Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 4
Capítulo 3




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Mansão Villers... O baile ainda transcorria tranqüilamente.

-O que fazem aqui?-Saga perguntou a Aiolos e Aiolia assim que atravessou por entre os convidados da Viscondessa de Chanttél e os alcançou.

-Viemos ter certeza de que não estragará tudo. -respondeu Aiolia.

Saga olhou para os lados e pediu com um gesto que eles o acompanhassem. Entraram discretamente em uma ampla biblioteca, parcialmente iluminada, e assim que fechou as portas, foi logo dizendo:

-Enlouqueceram? Querem estragar meus planos? E se a Viscondessa desconfiasse?

-Ela não percebeu nada e nem ninguém. -declarou Aiolos, admirando a sala. -Apenas estamos de olho em nosso mais novo investimento.

-Tolo!-respondeu Saga ligeiramente alterado. -Kanon está neste momento dançando com uma rica herdeira. E se não atrapalharem em breve ele a pedirá em casamento e terão seu quinhão nesta história. Até mesmo eu posso ganhar alguma coisa ao me casar com alguma das muitas moças solteiras e ricas deste baile.

-Você?-Aiolia apontou para Saga como se não acreditasse.

-E porque não? São todas muito bonitas, e ricas. Não seria sacrifício nenhum me casar com algumas delas. Exceto a filha de um conde, que além do problema com o peso, parece-me ser vesga a pobrezinha, mas isso não vem ao caso. Agora... -ele abre a porta para que os irmãos Petronades pudessem sair. -Se vão ficar no baile, o façam sem levantar suspeitas e se perguntarem algo...digam que somos sócios nos negócios e apenas isso.

-Muito bem. -Aiolos ajeitava o terno de sua elegante roupa de baile. -Vamos Aiolia, vamos ver como os ingleses costumam se divertir em bailes?

-Certamente. -Aiolia se despediu de Saga com um sorriso debochado.

-Mas ainda ficaremos de olho em você e seu irmão. Não sairemos de Londres sem o dinheiro que nos deve... Ou suas orelhas.

Os dois irmãos saíram e Saga fechou a porta, furioso. Respirou fundo para se acalmar. Não iria deixar que eles atrapalhassem seus planos de ter uma vida confortável logo agora que estavam tão próximos disso. Ele e seu irmão sempre viveram na pobreza e na fome, desde que suas memórias lhe permitissem lembrar. O pai os abandonara após o nascimento da irmã mais jovem deles... Leda.

A mãe desapareceu no mundo quando tinham apenas onze anos, e Leda nunca foi uma menina saudável. Morreu com apenas seis anos, enfraquecida pela fome, não resistiu ao ficar doente. Quando o padre a enterrou, penalizado pelas crianças, ele viu Kanon chorar pela primeira e única vez em sua vida. Ele não se permitiu a isso. Jurou que não morreriam de fome, que não acabariam na pobreza. E se tivesse uma filha como Leda... Jamais a abandonaria como os pais fizeram.

Serviu-se de uma taça de brandy, de uma mesinha na biblioteca, para se acalmar. Foi quando notou que não estava sozinho na sala. Alguém saia por detrás de uma porta lateral, e para a surpresa de Saga, era a baronesa de Blackmoore.

De perto ele teve que admitir que ela era mais bela do que imaginara. Mas o olhar denunciava que havia escutado a conversa que teve com os irmãos Petronades, e isso significaria o fim de seus planos!

-Milady. -A cumprimentou como se nada houvesse acontecido. -Perdoe-me o atrevimento, mas o que faz uma bela dama como você aqui ao invés de estar iluminando o salão com sua presença?

-Fugindo dos olhares das damas e dos galanteios dos cavalheiros. -respondeu, se aproximando e servindo-se também de uma dose de brandy. -Minhas enteadas parecem estar se divertindo tanto que não acho justo atrapalhar este momento de felicidade.

-Tem razão. Quem é vossa senhoria, se me permite saber?

-Lady Juliane Dawes, Baronesa de Blackmoore.

-Não é um nome inglês.

-É francês. Minha mãe o considerou belo desde que o ouviu pela primeira vez.

-Baronesa... Seu esposo não estaria procurando-a?-fazendo-se de desentendido.

