Caminhando nas Sombras escrita por Carol Campos


Capítulo 26
Verdade


Notas iniciais do capítulo

Minhas sinceras desculpas pela demora leitores ;^; tive alguns imprevistos, meu computador quebrou e só pude escrever estes dias. Me desculpem, de verdade.
Bem, tenham uma boa leitura. ^-^ kissus



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A casa estava exatamente como vi alguns meses atrás. Cortinas de veludo vermelho cobriam as janelas, combinando perfeitamente com os tapetes feitos a mão em tons de vermelho, dourado e preto. A sala enorme ainda continuava com as mesmas poltronas e sofás cor de âmbar formando um U, uma mesa de centro com alguns enfeites de porcelana e a TV de plasma na parede. Os corredores localizados aos cantos da sala estavam tão escuros que não poderia afirmar qual a cor das paredes sem ter certeza. Algo que eu não havia percebido antes estava perfeitamente pintado no teto, como se fosse um quadro: uma rosa, bem parecida com a de Alice, pintada em vermelho com detalhes amarelos e azuis.

Havia algo estranho naquele lugar, isso eu havia certeza absoluta. Tinha uma constante sensação de que deveria sair dali, os meus instintos diziam o mesmo, mas eu não poderia sair. Não até encontrar uma resposta para toda esta loucura que virou a minha vida.

Alice sentou-se delicadamente em uma das poltronas, sobrepondo uma perna sobre a outra. Ela estava totalmente diferente da Alice que eu conhecera alguns meses atrás, quando entrei por aquele portão negro e achava que minha vida mudaria completamente. E quer saber? Eu tinha razão.

Tomei cuidado para me sentar bem longe dela, então escolhi um lugar no sofá oposto de onde ela havia sentado. Passei as mãos pelo tecido delicado do sofá e logo presumi que era feito do melhor veludo. Qual é, só faltava aparecer alguns mordomos me servindo chá em xícaras de ouro acompanhadas de biscoitinhos banhados a prata. Não daria para comer, mas convenhamos, era o que parecia para aquela situação.

- Então Katlyn, a que prazer recebo sua visita? – Alice disse suavemente, apoiando o cotovelo no braço da poltrona para sustentar o rosto com sua mão – foi uma grande surpresa.

- O que aconteceu hoje cedo também foi uma surpresa – sussurrei – Ah, nada, só queria visitar minha amiga, faz tempo que não nos vemos.

- Amiga... – deu uma risada leve e sarcástica, estalou os dedos e um mordomo apareceu das sombras, dando-lhe uma xícara de chá – aceita chá?

- Não, obrigada – me segurei para não rir, lembrando-me de meu pensamento anterior. Arrumei-me desconfortavelmente no sofá e prossegui – então, faz tempo que não nos vemos. Foi para... Algum lugar?

- Uma imprevista viagem de negócios do meu pai. Ele ficaria fora por algum tempo, então decidiu do nada que eu iria junto, mas me recusei a ir e escolhi ficar na casa de uma, hum, tia. Fora da cidade, sabe como é. Não teria como eu ir á escola, então disse para a diretora que poderia dar o meu lugar no quarto para alguém enquanto eu estava fora. Foi uma grande coincidência sua amiga ter caído neste lugar vago.

- Como você sabe que Nathale veio para cá?

- Ora, tenho contatos. Amigos, para falar a verdade. Logo quando voltei liguei para alguns para saber como andavam as coisas. Se estava... Tudo bem.

A sensação de que eu deveria sair correndo dali estava aumentando a cada minuto, sem parar, e não conseguia me livrar do pensamento de que já havia sentido aquilo antes. Arrumei-me desconfortavelmente no sofá novamente. Alice estava estranha, muito estranha. Ela não falava formalmente daquela maneira, muito menos se sentava daquele jeito, mesmo que fosse de família nobre sempre falava e agia como uma garota normal. Agora parecia que tinha passado por um treinamento rigoroso de “Como ser uma Princesa”. E não era só isso, estava com um olhar muito frio.

- Sabe Katlyn... – ela disse, interrompendo meus pensamentos – é muito difícil ser de uma família de linhagem nobre – ela se levantou tão rapidamente que só fui perceber quando começou a observar os enfeites e estatuetas de porcelana espalhadas pela sala – é tudo tão puxado, sempre tendo que seguir as expectativas dos outros, fazer o que é certo, cumprir meus deveres como sucessora da família... Seria bom ter alguém para dividir esse fardo...

Ela parou de observar constantemente as estatuetas e me lançou um olhar desdenhoso e gélido, logo se voltando a grande pintura no teto do lugar. Havia algo diferente nela, mas não conseguia identificar...

