Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 50
Capítulo 50. Desapego


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 50 gente. This the bloody 50th!!!!!!
E eu só me toquei disso agora, quando fui escrever o título. Sinto muito, de verdade. Esse era um capítulo que devia ser especial, não era? Mas não, ele acabou sendo ordinário, só um amontoado de ações que dão pistas mas deixam as explicações a cabo de qualquer um. Se eu tivesse percebido antes... Mas agora já foi.
Música de hj, "Too much love will kill you", do Queen.O que o velho conta pro Vlad é uma interpretação do Kojiki que se vcs quiserem podem conhecer mais procurando por "Osvaldo Murahara" no youtube. Leiam as notas finais. Kissus



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I'm just the pieces of the man I used to be
Too many bitter tears are raining down on me
I'm far away from home
And I've been facing this alone for much too long

Oh, I feel like no-one ever told the truth to me
About growing up and what a struggle it would be
In my tangled state of mind
I've been looking back to find where I went wrong

Too much love will kill you
If you can't make up your mind
Torn between the lover and the love you leave behind
You're headed for disaster 'cos you never read the signs
Too much love will kill you every time

I'm just the shadow of the man I used to be
And it seems like there's no way out of this for me
I used to bring you sunshine
Now all I ever do is bring you down, oooh

How would it be if you were standing in my shoes
Can't you see that it's impossible to choose
No there's no making sense of it
Every way I go I'm bound to lose, oh yeah




– Deseja alguma coisa, andarilho? – Vlad perguntou, por detrás de sua taça de vinho.

– Não sou andarilho, bem sabes que tinha uma vila. – O homem respondeu, mirando o general com seus olhos rasgados.

– Recusa-se a dizer seu nome, então andarilho será.

– Não há tanto significado num nome, quanto há naquilo por trás do que o tal nome limita. O seu nome por exemplo. Há tantos anos se esconde nas responsabilidades que ele carrega que já se esqueceu de quem é.

– Quem somos está diretamente ligado a o que fazemos andarilho, e o que eu faço é a obrigação e a honra que meu nome carrega. Seu discurso não tem significado algum.

– Quem somos está ligado à substância de que fomos feitos, e não há nada capaz de dar e moldar a vida a não ser a grande vida que flui do universo. Mas você, tão jovem, tão ingênuo e tão obcecado pelo seu próprio nome, acha que é feito de carne, osso, dinheiro e obrigações.

– Cuidado andarilho, é a minha vontade que impede que sua carne e ossos sejam destroçados. Quero ver como vai me insultar sem sua língua, ó grande vida do universo.

– Não sou eu quem lhe insulto, mas sua própria ignorância em achar que um ser tão patético é a verdadeira forma daquela que é a mais bela criação de seu tão aclamado deus. Mata e morre por Ele, mas nem ao menos O conhece!

– JÁ CHEGA! – Vlad bateu a taça com força na mesa. Como o vidro não se quebrou é uma dúvida que perpetuaria seus pensamentos por muito tempo ainda. – Fala demais para um homem morto. Mas acho que mesmo sem sua língua ainda encontraria uma forma de atormentar meus pensamentos.

– Não é meu intuito lhe atormentar. Às vezes esqueço-me de que não são todos os que desejam ouvir o que tenho a dizer.

– Se não tivesse nada a dizer, já estaria morto.

– Talvez se soubesse meu nome, já tivesse perdido o interesse em mim.

Vlad riu. Aquele homem tinha coragem. Ou estava cansado de viver. Ou só acreditava que sua vida continuaria muito além daquilo, muito além de sua morte. Era uma figura muito interessante, o andarilho.


– Não, não. É o homem quem pede a mulher em casamento, não o contrário crianças... Você não vai querer que seu primeiro filho nasça sem ossos, vai? – O andarilho contava e sorria para o casal de crianças, recriando a cena de um casamento em sua cultura.

Vlad apenas acenou com a mão, pedindo que o andarilho se aproximasse.