-E por que crê que eu seja casada?

-Disse que possuía enteadas.

-Sou viúva. -respondeu dando um gole na bebida. -Mas considero todas como minhas irmãs... Filhas. E como tal eu sinto que devo protegê-las deste mundo cruel.

Saga deu um sorriso, entendendo a mensagem que a ruiva queria lhe passar.

-Certamente. Prezamos muito a felicidade de nossos entes queridos.

-Oh, sim... Uns prezam mais que outros. -ela depositou a taça sobre a mesinha e sorriu. -Tanto que manteria qualquer um que tentasse se aproveitar da ingenuidade de alguma das minhas meninas, atrás das barras de uma prisão.

-Castigo apropriado a este tipo de pessoa.

-Com certeza. -ela se afasta de Saga, abrindo a porta da biblioteca e voltando ao salão.

Saga larga a taça de brandy e caminha apressado para alcançá-la. A viu caminhando até Kamus, certamente para lhe falar sobre quem eram os gregos em sua festa. Ele viu Kanon conversando com Amanda, em outro ponto do salão. Não deixaria que tudo fosse em vão.

Sem hesitar a alcançou e a segurou pelo cotovelo, fazendo a dama o fitar entre o espanto e a incredulidade.

-Uma dança, baronesa?

-O que o senhor pensa... -ela não concluiu a fala, ao ser arrastada até o centro do salão.

Ele a segurava firme, conduzindo-a na dança lenta que começava. A baronesa ergue o queixo, fitando-o desafiadora.

-Se acredita que irá me demover da minha intenção de denunciá-lo, esqueça. Eu o farei!

-Acredito que o fará. -ele exibiu um sorriso charmoso. -Vejo em seus olhos que é uma mulher determinada.

-Não imagina o quanto eu sou, senhor.

-Tassouli... Saga Tassouli. -se apresentou. -Ótimo! Aprecio esta qualidade nas mulheres. Só lamento que estejamos em lados opostos no momento.

-Está desafiando o perigo, meu caro. Posso colocá-lo em uma prisão e arruinar a sua vida antes do relógio bater meia noite. -disse com um sorriso.

-E desperdiçar a oportunidade de ter uma bela mulher em meus braços?-a baronesa não sabia se ficava irritada ou embevecida com suas palavras. -Não, minha querida. Nem a ameaça de passar o restante de meus dias em uma cela me faria abrir mão de tão deliciosa e única oportunidade.

Juliane, apesar do nervosismo que sentia, ainda mantinha o sorriso nos lábios, fitando-o.

-Não permitirei que o senhor ou o seu irmão se aproveitem da ingenuidade das minhas meninas.

-Gosto da maneira protetora ao qual se refere a elas. Com certeza será uma boa mãe.

O sorriso nos lábios dela sumiu no mesmo instante em que ele proferira tais palavras. Há muito quando aceitara o pedido de casamento do velho barão, feito com a intenção de protegê-la de uma situação difícil, havia aceitado a idéia de que não poderia lhe dar filhos. Além da idade avançada, e da saúde fragilizada, nunca houve nada entre eles a não ser amizade e companheirismo mútuo. Nunca compartilharam intimidades, e após sua morte decidiu que não se casaria novamente, usando o título que adquirira com o casamento como escudo para jamais ser obrigada a desposar alguém contra a sua vontade.

Já havia aceitado que jamais seria mãe, mas que protegeria as filhas de seu melhor amigo com todas as suas forças se necessário fosse.

Saga pareceu perceber o desconforto que causara nela com as suas palavras aparentemente inocentes. Notou que havia tocado em alguma ferida, e estranhamente sentiu-se mal com isso.

-A dança acabou. -ela declarou, mantendo-se séria.

-Baronesa...

-Com licença. -um homem usando uma farda militar, talvez um capitão, se aproximou. -Permita-me baronesa de Blackmoore a próxima dança?

-Eu... -ela estava para lhe responder, quando outro cavalheiro se aproximou.

-Meu caro lorde Oxford. -dizia o outro com ar afetado. -A baronesa já havia reservado a próxima dança comigo.

Saga estreitou o olhar, principalmente ao perceber que outros homens haviam se aproximado, todos com a intenção de dançar e cortejar a bela e rica herdeira dos Blackmoores.

