Alice S Memories escrita por Yako-chan


Capítulo 21
Capítulo 20 Quem é Você?


Notas iniciais do capítulo

Capitulo mas curtinho que o anterior, e acho que os próximos vão ser um pouco mais curtos também.



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Tudo o que ela dizia parecia ter surtido pouco efeito no final, estava começando e ter certeza que conversas não eram seu forte, suspirou quase em derrota, embora ainda não quisesse perder, começou a dedilhar sobre a mesa com uma expressão pouco amigável, havia tentado não ser rude o tempo todo, mas não tinha mais muitos estímulos ou palavras coerentes para tentar mais uma vez, e talvez devesse mesmo ir até lá dizer alguma coisinhas inadequadas para uma senhorita na cara de quem quer que estivesse ali apenas para expressar seu desagrado, e suspirou alto demonstrando seu descontentamento, embora ainda esperasse algo depois daquela reação dele, inclinou um pouco a cabeça para o lado ao ver as mãos segurarem nos braços da poltrona em um gesto qualquer,  não pretendia deixar nada escapar-lhe.

—Muito bem.—Admitiu ele após um momento.—Parece que você venceu agora, na verdade mais uma vez seria o correto a dizer, e eu também não posso negar-lhe, Alice.—Ele falou seu nome quase em um sussurro antes de virar a grande poltrona vermelha, o movimento súbito revelou o quão alto realmente ele era, o rosto de Alice perdeu a cor por alguns momentos e os olhos estavam realmente arregalados, até mesmo descrentes ao encararem a figura a sua frente, embora ela não imaginasse a expressão de surpresa quase cômica que estampada em seu rosto, ela apenas ficou encarando a figura agora a sua frente, uma cartola estava sobre a cabeça e sua sombra encobria parte do rosto, mas só com esse pouco que pode ver não precisava nem sequer constatar que com certeza ele não se parecia com um dragão, isso ela admitiu antes mesmo de qualquer coisa, em seguida percebeu um relógio de bolso em uma de suas mãos, e era dele que devia vir aquele tique-taque de antes ela constatava agora.

—Então era você...—Disse inconscientemente para si mesma sobre aquela pessoa ser o dono da voz que lhe havia chamado em seus sonhos escuros.

Ele balançou a cabeça concordando.—Sim.—Foi a resposta calma, embora a resposta talvez não fosse sobre a pergunta a qual ela realmente se referia, ele ficou parado, mas ela não conseguia ver seus olhos sob a aba da cartola somente parte do nariz, a boca e o contorno de seus rosto.—Então você realmente veio...—Disse simplesmente.

—Eu vim.—Ela respondeu, mesmo não querendo dizer aquilo, então o homem levou a mão até aba da cartola levantando um pouco o rosto e olhando, Alice pode ver aos poucos os olhos que não soube distinguir se eram amarelos ou verdes pois ambas as cores pareciam se misturar e pareciam refletir uma instancia de tempo, brilhantes sob a sombra projetada pela aba da cartola, os cabelos ruivos mas em tons bem escuros e a pele pálida, formavam aquela face, um rosto jovem que muitos considerariam agradável, na verdade muito bonito, sim era, ela concordava tudo parecia se acentuar perfeitamente nele.

Piscou balançando a cabeça, o que estava fazendo? A pouco havia dito não dar importância a estas coisas, e o que estava fazendo agora? Mesmo brigando consigo mesma internamente, sem perceber seus olhos desceram para o corpo analisando inconscientemente, quando o ouviu chamar seu nome se sentiu estancar, só agora notando seus pensamentos reais, e seu rosto teria ficado vermelho se não tivesse levado aquele susto, então demorou um pouco, mas levantou o olhar para ele novamente quase relutante ante a vergonha do que estava fazendo antes, mas ao fazê-lo percebia que aquele rosto também pareceu lhe trazer alguma lembrança distante, quase se deixando levar por aquela nostalgia, mas agora de pensamentos sobre coisas passadas, que ela achava que deveriam ser felizes, pois a fizeram se sentir brevemente bem, quando deu por si novamente.

