Caminhando nas Sombras escrita por Carol Campos


Capítulo 24
Descontrole




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/93199/chapter/24

Cerca de uma semana já tinha se passado desde que chegamos para treinar nossas habilidades.

Como pensávamos, o treino era árduo. Dan nos acordava todos os dias por volta das cinco da manhã, quando o sol – mesmo que não aparecesse diretamente – ainda nem havia dado as caras, e nos mandava fazer milhares de exercícios de aquecimento, tais como correr, fazer alongamento e coisas normais para quem faz qualquer esporte.

Mas o esporte que começamos a praticar não era qualquer um.

Voltando de minhas profundas – ou não – reflexões, ainda estava sentada ao lado de uma grande arena de pedra circundada por toda a floresta ao redor. Neste, haviam grandes rachaduras em grande parte e a grama invadira algumas, somente reforçando o ar de coisa velha e empoeirada do lugar.

Ao lado da arena, um bloco de pedra do tamanho de uma banco de piquenique era usado para quem estava esperando sua vez de treinar, que por sua vez era ocupado por mim, Mary e Nathale, que observávamos com bastante atenção a derrota que Caleb estava tomando para seu avô. Logo ao lado do banco, a curta passagem levava para a parte principal da área de treinos.

Caleb estava lutando ferozmente com o avô, que nem sequer estava suando, mas mostrava sinais de cansaço em alguns momentos. Nunca havia visto alguém lutar tão bem antes, além do mais, nunca vi alguém lutar com um tridente – uma arma bem incomum, digamos assim – mas mesmo assim ele usava com agilidade e destreza.

Os ataques dos dois pareciam combinados de tão sincronizados que eram, mas Dan era mais ágil e experiente, o que era uma vantagem.

Caleb tentou um ataque combinado de rasteira e bastão, mas quando tentou a rasteira Dan pulou no exato momento, e então quando Caleb atacou o nada com o bastão, seu avô fincou o tridente no chão com tamanha força que poderia muito bem ter feito mais uma grande rachadura. Após o combo, finalizou fazendo uma investida com o cotovelo direto no pescoço – mais precisamente na traquéia, que era um dos pontos vitais mais fáceis de matar qualquer um – mas sem tocá-lo, somente mostrando que a luta estava ganha.

– Perdi de novo... – exclamou Caleb, caindo de joelhos ao chão, exausto – pensei que era melhor que isso, mas vejo que tenho muito a melhorar ainda.

– Não se preocupe Caleb, todos nós vamos aperfeiçoar nossas habilidades durante o tempo aqui – disse o avô, dando a mão para que Caleb se levantasse, e logo depois removendo o tridente do chão, e o desmaterializando – aliás, você melhorou muito nesses últimos dias de treinamento, não lamente tanto.

– Ok, obrigada vô – respondeu Caleb, com um sorriso – acho que vou tomar uma ducha e descansar, estou exausto.

– Ninguém mandou me desafiar três vezes seguidas – disse o velho rindo, que então bagunçou o cabelo do neto – pode ir, eu encerro seu treinamento hoje, vou concentrar mais nas garotas.

Se esquivando das mãos do avô, Caleb foi saindo em direção á Spiral Hall. Quando passou por mim, fiz um sinal de positivo e gritei “Bom trabalho!”, que foi respondido por um sorriso gentil.

– Muito bem garotas – disse Dan, que eu nem havia percebido que estava na nossa frente – hoje vou fazer algumas lutas em dupla, para aperfeiçoamento da luta – falou, pegando uma garrafa de água – vamos começar com Katlyn e Mary, está bem?

– Ok! – dissemos em uníssono, indo para o centro da arena. Dan nos acompanhava até lá, como o juiz de uma luta de UFC.

– Não precisam pegar muito pesado, já que estamos somente treinando – disse ele para nós duas – mas se isso acontecer, não irei interferir – logo se afastando e sentando-se ao lado de Nathale, gritou – Invoquem suas armas!

Fechei meus olhos, cruzei os braços e senti o leve formigamento de quando usava magia. Aos poucos, fui sentindo o peso dos sabres em minhas mãos, abri os olhos e os segurei firme, olhando seriamente para Mary, que já havia invocado suas adagas.

