Far Away escrita por Zoey_B


Capítulo 1
Capítulo Único.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/92724/chapter/1

Sabe aqueles dias em que você acha que o mundo está contra você? Que tudo que você fizer vai dar errado? E que você acha que a Lei de Murphy foi feita exatamente pra te atormentar?

 

Bem, meu dia foi assim. Tenho oito motivos para estar dizendo isso:

 

Primeiríssimo motivo: Acordei atrasada para o colégio e quando eu saí de casa as nuvens resolveram despejar toda sua fúria contra o mundo derramando litros e mais litros de água.

 

Segundo motivo: Cheguei encharcada no colégio e por pouco não consegui entrar. O ruim? Ficar com a blusa branca totalmente transparente numa classe onde grande maioria são homens.

 

Terceiro motivo: Descobri que meu melhor e único amigo vai me abandonar para morar nos EUA.

 

Quarto motivo: Fui suspensa por brigar com uma garota que se achava no direito de derramar suco de manga em mim – esse com toda certeza valeu a pena.

 

Quinto motivo: Meu pai resolveu me apresentar seu novo peixinho. Se você não entendeu, eu explico. Meu querido pai resolveu me apresentar à piranha – tadinho dos animais – da sua namorada.

 

Sexto motivo: Discuti com o peixinho de estimação vulgo namorada do meu pai – não tenho culpa se o nome dela é parecido com o da ex dele. Tayne... Dayne. Pra mim é tudo a mesma coisa.

 

Sétimo motivo: Fiquei de castigo por dizer o que penso – Pensei que esse fosse um país livre.

 

Oitavo e último motivo: Achando que meu dia não podia ficar pior, resolvi que usaria minhas poucas horas de liberdade para passear pelo meu bairro, mas como minha sorte é uma bosta e a inteligência é pouca, a pessoa que vos fala resolveu fazer palhaçada no muro e acabou se espatifando no chão. O que resultou num braço quebrado.

 

E esses são os motivos pelo qual eu digo que:

 

  1. O mundo me odeia.
  2. Minha vida é um saco. 
  3. Murphy deve ter conhecido uma outra encarnação minha, para ter criado sua maldita lei.
  4. Eu não deveria ter saído da cama hoje. Fato.

 

 

Mas voltando ao presente, eu estava no meu quarto, mais exatamente deitada na minha cama, com um porta-retratos na mão esquerda e com a direita engessada apoiada no travesseiro ao meu lado.

 

Meu quarto não é o que você pode chamar de O lugar mais belo, definitivamente não. As paredes pintadas em tons pastéis estavam começando a descascar, os móveis de madeira maciça me mata só de pensar na quantidade de árvores que foram destruídas para construí-los, a cama um pouco maior que uma de solteiro tem um colchão duro demais, e isso acaba com a minha coluna. E fora o armário embutido abarrotado de roupas velhas, a cama trituradora de colunas, as prateleiras empoeiradas- sim eu limpo, mas elas ficam sujas em dois tempos – com livros de ficção e romance transbordando pelas beiradas, a placa de metal pendurada na parede com fotos minhas e de Kristian, a mesinha em que estudo que está sempre limpa, já que meus caros - caros até demais, pro meu gosto e bolso – livros estudantis descansam ali, a única coisa que pode interessar um adolescente sem vida social e que já leu todos os livros que possui (dãã) é o computador que fica grudadinho com os meus livros caros e sem graça.

 

A foto que eu fitava era a que eu mais amava, ela é bem novinha, devo tê-la tirado semana passada se não me engano. A foto era em preto e branco, eu estava segurando a câmera e estava sendo abraçada de lado por Kristian, que beijava carinhosamente meu rosto.

 

Ainda não acredito que aquele ser do bem vai me deixar. Quero dizer, convivo com ele desde que eu me conheço como gente, vai ser muito difícil pra mim encarar os alunos da minha escola sem ter um porto seguro para qual me refugiar, quando eu me sentir mal perto deles. E isso está acontecendo muito ultimamente.

 

- Vou sentir sua falta. – murmurei para foto, olhando diretamente para o rosto do meu melhor amigo.

 

-Toc Toc. – (n/a: eu já disse o quanto odeio onomatopéia?) ouvi a voz rouca de Kristian atrás da porta. – Está vestida? – perguntou.

 

Tínhamos o estranho hábito de perguntar isso um para o outro quando íamos entrar nos quartos, pois há alguns anos atrás eu sem querer querendo abrir a porta do quarto de Kristian enquanto ele trocava de roupa e bom... Eu fiquei bem constrangida. Não por ter visto algo feio, não foi isso. Meu amigo é lindo, ok? Eu fiquei constrangida por tê-lo visto nu. Eu era tão inocente quanto a isso.

