada ao LAR DE KISARA!

O sangue do Okamoto inflamou, abrindo um portal diretamente para o submundo. Chamas negras emergiram de tal portal juntamente com um grito histérico de uma mulher, mas em um piscar de olhos, milhares de mãos ergueram do portal. Ergueram-se tão alto e em tal quantidade que se formou uma coluna gigantesca, com mãos tão agitadas que pareciam estar atrás de algo ou alguém, no caso, Mordekai. Aquela coluna de mãos agia como uma serpente, pois desceu com toda velocidade para agarrar o seu alvo como se estivesse faminta.

- SEU MOLEQUE MALDITO! – o sacerdote negro tinha passado seu limite de raiva.

Emanuel usava a magia negra para o bem, dizendo que ela não era totalmente má e ainda por cima sabia uma magia tão proibida como aquela? Era o cúmulo!

O amontoado de mãos agarram as vestes de Mordekai e quando as sentiram ficaram muito mais agitadas. Todavia antes que pudesse ser levado, o sacerdote negro levantou sua foice para Emanuel, gritando:

- Não importa quais sejam seus motivos, magia negra é e sempre vai ser o que é, NEGRA!

O Amorim cortou a face de Emanuel com sua foice, acertando seu olho simultaneamente.

Um clarão tomou tudo no momento seguinte. A foice do sacerdote caíra ao chão, já na forma de cetro. Aa “serpente” de mãos agarraram o corpo de Mordekai, o arrastando para dentro do portal. E Emanuel caíra de joelhos, com um de suas mãos sobre seu olho ferido, urrando de dor.

A respiração do Okamoto estava acelerada, estava pálido, tinha perdido muito sangue fazendo todas aquelas magias proibidas. Forçou um sorriso vitorioso, mesmo morrendo de dor, ao ver o portal que tinha engolido seu inimigo. Emanuel havia ganhado. E o sabor da vitória iria ser mais gostoso assim que pegasse as almas dos pais de Rafaela. Ele esticou sua mão para agarrar o cetro e tão rápido quanto um piscar de olhos, o cetro de Mordekai fora engolido por uma pequena fenda no espaço tempo.

O príncipe arregalou os olhos, incrédulo.

Não podia crer que todo seu sacrifício fora em vão, todo seu esforço. Tinha gastado seu sangue à toa? Teria lutado, apostando a vida, para quê? Para agarrar o vácuo em suas mãos?

- Droga! Droga! Droga! – ele socava o chão, furioso.

O que diria para Rafaela? “Eu encontrei Mordekai, ele estava com as almas dos seus pais. Mandei-o para o inferno e não consegui pegar as almas dos seus pais porque elas sumiram”. Sim, serei muito convincente, se tivesse tratando de crianças, é claro.

O Okamoto enfiava seus dedos na grama, extravasando sua raiva. Como Mordekai já não mais jazia no mundo físico, o cetro como parte de sua alma voltaria para seu lugar de origem. Mas onde seria tal lugar? Poderia ser em qualquer parte do Continente Familial, poderia estar até mesmo debaixo da terra. Com o tal Amorim morto era praticamente impossível achar aquele cetro cheio de almas.

- MORDEKAI, SEU... – Emanuel socou o chão com força, coisa que só fez piorar seu estado.

O ferimento em seu braço abriu mais ainda, sangrava descontroladamente. Seu olho direito latejava pelo corte da foice. E seu corpo já era desprovido de forças, sua visão ficou turva, seus membros imóveis, até que enfim o mago negro despencou ao chão. Desfalecido.

A manhã parecia estar passando lentamente naquele dia, um frio na barriga me tomava conta e minhas mãos suavam toda hora. Estava ansioso. E tal sentimento me torturava. Como estariam na batalha? Ainda reluto em imaginar nosso exército ferido, porém tenho que ser realista, não seria uma batalha se ninguém levasse no mínimo um arranhão.

Todavia o pior de tudo era o clima na cidade real, o povo estava tenso, isso era evidente. Até Caio – o lacaio – um dos meus mais fiéis súditos, me perguntou porque não tinha mandado o exército Kristain para essa batalha em Krisalia, afirmando que assim a vitória seria certa. Mas ele não sabia que eu não tinha a confiança do meu próprio exército. Pois o mesmo não daria atenção as minhas ordens e tampouco me respeitaria. Acostumados com um comandante imponente de cabelos tão alvos que pareciam ser uma coisa divina, eu – de cabelos negros – seria tratado como um plebeu qualquer.

A realidade era triste, o povo parecia mais aflito não pelo fato de estarmos em guerra, mas sim, por eu estar à frente dessa guerra em nome do Reino Kristain. Tem vezes que me pergunto o que Palacium estava pensando quando me fez nascer aqui e assim? Bem, não tenho que discutir, o Santo e Poderoso Palacium sabe o que faz.

