Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Betado por Fabi Washu e Ziegfriedaenslaed



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Olhar estupefato, seguido por seu coração que disparava descompassadamente, fazendo seu sangue ferver. Era a raiva que comandava seus pensamentos, logo substituído por uma sensação há muito sufocada dentro dela.

O fato era que, lady Julie Dawes estava presa aos braços de um sedutor estrangeiro. Um homem sem escrúpulos determinado a comprometer sua enteada com seu irmão a qualquer custo... presa a um beijo avassalador, e que estranhamente, a raiva havia cedido momentaneamente, e ela estava apreciando as estranhas sensações que estava sentido.

O hálito perfumado, o perfume de lavanda que exalava de sua pele, os lábios mornos exigentes.

As mãos de Saga que apertavam seus braços agora afrouxavam, e até se arriscavam a soltar-lhe, e a envolveram suavemente. Tal gesto parecia uma carícia, e quando uma das mãos subiu-lhe até a nuca, segurando-a em seus cabelos, brigando com o coque comportado que insistia em atrapalhar-lhe na tarefa de sentir a maciez de seus fios ruivos, sentiu a baronesa apoiando as mãos em seu peito e o empurrar com todas as forças que ainda possuía.

Saga a olhava atônito, mais pelo o seu gesto de ter beijado a baronesa, e apreciado imensamente isso, do que pelo olhar furioso que ela lhe direcionava no momento.

-Como...como...-as palavras não saiam dos lábios dela. Ela estava tremendo. O grego achou que ela iria desfalecer diante dele.-Seu cretino miserável filho da uma meretriz pervertido!

Neste momento, quem não tinha palavras era Saga. Nunca imaginou ouvir tantas imprecações vindas de uma dama, ainda mais uma baronesa! Parecia uma taverneira ao desferir uma nova série de palavrões que nem ele ousava dizer, sobre as mães de outras pessoas.

-Não acredito que beijei esta boca!

-Não acredito que ousou me agarrar desta maneira sórdida!-ainda indignada.

-Uma dama nascida em berço de ouro não falaria deste modo.-ele sorri ao ver o rosto dela empalidecer.-Parece que a senhora é muito mais do que aparenta.

-Não faz idéia do quanto, senhor Saga Tassouli.-ela diz fitando-o desafiadora.-Não iria querer me ter como inimiga.

-No momento, não é deste modo que eu gostaria de tê-la.-falou com ar sedutor, fazendo-a retroceder um passo.

-Vai se arrepender.-murmurou saindo de perto dele, caminhando na direção onde Amanda e Kanon haviam seguido.

-Certamente irei jantar em sua casa, minha querida!

Saga falou em voz alta, para que outras pessoas ouvissem, fazendo a baronesa estancar o passo um momento e em seguida, sem olhar para trás, retomar o caminho.

Sorrindo Saga faz um gesto de cumprimento a alguns cavalheiros como se nada houvesse acontecido e caminha na direção de um certo grupo de testemunhas formado por Milo, Kamus e os irmãos Petronades. Todos com expressões de espanto pelo o que ocorreu.

-O senhor é muito ousado!-dizia Milo.

-Diria imprudente!-resmungou Kamus.-Sabe que o seu ato trará consequências àquela dama?

-Sim, eu sei. Mas...-ele deu os ombros.-Ela conseguiu minar minha paciência! Perdoem-me.

-Creio que deveria pedir perdão a ela, meu caro.-frisou Kamus.

"Nem em meus pesadelos", pensou Saga.

-Certamente eu o farei.-respondeu-lhe polidamente.-E farei isso o mais breve...

-Com licença.-um jovem com uniforme militar os interrompe, com um ar imponente, dirigindo-se a Saga. Ele estava acompanhado de outros dois rapazes, sérios.-Sou Frederick Werder. Gostaria de lhe propor um convite cavalheiro.

-Convite?-o grego estranhou, não conhecia o rapaz.

-Como vai seu pai, o General Werder, Frederick?-Milo pergunta, recebendo um sorriso amistoso do rapaz.

-Muito bem, obrigado senhor Alessandros.-depois fita Saga com seriedade.-Esgrima? Hoje às treze horas no salão de jogos?

-Claro.-aceitou, achando normal. Afinal estava em um clube entre cavalheiros.

-Não se atrase.

Dizendo isso se afastou. Saga virou-se para continuar sua conversa com Kamus quando outro rapaz se aproximou, mas com uma expressão furiosa em seu olhar.

-S-senhor! E-eu o d-d-desafio para u-u-uma luta de E-e-esgrima hoje! Às treze horas no salão.

