Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 53
Capítulo 53. Cuidado.


Notas iniciais do capítulo

Led Zeppelin's Stairway To Heaven


Para Bloodstained, muito obrigada pela oitava recomendação.



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There's a lady who's sure all that glitters is gold

And she's buying the stairway to heaven

When she gets there she knows if the stores are all closed

With a word she can get what she came for


And she's buying a stairway to heaven



There's a sign on the wall, but she wants to be sure


'Cause you know sometimes words have two meanings

In a tree by the brook there's a songbird who sings

Sometimes all of our thoughts are misgiven


Oh, it makes me wonder


Oh, it makes me wonder


There's a feeling I get when I look to the west


And my spirit is crying for leaving

In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees

And the voices of those who stand looking


Oh, it makes me wonder


Oh, it makes me wonder


Antes que Integra pudesse dizer qualquer coisa, a mulher entrou no quarto, praticamente atirando-se ao chão ao lado da cama de Vlad. E fácil assim, sem cerimônias ou pensar muito, agarrou a mão de Vlad entre as suas, apenas tomando cuidado para não deslocar o IV. E como profetizou Celas, Vlad não se esquivou do toque, porque era vivo.


A Hellsing olhou para aquela situação sem entender muita coisa. A mulher... A moça que entrou no quarto - não podia ser mais velha que Integra, na verdade parecia ter a mesma idade em que a policial morreu – estava emocionada, deixando pequenas lágrimas escorrerem por seus olhos verdes, marcando sua pele esbranquiçada. Tinha longos cabelos de um castanho claro levemente avermelhado, que caiam em ondas sutis em suas costas, o corte permitindo que sua franja não destoasse do comprimento das mechas.

O casaquinho que usava por cima do vestido claro tinha se retorcido, preso em sua bolsa de alça comprida quando ela se atirou no chão, mas ela não parecia se importar com isso. Nem com o fato de estar ajoelhada usando vestido, ou com os sapatos de salto. Na verdade, a única coisa que parecia lhe importar naquele momento era a mão de Vlad por entre as suas.

Integra se levantou, aproximando-se da cama. Quem era? De onde conhecia Vlad? E por que estava tão abalada com a aparência dele?

E então Integra percebeu que a moça estava na verdade verificando com as pontas dos dedos o pulso de Vlad e que cada lágrima parecia ganhar mais peso com a respiração ofegante dele. A Hellsing se aproximou da cama, pousou sua mão enluvada sobre a mão livre de Vlad e quase que instantaneamente ela a retirou: apesar da febre, apesar das luvas, as mãos de Vlad estavam geladas, e o toque quase lhe roubou seu próprio calor.

– Quem é você? – Integra perguntou, ainda próxima da cama.

– Ella. Ella Basarab. – A moça respondeu, sem desviar os olhos do peito de Vlad, que de forma eficiente ou não, continuava a subir e a descer a cada respiração do rapaz.

Basarab. Onde Integra tinha ouvido este nome?

Alguns segundos depois, Ella percebeu o quanto estava sendo indelicada. Pousou a mão de Vlad novamente na cama, apertando-a entre a sua uma última vez, para se levantar, procurar um lenço em sua bolsa para secar os olhos e fitar Integra.

– Perdoe-me. – Ela disse. O sotaque romeno quase imperceptível, mas por trás de suas palavras como uma sombra. Integra estava acostumada com aquele sotaque em Alucard. Vlad ainda precisava polir melhor o dele. – É que já faz tantos anos e... Bom, ele está respirando!

Ella respirou fundo e se apresentou mais uma vez:

– Ella Basarab, muito prazer em conhecê-la, senhorita...

E estendeu a mão para Integra, que prontamente a ignorou:

– Condessa Dracul.

Ella recolheu a mão, parecendo um pouco sem graça, mas voltou-se para a figura na cama sem parecer se importar muito com Integra.

– Ah sim, ele se casou, não foi? Não tinha acompanhado as notícias na época do casamento. Na verdade, só percebi que se tratava de Vlad quando o vi na televisão. Refém de um terrorista. Eu tive um ataque cardíaco quando me dei conta.

