Dead And Gone escrita por Gaya


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bom, essa história não me pertence, mas sim á um amigo. Alguém que parece confiar em mim o suficiente á ponto de me pedir pra que escreve sua história (ou parte dela) e compartilhá-la com vocês.

Para aqueles que pro ventura lerem essa história, pensem não no ocorrido em si, mas em como esse alguém procura superar tal acontecimento dia aós dia.

E, A., espero sinceramente ter alcançado suas expectativas quando á essa históira. E espero ser uma pequena parte do que te faz se mantes de pé todos os dias até hoje.

Te adoro vui!

P.s.: Á pedidos do dono real dessa história que eu apenas passei para o papel, não existem nomes.



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Carros passam entre nós... Uma fuga.

 

Felicidade.

 

Eu era tudo que se pode esperar de um jovem que sonha demais. Mas meu sonho acabou.

 

Pneus cantam. Sinto meu corpo ser jogado contra as amarras de ferro que se contorcem á medida que vou rodando... Ela.

 

Ela é tudo que vejo. Seu corpo absorto no movimento. E então tudo se apaga.

 

Ouço seu coração batendo... Lentamente. E mais lento ainda. Sinto a vida que se esvai. E leva junto meu coração.

 

Um sussurro, três palavras. E ela se vai.

 

“Eu te amo”, consegue dizer. O ar falta. A visão escura.

 

“Também te amo, sempre” sussurro de volta. Ela sorri. Vejo o sangue. Em cada parte de seu corpo. Seu rosto. Passo minhas mãos por ele, ele não pode ir assim. “Fique comigo!”, digo em desespero, mas ela não me ouve. Já não ouve nada.

 

Um último suspiro, e a dor. Vazio.

 

Ao longe ouço sirenes, e gritos de desespero. Será que mais alguém se foi? Penso até que consigo perceber. São meus gritos. É meu coração que sofre. Que se vai com ela.

 

Mãos fortes agarram meus ombros. Não sinto mais nada, a escuridão me abraça. Me sinto ser levado pra longe dela. “Eu te amo” ainda consigo dizer, mas estou longe.

 

Lembro-me de como chegamos até ali.

 

“Nada mais será como antes depois de hoje!” ela disse animada e me deu um beijo. Segurei seu corpo contra o meu. Jamais havia sentido algo igual na vida. Uma necessidade de ficar, só assim, com ela. Meu coração se aperta no peito. Não entendo o que sinto, mas sinto. Seus braços circulam meu pescoço e ela se ergue até alcançar meus lábios. Um beijo, tenso, desesperado.

 

“O que você tem?” ela pergunta. Não sei responder.

 

“Sinto que deveríamos ficar em casa hoje! Só nós dois”, digo e ela sorri.

 

“Deixa de ser safado garoto! Só pensa naquilo!” dá um pequeno tapa no meu braço. Tudo normal até agora. Vai ver estou ficando maluco. “Anda! Seus pais estão nos esperando” ela diz, e seu sorriso parece iluminar o mundo.

 

Fecho a porta, mas ainda me sinto estranho. Parece a última vez que vou ver aquela casa de modo tão feliz! Entro no carro. Ligo o som, uma música alegra enche o ambiente. Cantamos juntos. Em determinado momento ela para, olha diretamente pra mim, pousa uma das mãos suavemente em minha face e sorri. Sinal fechado. Olho pra ela também. Pouso minha mão encima da dela, como que para mantê-la ali por mais algum tempo.

 

“Lembre-se que sempre existe um amanhã. E eu vou te amar sempre, onde quer que eu esteja. Mas você tem que seguir sua vida, e me levar apenas em seu coração, como uma lembrança boa. Nada de relação de dependência comigo baby!” disse o final em tom de brincadeira. Mas eu não sorri. Sei que ela se referia á minha última crise de ciúme mas... Eu não sentia assim. Pra mim aquelas palavras pareciam algo mais. Como uma despedida.

 

“Eu te amo pequena! E tenho um medo enorme de te perder.” Disse á ela, que puxou meu rosto pra si num beijo curto, mais intenso.

 

“Basta fechar seus olhos e eu estarei lá!” disse, e ouvimos um som alto, agudo. Uma buzina. Sua gargalhada preencheu o ambiente. “Acho que o sinal abriu! Eu sou mesmo de parar o trânsito né?” disse divertida, gesticulando o próprio corpo.

 

“E como... O meu principalmente!” respondi enquanto arrancava com o carro. Devagar e cuidadoso como sempre era quando estava com ela.

 

Agora, sentado na beirada de uma maldita ambulância. Assistindo o amor de minha vida partir de mãos atadas eu penso “porque eu não corri um pouco mais?”, “ porque não saí cantando pneu?”. Ela odiava isso, mas se eu tivesse feito, agora estaria com ela ao meu lado me xingando. Mas ela estaria aqui.

 

Um policial vem até mim, pergunta meu nome... Quem ela era. “O amor da minha vida”, respondo simplesmente. Sei que ele queria saber nomes e endereços, mas eu não poderia. Não agora.

 

Ele me pede pra contar o que aconteceu. Mas não posso explicar. “Minha vida se foi” eu poderia dizer, mas ainda assim na seria o bastante. Então começo a falar, mecanicamente, todos os fatos que eu pude perceber que aconteceram.

