Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 59
Capítulo 59. Culpa


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo : "É tarde" do Skank.

Em nota a parte, quero salientar que não tenho nada contra os franceses.

São quase duas da manhã, escrevi este capítulo em uma tacada só. Eu sei que não tem nada a ver com isso, mas ele foi muito desgastante pra mim, então vou corrigí-lo depois, com o tempo. Minha beta sumiu... Alguém tem visto a Carol_XP por ai?



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Se você olhar um pouco ao seu redor
Vai poder notar que a noite já caiu
Se você voltar pra casa e não achar ninguém
Vai notar que na cidade falta alguém

Se você ligar o rádio
Todas as canções irão dizer: Goodbye, so long, my love

Se você ligar o rádio
Todas elas juntas vão dizer: é tarde

Quando Integra chegou ao haras, seu primeiro pensamento foi em como encontraria Vlad naquele lugar enorme. Será que alguém o conhecia? Quando explicou na portaria o que veio fazer ali, acabou descobrindo que não apenas todos conheciam Vlad e sabiam onde ele estava, como que ele era o dono do lugar.

Integra suspirou, ao mesmo tempo feliz em ver que Vlad havia construído algo seu e triste porque Vlad agora tinha algo que nada tinha a ver com ela. Mas isso não era verdade, Vlad já tinha muitas coisas que nada tinham a ver com ela. Há dois meses nada em sua vida tinha a ver com Integra. Tinha sua casa, seus amigos, sua nova namorada... E Integra? Tudo na vida de Integra nada tinha a ver com Vlad. Nada tinha a ver com ninguém. Sua casa era só sua. Seu trabalho era só seu.

Encontrar Vlad foi mais fácil do que ela imaginava. Aparentemente todos sabiam exatamente em qual banco o conde estava sentado. O pensamento de que ele já devia estar lá há algum tempo não cruzou os pensamentos atribulados da Hellsing.

– Vlad. - Integra murmurou, esperando que o rapaz olhasse para ela.

Vlad respirou fundo, olhou um pouco mais para os cavalos correndo a sua frente e finalmente olhou para Integra.

– Sir Hellsing. Sente-se por favor.

Integra pensou em corrigir o conde. Condessa era seu título. Milady foi como ele sempre a chamou. Mas ouvir seu título inglês e seu sobrenome de batismo da boca dele lhe causou um sentimento de perda tão grande que ela simplesmente se sentou ao lado dele no banco de madeira.

E apenas silêncio permeou os minutos seguintes, com Vlad e Integra olhando os cavalos a correrem pela pista, os cavaleiros mal registrando em suas mentes. E Integra não olhou para Vlad, mas se permitiu respirar mais profundamente, buscando no ar o cheiro de Vlad. O rapaz cheirava a roupa limpa e a grama. Tão diferente das outras pessoas no haras, que emanavam o odor característico de suor e cavalos.

Vlad não devia ter se envolvido com os animais naquele dia. E Vlad amava os animais. Integra não aguentou e acabou perguntando:

– Algum deles é seu?

Vlad fez um sim com a cabeça. Levantou o olhar, encontrando Noir sendo puxado de um estábulo para outro.

– O Akhal preto.

Integra procurou com os olhos algum cavalo preto, sabendo que não reconheceria o animal por raça. Mas aquele cavalo em específico, desproporcional, fino, comprido e ao mesmo tempo imenso e musculoso, rebelde, vistoso... Integra se lembrava dele. Foi o cavalo de Vlad montou...

– Qual o nome dele? - Integra perguntou, meio sem saber como perguntar o que realmente queria saber.

– Noir.

– Por que deu um nome francês para seu cavalo?

– A Rainha o batizou. Disse que era teimoso e fedia.

Integra riu. Vlad apenas ficou olhando para ela, perguntando-se o que diabos os ingleses tinham contra os franceses.

Mais alguns minutos de silêncio, quando Vlad finalmente tomou coragem para perguntar o que queria:

– Pediu para falar comigo. O que deseja?

