Pequenos Detalhes

- Ai, é tão complicado!

- Tente explicar o que é complicado.

- Nem sei por onde começar...

- Talvez pelo começo...

- Até o começo foi complicado, eu namorava, ela namorava, mas ainda assim eu já sabia que sentia algo por ela, sempre ansiava por nossas inocentes conversas, pensava muito nela. Sempre senti algo diferente em relação à ela, mas não conseguia distinguir o que era essa diferença. Com minha namorada era um tanto quanto complicado também, eu gostava muito dela, mas acabava falando demais DELA. Acabei terminando o namoro por não conseguir ficar com uma pessoa pensando em outra. Nesse momento já estávamos envolvidas, eu sabia que mexia com ela, e ela mexia demais comigo. Tudo bem que no começo eu achei que era tudo coisa da minha cabeça, mas depois de uma conversa reveladora, ela disse que também gostava de mim.

- E como você se sentiu?

- Sinceramente? Morrendo de medo! Tive medo de ser só mais uma ilusão, um sonho, mas mesmo assim eu tentei me entregar a esse sentimento que me arrebatava. Mas acho que fui com muita sede ao pote, deu tudo errado!

- O que deu errado?

- Tudo! Brigávamos toda hora, no fundo éramos tão diferentes, sendo que antes parecíamos tão parecidas, uma contradição só. No fim eu não sabia mais se estava feliz ou triste, talvez os dois. Fiz planos, pensei no futuro, casamento, filhos, reuniões de família, tantas coisas, acho que ela também, mas ainda assim acho que era muito cedo, pois sempre estava lá o medo de novo. Não sei se sou eu que sou muito medrosa ou se todos são assim, mas acho que não consigo lidar direito com meus medos e meus temores, eles sempre acabam tendo uma importância maior do que eram para ter. Além disso, acho que faltou conversar. No final as brigas sempre eram por pequenos detalhes que não foram ditos, que foram esquecidos, que foram descartados. Era palpável que o amor estava presente, mas ainda assim faltaram os “eu te amo”, a saudade também era visível, mas igualmente os “senti sua falta” não estavam presentes. É óbvio que todos são diferentes, pensam e agem de formas diferentes, mas acho que sobraram os “faz como quiser”, “você que decide”, “tanto faz”, “escolhe você” e “não sei”, e esses eram os mesmos causadores de tantas brigas, pois no fundo, uma esperava uma ação, que muitas vezes não veio. Faltou deixar claro os sentimentos, os desejos, as imposições silenciosas, os desgostos e até mesmo os ciúmes.

- E depois?

- Depois veio o término, doloroso, angustiante, inevitável. Sofri muito, ela sofreu muito, passei dias e noites chorando, ela também, me tornei até mesmo um pouco apática, assim como ela, não queria mais sair, comer, beber, nada. Passava os dias na cama, deitada, relembrando tudo, pensando em tudo, vendo as fotos, assistindo um vídeo mental de tudo. Tentava imaginar como teria sido se todos esses fatores tivessem sido corrigidos, imaginava como seria se não fôssemos tão diferentes, mas mesmo assim não conseguia nos ver juntas sem esses pequenos detalhes, pois assim estaríamos deixando de sermos nós.

- E agora?

- Agora consigo perceber não era pra estar tudo perfeito, não teria graça, mas não daria para suportar o caos que estava antes, no final o que nos faltava era o equilíbrio. Era dar e receber, ouvir e ser ouvida, não esquecer os pequenos detalhes, mas as vezes os ignorar mesmo lembrando deles. Deixar claro minhas vontades mesmo que a desagradassem. E acima de tudo, dizer a ela que a amava e que sentia falta dela em todos os segundos que não estávamos juntas.

- Muito bom, fico impressionada por você perceber tudo isso.

- Que bom, agora, já disse que te amo, hoje? E que senti sua falta? E que fiquei extremamente feliz de estarmos juntas novamente?

- Disse sim, minha linda, e eu também te amo demais e senti muito sua falta. Vamos jantar?

- Vamos, minha psicóloga favorita.

Fim