– Apenas crianças general. Reencenando festas costumeiras de seu povo, impedindo que sua cultura morra. Que mal há nisso?

– Na cultura deles, você diz? – Vlad perguntou, caminhando com sua pesada armadura negra fazendo leves estalos.

– Eles possuem casamentos, batizados, funerais e um único deus como você. Não vejo o problema em festejarem em outra língua.

Vlad virou os olhos em um gesto de desdém, não querendo entrar nessa discussão. Tinha coisas que ele também não entendia, também não concordava, mas o que ele podia fazer? Simplesmente desistir de lutar e deixar a guerra assolar seu povo? Jamais.

– Elas vão morrer em breve. Seria uma pena impedir-lhes de fazer o que lhes cabe fazer, brincar.

– Não decidi ainda o destino daquelas crianças.

–Bom, se não matá-las elas morrerão de fome e frio, já que a vila em si foi completamente destruída. Elas ainda não sabem disso, órfãs como são devem estar acostumadas a serem tratadas como escravos, mas não são capazes de sobreviver sozinhas, sabe disso.

– Não tenho tempo ou condições de cuidar de duas crianças pagãs.

– Nunca pedi que o fizesse senhor.

Vlad parou, olhando o andarilho que ainda sorria. Sentou-se em um tronco de árvore caído.

– O que estava ensinando para elas, sobre o filho nascer sem ossos. Mais uma de suas histórias?

O homem sorriu. Sentou-se no chão, de frente para Vlad e começou a falar:

– Uma história bastante antiga na verdade, de antes de o mundo ser mundo. Da criação dele, para ser mais exato.

– Mais uma história herege. Por que eu ainda me dou ao trabalho?

– Porque sua alma clama por respostas, respostas que estão nas palavras em que acredita, mas você não entende.

– Que resposta pode haver em um bebê sem ossos?

– Ó, simbolismo apenas, só disse aquilo para alegrar as crianças, mas se me permite.

Vlad respirou fundo, assentindo com a cabeça.

– No início, céu e terra estavam unidos, em uma bola disforme que flutuava em uma massa, como se fosse aquela papa horrorosa que serve para seus soldados.

Vlad rosnou, realmente rosnou, mas o homem continuou de qualquer forma:

– E então, o grande deus Ameno Minakanushi no okami presenteou o jovem casal Izanagi, o macho, e Izanami, a fêmea, com Amenonuhoko, a lança do céu decorada com joias, para que eles criassem seu lar. Eles foram até a ponte que liga os mundos e juntos misturaram a massa disforme e das gotas que caíram da ponta a lança nasceram ilhas. Uma vez em solo, eles circularam um grande pilar, um de cada lado, e Izanami fez um elogio a Izanagi, e assim eles se casaram. Mas eles romperam a ordem, com Izanami tomando a atitude, então seus filhos nasceram disformes e sem ossos, condenados a serem apenas ilhas perdidas no mar.

– É isso?

–Claro que não! – O homem riu-se. – Orientados pelo grande deus eles refazem a cerimônia, e dessa vez é Izanagi a elogiar Izanami. Dessa união nascem os outros deuses, da chuva, do vento, entre tantos outros.

– E dai?

– Bom, Izanami representa a fêmea, a terra, o negativo, a matéria. Izanagi é o macho, o céu, o positivo, o espírito. Esse conto quer dizer que quando a matéria se sobressai ao espírito, as coisas saem da ordem, e não funcionam! Mas quando o espírito sobrejulga e controla a matéria, quando as coisas voltam à ordem, tudo funciona! Bom, ai Izanami dá a luz ao deus do fogo e morre queimada, e vai para o mundo dos mortos, mas essa é outra história...

– Você e suas histórias... – Vlad diz, levantando-se.

–É só um jeito de propagar os ensinamentos sabe? Um dia peça-me para contar-lhe de quando a deusa Amaterasu se escondeu na caverna de pedra e tiveram que fazer uma festa para tirá-la de lá! É uma das minhas preferidas!

