Sorrisos de Guache escrita por IsaS


Capítulo 10
CAPÍTULO 9º




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/93164/chapter/10

CAPÍTULO 9º

 

         Tudo girava, e eu já estava começando a ficar enjoada, muito enjoada. Mas o beijo de Edward calou todos os meus anseios, todas as minhas dúvidas, todas as minhas dores, e por um momento, revivi o torpor.

         Edward já havia me visto em muitos momentos diferentes. Já havia me visto brava, já me oferecera o ombro quando chorava, já me acalmara no mar de dor em que sempre me encontrava... tudo isso em três meses, que foram  curtos, mas ao mesmo tempo longos; simples, mas ao mesmo tempo importante; estranho, mas ao mesmo tempo compreensível. E eu não estava entendendo mais nada, e a bebida piorava tudo. Enquanto ele explorava meus lábios e minha língua, eu me sentia bem, mas ao mesmo tempo, uma traíra. Eu era casada, droga! Viúva, mas ainda casada.

 

– Edward... – tentei murmurar em seus lábios e o vi arrumando-se em sua postura cavalheiresca.

 

– Eu sei, eu sei. – suspirou. – Me desculpe.

 

         Balancei a cabeça de um lado para o outro, tentando acordar, enquanto o jazz ainda soava pelo imenso salão. Edward tocou minhas mãos nas suas e continuamos a dança, como se nada tivesse acontecido. Encostei minha cabeça em seu ombro, e senti seu rosto em meus cabelos.

         No fim das contas, as coisas eram muito confusas, muito estranhas, muito... tudo, pensei. A maior parte da minha vida eu havia passado à mercê de uma depressão que eu ao menos entendia. E eu não sentia essa dor agonizante me atacar quando estava com Edward. Ele era o melhor amigo que eu poderia ter, irmão da melhor amiga que eu tenho. E vindo de uma família que mais vive comigo do que minha própria. Mas a idéia de beijá-lo não havia passado por minha cabeça. E se tivesse passado, eu havia feito questão de apagá-la, esconde-la, trucidá-la. Acabamos no bar mais uma vez.

 

– Alguém tem de ficar sóbrio. – disse bebendo seu terceiro drinque. O meu já devia estar na casa das dezenas, mas em que dezena era... ah! Isso era outra conversa.

 

– Claro. – dei de ombros, abusando da ironia. – Acho que estou ficando com sono. Você bem que poderia usar uma de suas mágicas para nos tele-transportar para casa.

 

         Fiz uma careta, enquanto ele pagava a conta sorrindo. Pegar ônibus era algo bem legal, mas do jeito em que eu estava, seria um pagamento de promessa. Edward passou o braço pelos meus ombros como de costume, e logo, estávamos abrindo a porta de meu apartamento. Entrei no cômodo da minha vida e tirei os saltos aos chutes, esperando ouvir Branca latir e me saudar com festa, mas ela estava com Alice. Algo me dizia que eu estava perdendo minha cachorra. Suspirei.

 

– Preciso de um banho quente, de uma cama quente, de um café quente, tipo, queimando! – eu falava coisas sem sentido, falando sozinha, comigo mesmo. Sim, sou doente. Caminhei em direção ao banheiro, tirando a roupa pelo caminho, tranquei a porta e enfiei-me dentro do chuveiro. A essas alturas, Edward já estava pegando um táxi, indo para casa e se arrependendo do beijo que havia me dado. É claro que isso seria bom, não estava me lamentando.

         Foi um processo doloroso, longo, e nada relaxante. Eu ainda sentia o

beijo dele em meus lábios, e ainda senti seus dedos frios em minha nuca, puxando-me para ele, mais e mais. E o pior de tudo... eu havia cedido. Admitia que era uma viúva, que estava tentando viver e tudo mais, mas... ter outra pessoa não fazia parte de meu repertório. Só de pensar em me jogar a uma aventura dessas, sentia os pelos dos meus braços se eriçarem, e o medo misturado à dor tomarem meu peito.

