Caminhando nas Sombras escrita por Carol Campos


Capítulo 34
Determinação


Notas iniciais do capítulo

Ok, demorei mas tá aí.
Boa leitura ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/93199/chapter/34

Eu respirava com dificuldade a cada minuto que se passava, e a poça de sangue que se formava ao meu redor aumentava de pouco em pouco. Não tinha coragem de levantar o rosto para ver quem estava a minha frente e encarar a realidade. Ainda não havia caído a ficha da minha situação atual. Vou morrer assim? Era a única coisa que se passava em minha mente. A lâmina atravessada em minha barriga parecia que, além do meu corpo, tinha atravessado minha alma.

- Parece que os papéis se inverteram agora – ouvi a voz de Alice dizer, mas estava muito atordoada para saber de onde – pena que não quis desistir, poderia escolher uma morte rápida e indolor, mas agora não tem mais volta.

Ela usou o cabo de sua foice para me empurrar para trás, fazendo com que a espada fincasse ainda mais fundo. Gritei de dor, caindo de lado e provavelmente tossindo sangue. Não tinha certeza, minha cabeça estava dando voltas enquanto minha mente repetia Vou morrer.

Alice deveria estar se divertindo com a cena, pois gargalhou tão alto que até mesmo eu envolta em pensamentos pude ouvir perfeitamente. Tinha algo que podia fazer? Provavelmente não, não em meu estado atual, mas ainda não conseguia aceitar que este seria o meu patético fim, depois de passar por tudo que passei. Olhei fracamente para frente, onde vi meus sabres jogados ao chão, ainda com sangue tirado dos poucos cortes que fiz em Alice, e uma ideia me veio á cabeça, junto com uma última esperança.

Ainda deitada ao chão, tive que usar toda a minha força de vontade para retirar a espada de meu abdômen, devo ter gritado bastante, mas estava ocupada demais pensando no meu plano suicida. Qualquer pessoa sensata que tivesse um ferimento desse tamanho não retiraria a espada, se não causaria ainda mais sangramento e eu morreria dolorosamente, mas pelo o que eu aprendi desde que cheguei até aqui, é que sangue normal pode ser muito bom para vampiros, mas sangue de anjos e de sangues-puro poderia ter efeitos temporários milagrosos. Depois de muito esforço retirando a espada, levantei-me – porém ainda de joelhos – e peguei um de meus sabres e olhei para a lâmina, ainda com o sangue fresco. Espero que isso funcione.

- O que diabos pensa que está fazendo? Quer sofrer ainda mais? – Alice disse, que agora eu podia ver que estava á minha frente. Ela levantou a foice acima de sua cabeça, e sua sede se sangue era tanta que eu podia ver sua aura negra ficando cada vez mais espessa. – Então vou acabar com sua dor de uma vez por todas!

No mesmo instante, lambi a lâmina de meu sabre, e foi como ter tomado um copo de café puro. Minha visão se clareou no mesmo instante, e pude sentir ao menos uma parte de minhas forças voltando. O sangramento continuava, mas eu sentia que estava parando aos poucos.

Alice deve ter percebido que eu tramava alguma coisa, então se apressou eu fazer seu ataque, descendo a lâmina da foice acima de minha cabeça.

Em uma defesa instintiva, bloqueei a lâmina da foice com minha espada.

- Como?! – Alice continuava fazendo força para tentar acertar minha cabeça, mas minhas forças continuavam a ressurgir e eu defendia – Por que você não desiste de uma vez?

- Não vou desistir – disse ríspida, de cabeça baixa.

- Impossível, uma hora irá desistir. É muita responsabilidade salvar o mundo mágico, querida irmã. Você irá falhar.

- Não falharei. – disse, e agora retomando minhas forças novamente, comecei a me levantar, ainda me defendendo da foice á minha cabeça. – Sim, é muita responsabilidade, tenho a expectativa de várias pessoas pesando em meus ombros, mas serei forte. Não deixarei ninguém morrer!

Senti um formigamento estranho em minhas mãos e braços, e quando dei por mim o sabre em minhas mãos brilhava, assim como o que estava caído ao chão, que logo se transformou em pura luz e voou para mim. Finalmente entendi, pensei. Eu sou o meio termo entre as vontades dos humanos e dos vampiros, sou a mistura da coragem das duas raças para defender seus ideais, mas tenho medo de não usá-la na hora correta. Coragem.

- Entendi – disse, me levantando completamente – Eu tenho medo de não proteger aqueles que amo com a coragem e força que me foi concedida. “Aquele que caminha nas sombras, não é precipitado, muito menos demora a agir, ele espera o momento certo para este.” Eu não sei a hora certa em que devo insistir na vitória ou admitir a derrota, mas devo aprender a saber o momento certo para os dois. Essa é minha fraqueza.

