Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 72
Capítulo 72. Alento


Notas iniciais do capítulo

Faz tempo, não faz? Alguém ainda por aqui?

Esse capítulo já está há meses nas minhas mãos. O suficiente para eu ser uma pessoa diferente de quem o escreveu. Mas no final, acho que isso aconteceu com todos os capítulos dessa história. Eu sou uma pessoa diferente que quem começou a escrever, e acho que vcs também não são mais os mesmos que quando começaram a ler. Mas para aqueles que estão nessa já há algum tempo, confesso que eu também quero saber como essa história termina. Torçam por mim, porque eu vou precisar de tudo o que eu tenho para termina-la. Saibam que eu quero, muito mesmo.

Música do capítulo é "Some Unholy War", de Amy Winehouse. Boa leitura.



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If my man was fighting

Some unholy war

I would be behind him

Straight shook up beside him

With strength he didn't know

It's you I'm fighting for

He can't lose with me in tow

I refuse to let him go

At his side and drunk on pride

We wait for the blow

 

 

— Faz tempo que não te vejo aqui fora.

Vlad, escrevendo em um diário de capa de couro, sentado num banco em um dos jardins da mansão, virou a cabeça apenas o suficiente para ver sua esposa se aproximando. Cego, por alguns instantes, pela luz refletida pelos cabelos platinados dela, perguntou-se quando foi que eles cresceram tanto, a ponto de passar da linha da cintura.

— E quanto tempo faz desde a última vez que veio aqui fora? – Vlad retrucou, mas estava sorrindo.

— Touché.

Ao chegar perto do banco, Integra sentou-se ao lado de seu marido e pousou uma mão desnuda sobre as dele. Apenas anos de convivência permitiram que Integra refreasse o impulso de se afastar.

— Suas mãos estão geladas. – Ela murmurou.

— Eu vim até aqui porque estava com frio. – Ele respondeu.

— Eu posso ligar para Mihaella...

Vlad fez um suave não com a cabeça. Nos últimos anos, muitas peças sobre a existência de Vlad se encaixaram, mesmo com algumas dúvidas permanecendo sem respostas. Exatamente qual a natureza de Schrödinger, por exemplo, era um segredo levado com o doutor para o túmulo. Mas outros segredos do sangue de Vlad foram aos poucos decifrados. O primeiro deles foi como trazer de volta ao mundo dos vivos o corpo de um vampiro. O seguinte foi como calor humano e bons sentimentos em geral alimentavam o corpo de Vlad tanto como pão ou sono. Outro detalhe um tanto quanto inesperado foi descobrir que apenas Mihaella era portadora da energia, da vida, na quantidade necessária para algum efeito duradouro. O mais perturbador, no entanto, é que com o passar do tempo Vlad estava se exaurindo cada vez mais rápido.

— Ela e Merian estão em algum lugar da Espanha agora. – Vlad respondeu.

— Quando elas voltam?

— No final da semana, eu acho. Eu falei com a Merian mais cedo hoje. Ela está ansiosa para voltar ao estágio na Hellsing.

— Ela disse isso?

— Na verdade ela quer saber quando ela vai ter um porte de armas. Eu disse que só quando ela fizesse dezoito anos e SE os pais dela concordarem .

— Humph. Peguei meu primeiro porte aos quatorze. – Integra murmurou.

Vlad olhou para sua esposa de lado. Integra claramente entendeu o olhar como “você não é exemplo de nada”.

— Eu peguei o meu aos vinte e cinco, seiscentos anos depois que matei pela primeira vez. Acho que vamos acabar concluindo que um porte não quer dizer muita coisa.

—  Aos treze eu já tinha sob o meu comando a arma mais destrutiva já vista pela humanidade. Nunca me pediram um porte para isso.

Vlad olhou para cima, silenciosamente se perguntando como havia se metido naquela conversa.

— Então por que a regra dos dezoito anos?- Integra perguntou.

— Não quero me indispor com o Andrew. Ele já está preocupado o suficiente com o estágio na Hellsing.

— Se ele soubesse que tipo de organização a Hellsing era vinte e cinco anos atrás... – Integra começou a comentar, mas se interrompeu ao se lembrar da guerra em que nasceu e cresceu e que agora existia apenas nos pesadelos daqueles com imaginação o suficiente.

Vlad olhou para a expressão de Integra e por alguns instantes sentiu o que ela estava sentindo: o pesar de saber que não havia mais porque lutar.

— Nós vencemos Integra. Isso é uma coisa boa.

Integra fez um “tsc” e deu de ombros. Nos últimos vinte anos ela já tinha cansado de ficar emburrada porque Vlad apareceu do nada, derramou algumas gotas do próprio sangue por ai e acabou com a guerra que a família de Integra lutou por séculos. Estraga prazeres.

— Na idade da Merion eu já estava comandando a organização. – Integra murmurou.

— Na idade da Merion eu já estava marchando com os exércitos. Você não tem ideia de como eu fico feliz ao me lembrar de que ela jamais vai precisar fazer isso.

— Eu sinto a mesma coisa Vlad. – Integra respondeu, usando toda a sua paciência para não dar uma cotovelada em seu marido. – O que você está fazendo?

— Reescrevendo meus diários.

— Aqui fora?

— Saudades do sol.

