Lá estava Archie, sentado no sofá na pequena casa – oferecida pelo próprio colégio - que dividia com seu amigo, Dylan. Estavam no ensino-médio, mas como eram pessoas relativamente inteligentes ficaram em casa estudando ao invés de passar uma tarde de quarta feira na biblioteca da escola. Archie, na verdade, estava lendo um livro e Dylan estava... Montando um boneco que ganhara de brinde em um chocolate que comprara.

Certo. Inteligentes, mas não mencionei responsáveis.

Tudo estava bem e silencioso, apenas ouvindo o barulho de alguns carros que passavam do lado de fora.

- Mas que pouca vergonha! Eu não vou ler esse livro mais! – Resmungou Archie, com o rosto rubro. Jogou o livro de qualquer jeito no sofá e foi para a cozinha rapidamente. Beber o suco de Maracujá, quem sabe.

Acalmava.

Dylan ouviu de seu quarto, logo assumindo uma expressão curiosa. O que faria o amigo parar de ler um livro? Ainda mais o livro que apostara – que terminaria - com o professor de Literatura?

Curioso.

Levantou-se devagar, sem proferir qualquer som. Sabia que se o amigo visse o que estava prestes a fazer... Daria um escândalo. Riu com esse pensamento. Rapidamente alcançou o local onde o amigo estava a pouco tempo atrás. Seu rosto apareceu pela metade na cozinha e notou que Archie estava olhando fixamente para o copo de suco.

E ainda havia um grande conteúdo ali dentro.

O sorriso de Dylan aumentou.

Pegou o objeto em suas mãos e abriu na página marcada.

“A mais alta, com seus longos fios cor-de-rosa, aproximou-se da menor até o encontro de suas mãos. Suas batidas cardíacas cantavam em uma música uni som, embora não pudesse ser ouvida pela respiração ofegante da que possuía um brilhante cabelo azul-ciano. Um segundo se passou. Seus rostos já estavam tão próximos que podiam ouvir a melodia de suas respirações. Enquanto a mão da mais alta descia melodicamente pelas curvas da menor, que soltara um ofego abafado. Notaram, as duas, a luz forte que aquele corpo celeste emanava. A lua parecia tão mais bonita quando estavam juntas...”

Ah. Certo. Isso era assustador. O que aquele demônio literário queria enfiar na cabeça de Archie? Era por isso que ele havia mencionado que Archie não iria conseguir terminar de ler o livro! Aquele pervertido.

E eles apostaram ainda!

De repente Dylan imaginou algo que poderia ajudar o amigo.

Sorriu maliciosamente.

- Archie ~

Sua voz saiu melódica, mas Archie notara o tom estranho na voz do amigo.

O loirinho voltou para a sala e viu Dylan com o livro em mãos.

- TIRA A MÃO DISSO! – Vociferou, indo em direção ao amigo, que riu com sua reação. Porque tinha de ser menor que Dylan?

- Ué… Por quê? Há algo que eu não deva saber? – Quase deixou o livro cair nas mãos do amigo, mas fez um movimento rápido e prendeu o amigo sentado no braço do sofá. Seus braços prendiam o menor ali.

- O que você está fazendo, seu idiota? Devolva o meu livro, devolva, agora! – Seu rosto se esquentara. Acabara de notar aquele sorriso pervertido adornando o rosto do maior.

- Ou vai fazer o quê? – Indagou, calmo.

- Você não quer que eu termine o livro? – Indagou Archie, com um sorriso deveras vencedor.

Dylan sorriu mais ainda.

- Você disse que não queria mais ler, ué, vim saber por quê. – Seus olhos sondaram a reação do menor.

- E descobriu? – Indagou, irritado. Dylan acenou positivamente. – Viu? Eu não vou ler isso. Isso é nojento!

- Tsc, Archie, não é nojento. – Olhou-o com desdém. – Pare com preconceitos.

- Não é preconceito, é vergonha de ler isso. Eu não vou ler, não vou, é estranho. – Choramingou.