– Festa? Caverna? Isso é ridículo! – Vlad continuou caminhando, deixando o homem para trás.

– Mas explica meu sorriso! – o velho gritou, ainda do chão, para a figura que se confundia com as árvores.

Histórias bobas ou não, naquela noite a tropa partiu, deixou o acampamento. As crianças foram com eles.


Vlad acordou com a sensação da grama curta querendo entrar em seu nariz. Acabou adormecendo no jardim da mansão, tão perdido que estava em seus pensamentos. Já estava escurecendo e o conde percebeu que estava com dor de cabeça, apesar de ter acabado de acordar. O clima não estava mais tão quente, mas ainda havia sol o suficiente durante o dia para ferir sua pele clara. Tudo o que ele precisava.

Apoiou as mãos no chão para se levantar, apenas para perceber que não conseguia respirar. Alguns segundos de pura agonia até propriamente tossir, se acalmar e oxigênio conseguir chegar a seus pulmões, para se esquecer completamente do sonho e da dor de cabeça ao perceber alguma coisa errada no ar.

Ah, coronel Baron. Blé. Estava tão indignado com a situação toda que “Blé” foi a melhor coisa que conseguiu para resumir o que estava sentindo. Talvez estivesse passando tempo demais com a policial e seu vocabulário estivesse morrendo, mas que se dane.

“Você é um idiota mesmo, devia falar como um.”

Pelo visto seus pensamentos continuavam rebeldes. Ele já nem se importava mais, principalmente quando eles pareciam ter razão. Não que Celas fosse uma idiota. O idiota era ele. Aliás, depois disso tudo o mais digno a se fazer parecia ser se mudar da mansão Hellsing.

Porque foi idiota o suficiente pra achar que uma assinatura e uma troca de alianças significava alguma coisa. Pior ainda achar que conseguiria ser o alguém que mereceria Sir Hellsing.

“Vai manter o casamento?”

Bom, não via porque não. Os termos do acordo em si não haviam sido quebrados. Integra nunca prometeu amá-lo, nunca disse nada na verdade. Apenas disse um dia que eles se casariam então e assim a arapuca da rainha foi bem sucedida. Bom, em termos. Ah, tanto faz. Blé!

Sua cabeça doía, seu peito estava pesado e a simplicidade de seus próprios pensamentos eram algo com o qual ele não ia se preocupar agora. Porque agora ele ia arrumar uma mala, se despedir de Celas e arrumar um lugar para passar a noite.

“Bem feito. Quem mandou se apaixonar? Podia ter um teto se não fosse tão fraco.”

Ótimo, agora seus pensamentos ainda eram covardes ainda por cima.

“Covarde é você, que não aguenta mais ficar naquela casa só porque ela não te ama.”

–CHEGA! – Ele gritou para o nada.

Ele era humano. Ao contrário do que acreditou grande parte de sua vida, tinha sentimentos sim, e não sabia o que fazer com a maioria deles. Ficar perto de Integra estava aos poucos matando qualquer tipo de esperança que havia dentro dele, e se auto preservação era covardia, então ele seria covarde. Ele precisava disso agora e ele já tinha se negado o que precisava por tempo demais para continuar fazendo isso. Até porque estava MUITO claro que Integra nem precisava e nem queria que ele ficasse por perto.

Parou um pouco para olhar as janelas da mansão, percebendo as luzes apagadas nos quartos do andar de cima. Hum... Não havia ninguém na mansão? O andar de baixo também estava apagado, então os empregados... Ah sim, Celas devia estar dormindo, ele estava congelando do lado de fora e Integra, bom, ou estava com Baron ou não estava na mansão.

Pensando nisso, ele realmente estava com frio. O que deu na cabeça dele de sair mansão afora usando apenas uma camisa fina? Mas, não... Estava calor. Isso, ele não estava com frio. Estava com calor, isso explicava o suor. Explicava também a dor de cabeça.