—Você mudou.—disse ele abruptamente, e analisando-a adequadamente agora.

 Ele observava a mulher a sua frente, via agora o que ela havia se tornado, mas se recordava com exatidão da primeira vez que a viu, aquela menininha sorridente e falante, o que agora parecia ter sido assim a muitas vidas atrás, ele quase sorriu lembrando-se de seu primeiro chá, que quase não percebeu o olhar questionador dela direcionado a ele, sua mente estava de repente envolvida numa época que permaneceria fixada às seis horas para sempre em sua vida, uma época quando tempo estava zangado com ele, em que era apenas um chapeleiro e nem mesmo possuía um chapéu próprio.

 Uma época que também ficaria marcada na vida dela mesmo que não se lembrasse disso agora, esse passado sempre estaria lá, uma época em que ele era o Chapeleiro despreocupado, quando ainda era apenas um homem que simplesmente vivia, sem conhecimento dos tempos que viriam depois que Alice foi embora, tempos que viriam a fazer com que ele se tornasse frio, insensível, quase como uma maquina em um corpo de carne e ossos, aquela foi uma época que ele poderia dizer que foi quase “humano”, mas isso já fazia muito tempo agora, tempo demais querer para voltar.

Quando percebeu o olhar interrogativo dela sobre si, ele desviou inclinando um pouco a cabeça, quebrando o contato visual e qualquer sorriso que viesse a esboçar, Alice de certa forma ainda encontrava-se em estado entre surpresa e distração que não notou quando ele desviou o olhar por alguns momentos, mas ela o fitava sem saber o porquê de não conseguir deixar de fazer isso, sentiu uma estranha simpatia para com ele, como se fosse alguém que conhecia, mas não se atrevia a tentar decifrá-lo ou mesmo descrevê-lo nem mesmo em seus pensamentos mais ocultos, até o momento apenas contentava-se em observar.

Ele usava trajes de cores vivas e escuras ao mesmo tempo, trajes que até lhe lembrava um pouco os que os homens de seu mundo geralmente usavam, mas eram diferentes em todos os aspectos, principalmente suas luvas, eram de azul bem escuro e pareciam feitas de alguma espécie de couro e ao mesmo tempo veludo, era incrível como as coisas ali pareciam sempre se misturar, para ela agora aquele homem a sua frente parecia um enigma, um belo enigma admitiu finalmente sentindo-se derrotada por si mesma depois de todo daquele discurso sobre aparências, mas era um motivo sem questionamentos que causara a desistência.

E se pegou varias vezes olhando para seu rosto quase tendo uma ilusão de um passado esquecido, um rosto jovem, e ela nunca diria, mas ele era lindo.

Embora achasse isso com razão, ele de fato era lindo, lindo e irremediavelmente louco, como todos ali eram.

Enquanto divagava percebeu não conseguir parar de pensar nisso agora, mesmo tentando desviar o pensamento para outros lugares, era como quando ouvia uma musica da qual não gostava, mas que talvez por isso você não conseguisse para de ouvi-la em sua cabeça, e ela não conseguia agora parar de pensar em como ele era, sua aparência, olhar e aquela voz.

 Tentou permanecer imóvel, mas ele ao todo a fazia estremecer somente de ficar sob aquele olhar, nunca ninguém havia conseguido exercer tanta influencia sobre ela, nem mesmo em Rutledge quando estava tendo alguma de suas crises e usavam pesadas drogas para fazê-la se acalmar e dormir, enquanto ele somente com o olhar a fazia sentir como um pequeno peixe diante de uma águia faminta, que para fugir teria de mergulhar nas águas escuras de um rio tortuoso, rio este que era sua mente que sempre jogava com ela quando menos esperava, poderia estar fazendo isso agora, talvez ele não estivesse ali, talvez não fosse real como nada ali parecia ser, lamentou realmente acharia isso uma pena, que fez seu peito doer por um momento.