 

-Sim, pode entrar. – falei e logo avistei o corpo másculo dele adentrar meu quarto.

 

-Você está bem? Soube que quebrou o braço. – falou enquanto se sentava ao meu lado. – E parece que foi verdade.

 

-Esse povo é muito fofoqueiro - resmunguei. – Estou ótima, só me machuquei um pouco. – falei colocando a foto na cabeceira da cama.

 

-É tô vendo – disse irônico e eu como a infantil que sou, mostrei minha língua pra ele, e o SDB (serzinho do bem) a mordeu, usando apenas os dentes.

 

-Ai. – resmunguei.

 

Ele riu.

 

-Bem feito. – Kristian suspirou. – A viagem foi adiantada.

 

-Quê? – QUASE gritei.

 

-Meus pais querem ir pra lá o mais rápido possível. A casa já está toda arrumada, só falta à gente. – murmurou.

 

-Ah. – respirei fundo e falei: - Quando você vai? – perguntei. Rezei internamente que ele dissesse uma data bem distante. Eu não queria perder meu amigo, não agora que eu descobri que ele é o carinha por quem eu tenho nutrido um amor secreto desde os meus catorze anos.

 

Kris mordeu os lábios e desviou os olhos para a foto na cabeceira. – Amanhã. – respondeu.

 

Sabe quando você fica com cara de paisagem misturada com cara de surpresa? Pois é, aquela careta ridícula, estava agora estampada no meu rosto.

 

Mordi meu lábio inferior com força. Eu tentava pensar em algo coerente para dizer, mas as frases que me vinham a cabeça eram mais puxadas para o lado desesperado do que para o coerente. Eu não queria, de maneira nenhuma, me separar dele. Seria como tirar um pedaço de mim, um pedaço vital, como o coração talvez.

 

-Não vai dizer nada? – perguntou com o cenho franzido.

 

-Ainda estou pesando em algo menos desesperado para falar. – soltei sem que nem percebesse.

 

-Um “ eu não quero que você vá” já basta. – falou com o canto da boca se erguendo levemente, num sorriso torto.

 

-Não, isso eu já disse ontem, - teimei. – quero dizer algo profundo e filosófico. – disse mordendo os lábios novamente.

 

Abaixei meu rosto e meus cabelos encaracolados caíram como cascata ao lado deste, formando uma cortina entre mim e Kristian. Deixei uma lágrimazinha solitária descer pela minha bochecha e cair na minha mão, logo aquela lágrima solitária teve companhias, pois outras seguiram seu exemplo e desciam quentes por meu rosto.

 

-Bruna? – Kris me chamou, mas não levantei o rosto. Senti a mão grande dele erguer meu rosto e secar a trilha que as lágrimas deixaram  e beijou minha testa, bochechas, a ponta do meu nariz e o canto da minha boca. Não me assustei com o lugar em que depositou o último beijo. Era outro hábito nosso, que não tem história. Foi apenas uma desculpa minha para chegar perto dos seus lábios quando queria – Não chora! – pediu, me abraçando.

 

-Seu idiota. – reclamei escondendo meu rosto no vão do seu pescoço. – Você não deveria me deixar, não agora que... – me calei antes que falasse alguma besteira.

 

-Agora que...? – me incentivou a continuar.

 

Afastei-me do seu abraço e deitei na cama, pondo a cabeça no colo do Kristian e apoiando os pés nas paredes. Kris começou fazer um cafuné gostoso e por pouco eu não adormeci.

 

- Termine. –pediu.

 

- O quê? – fiz-me de desentendida.

 

- A frase que você começou, mas na terminou.

 

-Ah. Acho melhor não. – disse tentando escapar.

 

-Por favor? – Maldita a hora em que olhei em seus belos olhos cor de mel, que no momento me fitavam com um brilho extra no olhar. Brilho que eu não pude identificar o significado.

 

-... Não agora que me descobri apaixonada por você. – murmurei bem baixinho. Esperando, ao mesmo tempo, que ele ouvisse e não ouvisse. Não saberia o que esperar da reação dele. Fechei os olhos esperando uma rejeição, mas como ela não veio pensei que ele talvez não tenha ouvido, então abri meus olhos e encontrei o rosto de Kristian há menos de dez centímetros do meu.

