Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 46
Capítulo 46. Vazio


Notas iniciais do capítulo

E lá vamos nós.
Música de hj, "What hurt the most", dos Rascal Flatts.
Enjoy,



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I can take the rain on the roof of this empty house, that don't bother me

I can take a few tears now and then and just let them out

I'm not afraid to cry

Every once in a while even though going on with you gone still upsets me

There are days

Every now and again I pretend I'm okay but that's not what gets me


What hurts the most, was being so close

And having so much to say

And watching you walk away

And never knowing, what could have been

And not seeing that loving you

Is what I was trying to do



Integra retirou os óculos e apertou os olhos com as mãos enluvadas, a luz artificial que vinha das lâmpadas fluorescentes já há muito lhe incomodando. Mas tinha trabalho a fazer. Uma cidadezinha ao norte do país estava sob ataque, e por mais soldados que ela conseguisse recolocar sobre seu comando e enviar para lá nada parecia surtir efeito. Apenas mais e mais ghouls atacavam. Enquanto não encontrassem o progenitor, o vampiro de fato, nada ia adiantar. Enviou Celas há horas para fazê-lo, mas a vampira acabou tendo que ajudar a controlar os ghouls, que apareciam como baratas.

– Estava pensando em pedir algo para comer. Chinesa ou tailandesa?

Integra recolocou os óculos, focando o olho azul no coronel, em pé em frente a sua nova mesa no escritório que compartilhavam agora. O coronel tinha uma pequena mesa no escritório de Integra também, mas Integra achou mais interessante estar no centro da inteligência Inglesa naquele momento, caso precisasse de apoio, tanto em questão de armamento quanto pessoal.

– Comida. Chinesa? Pizza?

– Quero um hambúrguer. – Integra murmurou, voltando a analisar seus papéis.

“Se Alucard estivesse aqui, já teria farejado esse maldito vampiro há horas.”

– A comida vai chegar em vinte minutos. Por que não para um pouco? Com a cabeça cheia e o estômago vazio não vai conseguir prosseguir.

– Cada minuto em que ambos falhamos em descobrir a origem dos ataques pode significar a morte de um inglês, coronel.

– Exatamente meu ponto de vista, Sir Hellsing.

O pensamento de que se Vlad estivesse ali já teria descoberto o maldito padrão também se formou em sua cabeça, mas ela o ignorou prontamente. Afinal Vlad era...


.

.

.

– O jovem Vasile informou-me que há dias não se alimenta, meu senhor. – A voz de Doamnei preencheu o cômodo amplo e escuro, iluminado apenas por poucos raios solares que transpassavam as pesadas cortinas cobrindo as janelas.

– Vasile é poucos anos mais novo que você, Doamnei. Não tão jovem quanto aparenta.

– Jovem demais para aguentar os horrores da guerra e os caprichos de seu humor em paralelo, meu senhor.

Doamnei aproximou-se das cortinas, abrindo uma delas de forma brusca, fechando-a imediatamente ao ouvir o gemido desconcertado de seu noivo, encolhido no canto oposto do quarto.

Ela se aproximou de onde ele estava, ajoelhando-se ao seu lado.

– O que aconteceu?

– Meu humor sempre tem seus caprichos ao fim das batalhas. Não é culpa de Vasile, embora eu preferisse que ele mantivesse sua jovem boca fechada.

– Ele fala porque se preocupa, meu senhor, assim como eu.

– São os poucos que o fazem.

– Muitos o fazem. Deve ter ouvidos os aplausos, elogios e vivas que a volta das tropas causaram.

– Ouvi também os gritos das viúvas que não puderam ver nem os corpos de seus maridos e dos filhos que jamais conheceram o rosto dos pais.

Doamnei se calou por alguns minutos, voltando a falar em seguida, já com um tom de voz mais suave.

– Mas minhas lágrimas de alívio foram silenciosas demais para seus ouvidos, suponho. Coma alguma coisa, sim? Por favor, tente descansar antes que o chamado de vosso pai chegue a nossos ouvidos e tenha que partir mais uma vez.

Vlad respirou fundo, tentando em vão se esconder mais entre seus braços e pernas, apenas para sentir os dedos de Doamnei timidamente acariciando os cachos longos e desarrumados de seu cabelo, quase tão comprido quanto o dela.

– Estou verdadeiramente sem fome.

Aceitando a admissão como uma pequena vitória, Doamnei se contentou em direcionar o corpo do príncipe o suficiente para que ele saísse de seu casulo e encostasse a cabeça em seu ombro delicado, coberto pelo fino tecido do vestido azul cobalto que usava. Aos poucos ele deixou que a aura de calor que Domnei emanava preenchesse seus poros, permitindo que ele relaxasse em sua própria mente pela primeira vez em semanas.


A pior parte das batalhas não eram as batalhas em si. As batalhas eram grotescas, representavam morte, dor e sangue, mas acabavam rápido. Uma batalha não durava mais que doze horas, quando muito. E em meio ao choque de espadas e membros decepados, só uma distinção importava: estar vivo ou morto. Porque se você estivesse morto, você não precisava mais lutar. Mas se você estivesse vivo a ordem era clara.