Essa linguagem de hoje. Ela QUASE teve um ataque... Bom, isso era importante?

– Eu entendo que esteja emocionada, mas não pode ficar aqui. Meu marido precisa descansar e...

– Ele precisa de força. – Ela disse, sentando-se no chão. Pegou a outra mão de Vlad, a mão que Integra havia deixado após perceber o quão fria estava, e levou-a ao rosto, contra sua bochecha. – Só ele pode controlar a transação, mas ele está pedindo com tanto desespero que quase repele meu toque.

Pedindo? Força? Integra olhou para sua mão enluvada, ainda gelada do toque rápido que compartilhou com Vlad. A sensação de ter seu calor roubado não foi impressão então? E como Ella aguentava aquele toque? Aliás, quem era aquela menina? E de onde conhecia Vlad?

E antes que a Hellsing pudesse vocalizar qualquer uma destas perguntas, Ella, assim, sem mais nem menos, subiu na cama de Vlad, o corpo magro se encaixando bem no pequeno espaço que o corpo dele não conseguia ocupar. A moça passou o braço pelo pescoço e ombro do rapaz, puxando seu corpo que não mais se contorcia na cama para perto de seu próprio corpo, deitando a cabeça de Vlad em seu ombro.

– O que pensa que... Saia já daqui! – Integra estava tão irritada que a voz saiu quase sem volume. O que aquela... O que ela estava pensando?

Mas Ella, como parecia desde o momento em que pôs os pés naquele quarto, estava preocupada com Vlad. E apenas com Vlad.

– Eu sou a esposa dele, e não vou aturar... – Integra começou, mas foi interrompida.

– Você é a esposa dele hoje. Têm sido nas últimas semanas. Mas eu fui por mais de dois séculos. Nada, absolutamente nada, vai me impedir de ajudá-lo. – Disse, enquanto passava os dedos pelos cabelos bagunçados de Vlad.

E Integra ficou tão irritada que saiu do quarto. Saiu do hospital. E que os fotógrafos se danassem.

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– Então... O que está fazendo aqui? – Baron perguntou para a figura de braços e pernas cruzadas, sentada numa cadeira do outro lado de seu quarto.

– Ocupando espaço. – Celas respondeu, sem destravar sua postura.

– Certo. – Baron concordou, sem saber muito bem o que mais dizer.

Há uma hora e quarenta minutos a policial havia entrado no quarto sem bater na porta, olhado para Baron que lia o relatório abandonado de Integra com um olhar quase que assassino, encostado a cadeira o mais longe possível da cama, sentado e... Isso. Ali estava ela sentada há quase duas horas.

– Está ocupando espaço no meu quarto exatamente porque... – Ele tentou de novo.

– Porque seu quarto tem espaço demais. – Ela respondeu.

– Certo. – Ele disse mais uma vez.

Aquela situação não fazia muito sentido. Aliás, não fazia sentido nenhum. O coronel até podia entender o olhar com o qual Celas o encarou, mas o porquê dela estar ali era um completo mistério. Hora de juntar os fatos e tentar chegar a alguma conclusão, então:

1)Celas parecia gostar muito de Vlad;

2)Vlad entregou para Integra tudo o que ele podia;

3)Integra não deu valor;

4)Integra estava mais interessada nele que em Vlad;

Então:

a)A vampira o considerava como o culpado pelo sofrimento de Vlad;

b)A vampira precisava de um objeto para manifestar seu desdém pela situação e o escolheu.

O que não trouxe nenhuma conclusão além da qual ele já havia chegado sem listar os fatos. Bom, a vampira disse que ela estava ali ocupando espaço. Estaria ela intencionalmente ali para deixá-lo desconfortável? Bom, apesar de absurdo, era a única coisa que ele conseguia pensar. Mas se ela só queria agredi-lo porque ele era algum tipo de ameaça para com o conde, não fazia muito mais sentido ela estar protegendo o conde do que agredindo a ele?