         Tinha de colocar minha cabeça no lugar. Minha primeira conclusão fora que, eu havia beijado Edward. Isso era fato! Dã, idiota! Mas, a verdadeira conclusão era que eu ficaria longe da margem que separava nossa amizade de qualquer tipo de relacionamento mais sério, e ficaria apenas do lado ‘amigo de ser’ da coisa. Outra iniciativa que eu adotaria seria a rotina de minha fidelidade em relação a Jacob. Ele era o único, isso que importava.

         Saí do banheiro, vestida com uma camisa de que havia sido de meu marido. Ela tinha mangas compridas demais para mim, parecia um vestido, era de um azul brega, mas ainda sim, fazia com que meus pensamentos estivessem nele, e apenas em Jacob. Rumei para cozinha e fiz um chá.

 

– E o café? – cuspi o chá de pêssego e cassis num jato, que não me atingiu, nem a Edward, graças a Deus.

 

– Merda, Edward! – berrei e senti um pequeno incômodo vindo do andar de baixo.

 

– Deve ser seu vizinho batendo com o cabo da vassoura. – deu de ombros.

 

– Deve ser. – concordei, ainda brava. – O que faz aqui?

 

– Ora, não posso mais? – perguntou sorrindo, mas pude ver a preocupação brotar em seus olhos, e não deixei de ficar satisfeita com sua vontade de ficar. Mas essa satisfação ia contra tudo pelo qual havia dedicado meus pensamento no banho.

 

– Não. – disse fingida. Peguei seu maço de cigarros na mesinha da TV e sentei-me no tapete de pele sintética importada de urso, traguei e lhe ofereci o cigarro.

 

– Vou tomar um banho. – anunciou, soltando a fumaça pela boca. Quando finalmente ouvi a porta do banheiro se fechar, encostei minha coluna rígida no tapete com o cigarro na boca, e o apertei entre os lábios, para não gritar. A vida é muito injusta, viu! A porra da vida é muito injusta! Enquanto eu estava no banheiro, tentando arranjar alguma forma para não me comprometer mais ainda, Edward estava por aqui, simplesmente esperando para tomar seu banho.

Apertei os olhos e soltei a fumaça pelo nariz, assim como a respiração que estava prendendo.

 

– Bella? – virei o rosto, e entre o pequeno sofá e a televisão, Edward estava parado, só de toalha. Suspirei, filho da puta.

 

– Que é? – perguntei de má vontade, ainda com o cigarro no canto da boca.

 

– Preciso de uma roupa, não acha?! – foi minha vez em dar de ombros. Eu realmente me importava de tê-lo só de toalha andando pela casa, mas queria que ele achasse que eu não me importava. O que era mentira, porque eu me importava. Mas, enfim. Levantei-me do tapete e ele me seguiu até o closet.

 

– Vê se serve. – joguei uma calça de moletom e um camiseta para ele. Virei-me para Edward e observei sua expressão rígida. Voltei meu olhar para onde estava incrustado o seu, e fitei o porta retrato antigo, no dia de meu casamento. Eu e Jacob, felizes e sorrindo. Mais ao lado, todas as roupas que Jacob havia deixado ainda estavam arrumadas, em escala de cor, corte e estilo.

 

– Você ainda tem tudo dele, não é? – vi seus olhos verdes tristes, mas ao mesmo tempo compreensivos, e não soube responder. Rumei para a sala, evitando olhar as duas portas trancadas que seguiam no corredor.

 

– É ele que ainda tem tudo de mim. – sussurrei baixo, só para que eu ouvisse o que eu queria acreditar ser o certo. Mas aquela afirmação parecia ser tão vazia que me soava mentira, e eu não sabia o porquê.

 

         Liguei o rádio e deitei-me no confortável tapete, exatamente onde estava. Relaxei, deixando U2 entrar em meus ouvidos, ser processado pelo meu sistema, ser digerido pela minha mente, enquanto eu cantava: “But I still haven’t found what I’m looking for”. É, eu realmente não havia encontrado o que eu estava procurando. Senti uma presença ao meu lado.

 

– Pode me passar o cigarro, por favor? – pediu-me. Sem abrir os olhos, tateei o chão ao meu lado, e lhe entreguei a caixa. – Obrigado.