-Adoraria, mas as trezes horas eu tenho uma luta com outro rapaz. Que tal se...

-Às quatorze horas então.-tirou a luva e acertou o rosto de Saga em cheio.-N-não ouse se atrasar.

Saiu de lá pisando duro, diante dos olhares atônitos de todos.

-O que foi isso?-Saga indignado.

-Acho que foi desafiado a um duelo.-respondeu Aiolia, divertindo-se.

-Percebi isso...e por um gago!

-Lorde McCarter é escocês. Tem este problema com a fala mas...-Milo balançou a cabeça negativamente.-Ele é um admirador da baronesa.

-O que?

-Campeão de Esgrima da Escócia. Não é mesmo, Kamus?

-Sim. Desde a universidade.-respondeu o outro.-Como Frederick, também um admirador.

-Não. Apaixonado por ela. Mesmo recusado, ainda tinha esperanças de conquistá-la.

-Acho que eles deduziram que você, meu bom amigo...estragou seus planos de tentar conquistar a baronesa.-disse Aiolos, batendo em seu ombro.

-Olha lorde Edgerton se aproximando.-Apontou Milo, escondendo o sorriso.

-Senhor!-falou o homem, com um bigode estranho e postura pomposa, se apoiando em uma bengala.-És o plebeu que os criados do clube afirmaram estar intimamente ligado a baronesa de Blackmoore?

-Hã?

-Ora...é tão difícil lidar com esta gente! Perry!-um homem magro apareceu rapidamente ao lado do seu senhor.-Faça o desafio formal, sim? Este sol está me matando e tem que preparar meu almoço.

-Sim, lorde Edgerton.-o homem se aproxima de Saga e esbofeteia com a luva.-Meu senhor o desafia para um duelo esta tarde, após o almoço, no salão de jogos. Ele prefere a esgrima, apesar de ser campeão de tiro e de boxe. Ele o fará para provar a todos que é melhor que o senhor e com isso, ganhar a admiração de sua futura amada, a baronesa de Blackmoore. Alguma objeção?

-Nenhuma.-esfregando o rosto dolorido.-Apenas que disponho de tempo livre para o duelo somente após as quinze horas.

-Que seja às quinze horas, Perry. Quero terminar isso antes da hora do chá.-suspirou o nobre com tédio.-Vamos Perry.

-Sim, milorde.

-Perry!-Saga o chamou. E assim que o criado se virou, recebeu um golpe duríssimo com a luva de Saga...acompanhada de sua mão.-Diga ao seu milorde, que o desafio foi aceito.

-Sim...ai...senhor...-saiu, esfregando o queixo dolorido.

Saga virou-se para os cavalheiros, que de maneira nada discreta, tentavam segurar o riso.

-Nem uma palavra!-pediu, já mal humorado.

-Senhor?-uma voz masculina o chamou e Saga suspirou irritado, virando-se para fitar quem o chamava.-Acalme-se. Oh, olá Alessandros... Visconde de Chanttél há quanto tempo!

Os rostos dos dois amigos tornaram-se sérios, fato este notado pelos demais. Saga reparou melhor no inglês. Deveria ser mais velho que ele, mas possuía um rosto jovial e um sorriso que o grego identificou logo ser dissimulado. Olhos azuis, frios e um bigode pequeno tão loiro quanto os seus cabelos.

-Não tanto tempo assim, Sutcliffe.-responde Kamus.

-Ora, vamos. Os boatos sobre meu nome ainda o incomodam, Visconde?

-Se forem realmente boatos.

-Acho que deveria se retirar Sutclife.-diz Milo, nada amistoso.

O inglês dá um sorriso, como se achasse graça no comentário do grego e o ignora, voltando sua atenção a Saga.

-Creio meu caro amigo que ...-ele o olha da cabeça aos pés.-É um homem indigno de cortejar uma dama de sociedade e com um título de nobreza como a baronesa. Soube que é um homem de negócios apenas.

-E isso me torna inferior a um nobre?-Saga indaga com um sorriso irônico.

-Creio que sim.-o sorriso de Sutclife desaparece dos lábios e neste momento Saga tem certeza de que ele é um homem perigoso.

-Creio que deveria dizer que sua opinião não me interessa. Como percebeu, ou viu pelo beijo que trocamos, que a baronesa e eu temos algo mais do que um simples flerte.-respondeu Saga com um sorriso vitorioso.

Sutclife ficou lívido, incomodado pelo comentário e depois pigarreou, recuperando a postura.

