Forgotten escrita por Yokichan


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Texto escrito para um desafio no orkut.



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A estrada é tão longa, tão triste e sozinha. Eu tenho caminhado por ela durante muito tempo, tanto que mal consigo me lembrar de quando tudo começou. Por mais que eu insista e avance, nada muda e eu permaneço sozinho. As pessoas que encontro são as mesmas, os olhares que elas me enviam são igualmente vazios, a distância entre nós é sempre maior. Eu me pergunto: eu fiz algo que não possa ser perdoado? Na noite em que eu nasci, alguma coisa incrivelmente preciosa se perdeu? Eles apontam na minha direção e sussurram para seus filhos, “não se aproxime daquele garoto, não importa o que aconteça.” Eu gostaria de saber se eu os machuquei, de alguma maneira.

            As nuvens são sempre escuras, as coisas murcham e as cores se apagam por onde eu passo. É como uma maldição que eu não consigo anular. A interminável estrada desliza debaixo de meus pés e eu continuo parado no tempo, no mesmo lugar. Os carros vão e voltam, em zumbidos, para lugares que eu não conheço – para suas casas. O lugar quente e aconchegante onde há pessoas esperando por você, onde você pode deitar sua cabeça num travesseiro macio e simplesmente adormecer. Não há alguém me esperando em lugar algum. Para onde eu poderia ir?

            Eu lembro de estar sentado no fio da calçada diante de uma escola, em um dia qualquer. Eu vi crianças saindo pelo portão com suas mochilas nas costas, os vi encontrando os pais com sorrisos nos rostos, os vi indo para casa juntos. Suas mãos estavam unidas, e eles não pareciam ter medo. Eu gostaria de ser um daqueles garotos sendo levados para casa, mas eu tampouco fora aceito em alguma escola. Um órfão imundo, a parte suja e descartável que fora abandonada. Quem se importaria? “Saia daqui antes que eu chame a polícia, seu pivete!” Eu recebera muitos não’s – feios e duros.

            E eu continuo a me perguntar. Eu sou um monstro tão terrível assim? Os olhos dessas pessoas me dizem para ir embora, cheios de asco e aversão. Às vezes, eu tento imaginar que tudo isso faz parte de um pesadelo que apenas ainda não acabou. Mas então, eu tropeço e caio. Meu corpo dói e eu sou trazido à força para a realidade. A estrada está diante de mim como sempre esteve, apenas eu e ela na imensidão de um sonho ruim. Eu quero ter uma mão que me ampare quando eu precise, que afague meu rosto antes que eu adormeça, que indique o caminho por onde devo seguir. Eu quero encontrar um lugar onde alguém se lembre de mim, não importa quão longe eu esteja. Afinal, eu ainda sou uma criança com seus sonhos sem pudor.

            A estrada nada me mostra, nada me promete, mas minhas pernas ainda podem seguir em frente. Se eu parar agora, meu esforço e eu acabaremos no esquecimento. Um carro passa vagarosamente ao meu lado, zumbindo sobre o asfalto. Grudado rente ao vidro traseiro, com as mãos pálidas espalmadas no mesmo, um garoto me observa com sua mais inocente curiosidade. Seus pais – possivelmente – estão nos bancos da frente. Talvez, o garoto esteja analisando que sua mãe nunca o deixaria andar sozinho por aí. Sorrio, invejando-o. Apenas consigo distinguir seus cabelos negros por trás do vidro, e então o carro se torna um ponto minúsculo em minha estrada sem fim.

            Quando eu chegar a algum lugar, e eu sei que vou chegar, talvez possamos nos encontrar outra vez. Por enquanto, eu sigo em minha estrada triste e sozinha, perdendo a cada passo um pedaço do sonho da infância que eu nunca tive.


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