-Em qual momento ela prometeu isso, lorde Devonshire?-um terceiro inquiriu. -Pois a lady prometeu uma dança a mim esta manhã, enquanto tomávamos um desjejum no clube de esgrima, não é?

-Ah, Marquês de Trymount. Como vai a sua pessoa?-o capitão perguntou com falso interesse, escondendo a irritação.

-Sinto cavalheiros. -ela declarou com um sorriso encantador, não estava a vontade para dançar mais, apoiando a mão sobre o braço de Saga. -Mas este gentil cavalheiro já reservou todas as danças comigo esta noite. Ele veio de outro país e o anfitrião do baile pediu-me que eu o apresentasse a sociedade.

-Ah, mesmo?-o Marquês fitou Saga com cuidado. -E de onde veio, senhor...?

-Tassouli. Saga Tassouli. Eu vim da Grécia, Athenas para ser mais exato.

-E o que o traz a Londres, senhor Tassouli?

-Eu vim a negócios e...

-Ah, cavalheiros. Se vão passar a noite conversando sobre negócios. -a baronesa abriu o leque encenando um ar de tédio. -Vou deixá-los a sós para que conversem mais a vontade. Irei procurar a companhia das outras senhoras.

-Claro, milady. -os cavalheiros se despediram da baronesa com mesuras e beijos em sua mão, tal qual ditava a cortesia da época.

-Até outro dia, senhor Tassouli.-disse a baronesa se afastando.

-Estarei esperando ansioso pelo nosso almoço amanhã milady. -ele disse e a baronesa o fitou sem entender. -Meio dia, no Clube de Esgrima ao qual me falou.

-Certamente. -e se afastou, irritada com ele.

-Uma mulher notável!-Saga exclamou, esquecendo os demais cavalheiros próximos.

-Sim. -o Marquês não escondia a insatisfação.-Gosta de esportes, senhor Tassouli? Esgrima?

-Sim, eu aprecio.

-Então, creio que gostaria de ir ao Clube de Esgrima amanhã, mais cedo do que o horário combinado com a nobre Baronesa e praticar comigo?

-Praticar esgrima? Claro.

-Ótimo. Procure por mim, eu o esperarei. -e com uma mesura o marquês se afasta dos demais.

E Saga tem a sensação de que estava em uma cilada.


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Southampton.

Uma irritada Annely estava em sua cama, tentando se concentrar no livro de contos, com o quarto parcialmente iluminado pelas lamparinas, quando a senhora Kemble, governanta da casa, entrou.

-Um dia matará seu pai assim, Annely!

A boa senhora cuidava dela e de sua irmã Luna, bem como da casa e de seu pai desde a morte de sua mãe quando menina. Por isso Annely não lhe deu uma resposta ferina, voltando a sua atenção ao livro.

-O pobre homem está tendo uma úlcera por sua causa!-continuou a senhora, andando de um lado para o outro do quarto.

-Então meu pai deveria parar de me apresentar candidatos a me desposar. -respondeu virando a folha do livro para continuar a sua leitura. -Izaiah é um impertinente, chegou para jantar e não saia mais daqui. E tentou me beijar a força!

-Ele ousou a tanto?-a senhora Kemple parecia chocada. -Mas é um rapaz tão bonito! De boa família e nunca escondeu que tem sentimentos por você.

Annely fecha o livro com raiva, e estreitou o olhar para a governanta.

-Eu não quero me casar! Será que é tão difícil assim aceitarem esta minha decisão?

-E o que mais uma mulher pode querer? Annely Hopkins, uma mulher sem a proteção de um marido não é nada neste mundo!

-Eu quero e vou ser escritora! Não preciso de um marido para isso e muito menos da proteção de um homem!

-Você e estas idéias... E sua irmã? Não pensa nela?

-Luna é a pessoa com que mais me preocupo neste mundo, senhora Kemple. Jurei a mamãe que cuidaria dela!

-Ela quer se casar.

-Ótimo! Se ela quer se casar que papai encontre um bom pretendente para ela. Mas que além de tudo a ame e a respeite, ou se haverá comigo. -voltando a abrir o livro.

-Annely, seu pai prometeu que somente casaria a filha mais nova quando a mais velha estiver casada!-a senhora disse aflita.

