- Se eu me apaixonar por você, promete ser verdadeiro? – Ela perguntava com lágrimas ameçaçando cair de seus olhos esverdeados - E me ajudar a entender? Pois eu já amei antes e eu acho que amor é mais do que apenas dar as mãos.

  A chuva caia sobre os dois num ritmo violento, apática a cena que estava a se desenrolar por cima dos rostos esculpidos a vigiar toda a vila. A jovem de cabelos rosados permanecia parada a sua frente, com o corpo visivelmente buliçoso e as roupas já ensopadas grudadas em seu corpo magro. Seu rostinho denunciava a incerteza e a fraqueza que sentia apesar de permanecer com o olhar firme sobre ele, não fazendo nem menção de desviá-lo. Revirou inutilmente sua cabeça a procura de boas palavras para acabar com aquele silêncio duvidoso que deixou pairar no ar. Queria achar um bom modo de reconfortá-la, de lhe mostrar que não estava tudo acabado.

  O corpo pálido do moreno permanecia inerte aos seus pés, com uma kunai a lhe atravessar o peito e o último sangue Uchiha escorrer silencioso. Havia acabado de matar Sasuke depois de uma avassaladora e disputada luta. Aquilo lhe partia o coração de um modo destruidor, mas sabia que era o certo a se fazer. Sakura também sabia. Ou pelo menos deveria saber.

  Mas sentia que estava sendo doloroso pra ela assistir o homem que amou durante quase todos seus dezoito anos de vida dar seu adeus ao mundo daquele jeito, mesmo que o sentimento sempre tenha partido apenas dela. Sempre se perguntou como uma moça tão bonita e inteligente como Sakura pode se deixar perder naquele amor sombrio e sem futuro. Ele sempre esteve ao seu lado, deixando seus sentimentos pela rosada expostos para quem quisesse ver. Por que Sasuke, então? Talvez a razão de tudo isso seja algum tipo de atração doentia que Sakura sentia por sofrimento.

  Agora ela parecia estar brincando com ele, falando sobre um amor que dessa vez não envolvia Sasuke. Ele a amava, era verdade. Mas não queria apenas servir como um substituto. Queria um amor sincero, puro e sem máscaras por ambas as partes. Seria pedir demais? Seria pedir demais um pouco de compaixão da força misteriosa que decide os rumos das coisas? Ele sentia como se Deus jogasse dados com sua vida. Aquilo era agonizante.

 Ela permanecia a lhe olhar, agora sem segurar as lágrimas. Aproximou-se de Naruto com passos rápidos e decididos, segurando fortemente o tecido de sua camisa e fazendo menção de gritar alguma coisa. Mas ao invés disso baixou a cabeça lentamente e a balançou negativamente como se discordasse da vida. Seus lábios cerraram-se e seu corpo despencou em câmera lenta sobre a pedra molhada da escultura de Minato, como se não agüentasse nem ficar mais em pé. Soluços baixos e sofridos começaram a escapar de sua boca avermelhada, fazendo Naruto por um breve momento se sentir mal por ter vencido a luta.

- Se eu lhe der meu coração preciso ter certeza desde o início que você irá me amar mais que ele – Ela sussurrou em meio aos soluços incensáveis, sem levantar o rosto para lhe olhar - Se eu confiar em você... 

  Ele permanecia parado e com a expressão sofrida, escutando as confissões confusas de Sakura e tentando não criar expectativas com aquilo tudo. Continuava a chover forte e agora podiam-se ouvir trovões barulhentos, porém nada daquilo chegava em seus ouvidos. Para ele tudo permanecia em um profundo silêncio, representando perfeitamente o vazio que agora sentia. Ela estava literalmente jogada aos seus pés, completamente destruída por dentro. Queria lhe envolver em um abraço protetor e sussurrar baixinho em seu ouvido: está tudo bem, Sakura-chan. Mas não conseguia. Infelizmente não conseguia. E então abruptamente aqueles olhos verdes e um pouco inchados voltaram a lhe fitar, mas agora com um ar espectral. 

- Se eu confiar em você – repetiu, fortificando a entonação – Por favor... Não corra e se esconda se eu amar você também. Não fira meu orgulho como ele.

  Ela chorava de um modo que conseguiria arrancar compaixão até do coração mais gélido. Era inacreditável como continuava linda e aprumada até naquele estado. Ele se ajoelha e segura seu queixo, aproximando seu rosto do dela de um modo que fosse quase impossível de desviar o olhar.

- Eu não aguentaria a dor e eu ficaria triste se nosso novo amor fosse em vão – Ele diz, com uma expressão séria e ao mesmo tempo serena.

  E por alguns segundos que em suas mentes foram semelhantes a horas, os dois ficaram apenas se olhando, quase que em uma analise minuciosa de seus rostos. Então, com muito cuidado, Naruto aproximou sua boca até aqueles lábios que exalavam um ar de libidinagem natural, envolvendo sua língua na dela.

- Então eu espero que você veja, que eu adoraria amar você – Ele diz e sorri em meio aqueles beijos que, de sua parte pelo menos, ele tinha certeza serem apaixonados e verdadeiros.