– Prontas? – disse Dan, empolgado. Podia até sentir o peso do olhar de Nathale em mim, possivelmente de empolgação – Comecem!

Praticamente pulamos em direção uma á outra, cruzando as lâminas das armas afiadas com força, quase sentindo as faíscas saírem. Nós duas éramos muito ágeis e estávamos equilibradas, já que nós duas possuíamos duas lâminas, mesmo que de tamanhos diferentes.

Depois disso tudo passou muito rápido, ataques seguidos de esquivas, defesas e contra-ataques, e logo já estávamos exaustas. Em uma tentativa de golpe, Mary avançou com velocidade, cruzando as lâminas em direção ao meu pescoço, mas eu fui mais rápida, usei um sabre para defender o ataque pelo meio, enquanto usava o outro para jogar as adagas bem longe. Mary caiu, e eu coloquei a lâmina em seu pescoço, em sinal de vitória.

– Maravilhoso! Magnífico! – exclamava Dan atrás de nós, batendo palmas junto com Nathale – você tem um senso de batalha excelente Katlyn, a sua defesa para desarmar o oponente foi digna de um general da alta tropa do exército vampírico.

– Obrigada – disse, ajudando Mary a se levantar – mas eu só fui por instinto, e segui algumas táticas que você nos passou, claro – quando ela se levantou, peguei meus sabres do chão e os apoiei no ombro.

– Você tem um grande potencial – disse ele – enfim, Mary sente-se um pouco. Aguenta mais uma Katlyn?

– Claro – olhei com malícia para Nathale – quem será a próxima vítima?

– Pare de me olhar como se fosse me assassinar – Nathale exclamou, carregando uma espada normal pega no arsenal de Dan – eu já sei que serei eu agora, não precisa ficar esfregando na minha cara que vai ganhar – reclamou ela, com um toque de tristeza na voz.

– Vou tentar me conter o máximo que puder – sorri.

– Então está bem, vão para seus lugares! – gritou Dan, já sentado no banco. Quando tomamos nossas posições, ele gritou novamente – Não exagere hein Katlyn? Começem!

Nathale avançou bem rápido, mas para mim ainda era lento demais. Ela fez um ataque por cima, eu defendi e dei um contra-ataque – tentando ser o mais delicada possível – que ela defendeu com êxito.

Continuei assim, tentando dar o mínimo de ataques possíveis e não desviar de todos eles, mas estava ficando difícil. Mesmo que já tenha tido algum treinamento, Nathale era humana, e não havia nada que pudesse fazer.

Cansada daquilo, comecei a fazer investidas um pouco mais violentas, o que fez ela se tocar de que aquilo era sério, e que precisava usar todas as suas forças.

Dei um ataque lateral, mas ela defendeu com a espada. Aproveitando a brecha, ataquei pelo outro lado, só que surpreendentemente, ela se esquivou por baixo e me deu um soco surpresa bem no meio do queixo.

Deu um sorriso triunfante, e eu um de aprovação. Comecei a pegar mais pesado ainda, não estava no nível em que lutei contra Mary, mas já era considerável.

Tentei uma estocada por baixo, ela viu o ataque e se esquivou para a esquerda. Já prevendo esse movimento, dei um giro em torno de mim mesma para pegar impulso e passei a espada perto de seu pescoço.

Um pouco perto demais, eu diria.

Um grande talho de formou na lateral de seu pescoço, que escorria um pouco de sangue – não em um nível alarmante, só preocupante – e ela logo colocou a mão em cima da ferida.

Mas aí eu já não controlava minhas ações.

Senti um forte arrepio junto com um formigamento – já havia tido aquela sensação antes - , minha visão ficou em um tom de escarlate quase que completo, e eu sentia somente um único cheiro. Algo doce, vivo, quente...

... Sangue.

Tomada pelo instinto assassino de um vampiro, avancei contra Nathale que estava paralisada pelo meu ataque repentino e a prendi ao chão. O sangue formava algumas gotas ao chão, que aumentava cada vez mais. Senti o formigamento nos caninos, e a forma pontiaguda alcançou meu lábio inferior.

Teria matado Nathale ali mesmo de Dan não tivesse vindo.

