Melodia escrita por Enid Black


Capítulo 1
Unique


Notas iniciais do capítulo

Imaginei essa história enquanto estava andando na rua @___@'



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A chuva prateada embassava a cidade. Através da grande janela em minha sala de trabalho pude ver as finas gotas inundando os edificios monstruosos, fazendo-os virarem indefesas sombras escuras na paisagem.

Minha respiração calma pintava o vidro frio de branco, enquanto o relógio msotrava que havia chegado a hora para de mim finalmente voltar para casa.

Eu morava sozinho, em um sobrado simples, porém aconchegante. Ficava afastado da cidade e de seus barulhos infernizantes, trazendo um silêncio tranquilizador para quem quisesse experimentá-lo.

Pensei em minha poltrona acolhedora ao lado da lareira quente enquanto apertava o botão do elevador desconfortável até o estacionamento, brincava com as várias chaves quase idênticas na minha mão enquanto o aparelho fazia sua viagem monótona, ouvi o clique metálico indicando que havia chegado ao local pedido pouco tempo depois.

Entrei no carro com o tamborilar da chuva na calçada me acompanhando, assim que liguei-o, as batidas rápidas das músicas do Green Day encheram o local, trazidos pelo aparelho de som que eu havia deixado no último volume, abaxei-o até virar um leve murmúrio inocente e comecei a correr pelas ruas encharcadas.

As gotas que brilhavam em minha frente me impediam de ver a estrada com clareza, forçando-me a entrar em um ritmo devagar pelo caminho de árvores que levava á minha casa.

O asfalto escondeu-se nas sombras da tempestade, apenas parcialmente iluminados pelo farol amarelado de meu carro, um raio faiscou no negrume do céu, revelando as entranhas da estrada no meio da mata por um instante rápido, fascinado pelo acontecido, mal percebi a música sussurrada parando lentamente, como se estivesse morrendo em seu último suspiro, olhei o rádio, estava rodando o disco normalmente. Estranhei o silêncio repentino, porém não dei a importância necessária.

Chegava perto de casa quando ouvi o som de um doce violino no ar, em uma canção solitária e comovente. Tentei enxergar através do vidro alguma casa que eu não tivesse percebido antes, de onde vinha a música, porém não vi nada, apenas o sobrado em que morava destacado naquele cenário deserto.

Estacionei o carro com a melodia ainda em meus ouvidos, pisei na lama que virara a terra fofa em frente á varanda e corri para dentro do local, tentando inultimente escapar das pequenas lâminas frias que a chuva havia virado. Abri a porta com certa dificuldade por causa dos dedos tremendo, e, assim que consegui, ultrapassei-a e a fechei com rapidez, tentando me livrar da tempestade.

Acendi a luz da sala, tranquilizado com a visão familiar que ela trazia, subi as escadas com as pernas enrigecidas e fui para meu quarto, o primeiro do corredor, onde troquei as peças finas da roupa de trabalho por um velho moletom, as notas do violino ainda ecoavam pelas minhas lembranças, porém tentei ignorá-las.

Voltei para a sala no primeiro andar, onde liguei a pequena televisão em frente ao surrado sofá de vários anos, comecei a passear pelos canais superficíais com o controle remoto, sem uma verdadeira vontade de assistir á nada.

Um novo raio iluminou o aposento com sua luz fraca, trazendo a escuridão total para a casa assim que se foi. Não entendi o que haveria acontecido para tudo parar de funcionar, decidi que a força deveria voltar logo e esperei, olhando para a TV que agora emitia um zunido irritante e uma confusão de imagens pretas e brancas em sua tela.

Percebi que a iluminação não voltaria tão cedo e fui para a cozinha aos tropeços, onde tateei procurando a gaveta certa até achar a que tinha uma caixa de fosfóros e uma vela branca. Acendi-a e olhei pela janela mais próxima, a tempestade não cederia áquela noite, e o violino continuava a me enlouquecer.

Ouvi um barulho no andar de cima, subi as escadas hesitante, em um instante covarde com o que poderia ser, abri a porta do meu quarto e percebi que a janela estava aberta, deixando o vento cortante entrar, e, consequentemente, fazendo a cortina branca dançar presa a ela.

Fechei o vidro, rindo de minha boba imaginação, quando escutei a cantiga ritmada do violino próxima a mim, virei-me em direção á porta com o ar fugindo dos pulmões, porém me deparei com a porta aberta convidando ao negrume de outro aposento.

Saí do quarto e fechei a porta, seguindo a melodia que viajava através do ar frio a volta até o terceiro quarto do corredor. Me vi colocando a mão na maçaneta.

Por um instante, pensei na loucura em que eu estava acreditando, o que eu pensava que ia encontrar no quarto? Eu devia estar ficando louco, marquei mentalmente que deveria agendar um médico no dia seguinte.

O ruído da porta atrapalhou a canção perfeita do violino, que aumentava enquanto eu ultrapassava a passagem de madeira, assim que coloquei os pés descalços no chão de pedra, um último relâmpago foi visto no céu, iluminando o quarto em que a cortina se contorcia inocentemente. Eu começava a me acalmar quando o véu fino foi empurrado para a parede, revelando o que se escondia atrás deste.

A música acompanhava o movimento do violino sobre os dedos dela, branca como era, sua pele entrava em contraste perfeito com o instrumento negro. Seus cabelos loiros quase brancos voavam á sua volta, enquanto um sorriso transformava seu lábios pálidos.

Estava enfeitiçado pela sua visão, pela sua música, não me sentia mais em comando do meu corpo, apenas a observava hipnotizado por seus olhos vermelhos.

Aos poucos, a música foi diminuindo, e com isso percebi que algo acontecia dentro de mim também, como se eu perdesse uma lufada de ar a cada nota que desaparecia das cordas. Me ajoelhei, não tendo forças para lutar, enquanto ela me torturava com as últimas notas agudas daquele instrumento infernizante.

Finalmente, ela parou de tocar, anunciando o meu fim.


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Notas finais do capítulo

Não sei se ficou bom .medo. Por favor, falem o que acharam!
Reviews me fazem feliz.



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