— Você está com frio? Ficar sob o sol ainda ajuda?

— Menos a cada dia.

— Quando foi a última vez que você fez uma avaliação?

Vlad pensou por alguns instantes.

— Semana passada. Tenho outra na sexta que vem. Talvez fosse o caso de você vir comigo.

Integra apertou um pouco a mão sobre a de Vlad. Ficaram cerca de cinco minutos sob o sol, sentados no banco no jardim, quando Integra se virou para comentar que fazia tempo que ela não ia até o haras, quando percebeu que Vlad estava de olhos fechados ao seu lado, com a cabeça baixa. Praticamente dormindo sentado.

— Vlad.

— Hum?

— Vamos entrar.

Sonolento como estava, Vlad só percebeu que estava se deixando conduzir quando se viu em frente a cama que dividia com Integra. Ele estava se virando para perguntar exatamente o que eles estavam fazendo ali quando foi interrompido pelos dedos de sua esposa desabotoando sua camisa.

— Integra?

—Vlad?

Integra ergueu o olho, fitou seu marido por alguns segundos, tomou de suas mãos a bengala e usou o objeto para apontar para a cama. Vlad, sentindo-se subitamente desarmado em comparação a ela, achou melhor obedecer. Chegou a abrir a boca para perguntar o que estava acontecendo, mas engoliu em seco quando percebeu que agora Integra estava despindo... Bom, a ela mesma.

— Depois de vinte anos de casados, Milady, confesso que não esperava que esse momento fosse acontecer à luz do dia. – Ele murmurou, após alguns instantes de silencio, quando Integra se aproximou da cama.

— Seja um cavalheiro e saia do caminho, Milord.

Vlad apoiou-se nas próprias mãos e moveu o corpo mais para o meio do colchão. Integra sentou-se por entre as pernas dele, inclinou-se para frente e puxou um cobertor que havia sido esquecido aos pés da cama. Ela então abriu o cobertor sobre as próprias pernas e então se recostou sobre o peito de Vlad, que aproveitou a oportunidade para abraçá-la.

— Pela primeira vez em vinte anos, você quer que eu vá com você ao médico? – Ela perguntou, pousando o braço sobre o dele.

— Eu te quero ao meu lado o tempo todo, mesmo durante a humilhação de ser cobaia da minha equipe médica.

— Você nunca me disse exatamente o que está acontecendo com você...

— Integra...

— Mas eu deduzi algumas coisas ao longo do caminho. E acho que sei o que esperar dos resultados dos seus exames. Acho que você também sabe, ou não teria me convidado para ir.

— Todas as vidas sobre a Terra tem o mesmo fim, Integra.

— A sua vida deveria ser diferente. A sua sempre foi diferente.

Integra fechou os olhos e se permitiu sentir o calor de seus corpos preso pelo cobertor. Ela se lembrou da dor de perder seu pai, se ver sozinha no mundo, para então encontrar o vampiro. E então perder o vampiro, estar novamente só para então se deparar com o homem que viria a ser seu cônjuge, que trazia o mesmo rosto de seu companheiro anterior, mas uma personalidade completamente diferente. E quando ela perdesse Vlad? Qual eco do passado viria para consolá-la?

— E eu estou feliz por ter sido. Estou feliz por ter recebido uma segunda chance, Integra. Não sou tão ambicioso ao ponto de desejar uma terceira. – Vlad murmurou.

Tudo o que Integra queria, naquele momento, era poder dizer o mesmo. Afinal, sozinhos eles lutaram em guerras que trouxeram pequenas vitórias e muita dor. Juntos, destruíram não seus inimigos, mas a ideia deles.

— Você sabe que eu vou lutar ao sei lado, certo?

Vlad sorriu. Depositou um beijo sobre os cabelos de Integra e murmurou:

— Dessa vez não há batalhas ao final da cruzada, Milady.

Integra ficou em silêncio, ouvindo a respiração de seu acompanhante se acalmar até entrar num ritmo que ela reconheceu como o de Vlad dormindo. Ela pousou a cabeça sobre o peito dele, ouvindo as batidas de seu coração. Aliviada ao perceber que sua pele não estava mais tão gelada, permitiu-se relaxar naquele abraço, contente em deixar que Vlad descansasse por algumas poucas horas. Depois, quando ele acordasse, ela lhe diria que sim, aquela era uma guerra. Que ela lutaria ao seu lado até o fim. “Veja Vlad, a batalha contra o frio nós já vencemos.” Ela pensou. Quando uma pequena voz no fundo de sua alma suspirou “por ora” ela prontamente a ignorou.

— Por que Vlad? Por que você não quer mais lutar?

Vlad não ouviu a pergunta. Ou ouviu em seus sonhos, porque soltou um pequeno sorriso ainda dormindo. O ecoar das batidas de seu coração, no entanto, não trouxeram resposta nenhuma para Integra.

 

 

Put he in writing

But who you're writing for

Just us on kitchen floor

Justice done

Reciting my stomach standing still

Like you're reading my will

He still stands in spite of what his scars say

And I'll battle till this bitter finale

Just me, my dignity and this guitar case

Yes, yes my man is fighting some unholy war

And I will stand beside you

But who you're dying for?

B - I would have died too

I'd liked to

If my man was fighting

Some unholy war

If my man was fighting


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