A menos é claro, que o conde em questão estivesse tão melhor a ponto de ser redundante ficar por perto dele. Ah, isso sim podia ser. Ele acordou. Integra foi até lá, não foi? Talvez ele acordado quisesse resolver alguma coisa, tomar alguma providência...

– Então, como está o conde? – Ele perguntou, satisfeito em ter uma teoria para confirmar.

Celas apenas olhou para ele com uma expressão ainda mais mortal no rosto.

Aparentemente aquela não era a pergunta certa a se fazer.

– Olha. – Ele começou de novo. – Eu sinto muito pelo que está acontecendo, mas você simplesmente não pode decidir que se o casamento dos dois não está dando certo a culpa é minha e...

– Eu vou ficar aqui, exatamente aqui, porque se Sir Hellsing quiser sair do quarto de Vlad o lugar dela neste quarto vai estar ocupado. E eu sei que isso não vai impedi-la por um segundo sequer, mas ela vai ter que olhar pra mim e deixar claro que prefere ficar aqui do que lá. – A vampira respondeu, levantando o nariz.

Baron chegou a abrir a boca para responder, mas não encontrou as palavras. Até que aquilo fazia algum sentido. A não ser que...

– Acho que seu plano não deu certo. – Ele disse simplesmente, olhando pela janela.

– E por que não?

– Porque Sir Hellsing está passando por entres os repórteres como se eles fossem pinos de boliche.

Celas se aproximou da janela, vendo que de fato Integra estava passando pela multidão midiática como se fosse Moisés abrindo o Mar Vermelho. Se bem que o fato de um repórter ter se aproximado demais dela e ter terminado com um soco na cara não era nada bíblico.

O que não mudava o fato de que Vlad provavelmente estava sozinho. E agora ela não tinha mais motivos para ficar no quarto de Baron.

Levantou-se sem nada dizer, deixando um coronel que já havia desistido de se adaptar ao ridículo da situação quando a policial começou a falar.

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Ella continuou a passar os dedos por entre os cabelos de Vlad por mais alguns poucos minutos, quando percebeu seus olhos semi-abertos, febrilmente tentando focar os olhos nela. Ella sorriu, movendo a mão para trás da orelha dele.

– Descanse, meu senhor.

Vlad pareceu aceitar a ordem, pois fechou novamente os olhos, movendo ligeiramente a cabeça para mais perto dela.

–Iepuroaică... - Ele murmurou, antes de voltar para seu sono febril.

A confiança com a qual Vlad permitiu que ela continuasse com seu toque não passou despercebida pelos olhos vermelhos da policial, observando a cena da porta do quarto.

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Há muitos séculos, em uma manhã fria na Valáquia, houve um acontecimento de curta duração que interferiria na vida dos dois envolvidos por muitas e muitas décadas ainda a sua frente. Apesar de um dos envolvidos não ter consciência suficiente na época para possuir alguma lembrança, ou do outro envolvido não ter consciência suficiente hoje para dizer o que houve, apesar de não existir mais nenhuma prova, mais nenhuma testemunha, o fato é que aquilo realmente aconteceu, e a prova são dois pares de olhos vermelhos que por muitos séculos assombraram a Europa, eternizados nos escritos hoje tidos como mitologia ou pura ficção.

Bom, mas o ocorrido em si foi alguns dias após o nascimento do terceiro filho de Vlad III, soberano da Valáquia. Na verdade, apesar de terceira criança, era na verdade uma filha. Até este ponto, apesar de ser um evento para muitos memorável, não era nada demais. Porque a filha de Vlad e sua rainha, Ilona, era na verdade a terceira filha de Ilona e a primeira filha de um outro qualquer, que não é relevante nesta história - ou em qualquer história já contada ou vivida, porque francamente, nem a própria Ilona se lembrava o nome do dito cujo.

Mas o fato é que havia um novo bastardo na família real, que Vlad III aceitaria de bom grado como seu se não fosse um detalhe: a menina era albina.

