Caminhando nas Sombras escrita por Carol Campos


Capítulo 6
Viagem




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Ela saiu do quarto e me deixou lá, olhando para o pedaço de papel que ajudaria em meu futuro. Era a melhor coisa que poderia fazer, não iria arriscar piorar ainda mais a minha situação. A esta hora, Johny já deve ter contado a metade da cidade que eu sou um suposto monstro. Depois de algum tempo perdida em meus pensamentos, finalmente tomei uma decisão: Eu precisava partir. Se continuasse na cidade, coisas piores poderiam acontecer, e com pessoas próximas a mim.

Virei o cartão, procurando algum endereço para ter onde ir, e me deparei com algumas letras minúsculas amontoadas no final: Rua Munntry Carter, nº177. Cidade de Tenebrum. Pelo que conhecia, essa cidade era uma das poucas da nação vampira que não ligava para a guerra, e vivia isolada assim como minha pequena vila. Só precisaria tomar cuidado para não saberem que eu sou metade das duas raças, e não tenho a mínima idéia de como farei isso.

Comecei a arrumar algumas poucas coisas que poderiam ser necessárias, como roupas novas, notebook, celular e dinheiro – lá se vão minhas economias para comprar novos equipamentos de skyte. Coloquei a mochila sobre a cama e olhei as horas: sete horas da manhã. Dá pra ir ainda hoje, só não sei quando devo chegar lá. Olhei-me no espelho, e vi que meus olhos já estavam normais, no tom castanho escuro de sempre. Teria que me preocupar de como entrar na cidade mais tarde.

Peguei a mochila e desci as escadas à procura de minha mãe. Ela não estava nem na cozinha e nem na sala, então pensei em onde ela poderia estar. Então ouvi um barulho de porta abrindo e fechando, e duas vozes bem familiares vindo até a sala. Ah droga, não!

- Olhe só quem apareceu para nos visitar Katlyn – minha mãe disse, com a garota alta e morena logo atrás dela, ainda com mochila nas costas.

- Ah, oi Eliza – disse eu, tentando colocar um pouco de entusiasmo na voz.

Elizabeth é a minha irmã mais velha, de 19 anos. Ela sempre está viajando e fazendo intercâmbio para cidades grandes, e algumas vezes já fez até excursões para o outro mundo. É totalmente diferente de mim, tirando os mesmos cabelos e olhos castanhos escuros, mas era muito mais morena e magra, além de mais alta também.

- Katy! Quanto tempo – ela chegou e me deu um grande abraço, bagunçou meu cabelo e continuou falando – Você cresceu bastante hein?

- Eliza, você só viajou por uns seis meses, não deu nem tempo de crescer – eu disse, em um tom irônico.

- Engraçadinha – mostrou a língua pra mim – e então, novidades?

Engoli em seco. Não podia contar para ela o que aconteceu, não agora. Olhei desesperada para minha mãe e falei, sem som “depois você conta pra ela”. Ela assentiu e tentou disfarçar.

- Bem, a Katlyn vai viajar – ela disse, sorrindo e falando em um tom bem convincente – vai com a família de Nathale por alguns meses. Não é?

- É, isso ai – confirmei

- Oras, mas eu acabei de chegar e você vai viajar? Que falta de consideração – Elizabeth disse, com uma mistura de transtorno e ironia – Brincadeira. Divirta-se lá, e veja se encontra algum namorado lá para onde vai.

- Eu... Erm... Tá, ok – Não estava muito a fim de garotos depois do que aconteceu com Johny no dia anterior. Só espero que não encontre nenhum em Tenebrum.

- Ah, a viagem até aqui foi cansativa demais – jogou a mochila no sofá e foi em direção a cozinha – vou fazer um lanche, estou morrendo de fome. Boa viagem Katy. Quero que me conte tudo o que acontecer quando voltar. – ela entrou na cozinha. Aproveitei que ela não estava ouvindo para falar com minha mãe.

- Tome cuidado lá, está bem? – minha mãe disse, preocupada – não são todos os vampiros de lá que são bons, alguns são tão horríveis quando os de outras cidades.

- Claro que sim, vou tomar – abracei-a bem forte, peguei meu skyte que havia encostado a uma parede do lado da porta de entrada e sai. Olhei bem para a minha casa, espero voltar para cá algum dia. Segui andando pela avenida principal, então pensei que deveria avisar Nathale que ao menos estaria “viajando” por um tempo. Mandei-a uma mensagem:

“Nat, to indo viajar por alguns meses, não se preocupe comigo, vou ficar bem.

PS: Se o Johny disser alguma coisa sobre mim, bata nele, por favor,

Bjs, Katlyn”

Acho que é a melhor coisa ela não saber sobre o que aconteceu, do jeito que é, faria qualquer coisa para ir atrás de mim, e se isso acontecesse seria perigoso para nós duas. Espero que minha mãe não fale nada para ela.

O sol estava alto, mas desta vez não queimava minha pele e nem incomodava minha visão. Só deve acontecer enquanto estou na outra forma, o que é ótimo.

Cheguei aos portões da vila depois de alguns minutos de caminhada, pelo que parece Johny ainda não espalhou nenhum boato sobre mim, pois todos ainda me olhavam com a mesma cara de sempre de “ah, a garota anormal”. Já estava acostumada com isso, nem ligava mais. Agora, pensando melhor, vou poder finalmente sair deste lugar e ir para outro, começar de novo onde ninguém me conhece e não irão me julgar, pois são todos iguais – ou quase – a mim. Coloquei o skyte nos pés, e sai sem olhar para trás.



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