Archie nem dava muita atenção para a proximidade de seus corpos, estava mais era apavorado com a ideia de ter de ler aquele livro até o fim.

- Tenho algo infalível para você terminar a leitura. – Seu sorriso malicioso alargou-se.

- O quê? – Ficou nervoso.

- Fazermos igual.

Archie ficou nervoso, não entendendo a situação. Seu rosto, para seu alívio, finalmente distanciou-se do rosto do amigo.

- Haha, muito engraçado, Dylan... Não. – Sua expressão tornou-se séria. – Agora, deixe-me–

Foi cortado pelo próprio amigo, que investiu contra si, roubando um beijo. Como Archie estava desprotegido, acabou por deixar acidentalmente a língua do amigo adentrar sua boca. Ah, ele ficou tão irritado.

Dylan sentiu os dentes de Archie cravarem sua língua, retirando-a dali rapidamente.

- Que merda, Archie! Porque fez isso? – Irritou-se, sentindo o gosto de sangue.

- Não é óbvio? – Indagou, vermelho.

- Eu estava lhe ajudando!

- Não, não estava. Estava me assediando. – Pensou estar corrigindo.

- Então tá, vá ler isso sozinho. – Resmungou, voltando para seu quarto.

Archie pegou seu livro e voltou a ler, irritado. Seus olhos não conseguiam acompanhar a leitura. Estava totalmente disperso! Tudo por culpa daquele idiota.

Levantou-se decidido e entrou no quarto do amigo.

- Dylan... – Chamou num sussurro, meio inseguro.

- O quê? – A voz feliz do amigo apareceu da escrivaninha em que seu corpo se inclinava para encaixar as peças ao brinquedo.

-... Eu não consigo mais ler! Vamos brincar de alguma coisa? – Indagou, sentindo seu rosto esquentar. Seu corpo sentou-se nervoso na cama do amigo, ao lado da escrivaninha.

- Mas eu estou montando o... – Logo entendeu o que Archie queria, criando uma risada fraca torneando sua voz. - Esse é o seu jeito de pedir desculpas, né? – Indagou.

Notou o que Archie realmente queria. Sabia muito bem que aquilo era um jeito de Archie se desculpar consigo e aquilo era tão fofo! Ele se parecia tanto com uma criançinha daquele jeito.

- Talvez... – Fez um bico, não querendo olhar diretamente para Dylan, porque sabia que o mesmo o estava encarando com aquela expressão risonha.

- Tão fofo... – Suspirou, sorrindo, enquanto seus dedos deixaram o brinquedo na escrivaninha e correram desesperados para enlaçarem a cintura do amigo e deixar a cadeira para ficar sobre Archie. Inclinou-se contra Archie, impedindo-o de se levantar, sendo obrigado a se deitar.

- Isso não é brincar! – Irritou-se Archie.

- Não ligo. – Seus olhos notaram o rubor no rosto do amigo. – E se me morder de novo eu vou mostrar o que é brincar. – Seus lábios cobriram os do amigo, enquanto o mesmo se debatia internamente, sentindo o coração palpitar de tal forma que não sabia como controlar.

A língua do amigo explorava cada local da sua boca, instigando-o a fazer o mesmo. E ele fez. Pôde sentir que suas bocas se interligavam como nenhuma outra garota havia feito em si mesmo! E essa mesma situação era desfrutada por Dylan.

Até o ar se fazer necessário e os dois se soltarem, ofegantes.

- Agora vai poder ler o seu livro sem sentir vergonha. – Dylan riu com o canto da boca, notando o rubor nas bochechas do amigo.

Archie conseguiu se desvencilhar de Dylan, levantando-se rápido e caminhando nervoso até a porta. Virou-se de costas com uma expressão irritada. Pela rápida saída da cama, seus cabelos estavam bagunçados. Mostrou a língua para Dylan:

- Seu idiota.

Archie saiu correndo, querendo nunca mais olhar na cara do amigo. Meu Deus, o que ele pensou? Aquilo era completamente fora do normal. Dylan prendeu o riso enquanto voltava satisfeito em direção à sua cadeira giratória, para terminar seu brinquedo.