Integra tinha o discurso preparado. Ia falar das tropas. Pedir para que Vlad treinasse suas tropas, nada mais. Não ia mencionar o coronel, não ia perguntar de Mihaella. Ia manter o encontro profissional, fazer uma proposta simples. Abriu a boca para falar de sua proposta, mas o que saiu foi:

– Naquela noite, com o coronel Baron... Eu hesitei. Eu sei que iniciei o ato, mas quando a realidade de consumá-lo se fez presente eu hesitei. Parece que é um costume meu.

Integra virou os olhos quando Vlad levantou a cabeça para olhá-la. Integra, orgulhosa e altiva, se esforçou para encará-lo com seu olho muito azul. E foi quando se permitiu olhar para ele.

Vlad estava mais pálido que o normal, mas também parecia maior. A fragilidade de seu corpo parecia ter se dissipado, os ossos em seu rosto menos proeminentes. Não estava mais tão magro. O olhar, apesar de confuso e claramente ferido, tinha mais peso, mais brilho. Sem falar do cabelo. Tão mais curto, tão curtos quanto ela já viu em Vlad ou em Alucard. Foi quando ela percebeu que aquele homem à sua frente não lhe lembrava mais o vampiro.

Vlad virou o rosto para longe dela, para longe da pista. Pela primeira vez Integra percebeu as cicatrizes em sua cabeça, sempre escondidas pelos cabelos. E então, algo que ela sempre soube mas nunca teve coragem de aceitar se tornou claro em sua mente, oprimindo seu coração: aquele homem nada tinha a ver com Alucard. Eles podiam ter compartilhado um passado em comum, mas enquanto Alucard tinha dizimado seus demônios por aceitar sua companhia, perdido na loucura e sem vulnerabilidades, aquele homem era alguém lidando com seu passado, enfrentando seus demônios, expondo seus pontos fracos com orgulho, desafiando o mundo a insultá-lo mais uma vez. Vivendo sua vida. Uma vida onde ela não mais tinha espaço. Uma vida que não dependia dela.

– Muito bem. Está me dizendo que se não tivessem sido interrompidos talvez nunca tivesse se entregado a ele. Nada disso importa, Sir Hellsing.

– Vlad eu... Eu sinto muito.

Vlad riu. Um riso sem humor, baixo e curto. Triste, nada parecido com os de Alucard.

– Tive tempo para pensar sabe. E eu é quem preciso pedir desculpas. No final, o único que não cumpriu as promessas que fez fui eu. Eu resolvi contar ao mundo uma mentira, mas no final do dia o único que acreditou nela fui eu.

– Vlad... Eu não...

– Não. A culpa nunca foi sua. Eu fui fraco. Acreditei que poderia viver com as migalhas de sua atenção. Achei que seria capaz de apreciar sua liberdade de longe. Mas não pude. Baron foi um direito seu. Nunca me prometeu seu coração afinal. Mas...

Integra ficou em silêncio, esperando Vlad completar sua frase. De alguma forma, ouvi-lo se culpando estava tornando a conversa ainda mais difícil para ela. Porque no fundo ela sabia que fez o que fez para agredir alguém. Para sentir que tinha algum tipo de controle sobre sua vida.

– Saber que jamais me amaria porque estava apaixonada pelo vampiro era algo com o qual já havia me conformado. Quando o coronel... Quando escolheu Baron... Perceber que não me amaria não porque eu não era Alucard, mas porque eu sou quem eu sou... Ei sei que parece patético mas... O coronel veio fazer uma visita há alguns dias... Ele não falou nada de você mas...

Integra foi infantil. E em sua infantilidade acreditou que havia uma escolha a ser feita: viver um romance leve com um coronel ou estar casada com um conde. Mas agora ela via que o coronel nunca quis nada duradouro com ela. Ele não lhe fez juras de amor eterno, nada lhe prometeu. Será que para ele seria apenas uma noite? Ele até que era um cara legal mas... Era só isso. Só mais um cara legal. E Integra, no fundo, sabia disso. Sabia que aquele era só um meio de destruir tudo ao seu redor.