Hanee tentava me animar, dizendo que eu tinha que esquecer aquela pressão por um tempo. Porém a mesma, vendo que era inútil tal atitude, sugeriu que eu fosse à sala de Huck, ver através da sua bola de cristal, já que o mesmo era um grande mago capaz de ver o futuro. Olhei incrédulo para ela quando disse tal coisa, pois a última pessoa que eu queria ver no mundo naquele momento era Huck.

Se bem que desde o ataque do Reino Obi a Krisalia, o mesmo tem agido estranhamente. Nunca mais me irritou, provocou, xingou, nem coisa alguma. Era estranho, pois sempre que me via, me chamava de “Olebac oterp”. O conselho também não tinha dado qualquer objeção aos meus comandos desde o ataque. Talvez estivesse me dando total liberdade como pedi ou estavam ocupados em outros assuntos e, diria que mais importantes e importunos que eu. É, a segunda opção é mais plausível.

Um dos primeiros acontecimentos daquela manhã que pude presenciar foi logo a torre no norte do castelo, quando vagava por ali tentando espairecer. Aos redores da cidade pude ver um grande grupo de pessoas se aproximando. A maioria delas carregava cajados, cetros, outros carregavam livros debaixo dos braços, enquanto uma minoria trazia espadas. Pude logo perceber que se tratava do exército Miranda, mas ainda quando o estandarte verde do reino apareceu, agitado pelo vento.

Rafaela os recebeu calorosamente, como uma verdadeira rainha. Ela até parou para conversar com o comandante, cochichando algo em seu ouvido. O tal homem só respondeu apontado para cima, a princesa fitou o céu e só nesse momento pude entender do que se tratava. Com certeza devia ser o dragão de Rafaela, mas eu não esperava que a mesma o trouxesse para cá, mas ficaria feliz em ver novamente a força draconiana.

Agora só restava o exército Okamoto chegar, Luidi disse que chegariam ainda hoje, mas quando eu pensava nisso um frio percorria minha barriga. Talvez pelo fato de ainda estar preocupado com a batalha em Krisalia, entretanto ao certo. Aquele sentimento era como sensação que algo iria acontecer, uma intuição. Intuição masculina? Creio que isso não existe.

- Vossa majestade! – Caio corria em minha direção, postando-se de joelhos a minha frente. – Vossa majestade, desculpe a gritaria, mas o conselho real há de querer sua presença.

- Não tenho nada a tratar com eles.

- Mas Vossa Majestade está sendo obrigada a participar. Huck alertou que para o bem maior do Reino Kristain.

- Huck?! – vociferei. – Não entendo porque Huck ainda se mete nos assuntos do conselho, agora ele é o Primeiro-Ministro do reino, deveria estar tratando de assuntos políticos internos.

- Tens razão. – concordou Caio. – No entanto a presença de Huck foi requerida assim como a sua, é vital que Vossa Majestade venha.

O lacaio falava sério, era como se estivesse implorando para que eu fosse até o conselho. Algo estava errado, Caio nunca tinha agido de tal maneira.

- Leve-me até eles, Caio. – ordenei.

Seguimos entre os corredores com o lacaio sempre a frente. Encontramos Hanee no caminho e minha noiva pareceu um tanto que curioso ao notar a nossa pressa.

- Onde estás indo, Kris? – ela perguntou, caminhando atrás de mim.

- Ver o conselho.

- Vi Huck andando com o ancião do conselho logo de manhã, suponho que tenha algo a ver com isso.

- Huck está tramando algo, sei que sim.

- Irei junto com você.

- É melhor que fique, Hanee.

- Eu já disse que vou.

- Teimosa como sempre... – sussurrei.

- O que disse?

- Nada! Apenas ande mais rápido.

Ela consentiu.

Era incrível como minha noiva sabia distinguir uma situação séria e o melhor disso, era tê-la ao meu lado nesses momentos.

Quando chegamos à porta do conselho, no térreo do castelo, Caio antes de se retirar, desculpou-se, dizendo:

- Sinto muito por trazê-lo até aqui, Vossa Majestade.

Fiquei confuso com tal atitude, porém nem tive tempo de pensar muitos, pois a porta do conselho abriu. Hanee me empurrou para adentrarmos a sala e ficamos ali, na frente da enorme mesa circular. Novamente eu estava em frente ao conselho, mas agora com minha futura esposa.

Os conselheiros estavam sentados, todos com o peito estufado, por terem cabelos brancos tão brilhantes como a luz. Alguns mais velhos já nem tinham cabelo e, quando tinham, era apenas algumas madeixas embranquecidas. Contudo do outro lado da mesa estava Huck, o Primeiro-Ministro, rindo cinicamente ao me ver. E eu me perguntava: como uma cobra tão traiçoeira como ele podia ser um Kristain?

