Loki ouvira um dia a descrição de um de seus soldados: “A beleza e o poder de uma deusa. Mas não se deixe enganar por seus olhos. Aqueles rubis brilham em chamas hipnóticas, só esperando que um pobre coitado caia na tentação de se aquecer naquele olhar. Mas tudo o que este pobre terá, é um abraço gélido, como punição pelo pecado da luxúria”. Loki ouviu, impressionado a descrição do soldado, mas ele discordava. A verdade é que tinha um relacionamento secreto com a Imperatriz, ele sabia que não havia ninguém que a conhecesse mais do que ele.

Em seu cômodo, mais precisamente na antessala, a Imperatriz folheava uns livros buscando por algumas informações curiosas. Achou um livro de história antiga, abriu na parte de mitologia e procurou por seu nome. Mesmo este sendo uma variação, ela achou um significado:

Ivyllin - PÁSSARO DE GRANDE ESTIRPE. Muita inteligência e poder de comunicação embora nem sempre diga tudo o que lhe vem à cabeça. Segue sempre movido pela razão e se enfurece quando é desmentido ou contrariado. Traz no seu íntimo a segurança e a tranquilidade, as emoções em perfeito equilíbrio e tem força de vontade e sutileza.

Erguendo de leve uma sobrancelha, não ficou muito insatisfeita com a explicação que o livro lhe fornecia. Passando dessa vez para a parte de mitologia nórdica, procurou pelo nome de seu tão honrado general:

Loki - Deus do fogo, da trapaça e da travessura. É frequentemente considerado um símbolo da maldade, traiçoeiro, de pouca confiança; Ele possui um grande senso de estratégia e usa suas habilidades para seus interesses, envolvendo intriga e mentiras complexas.

Desta vez, a sobrancelha se ergueu de forma mais acentuada. Ela discodara completamente da descrição. Conhecia seu general, mais do que qualquer outra pessoa. Ela se sentou em seu divã, ao lado da janela, recolheu as pernas de forma elegante, juntando os joelhos e repousando a mão esquerda sobre eles, enquanto a direita lhe tocava o rosto. Ela olhava para a paisagem além dos vidros, mais especificamente além de seu Império. Vislumbrava as montanhas cobertas de neve e o sol tímido que se escondia por detrás delas, já entregando o cenário para que a lua fizesse sua bela aparição.

Loki bateu à porta e pediu licença ao entrar no cômodo imperial. Parado em frente à porta, ele tentava relatar as mais recentes informações. Uma missão quase impossível. Ele se distraia constantemente com a pose elegante e provocante de Ivyllin. Ela ouvia tudo calmamente, mas seus olhos pareciam querer invadir o pensamento do general. Então, ela ergueu a mão esquerda para o general e foi fechando cada um de seus dedos, até que a mão inteira o tivesse convidado a cair na tentação de seus olhos. Erguendo o queixo alguns centímetros, ela observou o general se aproximar cada vez mais. Para o general, estava a sua frente uma figura capaz de insitar um homem a ter todos os pensamentos, desde os mais simples aos mais impuros. Já próximo o suficiente, ela tocou com a ponta do dedo indicador o queixo do nobre homem, puxando-o devagar para si. Os lábios se tocaram e dançaram. À tentação que todos evitavam, Loki era capaz de ceder. Para um humano, estar tão próximo assim de uma vampira...

Seus lábios saborearam um ao outro por um breve momento e se afastaram. A Imperatriz se levantou de seu divã e, sem deixar que seus olhos perdessem o contato hipnótico, ela seguiu para o quarto. Parou rapidamente à porta e olhou para o rapaz, como se o convidasse a entrar. Loki a seguiu maravilhado. Ivyllin entrou e seguiu então para a cama. Sentou-se à beirada e foi centralizando-se. Seu olhar e sua boca entreaberta diziam para o jovem: “Venha... Ceda ao desejo”. O jovem parecia sem controle sobre seus atos. Ele fechou devagar a porta e se dirigiu para a cama. A pele macia, o perfume dela, o sabor doce de sua boca, tudo nela era convidativo para ele. Até mesmo a dor de sua mordida, para ele era um prazer.

Uma noite das muitas que já compartilharam. Aquele era antro do pecado. O pecado que ambos amavam. A luz da lua prateada adentrava o quarto iluminando a cena do amor entre o gelo e o fogo. Ivyllin e Loki, com os corpos nus escondidos sob o lençol escarlate. Deitada sobre o peito de Loki, a pele gélida e alva de Ivyllin tocava o corpo quente e gentil dele. Com o indicador de uma das mãos, ela tocava gentilmente as marcas redondas no pescoço do rapaz. Os dois estavam ali, deitados na mesma cama, após se amarem, com sorrisos nos rostos e uma mordida no pescoço...

Feitiço? Masoquismo? Amor? Loki não queria saber. Apenas deslizou um das mãos sobre o corpo da Imperatriz, indo até sua cintura. Queria tê-la sempre em seus braços, em seus sonhos, em seus desejos. Ivyllin amava o cheiro e corpo quente de seu general. Era uma das poucas coisas que considerava preciosas para si. Eles se amavam, deixavam isso claro um para o outro. Só não podiam divulgar para o resto do mundo.

Um incêndio na neve prata queima o céu

(Hakugin no honou ten wo kogashite)

mesmo se for arrancar meu coração,

(tatoe kokoro wo hikisaite mo)

não vou oferecer pra mais ninguém,

(anata dake ni sasagetai no)

o rosário que está em meu peito. 

(watashi no mune no jujika wo)

A insônia dessa lua aveludada

(Nemuranai berubetto no tsuki)

adorna nossa sala secreta.

(kazarareta himitsu no heya) 

Fechamos tranqüilamente a porta,

(Futari kiri sotto kagi wo kake)

agora somos só nos dois.

(odorimashou itazura na toki no yudanete)

vamos dançar e aproveitar esse momento juntos.

(Yasashiki hi wo tomoshita)

Acendo o fogo gentilmente.

(candle no you ni anata)

Ah...farei você derreter como uma vela.

(aa torokasete agemashou)

Um compromisso eterno pra mim.

(chikainasai eien wo)

Ninguém pode quebrar as correntes do amor.

(Ai no kusari dare ni mo kowasenai)

Vou lançar um doce feitiço sobre você,

(amaku kiyora na jumon wo kakete)

ou então uma melodia proibida

(anata dake ni yurusareru no)

que apenas você pode perdoar.

(kinjirareta melody sae mo)

Vou virar asas que sobem livremente.

(Jiyuu kakeru tsubasa ni naru) 

Venha rápido e me pegue!

(tsukamaete hayaku saa watashi wo)

Dancing in Velvet Moon - Mizuki Nana