-Esta notícia irá partir muitos corações esperançosos. Mas, como dizem...venceu o melhor!-ele sorriu de maneira perigosa. Saga sentiu-se diante de uma serpente.-Para demonstrar que sou uma pessoa de boa índole, e não guardo rancores, eu o desafiarei para um jogo amistoso de cartas, após um delicioso jantar no White's. Quero saber mais de suas intenções com minha bela amiga.

-Ela nunca foi sua amiga, Sutclife.-responde Milo ficando ao lado de Saga.

-Fui sócio e amigo de seu falecido marido. Sabe que tenho grande apreço por aquela digna senhora.

-Engraçado. Soube que o barão havia desfeito a sociedade...por que será que fez isso mesmo?-Milo ficou com ar pensativo.

-Acho que é porque o barão descobriu que o estava roubando.-respondeu Kamus.-Retire-se do clube, Sutclife.

-Tornou-se dono deste lugar, Visconde?

-Há cerca de seis meses atrás...sim.-respondeu o francês.-Ao menos de 35% deste lugar. Vamos nos retirar, cavalheiros?

Todos concordaram, se afastando de Sutclife que permaneceu imóvel e com um sorriso nos lábios.

-Inacreditável!-suspirou Milo indignado.-Ele teve coragem para voltar a Londres!

-Deve achar que por passarem alguns anos, todos esqueceriam o que fez.-comentou Kamus.

-Perdoe-me minha indiscrição. Mas o que este Sutclife fez que mereça tanto desprezo por parte dos senhores?-perguntou Saga.

-Vamos beber uma boa taça de vinho, e lhe direi tudo.-disse Milo.

-E discutiremos sua atitude com a baronesa também.-diz Kamus, com o olhar sério sobre Saga.-Afinal, acabou de dizer diante de nós que assumiria algo a mais com a baronesa. E espero que isso envolva proteger e reputação dela!

-Er...claro meu caro Visconde! O que mais seria?

Saga sabia que havia se comprometido mais do que devia ao ter dito isso e deixado às coisas se descontrolarem. Culpou a baronesa pelo o que estava havendo. Malditas sejam as ruivas que o tiravam do sério! Por que perdia seu autocontrole que tanto prezava diante dela? Sentiu a presença de Aiolos e ele murmurou ao seu lado:

-Espero que isso seja parte de seu plano, Saga.

-Eu também espero...-suspirou o grego.

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Em outro ponto do clube, um jovem casal caminhava por entre as alamedas dos gramados verde-esmeralda do clube, a jovem com um sorriso, as faces coradas. Ao seu lado, um rapaz de longos cabelos azulados, presos a uma fita, a olhava com admiração.

-Fico feliz em revê-la, senhorita Amanda.

-Digo o mesmo senhor Tassouli.

-Kanon...-ele a corrigiu.-Me chame de Kanon, por favor.

-Claro...Kanon.

Começaram a caminhar por um jardim que lembravam um enorme labirinto, cuidadosamente podado. Algumas pessoas circulavam pelo lugar, a maioria se dirigindo ao clube para o horário do almoço que se aproximava.

-Sei que é a filha de um barão e eu sou apenas um...comerciante.-hesitou ao completar a frase.-Mas quero que saiba de algo, senhorita Amanda. Não importa o que digam, tem despertado sentimentos sinceros em mim pela sua pessoa.

-Isso quer dizer o que?

-Que... desejaria casar-se comigo?

A moça ficou imóvel, encarando o rapaz com os olhos demonstrando surpresa pela pergunta inesperada. Depois deu um longo suspiro como se o ar houvesse sido retirado de seus pulmões e devolvido abruptamente.

-Senhorita?

-Desculpe, eu...Oh, Deus...

-Meu pedido a desagradou?

-NÃO! Não é isso!-tratou de se recompor e dizer o que queria realmente responder a ele.-É que eu não esperava tal pedido! Geralmente...

-A cortesia exige que eu faça o pedido a sua família antes, eu sei. Mas eu não pretendia me apresentar ao seu tutor sem antes saber se é de seu desejo vir a se casar comigo.

-Claro que quero!-sorriu, emocionada.

Kanon pegou a mão de Amanda com delicadeza e a beijou.

-Não imagina o quanto ansiei por estar em sua companhia novamente senhorita Amanda...-dizia, se aproximando mais dela.

-Eu...-olhos brilhavam, seu coração disparou com a proximidade dos corpos.

-Sabe que anseio sentir o doce sabor de seus lábios?-mais próximo ainda.-Feche os olhos Amanda...