Quando levantou seu olhar para constatar ele ainda estava ali, teria sorrido se fosse em outro tempo, mas não, tinha uma reputação a defender, um silencio recaiu sobre ambos novamente, ele estava parado segurando uma xícara com pires e apreciando seu chá com um expressão de satisfação, pareceu até mesmo absorto no que fazia, Alice não sabia muito o que fazer, aparentemente havia ficado sem jeito agora, era a primeira vez que isso lhe acontecia desde que se lembrava, o que deveria fazer? A conversa morreria assim? Não queria, e pensou em algo que ainda não havia feito, que deveria ter sido a primeira coisa certa e plausível a se fazer, então retomou o ar novamente, deixando de morder o lábio inferior o olhando diretamente para ele, falando.

—Ah sim, com licença, desculpe por interrompê-lo e também não ter perguntado isso antes que falta de educação minha... —Fez uma pausa. —...mas não nos apresentamos adequadamente, então poderia me dizer quem seria o senhor? Ou seu nome?—Perguntou de repente, o Chapeleiro que até o momento estava complemente distraído com seu chá levantou o olhar para ela.

—Eu?—Disse simplesmente, Alice maneou a cabeça afirmando, apesar de ser uma pergunta obvia ele estava serio, só que logo um pequeno sorriso apareceu no canto de sua boca.—Então é verdade mesmo que você esqueceu de tudo...imaginava.—Pareceu pensativo ao falar assim como havia algo mais que Alice não soube identificar naquela expressão.—Minha cara Alice.—Falou simplesmente olhando para seu chá enquanto alisava a xícara com as pontas do dedos, ela mordeu o lábio inferior sentindo-se quase da mesma forma que quando encontrou a lagarta, o que ela tinha para lembrar afinal sobre aquele lugar? Eles falavam como se fosse obvio, mas ela não tinha idéia.

—Você também acha isso? Bem então eu digo o que disse mais cedo a outras pessoas...de novo e de novo, é sim me esqueci de muito, de muitas coisas...o meu passado é algo que pouco me lembro, na verdade eu preferi assim, é melhor, mas isso não vem ao caso eu só perguntei quem...—Dizia rapidamente sentindo-se meio irritada com aquilo, e teria continuado quando nisso ele a interrompeu.

—Sem pressa, sem pressa, não corra atrás de respostas, deixe que elas venham até você calmamente, assim como se espera o chá esfriar um pouco para que possa beber sem se queimar, você pode tropeçar muitas vezes em suas próprias perguntas e cair no meio do caminho enquanto corre atrás das respostas para elas, certo? Então sejamos civilizados, sim?—Falou parecendo irônico, mas ela não retrucou então ele se levantou e retirou à cartola em um gesto de educação, seus cabelos deslizavam um pouco pelas laterais do rosto enquanto curvava um pouco o corpo para frente fazendo uma mesura.

—Sou o Chapeleiro Louco, ou apenas Chapeleiro. —Ele se apresentou formalmente, em seguida colocando a cartola de novo, sentando-se onde estava, Alice não disse nada por um tempo só ficou pensando. —“Então este é o Chapeleiro...que o gato falou, eu vim por um caminho que me trouxe até a casa da Lebre, mas acabei por encontrar ele aqui nessa festa do chá, mas como ele pode se apresentar assim? Ninguém se chama chapeleiro...embora...”.

—Espere, ninguém se chama chapeleiro... isso é só uma profissão não?—Ela disse repetindo seu pensamento inocentemente, ele sorriu.

—De fato acho que não, meu nome é Tarrant e acho que esse eu nunca lhe disse, mas todos me chamam de Chapeleiro de qualquer forma, não é importante.