E ele tinha que fazer as malas. Sim, e colocar roupas de frio. Estava com frio afinal.

Entrou na mansão e subiu as escadas sem se importar em acender a luz. Um olhar para a porta semi-aberta da Hellsing e resolveu que o melhor que tinha a fazer era mesmo as malas.

Mas uma vez em seu quarto, ainda com as luzes apagadas, sua cama parecendo tão convidativa... Vlad se permitiu cair deitado de bruços no colchão, como uma árvore que despenca após ser cortada. Será que tinha algum problema se ele passasse a noite ali e saísse de manhã? Não é como se Sir Hellsing fosse notar a diferença, já que estava com Baron e...

Os olhos fechados de Vlad se arregalaram com a realização. A porta de Integra estava um pouco aberta, não estava? Integra jamais deixava aquela porta aberta. Não se tivesse saído do quarto, não se estivesse sozinha no quarto e em hipótese alguma se estivesse com um homem. Bom, daquele vez ele tinha deixado a porta aberta mas... Não, isso não vinha ao caso.

Estava novamente tentando se convencer de fazer as malas quando aquele pesar do ar voltou a esmagar seu peito. Ainda tentando decidir se iria perguntar se Integra estava bem e arriscar ver o que não devia (ou queria), Vlad abriu a porta de seu quarto para mirar a outra porta semi-aberta. Para perceber que estava aberta porque a fechadura não existia mais. Bom, o rastro fino de sangue da porta até as escadas também não ajudou.

A confusão e o sono nunca deixaram os olhos de Vlad tão rápido. Tentando trazer foco a sua cabeça enevoada o conde correu para o quarto, sem se preocupar em acender a luz, praticamente se atirando à figura encolhida em um dos cantos da parede.

Integra tentava se cobrir com o que parecia ser a camisa de Baron. A primeira reação de Vlad foi ver se ela estava em choque, mas não. Sua expressão era firme, como se estivesse tentando fazer sentido da situação.

Vlad não precisou tocá-la para ver o hematoma enorme se formando em volta do olho dela. Respirou fundo uma, duas, dez vezes, quando finalmente perguntou:

– Milady, Baron fez isso com a senhorita?

Se aquele bastardo tivesse ousado tocar um único fio de cabelo dela sem o devido consentimento...

– Não. Foi você. – Ela respondeu, tirando um cigarro aceso de debaixo da camisa e levando aos lábios.

– EU? – Vlad estava incrédulo. E sua cabeça doía, e seu peito queimava, e por que estava tão quente no quarto?

Integra o olhou com o olho machucado, fazendo um leve sinal de não com a cabeça, antes de esconder o cigarro aceso por entre a camisa outra vez.

– Não, não foi você. Mão muito escura perto do quanto você é pálido, anel nobre, mas claramente roubado. Você nem anel usa. Ideia imbecil de qualquer forma. Você não tem coragem. A tatuagem me confudiu.

Vlad não sabia o que processar primeiro daquilo tudo. Chacoalhou a cabeça (péssima ideia, agora além de doer mais ele estava com ânsia de vômito) para ver se conseguia clarear os pensamentos. Decidir perguntar de novo:

– Onde está o coronel Baron.

Integra apertou as sobrancelhas para aquilo. Levou o cigarro aos lábios mais uma vez, para responder depois:

– Foi sequestrado eu acho. De dentro da mansão. Realmente precisamos rever a segurança interna.

– Sequestrado? Por que? Por quem?

– Que horas são?

– O que?

– Horas Vlad, que horas são?

– Quase 19h... O que...

– Não pediram resgate pra mim. Ele já deve estar morto. Vou tomar um banho. – A Hellsing se levantou, deixando a camisa para trás, seguindo para seu banheiro quase sem roupas. Vlad olhou para onde a Hellsing estava sentada, vendo uma pequena pilha de tocos de cigarros de cinzas. Integra devia estar fumando um cigarro atrás do outro, sabe-se desde que horas.

