- Sayuri-chan, vamos brincar? – ele me perguntou sorrindo com um boneco na mão.

- Vamos Kanon-kun, eu sou a princesa. – falei com uma linda boneca de cabelos pretos e olhos azuis nas mãos.

- Ok e eu sou o príncipe e estou chegando de carro. - ele falou pegando um carro, movendo ele fazendo o som de carro.

Nós sempre brincávamos. Dávamos-nos super bem, apesar de criança eu não conseguia viver sem ele. A cada dia uma história diferente, cada dia milhões de novas descobertas, vários sorrisos, risadas, algumas briguinhas por bobagens, mas tudo era perfeito. Até aquele momento.

- Que tal nós brincarmos de esconde-esconde? – ele perguntou.

- Mas Kanon-kun, só estamos nós dois, não têm graça. – falei triste.

- Vamos, é legal sim. – ele disse me puxando e eu segui o mesmo.

- Ta bom. Eu me escondo. – falei sorrindo.

Adorei a brincadeira, apesar de ser só nós, era muito legal. Nesse dia eu estava muito feliz, nós fizemos coisas novas, rimos mais do que muitas vezes, mas eu estava sentindo algo ruim em meu peito. Um aperto no coração.

- Vamos jantar crianças! – disse minha mãe.

Fomos correndo para a cozinha, estávamos morrendo de fome, quando chegamos, nos sentamos um do lado do outro, meu pai não estava em casa, ele havia saído para ver umas coisas para o trabalho dele.

Estávamos conversando e ouvimos a porta bater, minha mãe foi até lá e abriu a mesma. Vimos que era a mãe de Kanon, ela não estava com uma cara muito boa, achei que tivéssemos feito alguma coisa de errado.

- Olá. – ela disse.

- Oi. – nós falamos sorridentes.

- Itsume quer jantar conosco? – minha mãe perguntou parando ao lado da mesa.

- Desculpe, não vou poder. Kanon... – ela o fitou.

- Sim mamãe? – ele estava inquieto.

- Filho... – ela disse caminhando, indo para trás das nossas cadeiras – nós vamos ter que nos mudar...

- Não tem problema mamãe, eu nunca estou em casa mesmo, eu gosto de ficar aqui. – ele falou sorrindo.

- Não meu filho, nós vamos nos mudar para outro estado. – ela disse meio receosa.

- Mas então nós não vamos mais nos ver? – perguntei com lágrimas nos olhos.

- Sim querida, mas não é por muito tempo. – ela disse passando a mão sobre os meus cabelos.

- Não mamãe, eu não quero! – ele disse se levantando.

- Desculpe meu filho, nós temos que fazer isso. – ela falou passando a outra mão sobre as costas dele, ainda com a mão em minha cabeça,

- Ele pode ficar aqui na minha casa, a mamãe deixa! Não é mamãe? – falei olhando para ela.

- Filha eles precisam ir... – ela falou triste.

- Desculpe Sayuri-chan, Mas nós vamos voltar. – ela disse me abraçando. – Filho, dê um abraço na Sayuri-chan e vamos.

- Mas mamãe... – ele olhou pra ela triste, ela fez “não” com a cabeça. – Ok.

Ele veio e me abraçou forte. Retribui quase chorando, mas me segurei, sem querer deixei uma lagrima cair, ele se separou de mim, mas colocou as mãos sobre o meu ombro.

- Sayuri-chan, mamãe disse que é só por um tempo. – ele limpou minha lágrima. – prometo que eu volto. Ok?

- Promete? – perguntei fitando-o. Ele fez um sinal com a cabeça de sim. – Sayonara Kanon-kun. – o abracei forte e ele retribuiu.

Nossas mães estavam chorando. Mães são muito emotivas. Mas para duas crianças, aquela cena era linda, de um casal adulto. Mas isso não durou muito, eles se despediram e foram embora, junto com eles... foi o meu coração, que estava com Kanon.

No inicio eu fiquei muito triste, mas depois de um tempo eu fiquei melhor, mais solta. Todo dia sonhava com a volta dele, uma coisa inocente, que com o tempo diminuiu, mas com a idade os sonhos ficaram diferentes. Eu não o via, mas sabia que era ele.

Nós éramos como unha e carne, inseparáveis. Eu o amava, mas eu ainda não sabia diferenciar esse amor, achava que era um amor de irmão, saudade. Os anos foram passando, eu fui crescendo... Aos 12 anos mudei meu pensamento, eu falava para mim mesmo que eu tinha que esquecer tudo, que ele não iria mais voltar.

Mais uns anos passados e minhas amiguinhas começavam a se apaixonar, “ficar”, namorar. Cada vez que eu via uma delas namorando, lembrava de meus sonhos.

Hoje em dia eu tento não lembrar, digo que é passado, que foi só um sonho. Uma coisa que nunca aconteceu. Tenho 15 anos, nesse próximo mês ele faz 16, não tenho como dar parabéns pra ele. Não tenho o endereço dele. Não sei em que estado ele está morando. Não tenho e-mail dele. Não tenho contato com ele, dês do dia em que ele se foi. Ficaram só lembranças do garotinho que eu amava, espero que um dia ele volte. Ele vai voltar. Ele me prometeu.