Amanda obedeceu, erguendo suavemente o rosto, esperando pelo beijo...seu primeiro beijo. Kanon notou a ansiedade e a inocência da jovem e isso fez seu sangue ferver mais. Desejava, ansiava, precisava sentir o gosto daqueles lábios róseos. Então, cerrou os olhos e se aproximou mais...até seus lábios tocarem em uma superfície salgada e áspera.

Kanon abriu os olhos e se deparou com a cena de sua boca estar beijando o rosto de um homem magro, de tez morena e olhar enfadonho.

-IGOR!?-Amanda gritou surpresa, com as mãos na boca.

-O que eu não faço para cumprir minhas promessas...-suspirou o mordomo.

-GAAAAAAAAAHHHHH!-gritou Kanon, assustando os animais próximos e alguns transeuntes.

Kanon se apoiava em uma estátua, enquanto cuspia, tentando tirar o gosto da pele do mordomo de Amanda da boca.

-Igor, o que faz aqui?-perguntou Amanda, com as mãos na cintura.

-Protegendo sua inocência?-com as mãos nas costas e mantendo o mesmo olhar de tédio.-Na verdade, senhorita...procurava por Lady Dawes e me deparei com esta cena.

-Seu...-Kanon respirou fundo e ajeitou a gravata e o terno antes de encarar o mordomo.-Perdoe-me se pareceu que eu tentava...

-Se aproveitar de uma jovem recém saída de um colégio e que desconhece as malícias deste mundo?-respondeu o mordomo. Kanon ficou estático.-Está perdoado.

-Igor...saiba que ele pedirá a minha mão a meu primo e a Lady Dawes!-exclamou Amanda.

-Ôh...então devo desejar boa sorte ao cavalheiro?-sorriu de modo ameaçador a Kanon.-Desejo-lhe sorte com a família Dawes...vai precisar, cavalheiro.

-Glup...

-Está tentando assustá-lo, Igor?-Amanda pergunta, cruzando os braços.

-De modo algum, senhorita.-ar inocente.-Poderia me acompanhar até lady Dawes, senhorita Amanda? O assunto que tenho a discutir com ela é deveras urgente.

-Claro.-suspirou, vencida. Em seguida aproximou-se de Kanon.-Creio que preciso ir.

-Poderei ter o privilégio de sua companhia mais tarde, minha lady?-pegando em sua mão e ouve um pigarro, Igor estava ao seu lado.-Sem sua sombra?

Amanda riu sem graça.

-Talvez...

-Irei ver seu primo hoje mesmo, para pedir permissão para a corte.-se com muita elegância e beijou a mão de Amanda.- Até logo, Amanda. Espero vê-la em breve.

-Eu também espero.-sorriu.

-Eu também.-disse Igor com um sorriso, se afastando e praticamente levando Amanda consigo.

Kanon ficou parado, com um sorriso amável em seu rosto e permaneceu ali até Amanda sumir de seu campo de visão.

-Maldito filho de uma...-praguejou chutando uma pedra.-Eu quase a beijei!

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Nos estábulos do Clube, Carla e Louise admiravam os belos animais que estavam sendo cuidados pelos tratadores.

-... está mais parrudo que o costume!-comentou Louise, tocando no focinho de seu cavalo e lhe dando uma maçã.

-Creio que está levando uma vida de sultão aqui.-brincou Carla, tocando em seu pescoço.

-Sim.-sorriu.-Tem cavalos mais lindos que os puro-sangue Árabes?

-Os do castelo do Imperador são mais belos!-uma voz masculina conhecida para Carla chamou-lhes a atenção. As moças encararam o rapaz com traços orientais.-São brancos como a neve pura do inverno mas possuem a força de uma tempestade.

-Quem?-Louise ficou sem entender.

-Senhor Amamiya! O que faz aqui?-Carla estava surpresa em revê-lo e nem notou o ar surpreso e curioso da irmã.

-Fico surpreso que tenha se lembrado de mim, senhorita Baker-Sneed.-inclinou levemente a cabeça em cumprimento.

- Baker-Sneed?-Louise sussurrou, olhando para Carla como se procurasse respostas.

-Louise, este é um amigo que fiz na festa da Viscondessa de Chanttél. Senhor Amamiya esta é minha amiga Louise.

-Muito prazer senhorita.-faz uma reverência.

-Não respondeu a minha pergunta.-ela sorriu, encantada pelo jeito dele.

-Sou o criado pessoal de um convidado do clube. Meu patrão está em viagem de negócios a seu país. Eu a vi se aproximando dos estábulos e confesso que não resisti a tentação de cumprimentá-la.-respondeu com naturalidade.

