Fogo e Gelo escrita por Lara Campos


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Espero que tenham gostado dessa fic fiz com muito carinho
Beeijos e até a próxima ;*



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Século XV – Retorno

Desde o dia em que Peter não respondera aos chamados de Katherine ela passou a ir à casa abandonada por si só, pois sabia que seu amado não voltaria nunca mais. Um ano já havia se passado e a jovem de dezenove anos esperava ansiosamente por um objetivo em sua vida, já que seus pais diziam que se casar não seria a opção adequada para a ríspida Katherine.

Ela adentou o casarão, como fazia todas as quartas desde que ele fora embora, e se sentou no chão com um pedaço de folha na mão. Katherine começou a olhar ao seu redor e quando parou seus olhos em baixo da escada qua dava acesso ao segundo andar, ela avistou a bolinha que tanto amava quando era pequena. Se levantou e pegou a bolinha nas mãos. A lembrança da primeira vez em que encontrara Peter, aos dez anos, veio à sua cabeça e curiosamente, ela pode sentir o mesmo toque como se ele estivesse vivo dentro dela.

_Katherine – aquela voz soou em seus ouvidos e ela se virou bruscamente para lhá-lo nos olhos. Peter estava de volta -.

Sem poder abrir a boca, pois fora calada com um beijo avassalador, Katherine apenas se deixou levar pela emoção de estar nos braços do homem que ela tanto amava, e cujo amor nunca fora menor do que quando ele estava presente.

_Por quê você foi embora? – perguntou ela e soltando de seu corpo -.

_Eu não tenho uma explicação que vá te satisfazer.

_Claro que tem. Eu venho aqui desde que você se foi e fico a espera da sua volta todos os dias.

Com os olhos já marejados, Katherine o abraçou.

_Não, Katherine. Nós não devemos mais nos ver, é perigoso – disse o rapaz olhando no fundo daqueles olhos castanhos -.

_Você está louco, ninguém nos vê aqui desde que eu tinha dez anos – Katherine ria sarcasticamente ao falar -.

O olhar de pesar tomou conta dos olhos de Peter, por mais que não fossem realmente verdadeiros.

_Eu não posso ficar perto de você e estritamente dos seus pais, Katherine.

Ela permaneceu em silêncio por um breve instante e irrompeu o mesmo com um resmungo de indagação.

_Você não...

_É isso mesmo que você está pensando.

_...é um vampiro – sua boca se entreabriu em completo choque mais uma vez, e ela deixou que seu corpo caísse sentado no chão -.

Naquele instante a cabeça de Katherine girava mais do que quando Peter havia deixado-a a cerca de um ano anterior àquele dia. Ela desacreditava em suas palavras, mas ao mesmo tempo conseguia enxergar o fundo de verdade em sua expressão. Num espasmo Katherine se levantou.

_Eu não me importo com isso. Meus pais nunca saberão, nós vamos manter nosso relacionamento às escuras pra sempre.

_Não – disse ele seco e inexpressivo -.

_Não?

_Eu não amo mais você, Katherine – e saiu pela enorme porta deixando Katherine estática a procura do ar que atingiria seus pulmões -.

Ela se encolheu toda chorando e soluçando como uma criança, e, depois voltou andando para casa com a dor encasquetada em seu peito. Caminhando rapidamente Katherine limpou as lágrimas que escorriam pelo seu rosto e pousavam na parte do pano de seu vestido que cobria seu busto. Ela levantou a cabeça e já estava decidida sobre o que fazer.

“Quando Katherine quer algo, ela consegue”, já dizia Joshua Pierce, pai de Katherine. E era exatamente essa força que ela tinha dentro de si que a empurrou de volta para casa com um sorriso no canto dos lábios e uma idéia que iluminava sua mente. Ela cumprimentou seus pais logo ao entrar em casa, entrou para seu quarto e se despiu para um banho morno. As criadas a ajudaram a retirar seu vestido coberto pelo espartilho e ela afundou seu corpo dentro da enorme banheira a pensar.

Século XV – Maldito Destino

Já era noite. Katherine esperou que seus pais saissem a procura das criaturas da noite que estavam aprontando uma chacina na cidade e saiu de casa para o meio da floresta. Ela não estava com medo, em circunstância da situação, seus pais haviam prevenido-a perfeitamente dos vampiros. Ensinaram-lhe que água benta, alho e crucifixos não eram armas contra vampiros, mas sim uma erva poderosa chamada verbena – que queimava a pele dos mesmos – e estacas de madeira. Então ela se infiltrou na floresta densa e escura, pois sabia que era ali que os vampiros assistiam. Encontrar Peter era questão de honra e também um favor ao seu coração que negava em aceitar o fato de que ele havia se esquecido dela.