Annely volta a fechar o livro, irritada.

-Ele não deveria ter prometido nada em meu nome! Eu não pretendo me casar! Os homens são arrogantes, preconceituosos, que se acham donos das mulheres e que não medem esforços para enganar uma mulher para atingir seus objetivos e são mentirosos!

-Mas...

-Senhora Kemple, está tarde e eu quero dormir. -colocou o livro sobre a pequena cômoda ao lado da cama, e se cobrindo logo em seguida.

-Não pode julgar todos os homens por causa de um só, querida. -disse a senhora, apagando as lamparinas e saindo em seguida.

Annely não respondeu ao comentário dela. Não adiantaria argumentar. Estava cansada e queria apenas dormir e esquecer esta noite horrível, e se preparar para enfrentar o pai na manhã seguinte.

Tudo o que queria era dormir em paz, e não sonhar novamente com o verão de seus treze anos, quando foi enganada pela primeira e única vez por um homem. Que lhe roubou um beijo diante de pessoas da cidade e prometeu que voltaria para ela no ano seguinte.

Ele jamais voltou. Foi para Paris, onde a esqueceu com outras mulheres de classe. Certamente se casou com alguma mulher de nome nobre e rica.

O que se esperar de um homem, além de tudo um lorde poderoso naquelas terras? Fora pretensão e ingenuidade da parte dela acreditar que um futuro visconde iria se interessar e se casar com a filha de um médico de família simples e sem posses ou títulos.

-E o odeio. -escondeu o rosto no travesseiro. -Eu o odeio tanto, Kamus!


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Mansão Villers.

Carla Dawes subia a escada que levava ao segundo andar do casarão e do alto teve uma visão privilegiada de todo o baile. Um leque fechado pendia de seu pulso, na outra mão levava o cartão de danças em branco. Não estava inclinada a dançar com nenhum dos cavalheiros presentes. Sentia-se desconfortável ali.

Do alto pode ver suas irmãs que se estavam animadas, felizes. Sorriu, havia se sentido assim quando tinha apenas quinze anos e o pai a apresentara a sociedade em seu baile de debutante.

Viu Amanda conversando animada com um cavalheiro, junto a eles estavam Melissa e Thatiane, sempre vigilantes. Sua madrasta se aproximava de Vanessa, e começaram a conversar. Não conseguia ver para onde Inis fora, mas deduziu que deveria estar conversando com algum cavalheiro, já que desde que ela chegou foi cercada por admiradores, mas notou Louise fazendo novas amizades perto dali, e seu primo e o amigo estrangeiro dele próximos. Ergueu uma sobrancelha, pois lorde Francis demonstrava um interesse incomum por sua irmã.

Suspirou. E pudesse iria para casa neste momento, mas não queria estragar a noite de suas irmãs, então discretamente procurou a saída do salão, para poder respirar ar puro.

Do lado de fora, a noite agradável denunciava que o verão finalmente chegava. Logo começaria a estação das chuvas. Pensando no tempo, Carla foi se afastando da mansão até notar que havia andado demais.

Estava perto do local onde os cocheiros esperavam pelos seus passageiros ilustres para levá-los de volta para casa. Os viu mais afastados, conversando para afastar o sono.

-Não deveria estar andando sozinha por aí, senhorita.

Carla virou-se assustada na direção da voz grave e espantada descobriu que ela pertencera a um rapaz de traços orientais, que estava encostado a uma árvore, com as mãos atrás da nuca em uma postura relaxada.

Ele deveria ser um pouco mais velho que Carla, e tinha uma curiosa cicatriz que cortava seu rosto a partir da testa até entre os olhos. E Carla o considerou um homem muito bonito, e de um olhar tão profundo que a fez perder um bom tempo admirando-os.

-Senhorita?

-Ah, sim!-ela percebeu constrangida que o fitava por tempo demais, e isso era uma grosseria!-Perdoe-me, eu não quis... Eu...

-Tsc... Tudo bem. -ele fechou os olhos em um sorriso de lado. -O baile está tão chato assim?-comentou louco para ir embora e dormir.

-Não, mas eu não gosto muito de bailes assim. -respondeu.-Perdoe-me mas, você não é inglês. Apesar de falar bem meu idioma, tem um leve sotaque.