-Adoramos cavalos.-respondeu Carla.-Principalmente Louise.

-Você falou que os cavalos do seu Imperador eram mais lindos que os dos ingleses?-perguntou com ar de provocação, acariciando o focinho do animal.-Discordo. Este aqui é um campeão!

-Concordo que seu cavalo seja um magnífico animal!-disse o japonês se aproximando.-Mas os cavalos do Imperador são animais criados para serem belos aos olhos, refletindo a magnitude, nobreza de nosso Império e a força em um campo de batalha.

-Você viu estes belos animais de perto?-Louise admirada.

-Nunca vi o castelo do Imperador do Japão por dentro, mas lembro de uma bela manhã de primavera, quando as cerejeiras estavam em flor, que o Imperador desfilou com seu exército após voltar de uma batalha. Eu era apenas um menino e meu irmão mal havia aprendido a andar. Entre os honrados samurais que serviam ao Imperador e o acompanhavam em seu cortejo estava o meu p...

Parou de falar ao notar que falara demais.

-Perdão, minha conversa as entediou?

-Nossa!-Carla sentiu-se sem ar.-Você fala de seu país com tanta paixão!

-Estou longe de casa há muito tempo. Sinto falta de meu lar, meu irmão...

-De alguma noiva?-Louise perguntou sonhadora.

-Louise!-Carla a repreendeu.-Que pergunta indiscreta!

-Ora, seria tão romântico uma noiva esperando a volta de seu amado.-suspirando.

-Não há prometida me esperando, senhorita.-respondeu Ikki.-Devo me retirar. Meu patrão pode estar querendo ir embora.

Ele faz uma reverência, mas sem tirar os olhos de Carla que sentiu o coração bater mais acelerado. E o viu se afastando aos poucos, e em seu íntimo a notícia de que não haveria noiva ou prometida a Ikki Amamiya a agradou.

-Ele é diferente.-comentou Louise.

-De tudo o que eu já vi.

-Ele não me parece ser um simples criado!

-O que disse?

-Ele tem modos de agir e falar dignos de um cavalheiro. Não de um simples criado. Dá para ver claramente que ele teve uma educação exemplar!-falava com ar de quem é entendida no assunto.

-Agora que você disse...tem razão.-Carla ficou pensativa.-Quem seria Ikki Amamiya realmente?

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Southampton.

Annely desviou o olhar das compras que ela fazia com a Senhora Kemple e sua irmã Luna, ao ouvir o nome do Visconde de Chanttél ser pronunciado por algumas senhoras deslumbradas. Ela ajeitou os óculos sobre o nariz, tentando disfarçar que isso a incomodava.

-Então, soube dos últimos comentários dos nobres?-uma delas perguntou ansiosa.

-Claro Beatrice. Afinal, é do interesse de Southampton o que acontece com os nobres da nossa região, não é verdade? Quem nasceu, quem morreu e quem irá se casar.-dizia a esposa do vigário, a senhora Sheldon, cuja língua afiada era amplamente conhecida também.-Em minha última visita a Londres, quando visitei minha prima Elizabeth por ocasião do casamento de seu filho mais moço, soube que a Viscondessa de Chanttél está empenhada em conseguir uma esposa digna a seu único neto.

-Jura?-uma delas lançou um olhar discreto a Annely, mas percebido por ela.-Fico imaginando quem seria a pobre moça a ser iludida por ele hoje em dia.

-O que está falando senhora Hadwell?-uma indignada Sheldon perguntou.

-Ora, sabem muito bem do que falo.-baixou o tom de voz.-Ele iludiu a pobre filha do doutor Hopkins. Tanto que ela não conseguiu se casar até hoje!

O som de um pote de melado sendo derrubado e despedaçado ao chão as assuntou. Annely olhou para aquelas senhoras com raiva e em seguida recuperou a compostura, saindo da loja.

A senhora Kemple as fuzilou com o olhar, pegou as compras e saiu devagar, passando pelas senhoras e dizendo com naturalidade.

-Pelo menos não foi a filha do médico que se casou às pressas com o filho do padeiro devido a uma...condição estranha, não acham?-comentou, se referindo à filha do meio da senhora Hadwell, que se casou às pressas para tentar ocultar o escândalo de ter se casado grávida.

A dita senhora Hadwell ficou lívida, chegando a perder o fôlego. Tal assunto ainda a deixava com os nervos a flor da pele. A senhora Kemple exibiu um sorriso e saiu acompanhada de Luna que segurava o riso.

Do lado de fora a boa senhora expôs toda a sua indignação.