Quando acabei a frase, o sabre em minhas mãos explodiu em luz. Em um instante ele era o meu sabre, e no outro tinha o dobro do peso e uma forma totalmente diferente. Um montante de lâmina dupla com os mesmos intrincados da foice de Alice, porém mais suaves, do tamanho exato para mim. Onde estavam os pingentes de estrela, agora havia um de estrela, e um de uma rosa.

Em um movimento rápido e como se tivesse usado aquele montante por toda a minha vida, joguei a foice de Alice para trás, finalmente a olhando nos olhos. Ela fez um barulho como um rosnado, e foi um pouco para trás.

- Se você acha que tem alguma chance só por ter conseguido invocar sua arma secundária, está muito enganada. Nathale!

Olhei para trás a tempo de me defender da investida feroz de Nathale, que em poucos segundos pegou sua espada do chão e me atacou. E eu posso afirmar, com toda a certeza, de que Nathale não fazia isso normalmente. Seus olhos eram réplicas dos de Alice, como de bonecas de porcelana.

- Você a controlou com alguma magia – eu disse me direcionando a Alice – que nobre de sua parte.

- Ah, só um bônus dos meus poderes. Poderia ter falhado, mas como fui eu que a transformei, fez ainda mais efeito.

- Entendo. Então, seria uma pena se alguém impossibilitasse ela.

Os movimentos e técnicas de espada surgiam em minha mente, como se treinasse desde que nasci, e me fazia criar combinações e métodos diferentes para o momento. Eu não sabia se isso era efeito do montante ou do sangue que eu havia bebido, mas sabia que foi realmente muito útil.

Com um contragolpe de esgrima, girei meu montante em torno da espada de Nathale, fazendo-a voar longe. Antes que ela pudesse reagir a isso de qualquer maneira, dei um golpe com o cabo em sua cabeça e a derrubei ao chão, desmaiada. Poderia ficar roxo mais tarde, mas melhor uma Nathale brava por estragar sua maquiagem do que ferimentos graves.

Assim que a derrubei, me voltei novamente para Alice, que me olhava com puro ódio. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela avançou ferozmente para cima de mim, onde começamos a lutar novamente, só que dessa vez eu tinha truques na manga. Muitos truques.

Estudei seus ataques milimetricamente, sabendo em poucos segundos como me defender. Ela estava muito mais agressiva agora, como se fosse sua última chance de ganhar, e não dava aberturas em nenhum momento, e foi assim que eu percebi uma coisa que deveria ter percebido desde o começo da luta. Em sua foice, presa com correntes, estava uma pequena rosa de ametista, como se fosse o coração da arma. Aquela rosa... Eu conhecia aquela rosa.

E foi assim que tudo se encaixou em minha cabeça. O dia em que Alice sumiu foi o sucessor da noite em que ela ganhou aquela pequena rosa. Deveria haver algum feitiço de Christie que fez com que a parte obscura de sua mente comandasse seu corpo, ou algo do gênero.

Preciso destruir aquela rosa.

E no mesmo momento – e que momento ruim – o efeito do sangue estava começando a passar. Eu podia sentir o sangue querendo sair da ferida e minha mente ficando embaçada. Precisava acabar logo com isso.

Em um último esforço e aproveitando minhas últimas forças ao máximo, ataquei o mais ferozmente que pude, deixando ela sem chances de reação. A cada ataque eu percebia que minha força se esvaía, mas eu precisava acabar com aquilo. Agora.

Dei um chute em sua barriga que fez com que ela caísse deitada ao chão, e sua foice ao seu lado. Minha ferida já sangrava consideravelmente e minha mente estava nublada, mas eu consegui chegar ao seu lado. Joguei-me em cima de meus joelhos, e posicionei o montante com a ponta bem em cima da rosa.

- Sabe? Eu acho que descobri o porquê de sua arma secundária ser uma foice – eu disse para ela, quase que inconscientemente – a foice é a arma usada pela morte para ceifar os que devem morrer. Você, por ser filha de quem é, foi privada de ter uma vida normal, como devo imaginar. Suas responsabilidades ceifaram sua liberdade de você, assim como essa magia ceifou o seu lado bom.

Não foi preciso muita força, mas assim que fiz um pouco, a rosa se desfez em vários fragmentos de ametista, fazendo uma pequena explosão roxa e azul em contraste á escuridão da floresta, e eu poderia apostar que ouvi Alice dizer “Obrigada”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Caminhando nas Sombras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.