Continuar.

Em meio ao caos, seus ferimentos não são importantes. E sinceramente, você nem sente a dor. Adrenalina e choque fazem com que você continue, sempre a frente. Recuar não era uma opção e, sinceramente? Havia um prazer quase doentio em ver o sangue inimigo espalhado pelo chão e ver o brilho dos olhos se perderem sob o fio da espada.

Uma sensação de propósito tão distorcida que hoje, séculos depois, ainda lhe embrulhava o estômago.

Do fim das batalhas se têm poucas lembranças. Procura por corpos, refúgio. Recuperar-se o suficiente para seguir jornada, de volta para casa ou em frente. E rezar. Rezar pelo perdão de sua alma, que não deveria se sentir tão plena quando seus irmãos deixavam de respirar pelo feito de seus punhos.

Para Vlad, a pior parte das batalhas era a espera. Os dias em campanha, isolados no deserto ou entre as matas. A incerteza de jamais saber em que momento a luta de fato começaria, como terminaria e o asco que lhe reviraria o estômago ao fim, pior quando voltava para a Valáquia e era aclamado como herói. A fome que perdia semanas antes da culpa efetivamente assolar seu apetite, o cuidado excessivo daqueles que o rodeavam, dos filhos dos nobres que tiveram a infelicidade de cercar a família real, responsáveis por manter a saúde e bem estar do príncipe da Valáquia, do comandante daquele batalhão.

Não havia ninguém preocupado com ele agora.

Não havia pelo que esperar.

Não havia distorção que lhe trouxesse propósito.

Não havia para quem rezar.

Só o vazio que permeava seus dias, o mesmo vazio que lhe assolava os sentidos nos dias que pressentiam a matança. O vazio de se saber falho, incompleto e incapaz.

E aparententemente, molhado. Porque aos poucos um chuvisco leve tinha se tornado uma chuva forte, que havia deixado certo conde, sentado no telhado da mansão, completamente encharcado. E ele não encontrava motivos para entrar em sua casa vazia.

Vazia mesmo, porque Celas estava do outro lado da Inglaterra, derrotando um exército de ghouls enquanto Integra se ocupava de localizar o vampiro, enquanto ela e o admirável coronel Baron se ocupavam de redirecionar as tropas. Admirável coronel Baron... Era só o que faltava, louvar aquele idiota até em sua própria cabeça. Integra devia estar se divertindo com seu novo quebra-cabeças. Salvar a nação protestante dos vampiros enquanto escondia isso do homem para o qual tinha que pedir permissão para manipular suas tropas. E Vlad nem sequer entendia porque diabos as tropas ainda estavam sob o comando dele, se as Olimpíadas já haviam acabado há semanas.

E há semanas Vlad tinha virado as costas e deixado Integra com suas acusações e dúvidas, enquanto caminhava pela noite. E quando voltou, na noite do outro dia, foi para voltar para seu antigo quarto, viver seus dias como um fantasma naquela casa enorme.

Até o gordo Scott estava de folga.

E ele no telhado da mansão, olhando para a chuva que caia o encharcando até os ossos, com lembranças de situações que não voltariam mais, sonhando com o calor de um corpo há séculos congelado.

“Você é um tolo”.

Uhum… Que novidade.

“Ela se diverte as suas custas”.

E agora os pensamentos de Vlad resolveram tomar uma postura própria. Ótimo. A fina flor da loucura finalmente desabrochando no solo pedregoso e infértil que é a alma do conde.

“Sempre o manteve por perto para rir de você”.

– Eu sei disso. – Ele murmurou para a chuva que ainda caia sobre seu rosto, as gotas como infinitas agulhas em sua pele.

“Qual será o gosto dela?”

– Cala a boca.

“Nunca se perguntou o gosto de sua pele?”

– Silêncio.

“O gosto de seu suor? O gosto de suas lágrimas?”

– ...

“O gosto de seu sangue?”

– Que se dane.

E seus pensamentos se calaram por uma tosse que lhe rompeu o peito. As pequenas gotas de sangue que escaparam de seus lábios ignoradas, lavadas pela chuva.

– Que se dane.






It's hard to deal with the pain of losing you everywhere I go

But I'm doing it

It's hard to force that smile when I see our old friends and I'm alone

Still harder getting up, getting dressed, living with this regret


But I know if I could do it over

I would trade, give away all the words that I saved in my heart, that i left unspoken


What hurts the most, is being so close

And having so much to say

And watching you walk away

And never knowing, what could have been

And not seeing that loving you

Is what I was trying to do


What hurts the most, was being so close

And having so much to say

And watching you walk away

And never knowing, what could have been

And not seeing that loving you

Is what I was trying to do


Not seeing that loving you

That's what I was trying to do?




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Notas finais do capítulo

Review?



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