E Vlad III não podia se importar menos com esse fato. Não entendia nada de genética - era a idade média, quem entendia? - e não sabia porque diabos aquela menina parecia um coelho branco, com pele e cabelos tão claros e olhos vermelhos, mas sabia de uma coisa: a menina estava ali, viva e era perfeitamente humana.

Só que tinha mais coisas com as quais Vlad III tinha começado a se importar cada vez menos nos últimos anos que estavam começando a pesar. Uma delas era o fato de empalar seus inimigos, que estava lhe rendendo nomes como Tepes, empalador, filho do demônio e outros. Outra coisa que estava começando a causar certa aflição nas pessoas era o tom avermelhado que seus olhos tinham assumido. Tinha também a questão de ele não ter envelhecido um ano sequer nos últimos quinze anos. O fato de estar correndo um boato por entre a criadagem de que ele bebia sangue, totalmente justificado, é claro, também não favorecia a situação da menina.

Porque Vlad III podia ser considerado o filho do demônio o quanto quisessem, porque Vlad III bem ou mal tinha poder suficiente para contornar os rumores. Mas a mesma fama não podia recair por cima da criança. E sério... Ela tinha que nascer com olhos vermelhos?

Acontece que a criança, mesmo ironicamente não sendo filha de Vlad III, era tida para todos como se fosse, e não podia parecer filha do próprio diabo.

E foi com o propósito de matar a criança que Vlad III saiu de sua cama naquela manhã tão fria da Valáquia, apesar dos gritos histéricos de Ilona, que nada pode fazer para impedir seu marido.

E não apenas Ilona estava histérica, mas todo o palácio estava um caos. Criados escondidos em cantos, chorando, amedrontados com o rei que caminhava até o quarto de sua filha empunhando sua espada; seus bastardinhos que se agarravam à mãe, tentando não ser vítimas da ira de seu "pai", a própria Ilona que gritava e gritava e... Era muita coisa para o começo da manhã.

E então, Vlad III chegou ao quarto onde a bebê-coelho estava deitada em seu berço. Faria isso logo e depois voltaria a dormir. Ergueu a espada negra, pronto para transpassar o coração da criança, quando percebeu que esta sorria. Ela sorria para ele, tanto com sua boca sem dentes quanto com seus olhos vermelhos.

Apesar do caos, apesar da gritaria, apesar de tanto sangue e instintos assassinos ao seu redor, aquela criança sorria para Vlad III.

Há quinze anos ninguém sorria para Vlad III.

E foi assim, que em cinco minutos, o rei da Valáquia decidiu que aquela criança ia viver. Filha do diabo ou não, ele a protegeria.

E pelos anos seguintes, se alguém sequer murmurasse sobre a menina, o que se ouviria imediatamente seria "não é permitido falar de Mihaella. Que Deus tenha piedade daqueles que ousaram, pois o rei não teve".


And it's whispered that soon, if we all call the tune


Then the piper will lead us to reason

And a new day will dawn for those who stand long

And the forests will echo with laughter


If there's a bustle in your hedgerow, don't be alarmed now


It's just a spring clean for the may queen

Yes, there are two paths you can go by, but in the long run

There's still time to change the road you're on


And it makes me wonder



Your head is humming and it won't go


In case you don't know, the piper's calling you to join him

Dear lady, can you hear the wind blow

And did you know your stairway lies on the whispering wind


And as we wind on down the road


Our shadows taller than our soul, there walks a lady we all know

Who shines white light and wants to show

How everything still turns to gold and if you listen very hard


The tune will come to you at last


When all are one and one is all, yeah

To be a rock and not to roll

And she's buying a stairway to heaven





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Notas finais do capítulo

Para quem for tentar traduzir, Iepuroaică é o feminino de iepure, sim, vcs vão ter que procurar no tradutor se quiserem saber. Bem como Basarab : sim Integra tem motivos para se lembrar desse nome.

Para aqueles que não quiserem procurar, não se preocupem, as respostas virão nos próximos capítulos.



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