Vlad se dirigiu até a porta, apenas para acabar com o nariz prensado nela quando Celas entrou no quarto sem aviso, armas e canhões em suas costas.

– VLAD-SAN! Você está bem, quem...

– Você! - Vlad respondeu tentando averiguar se seu nariz estava quebrado. Não parecia, mas que toda sua mandíbula estava doendo agora isso estava.

– O que aconteceu? Quando eu acordei todos os empregados estavam amarrados aos pés da mesa! E cadê a Integra? Você está bem?

– Não sei, no banheiro e mais ou menos. – Ele respondeu, checando se algum dente tinha afrouxado.

– Bom... E agora?

Aquela pergunta trouxe foco novamente aos pensamentos de Vlad. Pois é, e agora?

Movendo um pouco a cabeça, e quase caindo para trás no processo, Vlad espiou a porta desconcertantemente aberta do banheiro para ver uma Integra com a roupa que lhe restava no corpo dentro de uma banheira transbordando, com um cigarro entre os lábios.

– Bom, você fica de olho nela. E pelo amos de Deus não deixe Sir Hellsing fazer nenhuma loucura até eu voltar.

– Certo e... Mas onde você vai Vlad-san?

Vlad até riu ao responder aquela pergunta, nem ele mesmo acreditando naquilo.

– Eu vou salvar o Baron.

.

.

.

–Para um agente da inteligência inglesa, o senhor é muito desatento. – Disse o conde, escondido por entre as sombras da cela escura.

– O que quer dizer com isso? Ó poderoso pau-mandado-da-verdadeira-manda-chuva da Hellsing? – O coronel perguntou, tentando se apoiar na parede para permanecer sentado. - Agora o meu grande herói vai começar a falar coisas sem sentido. Fantástico.

Baron olhava para seu suposto herói, algemado no chão de frente para ele. Aquela tinha sido o dia mais surreal de sua vida, sem dúvidas.

Primeiro ele tinha ganhado de presente uma Hellsing loira, exuberante e bastante confusa sem motivo aparente. E apesar do marido dela tê-lo ameaçado, ele parecia estar bem com isso. E ai esse próprio marido chega do nada e atira a esposa na parede, após dizer que trucidaria qualquer um que tocasse nela. Hipócrita, isso sim. Mas ai ele é sequestrado e percebe que a tatuagem na verdade é uma queimadura e que o conde já devia estar morto a essa altura, e Integra também. Só que ai o marido traído vêm para salvá-lo, mata quase dez homens no processo, tem um acesso de tosse e é capturado. Se isso não é o suficiente para mexer com a cabeça de qualquer um, o coronel não sabe o que é. O mais extraordinário? Ele ainda nem sabe quem o sequestrou e nem o porquê.

– Eu ainda não acredito que você veio até aqui. Sem reforços ainda por cima! – O coronel chiou.

Na verdade Vlad tinha trazido reforços, quase quinze dos soldados que ele achou que valia a pena. Aliás, Vlad tinha feito muitas coisas desde que saiu da mansão, três dias atrás, tudo a base de café.

Vlad tinha acordado meio parlamento, desrespeitado o oficial no comando do departamento de defesa inglês que não via motivos para uma ação de resgate de um de seus homens se nenhuma ameaça havia sido feita, quase ser preso, sentido pena do coitado que ousou invadir a mansão Hellsing, reunido as tropas, esfolado verbalmente metade deles por ficarem jogando cartas quando deveriam se preparar, tinha montado uma equipe tática, encontrado dois agentes dispostos a descobrir onde Baron estava usando alguma porcaria de chip que ele não entendia para que servia e não se importava, mobilizado o esquadrão anti-terrorista, armado um plano, cercado o prédio e duas horas depois tinha invadido o lugar. E estava indo tudo muito bem, na verdade, até a equipe que estava com ele cometer um erro fatal e deixar o conde por si no prédio, lutando pela própria vida já tão perto de resgatar o coronel. Foi quando tudo ficou escuro e o conde não conseguia respirar. E do chão ele sentiu uma bala perfurar sua perna esquerda e ele não conseguiu mais fazer nada, não com seu peito ardendo, os olhos aguados e a perna imóvel, e foi capturado.