-Como ousam difamar minha menina desta maneira? Estas mal amadas! Deveriam olhar para o próprio teto antes de atirar pedras!-bufava.-Não faltaram pretendentes a minha menina!

-Que adianta pretendentes se Annely os espantou a todos?-queixava-se a menina.

-Ora, Luna! Até você?

-Não pode me culpar, senhora Kemple! O fato é que papai fez aquela promessa no leito de morte de mamãe de que jamais nos obrigaria a casarmos com quem não queremos, mas prometeu também que casaria Annely primeiro! Se ela não casar...eu não caso!-cruzou os braços indignada.-Isso não é justo!

-E não é justo que queira que sua irmã se case e seja infeliz, quando não é o que ela quer, Luna.-a boa senhora suspirou.-E se conversarmos com o vigário para que ele possa persuadir seu pai a permitir que seja cortejada?

-Faria isso por mim?-perguntou cheia de esperanças.

-Claro que sim. Vamos, temos que preparar o almoço e ...onde está sua irmã?-olhando para os lados, tentando encontrá-la.

-Aonde mais, senhora Kemple? Se Annely não está em casa escrevendo ou espantando algum pobre pretendente que papai conseguiu, está naquele riozinho que corta a propriedade dos Chanttél.-respondeu a moça suspirando.

E como a caçula previu, era para lá que Annely Hopkins caminhava. Passando pela velha estrada, já coberta pelo mato pela falta de cuidado dos últimos anos.

Somente garotos iam até o rio para pescar quando tinham tempo livre, ou a filha do médico que todos consideravam excêntrica com suas manias de leitura e sua rejeição aos pretendentes trazidos pelo pai. Ninguém compreendia porque ela preferia ficar a beira do rio, perto das rochas, local preferido pelos pescadores mirins, apenas observando os meninos, perdida em pensamentos.

Era ali que Annely passou os melhores momentos de sua vida...e também foi ali que ela corria para chorar quando não queria ser vista.

Seus pensamentos foram longe, ao se aproximar da macieira cuja sombra era velha conhecida e tocou nas iniciais entalhadas em seu tronco...K e A entrelaçados...Kamus e Annely.

Fechou os olhos, lembrando deste dia. Kamus tinha seus vinte anos, e Annely apenas quinze. Ele estava entalhando suas iniciais no tronco e sorriu, mostrando a ela o seu trabalho.

-K e A?-tocou nas iniciais.

-Nossos nomes.-respondeu o rapaz, e viu a garota dar uma risadinha e perguntou preocupado.-O que foi?

-Nunca imaginei que você pudesse fazer algo tão romântico.-ironizou.

-O que? Achou que eu faria algo como...-a pega pela cintura, dando-lhe um beijo apaixonado, longo, exigente. Após o beijo a fitou sorrindo sedutor.-Isso?

-Hmmm...algo assim.-sorriu enlaçando-o pelo pescoço.

-Case-se comigo.

-É um pedido?

-Sim.

-Me pareceu uma ordem.-o fitou com expressão fingida de raiva.

-E uma ordem. Ordeno que se case comigo Annely Hopkins, e se torne a Viscondessa de Chanttél, e me agüente pelos próximos cinqüenta anos.

-Só cinqüenta anos?-riu, e depois ficou sério, alisando a casaca dele.-Sua avó não consentirá que se case com uma garota sem dote ou nome.

-Eu decido quem eu quero como minha esposa. É ao meu lado que ela se deitará, não ao lado de minha avó.-ela riu de novo.-Adoro ver seu sorriso.

-E eu o seu. Apesar de serem raros!

-Só você tem tal privilégio.

-Convencido!

-Tenho que ser.-beijou o pescoço alvo da jovem, causando-lhe arrepios.-Vou me casar com a moça mais bela de Southampton.-a pressionou contra a árvore e Annely sentiu toda a rigidez do corpo másculo do Visconde contra o seu, tão pequeno e delicado próximo ao dele.-Aquela que quero para a eternidade.

-Eu te amo, Kamus...-beijou-o novamente, sentindo toda a paixão dele naquele instante.

As mãos do Visconde tocavam a cintura delgada, descendo pelos quadris, mas hesitando e se afastando, como se temesse ofende-la com o gesto. Ela o fitou com o olhar apaixonado, dando-lhe permissão para prosseguir com suas caricias. Kamus sorriu, encostou sua fronte a dela e suspirou.

-Não quero assim, meu amor...-beijou-lhe a testa.-A terei quando nos tornarmos marido e mulher.

-É o que eu desejo também...Mas não agüento mais esperar...toda vez que me toca, sinto meu corpo em chamas...