Ele abriu um olho, fitando-a. Depois sorriu:

-É bem observadora.

-Meu pai me dizia isso. E também dizia que a Scontland Yard deveria ter me aceitado como detetive em seu meio. Mas ser investigadora nunca foi minha ambição de vida. -riu. -Se eu fizesse isso, provocaria um escândalo em minha família.

Ele a fitou, admirando a maneira descontraída dela falar.

-Sou japonês. Cheguei a pouco a seu país.

-E onde aprendeu nosso idioma tão bem?-realmente Carla estava interessada.

-Um amigo de meu pai era um inglês. Um negociante. Tinha belos navios. -respondeu.-Ensinou a meu irmão e a mim seu idioma quando éramos crianças. Eu sempre pratiquei.

-Nossa! Que interessante!-Carla demonstrou genuína admiração, que atraiu mais a atenção dele. -Ah, que descuido meu. Não me apresentei como deveria. Meu nome é Carla... -hesitou em falar o sobrenome, afinal a família era muito conhecida e teve receio de que isso afastasse o novo amigo.- Carla Baker-Sneed.

Repreendeu-se por mentir, e ainda mais envolver o sobrenome de uma boa amiga de sua infância.

-Ikki Amamya. -respondeu após um breve silêncio. -Você não é igual aos outros ingleses, senhorita Baker-Sneed.

-Carla, me chame de Carla. E por que eu não sou igual aos outros?

-Eles teriam me olhado com desdém, ou fingiriam que não notaram a minha presença, senhorita. Por eu ser um simples cocheiro e por ser estrangeiro.

Infelizmente Carla teve que concordar. Muitas pessoas são levadas a agirem assim contra estrangeiros, devido às diferenças e movidas por preconceitos. Mas seu pai era um homem de princípios e ideais que muitos consideravam excêntricos, inclusive o de tratar bem os estrangeiros, principalmente os chineses que chegavam a Londres para trabalharem.

Muito deles o falecido barão os considerava amigos e visitavam sua casa.

-Me chame de Carla, por favor. -ela retificou. -Não vejo diferença entre nós.

-É uma dama, dá para perceber pelos seus gestos e modo de falar. -falou se afastando da árvore e se aproximando dela.

Carla havia notado que o modo dele andar era cheio de elegância, que lembravam um nobre. Ele de modo algum era um simples cocheiro, concluiu.

-Não estou acostumado a ser informal. Mas se me chamar pelo meu primeiro nome...

-Então, está bem Ikki. -ela voltou o olhar para a mansão. -Melhor que eu volte, antes que notem minha saída.

-Concordo.

Carla se despediu com um aceno de cabeça e retornou a mansão logo em seguida. Ikki ficou observando-a, até ter a certeza de que estava dentro da propriedade da Viscondessa. Concluiu que a Inglaterra não era uma terra tão hostil assim.

Voltou a se recostar na árvore, lembrando dos motivos que o fizeram abandonar sua terra natal e ir ao Ocidente. Tinha uma missão a cumprir. Encontrar um ladrão sujo, um assassino covarde e lavar a honra de sua família, e com sua espada.


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Não era a primeira vez que Mu participava de um baile destes. Apesar de ter nascido no Tibet, aos doze anos acompanhou os pais em uma mudança de vida e foi para a Índia. Lá conheceu muitos ingleses que ali residiam.

Na Índia, tinham uma boa vida. Os pais tinham dinheiro para dar ao único filho uma educação refinada, e o colocaram em colégios antes freqüentados apenas por pessoas de posses.

Muitos o ignoravam, e até o tratavam com violência. Todos menos um rapaz de cabelos loiros, Francis, que enfrentou ao seu lado um grupo de jovens estudantes que pretendiam surrar-lhe por afirmarem que ali não era o seu lugar. Juntos, Francis e ele brigaram, bateram e apanharam. Mas daquele dia em diante se tornaram inseparáveis como irmãos.

Francis era filho único de um oficial inglês e um homem poderoso que até título de nobreza ostentava, mas nunca fora tratado com desigualdade em sua casa. Era tratado como filho. E por esta razão, por estar sempre com a família Furneval, acompanhava a sua vida social. Bailes como este não eram novidades para Mu, mas a jovem de riso espontâneo, cercada por admiradores... Sim, era diferente e especial.