Foi quando o sequestradores fizeram sua jogada. Exigiram a soltura de prisioneiros em troca da vida de um herói nacional (Baron tinha ficado razoavelmente conhecido depois da publicidade das Olimpíadas e do escândalo por causa de sua proximidade com Sir Hellsing) e de um conde estrangeiro. O fato deles terem invadido a mansão Hellsing um peso no olhar das equipes se preparando para entrar. Agora toda a Inglaterra, bom, grande parte da Europa estava prestando atenção naquela cena, calculando muito mais que a vida dos dois, mas toda a imagem de um país que não podia a) parecer fraco e b) deixar morrer sob seu solo um conde romeno. E enquanto toda a situação se desenrolava, ou se enrolava mais, do lado de fora, Vlad e Baron já estavam presos juntos há quase um dia e meio, sem água, sem comida e sem se mexerem.

Vlad há muito acostumado com a posição incômoda de seus braços tentando recuperar o fôlego o suficiente para analisar o ferimento em sua perna, que seus captores tiveram a bondade de amarrar com um pedaço de sua camisa para que ele não morresse antes de conseguirem o que queriam, e Baron dizendo para si mesmo que não se importava com o cheiro de urina que permeava a sala. Isso até ele começar a reclamar da burrice de Vlad, que não tinha nada a ver com aquilo, estava claramente despreparado para aquela situação, e que ele não ia ser responsável por ninguém e um blá blá blá que um Vlad a beira de perder a consciência já tinha parado de prestar atenção há quase uma hora.

E então as lâmpadas comeara a perder a força.

– O que vê quando olha nos olhos de Victória? – A voz grave de Vlad ecoou mais pelo espaço, mais grave que o normal, dando um timbre macabro à situação. - Os olhos de Victória, o que vê?

– Sei que ela é muito jovem para um cargo de comando. Satisfeito agora?

Vlad soltou um riso seco, sem humor. Um arrepio correu pela espinha do coronel.

– Por que alguém como Integra lideraria um exército? Por que existem tropas cujas missões são secretas até para a própria inteligência inglesa?

– O que diabos...

– Por que usam balas de prata? O que caçam?

O coronel olhava atônito para o canto sombreado da prisão, conseguindo identificar apenas alguns poucos contornos de Vlad, com apenas parte de suas pernas em uma região mais iluminada.

– Como Vlad III morreu?

– Vlad III? O que ele tem a ver com...

– Como ele morreu?

O coronel tentou buscar em suas memórias, mas história romena não era algo lá muito exigido para jovens oficiais ingleses, ainda que em cargos bastante altos.

– Vlad III foi decapitado, seu único irmão Radu soltou a guilhotina.

– Muito interessante, mas o que isso tem a ver...

– Radu morreu sete anos depois. Por um golpe de espada de seu irmão.

– A espada...

– Os filhos de Vlad foram assassinados, um a um, em uma tentativa vã de capturar o rei.

– O que está tentando dizer?

– Quem sou eu?

– O marido esnobe e imbecil de Sir Hellsing. – Baron retrucou, agora mais tentando se defender do que de fato agredir.

– Quem é Sir Hellsing? – A voz de Vlad começou a subir de volume, enquanto conseguia descer ainda mais de tom.

– Cavalheiro da távola redonda. Condessa de Dracul.

– Quem sou eu? Quem herdou a ordem do dragão?

– Conde Dracul... – A resposta foi se tornando cada vez mais incerta, cada vez mais a verdade sobre a linhagem de Vlad sendo percebida pelo coronel.