- Príncipe Neto Vaan Kristain... – o ancião do conselho se pronunciou como uma voz rouca que incomodava. – A garota...

- Peço desculpas ao trazê-la, ancião. Todavia a Princesa Okamoto é minha noiva e quero que minha mulher fique a par dos acontecimentos do seu futuro reino.

O ancião não teve qualquer objeção.

- Estou curioso para saber o porquê do repentino chamado, visto que ainda não tive grandes problemas no meu planejamento de guerra. – indaguei sério.

- A questão a ser tratada aqui não é propriamente a guerra. – respondeu Huck. - Mas sim suas consequências sobre o povo do nosso reino.

- Gostaria que as perguntas feitas ao conselho, sejam respondidas pelos membros do conselho! De preferência pelo ancião. – exclamei, encarando Huck, o qual só faltava me mutilar com os olhos.

- Huck está apto a explicar a situação... – o ancião tossiu algumas vezes, depois da curta frase.

- Pois então... – começou o Primeiro-Ministro. – Fora chamado aqui, primeiramente para me ouvir explanar a situação do nosso povo. O qual está com pavor! Está com medo da guerra! Já faz quase uma semana que entramos na batalha e a população se sente insegura e desprotegida!

- Os ministros deveriam estar cuidando disso! – retruquei. – Como não sou incumbido de assumir o trono, pouco poder tenho sobre meu povo. Julgo até dizer que meu poder é nulo!

- Calúnia! – gritou Huck. – Você sabe muito bem que ninguém quer um rei de cabelos negros! E não vou deixar que você estragar a glorioso reputação do Reino Kristain!

- Ultraje! Admita que impede que eu assuma o poder em prol do seu auto-beneficio, já que fica com todo o governo político!

- SILÊNCIO! – todos se espantaram ao ouvir o ancião gritar tão alto, pena que logo ele fora acometido com um ataque de tosses.

O ancião do conselho apontou para um dos conselheiros enquanto tossia, para que aquele continuasse a explicação. O conselheiro escolhido fora um bem arrogante que começou a falar:

- Irei direto ao assunto para que essa baderna não se prolongue mais.

Hanee segurou minha mão no momento seguinte, para que eu me acalmasse e esperasse qualquer notícia ruim. Então o conselheiro esnobe continuou:

- Como Huck disse, o povo está aterrorizado por estar em meio a uma guerra continental e não poder visar nenhuma segurança. Já que o trono real está vazio e seu príncipe é um mero Kristain de cabelos negros, então o conselho decidiu que o povo precisa de uma figura centralizadora mais ideal e o Primeiro-Ministro Huck concordou plenamente com a ideia. Por isso resolvemos trazer à tona um Grão-Duque do Reino Kristain.

- “Grão-Duque do Reino Kristain”?! – não pude acreditar no que ouvi. – Não há nenhum Grão Duque na realeza!

- Estás certo, mas faremos um. – aquele conselheiro virou cara, como se falar comigo fosse uma coisa repugnante.

Huck ria descaradamente ao ver minha expressão.

Hanee apertou minha mão com força e olhou para mim, espantada. Ela sabia tanto quanto eu que um Grão-Duque não era nada comparado a um rei, mas comparado a um príncipe, principalmente comparado a um príncipe renegado como eu, sua influência, sua autoridade, seu poder, eram muito mais superiores.

- Vocês não podem criar um Grão-Duque! – gritei. – O que estão pensando?! Dar um título real tão importante como esse a uma pessoa qualquer?! Uma pessoa que não tem sangue real?!

- Não se precipite... – o ancião, já parcialmente, se pronunciou. – Daremos esse título a uma pessoa muito importante e muito influente em nosso reino. Ele já está há quase vinte anos entre nós e mostrou ser digno de confiança várias vezes. – pausou para uma sequencia de tosse. – Bem... A situação pede isso, queremos dar ao nosso povo segurança e conforto. Sendo que não temos um rei, o conselho tem total direito a dar títulos reais para quem cumprir seus interesses. E é por intermédio disso que proclamo... – o ancião começou a tossir novamente e pediu que o tal conselheiro esnobe continuasse:

- SUA ALTEZA GRÃ-DUCAL... HUCK WILFRED KRISTAIN!

Arregalei os olhos, descrente dos meus próprios ouvidos.

Hanee apertou minha mão tão forte naquela hora que soube que era verdade, pois Huck sorria vitorioso para mim.

Mas eu não podia crer. Não podia crer que os olhos perversos daquele homem seriam a figura do ideal para o Reino Kristain.


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Notas finais do capítulo

O.O???
ENTÃO???
COMO FOI???
COMENTÁRIOS?
CRÍTICAS?
O QUE GOSTARAM? O QUE NÃO GOSTARAM?
E AI?
AUHSASHUAHUSAHSU
Tá, parei de gritar!
Até a proxima!
XD



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