- Estávamos parados no sinal vermelho. A luz verde se acendeu, mas não percebi pois conversava com.. minha... esposa.- senti um nó na garganta se formar e lágrimas impiedosas nascerem em meus olhos. Obriguei-as a voltar, e continuei – quando percebemos o sinal aberto, eu arranquei com o carro e logo senti o impacto. Meu carro rodava e girava... Até que parou. Eu estou bem, sai do carro, contornei, abri a porta e fui ver minha esposa, que... – não consegui prosseguir no relato. Meus olhos marejaram, minha garganta ficou seca. Postei o rosto entre as mãos.

 

O policial colocou a mão ternamente sobre meus ombros e disse que eu não precisava falar mais nada agora. Disse também que tinha encontrado um celular e chamado alguns parentes meus, que ele percebeu que moravam ali perto e já estavam á caminho.

 

Um paramédico foi até mim, fez alguns exames e pediu que eu fosse até o hospital. Então dei adeus á meu amor, ao único que eu sabia que teria ao longo de toda minha vida e entrei na ambulância. Segui com ele até o hospital. Lá, minha irmã e meu pai já em aguardavam. Fui examinado novamente. Radiografias foram tiradas. Eu não tinha nada. Nada além de tristeza.

 

Estava em meu quarto no hospital, esperando a liberação clínica, e tentando a  todo custo ter algum fio de esperança, assim como eu tentava desde que minha esposa fora arrancada de meus braços e levada às pressas pro hospital., com as mãos no rosto, escondendo as lágrimas que tentavam a todo custo sair. Senti duas mãos pequenas sobre as minhas, e uma voz doce me chamar.

 

- Anda meu irmão... Olhe pra mim! – ela dizia, Minha nanica preferida. Tirei as mãos do rosto e mirei seu olhar, doce, complacente e cheio de amor.

 

- Ela se foi não é? – perguntei

 

Recebi como resposta um aceno de cabeça. E seus braços voaram para meu pescoço, me erguendo da cama e tomando meu corpo pra si, junto, apertado, como a me manter firme, mesmo eu sendo muito maior que ela.

 

“Por favor! Por mim... Fique comigo meu irmão! Eu estou aqui, então só fique comigo!” ela dizia enquanto me embalava em seus braços “se não por você, então lute por mim! Por nossa família, pela memória dela... Fique! Não se entregue... estamos todos aqui e sempre estaremos por você.”

 

O resto dos dias passaram indistintos. Eu não comia, não dormia. Fui ao velório, mas não pude ir ao enterro. Não tive forças pra isso. Me despedi de seu corpo, guardando comigo apenas suas lembranças.

Depois de algumas semanas eu resolvi que era hora de voltar á vida. Como ela mesma sempre dizia “sempre é hora de voltar a ser o que se é.”

 

Então voltei a trabalhar, estudar... Quase tudo voltou ao normal na minha vida. Quase.

 

Existem coisas que não se pode mudar, e coisas que nos mudam para sempre, que nos tornam outra pessoa. Pois bem, isso mudou minha vida e meu ser por completo, E eu nada pude fazer á respeito.

 

Eu sobrevivi, por mim, por ela e pelo filho que se foi com ela. Pela criança que seria a marca de nós dois, do amor que nós tínhamos um pelo outro. Eu sobrevivi. Mas nunca mais encontrei o sentimento de novo. Por dentro eu sou oco. Oco de amor, de carinho, de solidez. Não posso amar ninguém de novo. Não consigo. Eu a amava, eu a amo, e amarei sempre.

 

Eu a queria, e ela foi tirada de mim. Eu queria aquele filho e não pude ter. E se continuar a viver é se conformar, então estou conformado. Conformado com o fato de que não posso ter tudo o que eu quero, e aquilo que eu mais quis me foi tirado. Aquilo que demorei tanto pra conquistar e construir se foi, saiu de mim num piscar de olhos.

 

Pois, num momento ela me amava, e no outro perdia a vida em meus braços.

 

Num momento eu era feliz. E no outro eu apenas existia. Assim como existo até hoje.

 

Aprendi a sorrir de novo, a olhar a vida com outros olhos, retomei o gosto por salvar vidas, é o que eu faço. E sinto que, em cada vida que eu salvo, em cada olhar que se abre novamente, eu deixo um pedaçinho dela. E apago uma faísca dessa dor que há em mim.

A casa que era nossa permaneceu intocada. Ainda permanece assim. Um dia, quem sabe eu volte lá. Quem sabe.

 

Hoje apenas vivo a vida como um bom boêmio. Não amo, não sofro. Nunca mais, com ninguém. Hoje tenho muitas, e ao mesmo tempo não tenho nenhuma. Sempre acordo sozinho com minhas lembranças. Mas feliz.  Posso dizer que sou feliz, e fui feliz, por tê-la em minha vida, mesmo que por pouco tempo. Tive o prazer de desfrutar de sua companhia e saber, que por ela, hoje sou uma pessoa completamente diferente, e melhor.

 

 

 

Oh hey, I've been travelin' on this road too long

Oh, hey, eu tenho viajado nessa estrada por muito tempo

Just tryin' to find my way back home

Apenas tentando encontrar o meu caminho de volta pra casa

But the old me's dead and gone

Mas o meu antigo eu está morto e enterrado,

Dead and gone

Morto e enterrado

And oh hey, I've been travelin' on this road too long

E oh, hey, eu tenho viajado nessa estrada por muito tempo

Just tryin' to find my way back home

Apenas tentando encontrar o meu caminho de volta pra casa

But the old me's dead and gone

Mas o meu antigo eu está morto e enterrado,

Dead and gone

Morto e enterrado

 

 

 

 

E minhas piores dores... São palavras que eu não posso dizer.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Aos que lerem, coments são bem vindos!



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