Ela achava importante, embora tivesse achado o nome estranho, nem soube defini-lo, enquanto ainda estava em suas divagações à procura de respostas, ele lhe falou novamente.

—Que bom que voltou Alice, é bom ver você novamente.

—Obrigada.—Falou insegura, bem ela ainda não entendia o porque, de todos dizerem que havia voltado, se nunca esteve ali, ao menos não se lembrava disso de nenhuma forma, diziam que havia se esquecido de coisas, somente nisso eles podiam ter alguma razão, mas não via nada que achasse precisar lembrar devidamente, quanto menos de um lugar como aquele, mas viu ali surgir uma oportunidade de perguntar sobre isso, e também tirar a duvida que pairava sobre os sonhos.

—Ahn...é...—Tentava começar a pergunta quando ele falou para que ela servir-se.—Eu queria...—Tentou prosseguir.

—Quer chá?—Ele falou a interrompendo, e ela se calou por um segundo.—Ah sim, obrigada.—Agradeceu pegando sua  xícara e se servindo, quando resolveu tentar de novo.—Eu preciso...—E era interrompida novamente.

—De açúcar?—Ele falava do outro lado de mesa despejando uma quantidade imensa se açúcar dentro da xícara dela, enquanto dizia.—Vamos beba, beba...—Seguido em coro pelo rato sonolento dentro do bule que repetia as palavras do chapeleiro, ela se arriscou a tomar um gole, e evitou ao maximo que pode fazer uma careta pelo fato de estar muito doce.

—Han, han...me desculpe mas eu queria falar.—Ela insistiu em tentar novamente.

—Pois então fale.—Disse pegando um biscoito e jogando um dentro do bule onde estava o rato dormindo e depois o tampou, Alice se ajeitou na cadeira a qual seus pés mal alcançavam o chão.

—Você, quer dizer senhor Chapeleiro...vocês me conhecem...aparentemente, apesar de que achar que é um engano,  você disse:  “Que bom que voltou”, para mim, mas a verdade é...eu nunca estive aqui, nem nunca o vi antes e foi por este fato mesmo que agora pouco perguntei quem o senhor era. —Insistiu pegando outra xícara de chá e despejando o liquido fumegante e cheiroso dentro da mesma, havia deixado aquele chá super doce de lado e agora tentava tomar outro, e era realmente saboroso, levava-o perto dos lábios aspirando o aroma agradável e quente esperando que ele dissesse alguma coisa, por um tempo ele parecia distraído servindo-se de uma mistura estranha da vários chás em uma mesma xícara, Alice nem ousou perguntar nada, mas também ficou entretida em vê-lo fazer aquilo com habilidade em pegar vários bules e derramar juntos as quantias certas dentro a xícara, que só despertou disso no momento em que lembrou o que estava esperando quando e seus olhos azuis se encontrassem com os dele, quase escondidos pela aba da cartola, ainda sim olhando para ela, engoliu em seco levando a xícara até os lábios e olhando para o lado.

Embora ele mexesse o chá com uma colher de forma quase infinita seus olhos não desviavam dela que mesmo querendo olhar para ele sentia-se intimidada, ela ansiava por alguma palavra, até mesmo um resmungo, algo que viesse a quebrar o silencio aparentemente impenetrável, que parecia os manter em mundos separados assim como a simples mesa os separava agora.

Não gostava do silencio quando ele era imposto por outros, mas agora ao menos sabia como os médicos e enfermeiras deviam se sentir quando ela não lhes respondia, talvez pensasse em pedir desculpas quando voltasse lá, talvez, não tinha certeza, mas imaginava se já não estava lá por se ver agora nesse lugar louco que era, encontrando com aquelas pessoas ainda mais esquisitas e agora estava ali diante de uma ainda mais estranha e misteriosa, que a fazia ter uma crescente curiosidade ao mesmo tempo que receio. 


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Notas finais do capítulo

Espero que esteja indo bem ^^



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