Katherine dava passos cuidadosos e estava sempre alarmada a qualquer movimento ou barulho. Quando estava a cerca de um quilômetro de casa, Katherine avistou uma cabana onde acreditava que Peter podia estar vivendo e se aproximou checando a presença dele dentro do local. Ela se certificou de observar cada centímetro da casa, mas não achou nada ali.

Quando Katherine estava prestes a se virar ela sentiu duas mãos frias taparem sua boca e carregarem-a para longe numa rapidez inexplicável. O medo, daquela vez, tomou conta de Katherine.

O dono das mãos que a levou soltou seu corpo e parou em sua frente. Katherine não estava enganada.

_Peter, eu...

_Shii – disse ele e olhou ao seu redor -.

_O que foi? – Katherine sussurrou em seu ouvido –

_Eles estão aqui.

No momento em que ela iria perguntar quem eram eles Peter pegou-a em seu colo e disparou a correr mais uma vez. Ele se movia tão rapidamente que Katherine sequer via algo ao seu redor, mas então, como num baque enorme, Peter parou de correr e Katherine sentiu algo perfurar sua perna. Ele estava estirado ao chão e a flecha de madeira atravessava seu coração perfurando a perna de Katherine também. Ela se desesperou e começou a gritar feito uma criança, pois não sabia se chorava e ficava ali, ou se saía em busca de ajuda.

Katherine via o rosto de Peter desfalecer e seu corpo tomar uma cor preta devido a morte instântanea de sua carne. Ela chorava cada vez mais e já estava quase sufocando entre os soluços e gritos. Tinha certeza de que já não havia mais nada a se fazer e então apenas abraçou o corpo de Peter e afundou seu rosto em seu peito.

Minutos depois, duas sombras pareciam se aproximar lentamente do local onde Katherine estava, e à medida que ela distinguía os dois rostos desconhecidos até então, sua expressão se enchia de espanto. Eram seus pais vindo ao seu encontro. Ela tinha certeza que entendia a situação a partir daquele momento: eles haviam atirado a flecha em direção a Peter.

“Quem mais poderia ser?” perguntou Katherine mentalmente.

_Katherine, é você? – seu pai perguntava desesperado ao ver a filha abraçada ao corpo do vampiro – Você está bem, minha filha?

Naquele instante Katherine quis estrangular seu pai. Ele não tinha idéia do quão odiado poderia ser pela sua própria filha.

Mary, mãe de Katherine, se aproximou também e notou o ferimento provocado pela flecha na perna de sua filha. Ela nem havia percebido que a flecha estava ali mais, pois a dor de ver Peter morto à sua frente era bem mais dilacerante do que qualquer outra. Se levantou devagar, com a ajuda de seu pai, e não proferiu nenhuma palavra até chegar em casa. Mary imaginou que sua filha estivesse em choque, mas mal sabia ela que só o que havia em Katherine naquele instante era ódio.

Katherine foi atendida por um médico no meio da noite e se deitou logo a seguir. Ela não conseguiu pregar os olhos durante toda a noite, por isso ouviu seus pais discutirem no quarto ao lado. Pelo que Katherine pôde ouvir eles estavam decidindo se deviam ou não passar o legado da família para ela. A dúvida lhe agradava.

Já pela manhã, ainda sem dormir, Katherine foi despertada por Annie batendo a sua porta e a chamando para o café da manhã. A criada lhe ajudou a vestir o vestido e as duas desceram a escadaria em seguida. Katherine se sentou a mesa junto aos seus pais, manteu sua boca fechada e comida intocada. Sua cabeça girava num turbilhão de imagens e lembranças da noite anterior, o que a corroía por dentro.

Sem saber ao certo se devia ou não, Katherine se levantou da mesa indo em direção a porta de saída.

_Katherine! – gritou sua mãe, mas ela já estava longe demais para escutá-la.

Século XV – O Fim

_Tem certeza de que quer isso garota? – perguntou o homem cujo olhos azuis brilhavam diante do Sol -.

_Ela é só uma rebelde que não quer se casar com o principezinho burguês que os pais escolheram pra ela, David.

Katherine avançou no homem cujas palavras proferidas vieram numa hora não tão agradável e bateu as mãos em seu peito. Seu corpo sequer se mexeu, mas seus olhos tomaram um vermelho escuro de repente que alarmou Katherine. Ela tentou dar passos para trás, mas já era tarde demais. Mesmo que ela ainda não soubesse o que fazer, já não podia mais evitar a decisão que tomara.

Jonh mordeu seu pescoço e sugou seu sangue sem piedade. Katherine sentiu seu corpo fraco se chocar contra o chão enquanto David estendia seu pulso cortado para que ela ingerisse seu sangue. A transição precisava ser feita, ou Katherine morreria gradualmente.

Sem saber ao certo onde estava, Katherine abriu os olhos e viu ao seu redor a cabana onde achava que Peter estivera na noite anterior. Sua noção de tempo estava perdida também, por isso ela sequer sabia se seu amado havia partido na noite anterior mesmo, talvez dias e dias estivessem se passando enquanto ela esteve deitada naquela cama esperando que seu corpo se recuperasse.