Vlad, em compensação, havia lhe prometido tudo. Prometido muito mais do que podia dar. E Integra foi cruel o bastante de lhe cobrar todas as promessas e obrigar o rapaz a lhe dar o que não tinha. Céus.

Foi quando percebeu que o rapaz estava olhando para ela. Seus olhos estavam tristes, mas focados. Quase preocupados ao perceber a postura que ela havia assumido.

– O que foi? – Ele perguntou.

– Tentando me acostumar com o vazio que sobra quando acaba. Quando o amor se desgasta.

– Fala de um amor que acabou, mas isso não faz sentido. Porque nunca me amou e eu jamais deixei de amá-la, por um segundo sequer. – As palavras saíram murmuradas, ditas para alguma coisa entre o chão e seus sapatos.

– Vlad...

– O que realmente quer Sir Hellsing? Se não tiver nada a dizer, por favor, vá embora.

Desta vez foi Integra quem riu.

– No mesmo minuto que afirma me amar pede para que eu vá embora. Já foi mais coerente conde.

Vlad olhou para cima, procurando alguma coisa no céu azul e sem nuvens. Depois de muitos minutos de silêncio, disse, ainda olhando para cima:

– Eu estou tentando aprender a viver sem você. Para quem sabe um dia poder tê-la de novo em minha vida. Se eu puder me alimentar de algo que não as migalhas de sua atenção, talvez, só talvez, eu possa me tornar uma boa companhia e não um peso. Mas para viver em sua companhia, eu preciso viver sem você.

Vlad finalmente olhou para ela, envergonhado de sua fraqueza, mas conformado com sua sina. Não havia mais o que perder, não havia mais motivos para não ser sincero. Não havia como se humilhar mais para Integra.

Desta vez foi a Hellsing quem desviou o olhar. Na verdade, Vlad estava ainda cumprindo a primeira promessa que vez para ela: tornar-se inteiro. Nunca ninguém fez algo tão grandioso para ela antes. E seu peito ficou apertado quando percebeu que de fato era por ela que ele estava fazendo isso e não por ele mesmo. E a culpa que ela sentiu por apreciar aquele fato não tinha limites. Ele estava se fazendo inteiro por ela, mas como resultado nunca mais precisaria dela em sua vida. O paradoxo foi grande o suficiente para calá-la por mais alguns minutos.

Vlad respirou fundo, falando mais uma vez, já começando a parecer irritado com a situação:

– O que mais você quer de mim?

Integra sabia que o certo era dizer que não queria mais nada. Não pediria nunca mais nada daquele homem. Mas sua boca lhe traiu mais uma vez e ela contou sobre suas tropas, sobre a falta de respeito de seus soldados, sobre a recusa de Baron.

Vlad ficou calado enquanto Integra lhe explicava a situação. Ele sabia que não devia dar ouvidos àquilo. Era cedo demais, demônios demais ao mesmo tempo. Ele finalmente tinha seus cavalos (bom, tecnicamente só um era seu, mas mesmo assim), alguém que se importava com ele, algo que se parecia com uma vida. Estava até pensando em voltar a estudar... Ele se meteria ao mesmo tempo com Integra e com uma guerra?

Ele sabia que devia negar. No fundo, culpa e pressão o fizeram dizer:

– Eu... Eu posso ajudar nas entrevistas. Na... Na seleção. Só por uns dias.

Integra assentiu com a cabeça, sabendo que aquilo era muito mais do que ela podia pedir dele.

Se você perdeu agora a ilusão
De que os fatos eram fios em suas mãos
Vai querer tirar do armário o velho violão
Vai notar que ainda falta uma canção

Se você ligar o rádio
Todas as canções irão dizer: Goodbye, so long, my love

Você vai deixar na lista
Das tarefas de amanhã: chorar mais tarde

E quando o sol da manhã bater na porta
E quando nada lá fora agora importa
Tudo bem, é tarde


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Notas finais do capítulo

see ya