-Annely...

-Já sou sua, Kamus...pela eternidade.

Ele sorriu, e acariciando seu rosto tomou a decisão de sua vida.

-Preciso ir agora. Direi a minha avó meus planos e esta noite irei a sua casa, pedir sua mão a seu pai. Até o fim deste verão estaremos casados!-disse, voltando a beijá-la.

Ele a deixou a sombra da macieira, Annely voltou radiante para casa. O esperou...esperou a noite toda...e ele não apareceu.

Teria ido naquela noite mesmo a fazenda dos Chantéll, a propriedade chamada Magnus Croft, mas o pai não permitiu que uma adolescente saísse de casa tão tarde. Não teve outra opção a não ser esperar o amanhecer.

Naquela noite, ela não dormiu. Temendo que algo houvesse acontecido a Kamus. Assim que o sol começou a aparecer correu para Magnus Croft e bateu insistentemente a porta, até que um criado apareceu.

Para a sua decepção...soube que Kamus partira a noite passada para Londres, abandonando-a. Não sabia o porque...só sabia que se sentia usada, enganada, humilhada.

As lembranças foram interrompidas. Annely abriu os olhos e fitou com raiva a inicial de Kamus.

-Tomara que sua esposa seja uma megera que o faça sofrer por ter enganado a mim e rido dos meus sentimentos.-desejou.

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No Clube de Cavalheiros.

Shura estava ainda na mesa no canto, olhando para a garrafa diante de si e para o copo ainda intocado, refletindo no que faria. Havia perdido uma considerável soma de dinheiro nas cartas e isso o aborreceu mais ainda. Precisava achar a sua "esposa", anular logo este casamento de fachada e dar continuidade a sua vida, mas não fazia idéia de onde procurar. Suspirou, teria que esquecer seu orgulho, engolir a vergonha, e contar aos amigos o que fizera anos atrás e pedir a ajuda deles para reencontrá-la.

O problema era...se sentia tão sujo pelo o que fez que temia a reação de seus amigos.

-Ah, Shura!

O espanhol levantou o olhar ao ouvir a voz com sotaque italiano e ergueu o copo cumprimentando Giovanni, seguido por Afrodite e um rapaz emburrado.

-Máscara da Morte!-cumprimentou.

-Shhh! Não grite meu apelido. Quer que meus credores saiam correndo?-rindo, sentando ao lado dele.-O que me traz de boas noticias?

-Quase nenhuma. E você?

-Reencontrei meus primos.-apontou para Gilen.-Estou muito feliz! Só me resta dar um rumo a este impiastro aqui.

-E minha irmã?-perguntou Gilen.

-Não é assunto meu mais, rapaz.-respondeu Giovanni se servindo de uma dose da garrafa de seu amigo.

-Como não?

-Ela vai se casar com meu amigo aqui e virará assunto dele.-apontou para Afrodite como se fosse algo normal.

-Um momento. Vamos discutir isso com mais seriedade!-disse Afrodite, sério.

-Eu pago o dote dela, não se preocupe.-Giovanni bateu nos ombros de Afrodite.

-Não falo disso!

-Então o que seria?-sem entender.-Helena não é bella? Sabia que teve a educação de uma dama e que cozinha com esplendor? Isso ela herdou do sangue italiano que corre em suas veias...além da beleza que é característica de nossa família também!

-Ela é linda sim, mas...-não sabia como começar. Desejava se casar sim, mas não agora.

-E o que será que o incomoda?-perguntou Giovanni.

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-Que dia incomum...-suspirou Kamus, se aproximando de uma mesa previamente preparada para ele e seus convidados.

-Senhor Visconde, os outros cavalheiros que foram convidados chegaram e o aguardam no bar.-avisou um empregado do clube.

-Obrigado. Traga-os até a mim, e sirva seu melhor champagne.-pediu o Visconde.

O criado assentiu com a cabeça e saiu para cumprir as ordens dadas, logo veio acompanhado por Shura, Giovanni e Afrodite. Estes dois pareciam discutir alguma coisa de forma acalorada. Um rapaz de rosto sério os seguia.

Ele faz um gesto para que todos sentem, e enquanto o champagne era servido, Kamus faz um sinal para que todos prestem atenção.

-Meus velhos e novos amigos.-ergue a taça na direção dos gregos.-Tenho um pedido especial a fazer a vocês e espero que me atendam.

-Diga.-pediu Shura.

-Não o encoraje.-Diz Milo rindo.