_Katherine? – perguntou David e estendeu sua mão para que ela se levantasse -.

_Eu já me... – ela gaguejava – já me transformei?

_Já sim – Jonh e David se entreolharam e o outro homem que estava ao lado dos dois lancou-lhes um olhar repreensivo – Na verdade ainda falta uma parte da transição.

Katherine parou seus olhos no rosto do homem misterioso que estava na cabana e apenas mudou de assunto.

_A quantos dias estou aqui?

_Quatro dias, sem comer – Jonh enfatizou as duas útimas palavras -.

_Katherine – David começou – A última fase da transformação é a mais complicada.

_E qual seria essa fase? – perguntou Katherine temerosa -.

_Você tem que tomar o sangue humano. E na maioria das vezes, vocês, novatos, não se controlam e acabam matando as pessoas cujo sangue sugam.

Katherine entreabiu sua boca ao ouvir as palavras de David e Jonh sorriu ao ver a expressão dela.

_O que foi, garotinha rebelde? Acha que vampiros sobrevivem de que? Está com medo?

Katherine revirou os olhos e parou os mesmos no rosto de Jonh.

_Medo é algo que não consta no meu vocabulário. Nem mais nada relacionado a sentimentos.

Todos olharam-na assustados. Katherine não expressava nada. Seu rosto era como uma imagem oca de algo que já havia sido preenchido por sentimentos um dia. Ela se levantou e saiu da cabana sem dizer nada a ninguém. Foi em direção à casa dos pais e esperou até a noite em frente à fachada da casa. Annie deixou a casa e Katherine pôde ouvir seus pais ordenando-a que falasse com o responsável pela região para que eles procurassem por Katherine.

Já era noite. Annie ainda não havia voltado e todos os criados estavam do lado de fora da casa cuidando do quintal. Katherine passou pelos fundos da casa sem que ninguém notasse sua presença e abriu a porta. Curiosamente algo não permitia sua entrada. Era como se houvesse uma barreira invisível que não permitia que Katherine ultrapassase os limites da casa. Irritada ela fechou a porta e foi em direção à janela para bisbilhotar o interior da casa. Seus pais estavam apreensivos sentados no sofá da sala.

_Acho que é melhor assim – disse Joshua -.

_É melhor o que? – perguntou Mary -.

_Katherine.

Sem ouvir mais nenhuma palavra Katherine se afastou da casa e foi até o galpão onde seus pais deixava os cavalos. Ela pegou um dos castiçais que iluminavam o local durante a noite e carregou-o consigo. Andou até a mesma janela onde havia visto seus pais conversando e bateu na vidraça para que eles a vissem. Seu pai correu até onde ela estava do lado de fora da casa, mas antes que ele pudesse chegar a falar com Katherine, ela atirou o castiçal contra a enorme cortina de pano que cobria a janela e a casa começou a ser devorada pelo fogo.

Seus olhos brilhavam e um sorriso de canto se instalou em sua boca.

“Eles levaram o troco, Katherine” ela disse a si mesma e saiu andando como se nada tivesse acontecido. Ela não era mais um ser provido de emoções e nem mesmo amor por qualquer um que estivesse a sua volta. Alguns deles haviam despresado-a e outros haviam despresado o amor que um dia existiu dentro dela.

Século XV – Confissão

Katherine se levantou e estava rodeada por criados. Ela havia mantido os mesmos trabalhadores da sua antiga casa em sua nova, através da manipulação que agora ela conseguia executar perfeitamente.

Seus olhares pesarosos explicitavam algo muito ruim. Esfregou os olhos com as mãos ainda preguiçosas, permitiu que um bocejo escapasse mesmo depois de 12 horas de um sono profundo. Retirou o enorme e pesado cobertor de cima de seu corpo e jogou o robe que cobria sua pele sobre a pequena escrivaninha de madeira ao lado de sua cama. Duas peças cobriam seu corpo: um espartilho vermelho-sangue um pouco afrouxado e um colar rústico. Pequenas fitas de couro enrolavam a corrente do pequeno colar que segurava uma pedra tingida de um azul-escuro - Lápiz Lazzuli - .

Annie, sua criada mais próxima, lhe estendeu uma toalha e acompanhou seus passos até a banheira de pedra.

_A senhorita já soube? – Annie olhou no fundo dos olhos de Katherine e lhe estendeu a mão para que ela pudesse adentrar a enorme banheira que estava preparada com óleo de rosas -.

_Sim – Katherine passou seus pés pelas laterais da banheira e inundou seu corpo sob a água morna por um segundo – Foi eu quem o fez – disse ela voltando até a superfície e suspirando aliviada por não carregar mais o fardo de ter pessoas que a amavam ao seu redor -.


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Notas finais do capítulo

eai? u.u