Caminhando nas Sombras escrita por Carol Campos


Capítulo 4
Encontro




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- Kat, estou indo – Nathale disse, esfregando os olhos e levantando-se da cadeira – to morrendo de sono e não posso chegar em casa muito tarde.

- Ok, preciso ir também – disse, tentando não parecer muito animada. Não consegui muito bem, estava animada demais pra fingir

- Vai se encontrar com ele né? O Johny?

- N-não, claro que não! Eu s-só tenho que ir pra casa também. É, isso ai. Hehe – disse, tentando disfarçar mais e ainda sem sucesso

- Tá, depois me conta como foi o encontro tá? Bye! – ela disse e saiu da biblioteca acenando. Ás vezes ela pode ser bem irritante, mas quer saber? Eu já me acostumei

Sai da biblioteca e fui para a minha casa. Claro que teria sido rápido, se a minha mãe não tivesse pegado meu Skyte de tarde e minha casa não fosse a diversos quarteirões dali. Pessoas normais teriam demorado cerca de meia hora para chegar lá. Eu? Não demorei nem dez minutos. Adoro ser anormal.

Cheguei à porta de casa quando eram 20h55. Ótimo, minha mãe tem a política de “entrou em casa depois das 21h, fica de castigo por duas semanas” e eu não estava nem um pouco a fim de ficar de castigo em plenas férias. Entrei e minha mãe estava na sala vendo TV.

- Mãe? Cheguei – disse, não era necessário gritar, já que a sala ficava do lado da porta da frente.

- Quase que não chega á tempo hein? Não vou dar mole só porque são férias, sempre se lembre disso – ela respondeu.

Fui até lá e sentei na outra ponta do sofá. Ela estava deitada, mas como é baixinha, sempre sobra lugar para sentar. Estava assistindo uma novela qualquer. Bem, era melhor eu explicar que eu ia sair logo se não ia me atrasar demais. Estava com umas roupas horríveis para um encontro, ainda precisava me arrumar. Que droga!

- Desculpe a demora, estava na biblioteca com a Nathale – disse como se não quisesse nada – mas então... Eu posso sair agora?

- Vai aonde? – perguntou, desconfiada.

- Bem... – disse meio sem jeito – eu vou sair com o Johny

- Ah, aquele garoto que você gosta? Pode ir, só tenha um pouco de juízo nessa cabeça de vento.

- Sério? Obrigada! – disse, então pulei em cima dela e sai correndo para o meu quarto me arrumar.

Subi as escadas e entrei no meu quarto. Ah droga, ela arrumou tudo, agora não vou saber onde está mais nada! Só quero ver se me atrasar demais. Meu quarto é um tanto simples, tem a cama que fica com uma cômoda ao lado e um abajur em cima, minha escrivaninha com meu notebook, meu armário com minhas não muitas roupas, e meu violão de estimação.

Tentei me arrumar bem e rápido, mas acho que demorei um pouco na hora de escolher o que ia usar, fiquei pensando “o que será que ele vai achar bonito?”, mas no final coloquei uma calça jeans simples, uma blusa com jaqueta de couro preta e nem perdi tempo com maquiagem ou cabelo, só passei lápis de olho e deixei o meu cabelo como estava – solto e com a franja pro lado direito – então peguei meu celular e o skyte – minha mãe havia “escondido” ele, mas eu sempre sei onde ela coloca – e sai.

Lembro-me dos poucos encontros que tive com ele anteriormente, nós sempre vamos ao mesmo parque no centro da cidade – que de noite fica deserto por sinal – e ficamos em um banco no final do parque, onde uma árvore de cerejeira quebrou acidentalmente o muro atrás dela conforme foi crescendo.

Quando cheguei lá, coloquei o skyte em baixo do braço e fui até o lugar que sempre íamos. E lá estava ele, sentado com a cabeça levemente reclinada para cima e de olhos fechados, como se estivesse tentando ouvir tudo que acontecia ao seu redor.

- Oi Kat – ele disse, e abriu os olhos, olhando para mim – está muito bonita hoje.

- Oi Johny – disse meio gaguejando e me sentei ao seu lado – você também

- Sabe, as vezes fico com vontade de brigar com aquela patricinha da Stefani, ver ela falando aquelas coisas pra você é irritante.

- V-você ouviu aquelas coisas? – fiquei com vergonha de mim mesma e abaixei a cabeça de leve. Por mais que não quisesse, eu sabia que era uma anormalidade por ali, uma aberração.

- Ouvi, e acho-a uma idiota – ele levantou meu rosto de leve, me encarando de verdade – e não venha falar novamente que eu sou namorado dela, eu não gosto tanto dela assim, sabe... Quem eu sempre gostei foi você.

- Mas parece que você gosta dela, não de mim – me esquivei de seu toque, não sabia por quê estava dizendo aquelas coisas, mas parecia que precisava dizê-las – não tem como você, sendo o garoto mais popular da escola ou até da vila, gostar de uma pessoa como eu...

Ele tocou em minha mão e senti um choque me percorrer, olhei novamente para ele e pude ver seus olhos azuis mais brilhantes do que nunca. O espaço entre nós diminuiu tanto que conseguia quase sentir o gosto de seu hálito de hortelã em minha boca, eu precisava beijá-lo. Diminuiu-o mais ainda, estávamos quase lá... Então aconteceu.

Senti um formigamento em meu corpo todo, junto com um calafrio. Minha garganta começou a queimar, estava com sede, muita sede. Mas pelo que parecia, não era sede que um líquido qualquer pudesse satisfazer aquela sede. Era necessário algo mais nobre, mais vital.

Levei as mãos à cabeça e me virei para frente bruscamente, apoiando os cotovelos aos joelhos e fiquei lá, ouvindo Johny dizer algo como “Katlyn, o que aconteceu? Você está bem?” só que não estava mais ouvindo, não era eu que ouvia, era outra coisa que assumiu o controle e tentava saciar aquela sede.

Levantei o rosto e olhei para ele, minha visão estava estranhamente turva e meio avermelhada, mas demorou a cair sua ficha. Só depois disso ele ficou pálido e me olhava com o terror estampado em seu rosto. Ficou paralisado até o momento em que disse gaguejando “O-o que é i-isso Katlyn? É uma brincadeira, não é?” eu não precisava me olhar para saber que eu estava virando um monstro, mas não conseguia me controlar.

Aquilo que tomou posse de mim parou de olhar para seu rosto e se voltou para o resto, ah como ele era lindo, mas parou abruptamente em uma parte específica, o pescoço. Aquele lugar em especial parecia mais atraente até do que todo o resto, e eu só pensava em uma coisa: “Eu quero... eu preciso mordê-lo!”

Senti um formigamento em minha boca, e algo espetou de leve meu lábio inferior em dois pontos. Nesse momento ele já estava totalmente sem reação, com uma cara de horror estampada no rosto, e não dizia mais nem uma palavra. “Ele está com medo de você, sua aberração” pensei imediatamente, então consegui retomar o controle de meu corpo. Fechei a palma sobre a face e tentei fazer qualquer coisa, aquilo não podia estar acontecendo. Sem mais opções, peguei meu skyte e saí correndo, sem nem perceber que a fraca luz do começo da manhã queimava minha pele.



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Notas finais do capítulo

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