– Por que a Inglaterra precisa de um exército como o da Hellsing? Por que Integra, entre tantos outros o lidera? O que caçam com balas de prata? O que vê nos olhos da policial?

Uma das lâmpadas apagadas deu um último suspiro de vida, reacendendo brevemente antes de queimar de vez. A oscilação na iluminação permitiu que a o coronel visse a face de Vlad pela primeira vez em muitos minutos, o que apenas encheu sua alma de terror.

Vlad estava com os olhos amarelos desfocados, mirando uma coisa qualquer no chão. Para todos os efeitos inconsciente. Seus lábios perfeitamente cerrados quando as próximas palavras vieram:

– Quem sou eu?

Na escuridão da cela, o coronel ainda percebeu a sombra atrás do corpo de Vlad se mover em uma forma que muito lembrava o gato de Cheshire, antes de voltar ao normal.

Aos poucos a luz também voltou às lâmpadas, permitindo que uma iluminação difusa e suave penetrasse o ambiente.

O coronel mal reagiu quando o corpo do conde deu um estalo, e Vlad mal conseguiu se projetar para a frente para tentar não vomitar sobre o próprio colo, com as mãos em suas costas ainda presas por correntes.

E então as portas se abriram, um homem enorme ergueu o conde do chão pelo que sobrou da camisa para retirar suas algemas e o coronel pode ver pela primeira fez em sua vida parte do peito e abdome do outro, com cicatrizes tão profundas como ele jamais observou nos diversos soldados que retornavam, heróis de guerra como ele. Mutilados, sim. Com claras marcas de tortura? Às vezes. Mas geralmente um único ferimento como aquele era o suficiente para justificar a dispensa de um soldado.

E então tudo foi barulho. O prédio invadido mais uma vez, Vlad feito prisioneiro. O sorriso mole e despreocupado do conde ao ver uma arma apontada para sua cabeça. O gesto pesado, e sem muito controle do conde, o corpo de seu agressor jogado contra a parede. Uma mão firme com os dedos enfileirados contra o peito do terrorista. A luz deixando seus olhos e o corpo de ambos, terrorista e conde atingindo o chão. Os passos de Celas correndo para o homem caído, Sir Hellsing em pé a sua frente, olhando da figura suja do coronel no chão para o vômito e sangue onde Vlad estava antes.

Ele mais aceitou do que entendeu que não se deve brincar com a Hellsing, antes de se deixar ser solto e levado pelos soldados que acompanhavam a loira.


Too much love will kill you
Just as sure as none at all
It'll drain the power that's in you
Make you plead and scream and crawl
And the pain will make you crazy
You're the victim of your crime
Too much love will kill you every time

Yeah too much love will kill you
It'll make your life a lie
Yes too much love will kill you
And you won't understand why
You'd give your life you'd sell your soul
But here it comes again
Too much love will kill you
In the end
In the end


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Notas finais do capítulo

Oie. Seguinte, tem uma coisa que eu preciso saber:
Vocês querem que Vlad continue falando do que andarilho lhe contava? Ou essa é aquela parte da história que vcs pulam?
Outra coisa, fazia muito tempo que não respondia os reviews, mas acho que esse problema foi sanado. Muito obrigada pelo apoio. É sempre emocionante receber um review, principalmente com uma história que já está dando voltas há tanto tempo. Eu leio todos viu?
E sim, eu sei que demoro para postar, mas não tem muito que eu consiga fazer para acelerar o processo. E eu acho isso falta de respeito com vocês, mas seria pior se eu postasse qualquer coisa só pra constar uma atualização. Não fico irritada quando me pedem para ser mais veloz, longe disso, fico lisonjeada na verdade, mas a verdade é que não tem muito o que eu consiga fazer a esse respeito.
Muito obrigada por tudo. Vamos aguardar o capítulo 51 com o final do arco do Baron e o começo de uma nova etapa?



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