—Bem, isso não foi nem um pouco agradável e muito menos normal, talvez eu esteja mesmo perdendo minha sanidade e agora de uma vez por todas, apesar de que louca sei que já estou, e pareço pior hoje por estar falando com gatos desse jeito.—Ela  girou o corpo e tomou um rumo qualquer daqueles caminhos, já havia esquecido qual era qual depois de todo aquele assunto de loucos e não loucos, não andou muito quando ouviu novamente aquele som estranho, quase como um assovio ecoou através das arvores, e pareceu mais perto agora e o gato apareceu novamente sentado sob um galho, olhando para ela.

—Cheshire? –Ela sussurrou, ela não sabia bem, mas estava com medo, então o gato levantou-se e desapareceu, Alice afastou-se andando para trás automaticamente até tropeçar em uma raiz e cair, ela olhou em volta rapidamente e tentou se levantar, mas algo pareceu a empurrar para baixo, a forçou ficar no chão.

E lá estava ele, a centímetros do rosto dela, a pata com as garras em sua garganta, seu rosto que ainda não havia se suavizado perdeu mais a cor e sua respiração se acelerou.

—Alice.—O gato falou com aquele sorriso odioso em sua face e pressionando as garras contra sua pele.—Para onde está indo?

Houve silencio, ela mal podia se deixar respirar, o corpo parecia gelar e suar frio, e ela não teria conseguido esboçar palavra alguma se o gato não estivesse esperando uma resposta aquela pergunta, que ela tinha certeza de que ele esperava que ela falasse, quase engoliu em seco antes de dizer qualquer coisa.

—Eu...eu não sei...—Sua resposta saiu quase em um sussurro, mas o sorriso dele se alargou mais.

—Oh muito bem, de fato não importa para onde vá, desde que de em algum lugar certo?—Ela maneou a cabeça cuidadosamente em concordância.

—Bom! Então vou propor um jogo.—Riu roucamente colocando um pouco mais de pressão sobre o pescoço dela.—Um jogo de pegar.—O modo pausada dele falar a fazia ficar ainda mais em alerta.—Você vai há algum lugar, isso é bom.—Enquanto falava diminuiu levemente o aperto das garras.—Mas você deve conseguir chegar lá, antes de eu alcançar você.—E com isso ele desapareceu , Alice de imediato não conseguia se mover, parecia que seu corpo estava congelado, e teve de se usar de toda sua força de vontade para conseguir obter o controle sobre ele novamente, sentou-se forçando-se para ficar em pé, ela sentia que o gato estava em algum lugar observando-a e sabia também que não poderia dar-se ao luxo de ficar parada, ou demorar para sair dali, porque que ele não iria esperar para sempre, então voltou-se para direção que pretendia seguir originalmente e correu.

Correu esquivando-se de ramos baixos, desviando e saltando sobre alguns obstáculos no caminho, algo a estava seguindo, e fazia barulho, ele não se preocupou em encobrir seus passos pesados, o gato a seguia, à não mais que um metro de distancia, mesmo assim ela não ousou olhar para trás, o medo a impedia de fazê-lo mesmo ainda concentrando-se em fugir daquela besta, o assovio lúgubre foi emitido de trás dela e tremor lhe percorreu o corpo novamente quase fazendo fraquejar e cair, mas ela retomou o controle de si e continuou correndo. “Socorro!” Queria gritar mais sua voz havia morrido em sua garganta muito antes, enquanto corria ela ouvia-o nas arvores, atrás dela, ao lado dela, acima dela e às vezes a frente dela, em toda parte e em lugar nenhum.

Virou-se desviando de sua rota, em um movimento desesperado, seu vestido insistia em querer enroscar-se enquanto ia passando em meio a arbustos entre as arvores, correndo ofegante, o coração batendo rápido, uma tentativa precipitada e desesperada de fugir, mas ele estava em toda parte, ele era mais rápido, e ele conhecia aquele floresta, ele tinha todas as vantagens acima dela, e sua risada enchi o ar, sem que quisesse seus olhos se encheram de lagrimas, ela passou a mão rapidamente sobre eles sentindo a raiva “Por que vocês continuam vindo quando tudo que eu menos desejo é chorar, malditas lagrimas, parem, eu não preciso de vocês a muito tempo!” pensava amargamente querendo se livrar delas, mas não conseguia detê-las por mais que tentasse, seus olhos se enchiam novamente.

O que foi mesmo um grande erro, pois em um instante as lagrimas momentaneamente cegaram sua visão e ela assustada disparou, correndo mais rápido, passando por um agrupamento de arvores pequenas, tropeçou e sentiu perder todo o controle sobre o corpo, o chão escapando de seus pés mais uma vez naquele dia e então o vento frio, foi tão rápido quanto a dor que sentiu ao chocar-se com o chão, e quando ela caiu um pensamento terrível passou por sua cabeça. “Eu vou morrer.” Queria fugir, iria fazer isso, levantar e fugir, correr e correr, essa era a única coisa que pensava poder fazer, mas seu corpo recusou-se a levantar, e ela sentiu como se seu estomago se revirasse, e o nó se formou na garganta, era medo, e junto dele vinha o desespero, ele estava vindo, “O monstro chegou para matar” foram seus pensamentos desesperados, quando ouvia o barulho suave de passos sobre o gramado, aproximando-se, sentiu o “monstro” curvar-se sobre ela, como se estivesse cheirando, apertou os olhos escondendo o rosto entre os braços, serrou os dentes, já até podia imaginar a dor, o coração batia tão rápido que o ouvia como um martelo no peito, batendo e batendo dolorosamente rápido, seu corpo tremia e suava frio, não poderia escapar, era isso, tudo isso, ele iria matá-la.