-Lady Lucy duPont.-a voz de seu amigo o tirou do torpor.

-O que disse Shaka?-disfarçou.

-Francis!-o lembrou irritado. -A jovem a quem você está admirando de longe há algum tempo. Lucy duPont, é neta da Viscondessa. Foi apresentada a sociedade ano passado, pelo o que me disseram. Muito bonita!

-Sim, é uma jovem muito bonita!-concordou.

-Venha comigo. -o pegou pelo braço e o levou até a dama em discussão.

Lucy parou de conversar com os amigos quando percebeu a presença de Lorde Furneval e seu amigo, que tinha um olhar assustado.

-Milady, espero que não se importe, mas... Meu amigo não fala nosso idioma, mas me confidenciou que admirava a sua beleza e simpatia.

-Verdade?-Lucy olhou para Mu.

Mu empalideceu, e em seguida fuzilou Shaka com o olhar, repreendendo em tibetano:

-(Ficou louco? Acaso é uma vingança pelos comentários que fiz a respeito de você e sua prima?)

-(Claro que é.)-Shaka respondeu em tibetano e depois se virou para Lucy, que parecia encantada com Mu. -Ele me perguntou se poderia convidá-la para uma dança.

-Eu ficaria honrada. -ela estende a mão a Mu, esperando que ele a levasse à pista de dança.

-(Eu me vingarei, Shaka.)-depois fez uma mesura, pegando a mão de Lucy e a conduzindo para a dança.

Shaka, ou Francis, apenas se limitou a sorrir, e a murmurar em tibetano.

-(Ah, doce vingança. Shaka, você é brilhante!).

-O que disse milorde?-Louise perguntou, aparecendo de repente, assustando-o.

-Ah, eu disse... Que linda valsa!

Louise sorriu, concordando.

-Shaka nesta língua que você disse, significa o que?-indagou curiosa.

-Quer dançar, Louise?-ele não a deixou responder, já a guiando para o meio do salão.

Em outro ponto do salão.

-Vamos ter que ficar a noite toda vigiando Amanda e este cavalheiro?-Melissa sussurrou nervosa a Thatiane.

-Você ouviu as recomendações de Inis. Não deixar Amanda sozinha com um homem que visivelmente está interessado nela. Ademais, se ele a quer cortejar, tem que pedir autorização a Juliane ou ao nosso primo!

Melissa revirou os olhos, entediada.

-Tolice! Se ele ousasse fazer algo com Amanda, teria pena dele! Ela tem o punho mais pesado do que muitos homens! Lembra daquele rapaz que nos assediou ao voltarmos da igreja, no parque? Acho que ele ainda procura os dentes da frente que perdeu com o soco que Amanda lhe deu!

Thatiane riu ao lembrar-se da cena. As pessoas ao redor ficaram chocadas ao ver uma Dawes agir daquela maneira, mas Amanda e Louise eram as Dawes que sempre apreciaram esportes, diferentes de muitas damas da idade delas que preferiam aprender a bordar, tocar piano ou ler poesias, as duas aprenderam a montar como amazonas, esgrima e muitas vezes bebiam brandy e uísque com o pai ou com a baronesa na biblioteca ao fim do dia, para o desespero de Igor, o mordomo que sempre repreendeu certas condutas.

Mas irritar Igor era o esporte preferido de todas as Dawes, que não imaginavam a vida sem a presença dele, que muitas vezes agia mais como um irmão super protetor do que um criado.

-Vou dar uma volta!-disse Melissa em voz alta, levantando-se apressada e esbarrando em um cavalheiro, que teve sua casaca formal banhada pelo vinho, que fora derrubado com o encontrão que recebera. -Oh, perdão!

O rapaz, de cabelos loiros escuros, rebeldes, olhos esverdeados, a fitou entre a irritação e a curiosidade. Mas a irritação falou mais alto.

-É o que acontece quando crianças aparecem em bailes de adultos. -comentou, tentando limpar-se.

Melissa e Thatiane ficaram chocadas com as palavras grosseiras do homem. Melissa, mais ainda.