-Irei para Southampton, onde passarei alguns dias agradáveis no verão de minha fazenda. Será o aniversário de minha avó e bem...-suspirou.-Gostaria que fossem comigo...claro que se não estiverem ocupados demais com negócios e...

-Sua nonna quer lhe arranjar uma noiva a qualquer custo?-Giovanni comentou rindo, seguido por Shura, Afrodite e Milo que conheciam bem as artimanhas da Viscondessa para garantir que o neto fosse para o altar.

-Exatamente. Preciso que me acompanhem e me protejam da solteirona que minha avó quer me empurrar.

-Não posso viajar...tenho uma convidada em minha casa e...-Afrodite pensava no que dizer.

-Traga-a também amigo.-disse Kamus.-Ela terá a companhia de outras damas, como minha irmã.

-Estou cheio de problemas...-suspirou Shura.-Mas irei aceitar seu convite. Preciso mesmo refletir sobre o que fazer para resolver estes problemas.

O espanhol refletia que uma temporada no interior daria a ele a inspiração para resolver seus problemas mais imediatos.

-Não tenho nada a fazer. Irei sim.-aceitou Giovanni.-Se falar com aquele seu amigo do Exército para colocar este rapazinho no serviço militar.

-O QUE?-Gilen ficou lívido.

-Tenho certeza de que alguns meses no Exército de sua Majestade irá lhe proporcionar a cura de seu vício por jogos, meu caro primo.-sorriu maldoso e o rapaz engoliu em seco.-Viva a Rainha!

Todos no recinto ergueram as taças e copos e gritaram vivas.

-E vocês meus caros amigos?-perguntou Kamus a Saga e Aiolos.-Sei que estão na cidade a negócios.

-Aceitarei seu convite com prazer.-respondeu Saga e Aiolia quase teve um treco.

-Que...

-Meu irmão e eu iremos também.-disse Aiolos.

-Que?

-Fico feliz com isso. Bem, vamos comer?

Aiolia puxa seu irmão mais velho e sussurra:

-O que estão fazendo?

-Saga tem que manter o disfarce. Ser amigo de um Visconde tem suas vantagens.-respondeu Aiolos.-E fique quieto! Não estrague tudo! Vamos ficar de olho nele o tempo todo!

Saga sorriu, se servindo de mais champagne. Cheio de planos para se livrar dos Petronades o mais breve possível.

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Residência dos Dawes.

Ludmila acabava de arrumar os quartos de suas patroas e descia para o andar térreo da mansão. Seus pensamentos estavam longe e não evitou um esbarrão no novo jardineiro que saia do jardim de inverno de sua patroa.

-Desculpe-me!-pediu a jovem corada.

-Tudo bem. Eu também estava com o pensamento longe.

-Eu sou mesmo uma cabecinha de borboleta.-ela sorriu encabulada.-Fico com o pensamento longe, não repare. Seu nome é...Dohko, certo?

-Sim. E a senhorita se chama Ludmila?

-Sim. -sorrindo.

-Senhorita Ludmila, posso te fazer uma pergunta?

-Claro. Qual?

-Desde quando a senhorita Inis está saindo às escondidas de casa para jogar em lugares perigosos?-perguntou com a maior naturalidade.

-...-a jovem criada entra em choque, sem saber o que responder.

-Aí estão vocês.-a cozinheira apareceu no corredor, para o alívio da criada.-Vamos almoçar. Só estamos nós três aqui hoje.

-Aonde foi o senhor Igor?-perguntou Ludmila estranhando a falta do mordomo.

-Disse que precisava encontrar a patroa imediatamente. Não me perguntem por que. Vamos antes que esfrie o almoço.

-Sim, senhora.-respondeu Dohko.-Depois podemos conversar mais, senhorita Ludmila?

-S-sim...-imóvel, suando frio.

-Não vem Ludmila?-insistiu a cozinheira.

-V-vou daqui a pouco. Vou me lavar antes.-anunciou correndo para o seu quarto.

Entrando nele, fechou a porta imediatamente, tentando controlar as batidas de seu coração. O medo a dominando.

E agora? Se a baronesa souber que ela oculta as saídas noturnas da senhorita Inis, ela a demitirá com toda certeza! Não perdoaria tal traição. E o que fará sem seu trabalho? Aquele era seu lar, sua família desde que a baronesa a tirou das ruas de Dover e lhe deu um lugar seguro para viver.

-Pena que o cavalheiro de meus sonhos seja apenas isso...um sonho tolo.-enxugou uma lágrima teimosa que corria por seu rosto.

Se ao menos o belo cavalheiro de olhos negros fosse real...

Continua...


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