Ele me deu um forte soco, o que me fez voar alguns metros para longe de Nathale. Antes que pudesse me levantar para dar outro ataque, o tridente de Dan perfurou o chão ao meu redor, prendendo meu pescoço.

– Essa foi por pouco – disse Dan, aliviado – tudo bem aí?

– Sim, mais um pouco e teria acontecido um grande acidente aqui – disse Mary, socorrendo Nathale que permanecia em estado de choque.

Ainda estava me debatendo ao chão, tentando me libertar do tridente. Sangue... Minha mente repetia Muito sangue... Sangue delicioso...

Foi então que voltei para mim. Minha visão havia voltado ao normal, e Dan me olhava com preocupação, ainda segurando firme o tridente ao redor do meu pescoço.

– Mais alguns centímetros e teria matado ela – Dan me repreendeu – você precisa aprender a ter autocontrole, mas não posso lhe culpar, você viveu durante humanos todo esse tempo... – enfim ele me soltou.

– M-me desculpe... – disse, gaguejando e passando a mão no pescoço – não era a minha intenção...

– Eu sei que não – disse o velho, compreensivo – mas acho que ela não sabe.

Olhei para Nathale. Ela ainda segurava o ferimento com uma das mãos, Mary falava com ela em vão, estava me olhando com aquele olhar de “Não acredito que você fez isso”

Levantei-me com dificuldade, indo em direção á elas

– Nat, me desculpe... – disse, a uma distância em que ela já poderia ouvir

– Não... – falou ela, ainda incrédula – Você... Qual o seu problema?! – e saiu correndo floresta adentro, chorando

– Nathale! – gritei, já indo em direção á onde ela foi, mas minha visão estava turva, demoraria á alcançá-la.


Nathale corria sem rumo floresta adentro. Ainda estava com a espada em mãos, deveria até ter se esquecido de soltá-la devido ao choque de ver sua melhor amiga quase matá-la. Ela chorava interminavelmente, e vez ou outra limpava as lágrimas com o braço livre.

Depois de correr por alguns minutos, achou um pequeno espaço aberto – algo como uma miniatura da arena onde estava, só que muito mais abandonado – e logo sentou-se em um canto qualquer.

– Ora ora, o que temos aqui – disse uma voz misteriosa, vinda de trás dela – eu planejava ir atrás de você, mas pelo jeito você veio me poupar do esforço.

Nathale virou abruptamente, empunhando a espada com as duas mãos. O ferimento já parara de sangrar, mas ainda estava bem fresco.

E então, sombras surgiram de algum canto do lugar, e de lá surgiu a figura envolta em trevas, segurando sua grande foice. Era bem parecida com o pássaro das cobras, só que pior. Muito pior.

– Q-quem é você? – disse Nathale, falhando um pouco na voz

– Há há há, humana tola – a figura, uma garota, começou a avançar em direção á Nathale, as sombras ao seu redor eram tão densas que era impossível de ver seu rosto – não lhe interessa muito quem sou eu, já que você será somente um pequeno lanche para mim – e avançou

A garota era rápida, quase pegou Nathale de primeira, mas ela foi quase igualmente rápida, usando alguma habilidade com a espada e abrindo um talho no lábio superior da garota.

– Maldita... – disse a garota, enfurecida – eu iria matá-la de uma forma rápida, mas ao que parece você quer o contrário...

As sombras deslizaram em direção á Nathale e prenderam-na no lugar, como uma camisa de força. Agora a garota quase deslizava em sua direção, com foice em mãos e um sorriso maligno.

Quando chegou bem perto, Nathale pode observar seus olhos tomados por um roxo e escarlate, totalmente influência das sombras. As presas na garota se alongaram, e ela aproximou a boca para onde estava o talho no pescoço.

– Há há, nada como sangue fresco... – disse ela, se aproximando cada vez mais – mande lembranças á Katlyn por mim...

Um som de grito pode ser ouvido de várias partes da floresta, e em algum canto delas estava eu. No mesmo instante, retomei meus sentidos, sentindo que algo tinha dado totalmente errado.

– Nathale... – e por fim, corri em direção aos gritos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como sempre, quero reviews hein? u_u
To de olho -n



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Caminhando nas Sombras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.