-Cair com apenas um simples acidente causado por uma "criança" é bem típico de beberrões, não acha?-falou com um olhar mortal.

-Melissa!-Thatiane queria que um buraco se abrisse aos seus pés e sumisse diante de tal situação.

O homem a fitou imediatamente.

-Deveria conter a língua, pirralha!

-E o senhor deveria ser mais educado!-desta vez Thatiane não se conteve diante do que ele havia falado. -Isso não é modo de se dirigir a uma dama, e minha irmã pediu-lhe desculpas. A boa educação diz que deveria ter aceitado e não provocado mais discussões!

O rapaz fitou a garota que falava. Nunca uma mulher se dirigiu a ele desta maneira, e muito menos repreendendo como se ele fosse um menino! Iria dizer algo que a colocaria em seu lugar, mas alguém pousou a mão em seu ombro, impedindo-o.

-Aiolia, a dama está certa. Deveria aprender a controlar seu temperamento meu irmão. -e em seguida fez uma mesura diante das meninas. -Peço perdão em nome de meu irmão. Ele se irrita facilmente.

-Aiolos!-Aiolia não acreditava que o irmão o tratava como uma criança, outra vez.

-Está tudo perdoado. -diz Thatiane e em seguida olha para Melissa. -Não é, Melissa?

A adolescente suspirou, se dando por vencida.

-Sim. E me perdoe por ter te chamado de beberrão, senhor.

-Eu sou Aiolos Petronades, este é meu irmão Aiolia. Não reparem, apesar de parecer furioso como um leão, ele é manso como um gatinho. -sussurrou.

Melissa não conteve um riso, Aiolia ficou vermelho e com vontade de socar o rosto de Aiolos, Thatiane reparando nas feições de Aiolia, realmente não teve como não compará-lo a um leão.

-Agora que o mal entendido foi solucionado. -continuou Aiolos. -Creio que podemos continuar a nos divertir com o baile, não?

Quando Melissa ia responder, notou que Carla as chamava com um gesto discreto. Era a hora de irem embora.

-Talvez outro dia, senhor Petronades. Precisamos ir. -disse Melissa.

-Esperem. Nem ao menos dirão seus nomes?

As irmãs se entreolharam antes de responder:

-Sou Thatiane Dawes e esta é Melissa, minha irmã. -os dois se surpreenderam com os sobrenomes. -Agora precisamos ir. Vamos Melissa.

Quando as duas se afastaram, Aiolia indagou ao irmão:

-Dawes? Mas este não é o nome do...

-Sim. -Aiolos ficou sério de repente.

-Devemos contar ao nosso amigo samurai?

-Ainda não. Não sei qual seria a reação dele ao saber disso. -Aiolos ponderou. Havia simpatizado com a explosiva Melissa e a espontânea Thatiane. -Vamos ter certeza de que o Dawes que ele procura é o mesmo que carrega o sobrenome destas meninas.

Aiolia concordou em silêncio.


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Finalmente Kamus, Milo e Shura haviam conseguido burlar a vigilância da Viscondessa, as inúmeras garotas que foram apresentadas ao relutante Visconde, e saíram do baile. E estavam a caminho do Salão de Madame Shannon.

Kamus pagou a mais para o cocheiro que os levasse o mais rápido possível. Queria jogar, beber e pagar os favores na cama com alguma das meninas que ali trabalhavam.

Durante o trajeto, ouviu as brincadeiras dos amigos sobre a sua avó arranjar-lhe uma noiva, e respondia com uma carranca tais provocações. Chegaram ao destino, e em seguida entraram prontos para encerrarem a noite da maneira que mais gostavam. Com bebidas e mulheres que sabiam como dar prazer.

-Está movimentado aqui não?-comentou Shura, vendo muitos homens ricos presentes, alguns estavam no baile da Viscondessa e como eles, vieram até o bordel encerrar a noite.

Kamus não deu atenção, avistando um amigo que estava a uma mesa bebendo. Aproximaram e foram recebidos com acenos e cumprimentos.

-Diga-me Afrodite. Por que não foi ao meu Calvário?-Kamus o indagou bem humorado.

-Calvário? Ah sim, o baile. -o rapaz sorriu.-Porque eu tive que receber um velho amigo que chegou de viagem hoje.