- A linhagem Fiorossi vem de grandes nomes da França e Itália, famosos países do mundo humano. Em algum momento da história, estas famílias se envolveram demais com este mundo e vieram por permanecer aqui. Os vampiros eram somente uma lenda no mundo humano, mas neste mundo havia milhares de outros monstros, então por que não acreditar nos vampiros? Esse era o pensamento dos humanos, até que finalmente descobriram que nós existíamos.

Por um instante, sua face serena foi tomada por um pequeno desconforto, mas logo voltou ao normal. No mesmo instante, minha tatuagem ardeu, mais do que quando havia achado Nathale no meio da floresta, muito mais. E eu já havia aprendido que isso não era um bom sinal.

- Ah, também houve alguns poucos nomes de minha família que foram a desgraça da linhagem. Envolveram-se com outras espécies, uma heresia para nós. A maioria não teve um relacionamento duradouro, mas um deles conseguiu este feito. Um vampiro se envolveu com uma humana!

Neste ponto já não aguentava mais minha tatuagem ardendo e levantei-me em um pulo, quase não a tempo de ver as cobras negras em baixo de mim prestes á atacar. Deu tempo de invocar um de meus sabres para me defender, mas não me esquivei de todos. Alguns cortes ardiam, assim como aquela vez em que Miguel quase me matou. Meu pulso ardia tanto com a tatuagem que quase não conseguia segurar a espada.

- Você sabia? – disse Alice, tirando minha atenção das cobras. Ela ainda olhava o teto observando atentamente a figura desenhada, porém sua face havia mudado. Um sorriso diabólico brilhava em seu rosto. – Havia uma lenda em que dizia que inicialmente, as rosas eram brancas e as estrelas vermelhas. As rosas absorveram a cor das estrelas, deixando-as vermelhas e as estrelas brancas. Foi esta lenda que deu origem a nossa família.

- Nossa... – não, aquilo deveria ser um sonho, só pode. Agora mesmo irei acordar com minha mãe batendo na porta de meu quarto mandando-me levantar logo para ir á escola. Irei me sentar na mesa do café e minha irmã me daria um bom dia debochado como sempre. Minha mãe se sentaria logo depois, com panquecas e suco de laranja, e um sorriso no rosto. – Não... N-não pode ser...

Olhei para o teto. Um desenho com muitas curvas e pontas, eu diria. Seus detalhes dourados e azuis formavam perfeitamente o formato de uma estrela entrelaçada sutilmente com a rosa. Como nunca havia percebido isso antes?

- É isso aí, Katlyn – ela virou-se para mim, ainda com um sorriso diabólico no rosto. Algo com um formato de uma foice formava-se atrás dela, se originando das sombras – ou eu deveria dizer, irmãzinha...

Mais cobras pularam para cima de mim, me envolvendo em um casulo negro de pura escuridão. Invoquei meu outro sabre, e então cortei as cobras a minha volta. Alice estava sorrindo, sentada sobre uma nuvem negra e com uma foice cheia de correntes apoiada no ombro. Pude ver claramente a rosa de ametista presa bem ao centro da foice pelas mesmas correntes que envolviam toda a arma, antes de sair correndo pela porta da frente.

Enquanto corria mais e mais longe da casa, algo quente escorria por minhas bochechas e molhando de leve minha roupa, estava chorando e nem tinha percebido isso. Em uma última olhada para a casa, vi Alice na porta de entrada, com o mesmo sorriso no rosto, então as sombras a envolveram e sumiu no meio do nada. Deixando sua irmã correndo para qualquer lugar longe dali.

No meio da floresta perto de sua casa, Alice apareceu juntamente com suas cobras sombras e sua foice, seguindo um pequeno caminho até o castelo em ruínas que tanto conhecia. Passou pelo portão de entrada, e foi até o salão principal.

- Oooh, olhem quem voltou – disse a voz feminina, ainda sentada na grande poltrona de pedra, localizada bem no final do salão – e então querida, como foi?

- Bem, eu acho – Alice disse, fazendo sua foice sumir e se apoiando nas sombras a sua volta – está ficando bem legal, agora que transformei aquela humana inútil em uma vampira. A matarei junto com os outros.

- Devia ter matado ela do jeito que estava, seria mais fácil – Miguel estava sentado nas escadas de onde a grande poltrona se localizava. Seus ferimentos, já curados, resultavam em uma pequena cicatriz formando um x em seu peito.

- Fique quieto, pássaro inútil. Você mesmo teve oportunidade de matar todos, mas se deixou perder por uma simples flecha. Patético.

- Tsssssss, maldiiiiiita. Ssssssorrrrte sssssua que não possssssso te matarrrrr – ele estava claramente irritado, sibilando e suas sombras se agitando a sua volta.

- Parem os dois – disse a mulher, e os dois pararam imediatamente – devemos prosseguir com o plano. As peças finalmente estão onde eu queria. O que acha, querida?

- Prosseguiremos com o plano – Alice disse, sorrindo e olhando para sua mestra – vamos começar a guerra.


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