O Hueco Mundo escrita por AldoFernando


Capítulo 2
Nihilo




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ijijij

 

Pediram-me para escrever sobre Ulquiorra.

Eu não vou conseguir...

Pois pediram-me para escrever sobre Ulquiorra.

Pois pediram-me para escrever sobre o nada.

(Silêncio...)

(A caneta volta a deslizar pela imensidão branca do papel.)

Pediram-me para escrever sobre o Ulquiorra, mas não posso.

Quem escreve precisa sentir. Precisa tirar de cada cor, cada som, cada gesto um significado. Mas o niilismo não conhece significado. Não conhece as entrelinhas. Não projeta nada além do que lhe é mostrado, e não pede nada além daquilo que lhe é prometido. Diante disso, apenas posso perguntar...

Você, que sobrevoa os campos das paixões com um desprendimento desumano. Você que nega a própria negação de que algo poder ser negado. Por que é que seu coração é como o tronco de árvore que cai no meio da floresta, sem ninguém pra ver? Por que seus olhos não exprimem nada além de... nada? Por que em face do perigo, por que é que prestes a ter sua vida apagada do universo pelas mãos do demônio de cabelos alaranjados, você apenas diz: “Faça, Ichigo”?

 

Então sua vida não terá significado? Então sua existência é como mais uma jogada de dados - mas deus não joga dados, porém deus não existe e nada tem a ver com isto - Ulquiorra?

Pois assim como um sino que não bate, assim como as frias badaladas do relógio de pêndulo que marca a chegada da meia noite, assim como o tronco que cai, e assim como a flor que murcha e morre, você desistiu de seu coração.

Mas será fácil deixar de sentir? O que é mais difícil, Ulquiorra? Por que a esperança morreu em você, que apenas finge que chora embora o choro denote a esperança que acabou? E algum momento você teve esperança?

Em si?

Nos outros?

No futuro...?

Perguntas jogadas no abismo. O eco das palavras me é negado. E no abismo salto, sentindo meu corpo despencar no vazio.

“O morcego abre suas enormes asas. Elas tapam a visão da luz. Ele voa, observando a imensidão branca iluminada pela lua. A lua eterna. A noite eterna. Dizem que não importa o quanto escura for a madrugada, o sol sempre vai nascer de novo.
Mas e se o sol não nascer?

Para o morcego não há sentido, não há princípios, não há verdade. Um som é apenas um som, o coração é apenas um músculo que trabalha, um olhar é apenas um movimento das pupilas. Uma expressão facial é apenas um reajuntamento dos músculos da face. E todo ser, por mais belo que seja, no final é apenas mais um conjunto de vísceras, sangue e carne, e que pode se tornar a mais horrenda das visões se visto por dentro. Pois não existe amor, paixão, altruísmo. Não existe nada.

Sua reiatsu é a chuva negra que suprime a crença. Seu poder leva os homens ao desespero. E sua forma de adjucha subjuga a dor.

A dor de não sentir.

 

Verde e preto se fundem numa só criatura. Um rabo em forma de chicote espanca os que acreditam poder vencê-lo. Seus olhos negros miram o inimigo, e suas mãos encravam-se no peito do oponente mostrando-o que não há nada de especial no que ele chama de coração. Embaixo deles, duas manchas negras como lágrimas derramam-se até o seu pescoço.

Mas não se chora por algo em que não se acredita.

O oponente não acompanha sua velocidade. Não o vê chegar. Num ínfimo instante tudo pode estar perdido. Mas ele não está preso às crenças que atrasam os homens, e por isso não pode ser ultrapassado. A lança do relâmpago assoma, poderosa e titânica, para eliminar a oposição. O cero escuro é a própria negação do sentido da batalha.

Pois você vai morrer sem ver mais nada. E morrendo não vai perder muita coisa...

Ele libera sua reiatsu, que de tão densa confunde. E de tão poderosa amendronta, pois ele é a criatura alada que caça os homens em noites sem luar. E a moça de branco chora. E para enfrentar um demônio, apenas outro.

A vitória do morcego negro, antes certa, desvanece. Agora ele enfrenta um semelhante. Um oponente que não mais está preso às leis dos que sofrem de humanidade. Pois esta desapareceu. Um oponente que não acredita, e que apenas se move por puro instinto. E aqui não há mais sentido em nada. Tudo que acontecer, simplesmente vai acontecer.

A noite chegou para Ulquiorra Cifer, que em face de sua derrota por alguém semelhante, só agora entende a dor dos que sentem. E passa a sentir a dor de não sentir nada.

Ele que não crê, que não ama, que não vê significado, encontra uma encruzilhada. Á beira do fim de sua existência ele passa a entender. Suas asas viram pó, e o morcego negro tem sua epifania. Compreende a revelação que se descortina ante seus olhos até então indiferentes à vida.

 

Suas asas começam a virar pó. Ele vai parar de existir, de respirar, de falar. A moça de branco mira o morcego-homem com um olhar aflito. O morcego por sua vez a observa, e entre os dois se estabelece uma ponte mental.

“Agora que finalmente eu estava começando a ficar interessado em vocês.”

Ele estende a mão, e mesmo com a distância entre os dois suas consciências se tocam.

“Está com medo de mim, mulher?”

“Não.”

“Entendo”

Naquele momento ele passa a entender, e a acreditar. E finalmente percebeu a verdade por trás da metáfora da vida. Sua mão se retrai com a descoberta, e quando a mulher estende a própria mão, não há mais o que se fazer...

Sua fria existência termina com uma pergunta, para a qual ele já sabia a resposta.

“Então o que está na palma desta mão...

“... é um coração?”

 

uhuhuhu

FIM


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