-Que amigo?-Milo perguntou se servindo do vinho na mesa.

-Eu, seu asno grego. Cáspita!

Todos cumprimentaram com entusiasmo o italiano, incluindo Milo, que respondeu a altura o elogio.

-Bem vindo de volta, Giovanni. -Kamus apertou a mão do amigo. -Ou devo me referir a você pela alcunha de "Máscara da Morte", o terror dos nobres falidos de Londres.

-E eu gostei do nome ao qual me batizaram. -riu e pediu a uma das meninas do bordel que trouxesse conhaque para todos. -Só estou dando a eles o que mereciam.

-Infelizmente, sabe o que penso disso. -disse Afrodite, ajeitando a rosa em sua lapela.

-Já me disse. -Giovanni bebeu um gole do conhaque recém servido. -Mas eles merecem.

-Isso é falta de mulher, amigo. -Shura riu.

-E estamos aqui para resolver isso, se for o nosso problema. -Milo continuou a brincadeira.

-Não, Milo. -continuou Shura. -Penso que a ilustríssima avó de nosso amigo aqui tem razão. -Shura tocou o ombro de Kamus antes de continuar a falar. -Não somos mais crianças ou jovens a procura da nova aventura na noite. Somos homens de negócios, alguns com títulos de nobreza. Creio que devemos procurar uma boa esposa e formar uma bela família.

Shura, Milo e Kamus se entreolharam e responderem em uníssono:

-Nããããooo. -disseram com desdém e brindaram.

-Eu quero me casar. -declarou Giovanni atraindo a atenção deles. -Herdei terras na Itália, casas em Londres, tenho negócios que me rendem uma considerável fortuna ao ano.

-Considerável fortuna? É um dos homens mais ricos da Europa!-replicou Milo.

-Pra que tanto dinheiro se eu não tiver alguém para quem deixar? Tenho dinheiro, mas isso não é o suficiente para estes nobres esnobes. Querem nome, títulos! Preciso de uma esposa de boa família que me dará o nome e o status que desejo. -completou, terminando de beber. -E ainda tenho coisas mais importantes a realizar. Promessas a cumprir.

-Que promessas?-indagou Afrodite, mas pela expressão séria do amigo, achou melhor desviar do assunto. -Eu também procuro pela esposa ideal. Mas nenhuma me parece adequada.

-Eu ainda sou jovem. Tenho ainda lindas damas a entreter antes de me dedicar a uma só. -completou Milo.

-Não procuro ninguém ainda. Mas sei que se encontrasse alguém ideal, eu a pediria em casamento imediatamente. -acrescentou Shura.-E você Kamus?

Kamus ficou pensativo um tempo, como se sua mente estivesse longe, em outro tempo.

-Mulheres são seres mentirosos. -disse bebericando seu conhaque. -Podem te destruir com a mesma facilidade que dizem "eu te amo". Não meus amigos. Nesta armadilha eu nunca vou cair.

Ele pensou em dizer "novamente", mas se calou. Um pesado silêncio se instalou entre eles, até que Milo o quebrou.

-Por que todos aqui estão agitados?

-Parece que um dos credores de William Prestonly será leiloado esta noite. Na verdade, irão leiloar a virgindade de alguma pobre menina para pagar as dívidas de algum viciado em jogo da família. -Afrodite disse com repúdio em sua voz, desaprovando isso.

Todos concordaram, sabiam que William Prestonly era um brilhante homem de negócios, mas que mantinha muitos deles na ilegalidade e já arruinou muitos homens nos jogos de cartas. Agora aquela idéia de leilão revirava o estômago de todos.

Foi quando madame Shannon entrou no salão e subiu em um palco.

-Senhores e senhoritas presentes... Um momento da atenção de todos.

Silêncio total.

Afrodite e Máscara da Morte ergueram-se com brusquidão ao verem a pequena figura em cima do tablado exposta aos olhares luxuriosos dos presentes.

-Meus queridos amigos, apresento-lhes... Bela.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Obs: eu sei a noite está longa! Mas eu não quero me apressar e cortar cenas que considero importantes para apresentar melhor os personagens, as tramas, suas motivações e especialmente suas características principais.

Mas logo, logo... Certas pessoas irão se rever... aguardem!



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