 

Terminei com a distância dos nossos lábios e fechei os olhos, aproveitando a sensação de tê-lo tão perto de mim. Seus lábios eram macios e se encaixava perfeitamente ao meu, no começo fora apenas um selinho, mas eu no impulso do momento entreabri os lábios milésimos depois que ele passou a ponta da língua no meu lábio inferior.

 

Quando sua língua tocou a minha foi como se uma explosão de sentimentos tomasse conta do meu corpo. Foi involuntário... Eu me arrepiei.

 

Nossas línguas brincavam, se enrolavam, se acariciavam e dançavam em sincronia. Era um beijo perfeito que foi encerrado no mesmo modo que começou:

 

Com um selinho.

 

Ficamos nos encarando. Olho no olho, mel no verde. Eu me perdi ali, fiquei pensando em como sentira saudades de tê-lo comigo, das suas brincadeiras, invenções e bagunças. Iria sentir falta dele inteiro.

 

O silêncio entre nós não era desconfortável, pelo menos, para mim. Mas ele foi quebrado por Kristian.

 

-Venho aqui antes de ir para o aeroporto, ok? – perguntou. Mordi os lábios tentando segurar as lágrimas que já queriam cair novamente, e não confiando na minha voz apenas assenti. Sentei-me na minha cama e cruzei as pernas uma sobre a outra, olhando para as minhas mãos comecei a passar um dedo sobre o gesso, que de algum modo não atrapalhou nada.

 

Tive uma ideia.

 

-Assina pra mim? – pedi pegando uma canetinha preta na gaveta da cabeceira e entregando na mão de Kristian. – Para eu me lembrar de você. – disse quando o vi erguer uma sobrancelha, numa pergunta muda de “Por quê?”, normalmente eu não gosto que rabisquem meu gesso – sim, eu já quebrei outros ossos antes. – e como ele me conhece bem... Bom, era de se esperar essa reação.

 

-Claro – respondeu. – Não olha. – pediu, quando tentei ver o que ele escrevia.

 

Fiquei olhando para seu macio cabelo cor de cobre que estava anormalmente brilhoso e bonito hoje. Não resisti, eu tinha que acariciá-lo uma última vez HOJE. E assim o fiz. Foi um pouco difícil fazer isso com a mão esquerda, já que sou destra, mas consegui. O cabelo sedoso tinha um cheiro adocicado, não muito enjoativo nem forte, simplesmente um pouco doce.

 

-Se você ficar me distraindo, não vai ter como eu terminar aqui. – disse se virando para mim e ficando a centímetros do meu rosto, fitei seus lábios e mordi os meus. Estava numa vontade louca de beijá-lo novamente e...

 

Nem deu tempo de terminar meu pensamento, já que Kristian tocou meus lábios com os seus num beijo casto e gentil, com língua, mas calmo. Um beijo onde a única coisa que senti foi amor.

 

Ele terminou o beijo e continuou a escrever no meu gesso roxo – ahh eu gamo nessa cor. – e quando me deixou ler o que tinha escrito quase me desmanchei em lágrimas. Ele tinha escrito um trecho da música do Nickelback. Far Away é realmente uma música que eu amo.

 

This time, This place
Misused, Mistakes
Too long, Too late
Who was I to make you wait
Just one chance
Just one breath
Just in case there's just one left
Cause you know,
you know, you know

That I love you
That I loved you all along
And I miss you
been far away for far too long
I keep dreaming you'll be with me
and you'll never go
Stop breathing if
I don't see you anymore


 

O abracei com o braço bom e sussurrei em seu ouvido:

 

-Eu amo você.

 

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

 

O dia seguinte pra mim foi uma tristeza só. Fiquei o tempo todo grudada com Kristian, tentando ter o máximo de tempo possível com ele.

 

Os beijos castos às vezes apareciam, mas na maioria das vezes eram sempre desesperados e urgentes. Quentes, até.

 

Na hora de me despedir de verdade dele, eu já não tinha mais lágrimas, apenas fiquei feliz ao saber que ele voltaria todo mês pra visitar a família, e conseqüentemente a mim, já que moro no mesmo bairro que eles. Claro que eu fiz drama. Que garota não faria?

 

Mas de noite, bem de noitinha mesmo eu recebi um SMS, fiquei tão feliz que eu nem me importei que o peixinho de estimação do meu pai, estivesse dormindo na cama em que minha mãe ocupava quando era viva.

 

O SMS?

 

Já estou com saudades de você, minha morena.

Tenha bons sonhos. E com isso digo para você sonhar comigo. Hehe.

 

Te Amo ;D


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Far Away" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.