 

         Acenei, não estava preparada para abrir os olhos e o ver. A sensação de lembrar-me de Jacob era tão boa que eu não queria perder. Mas a questão era que eu precisava me concentrar demais para reconhecer seu rosto, seus cabelos lisos e escuros, sua pele morena. Mas ainda sentia que ele estava guardado em mim. Tinha certeza que já estava chegando o dia do meu aniversário de casamento, e aquilo me machucava demais, mas não como me machucou no ultimo ano. Eu via Jacob se afastando de minha memória sã, sentia que cada vez mais eu estava indiferente à sua falta, mas não esquecida, ou desprovida totalmente de saudades. Tudo o que passamos juntos haviam sido bons momentos, e eu ainda o amava por isso, mas não era a mesma coisa, e quis saber o porquê. Abri os olhos.

 

– Você está bem? – perguntou Edward. Aquela voz, aquele sotaque deliciosamente americano, aquele cheiro que emanava dele era tão único que me inebriava. Coloquei o cigarro na boca e levantei minha coluna, ficando sentada. Senti seus dedos em minhas costas e percebi que nada mais importava. Eu ama Jacob, e ele teria de me perdoar, assim como Deus, pelos

meus pecados. Eu pediria perdão de joelhos se fosse preciso, mas eu estava viva, e isso bastava para tirar-me um pouco daquela caverna escura de sofrimento e solidão. – Bella?

 

         Observei-o deitado ao meu lado no tapete. Um de seus braços estavam atrás da cabeça, enquanto seus olhos estavam fechados, ainda com uma das mãos nas minhas costas. Parecia tão relaxado, tão aliviado, e tão lindo. Minha mente paralisou-se com o efeito de seu perfume que exalava em ondas daquele homem. Fechei os olhos e soltei a fumaça do cigarro pelo nariz, dando a ultima tragada.

 

– Bella? – vi seu cenho franzir, mas ele não saiu da posição em que se encontrava. Apaguei o cigarro no piso de madeira, e sem pensar, sentei-me em cima de Edward. Vi-o abrir os olhos e me olhar chocado, com sua respiração lenta e funda. Enquanto eu tentava gritar para minha mente: ‘VADIA! ACORDA MULHER! SAI DE CIMA DO COITADO! E JACOB, HEIN?! E Jacob...!’, vi a expressão de Edward mudar, para um sorriso singelo, mais ainda sim convidativo. A voz que me atordoava sumiu e aproximei meu rosto de Edward enquanto soltava o resto a fumaça do cigarro.

         Fitei seus lábios entreabertos e tentadores, aspirando aos últimos vestígios de fumaça que saiam de minha boca, e fiquei ali, simplesmente o fitando, querendo que ele fosse meu. Fechei os olhos, dei a investida, e toquei seus lábios com os meus. Beijei seu maxilar, beijei seu pescoço, beijei todo seu rosto. Senti suas mãos envolvendo minha cintura, enquanto eu puxava seus cabelos da nuca, trazendo-o mais perto de mim, enquanto seu cheiro entrava pelas minhas narinas e faziam a viagem pelo meu pulmão, e de algum modo, aquilo me era irresistível.

         Seus lábios eram doces, gelados, com gosto de chiclete de menta, tabaco e conhaque. Tão sedutor que podia me ver derretendo quando ele me beijava. Suas mãos viajavam por minhas costas e pensei que aquele seria o primeiro passo de muitos. Tirei sua blusa, passando a mão por todo seu peitoral definido, pálido e cheiroso. Percebi que em todos os lugares que sua pele tocava a minha ficavam extremamente quentes, pedindo mais. E quando eu achava que nunca mais estaria completa nesse mundo, Edward me completou naquela noite, como duas peças que se encaixavam, como dois condenados ao prazer. Mas no fundo eu sabia que aquela definição de ‘completa’ não a que eu estava procurando. Eu ainda estava oca, e aos poucos, sendo cheia de paz mais uma vez.

 



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Volteeeei! Para quem não viu: postei Evidence Of The Crime, tá lá, hein! E, bom, espero que estejam gostando, e... que eu tenha mais reviews, né?! *o*
Até maaaais. ♥