Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 18
Capítulo 17




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/91731/chapter/18

Annely olhou longamente para a mulher a frente dela. A cintura fina, os seios que pareciam que iriam soltar do decote se ela respirasse mais fundo, os cabelos negros e brilhantes presos em um requintado penteado e com um chapéu que parecia caro, a orná-lo. Os olhos de um violeta raro e belíssimo, o sorriso que se insinuava para Kamus. Não controlou os ciúmes e o empurrou, soltando-se do seu abraço e ajeitando a blusa de seu vestido.

–Que surpresa em vê-lo, meu querido!

–Se-senhorita Heinstein! O que faz aqui na Inglaterra?- O Visconde parecia surpreso em vê-la, a conhecia e disse seu nome com um pouco de receio.

Ela sorri com pergunta. Foi o suficiente para a jovem deduzir que deveriam ter sido, em algum momento, mais do que simples conhecidos.

–Vossa Graça, não vai nos apresentar? –Annely perguntou com um sorriso que parecia dizer que iria mata-lo se disse algo errado naquele instante.

Kamus demorou alguns momentos para se recobrar, pigarreou e finalmente falou com a voz sendo a mais polida possível.

–Senhorita Annely Hopkins... Essa é a filha de um grande amigo meu, lady Pandora Heinstein.

–Ah... –Annely disse mantendo o sorriso que deixou Kamus preocupado. Ela nunca sorria assim, a não ser que estivesse furiosa.

–E a senhorita seria? –Pandora indagou, fitando Annely como se fosse uma ameaça, mas com um sorriso nos lábios purpuras.

–Eu não sei ainda. –Ela ri. –Acho que eu seria a noiva dele.

As duas deram uma risada juntas. Depois suspiraram e ficaram se encarando. Kamus sentiu que a tensão era tão pesada e palpável entre elas que poderia ser cortada no ar com uma faca.

–Bem, preciso ir. Estou conhecendo sua bela e pitoresca cidadezinha, senhorita Hopkins. –nesse momento Chesire aproximou-se e ficou do lado de sua senhora.

–Ah não há muito que ver em Southampton. É uma cidade pequena e pitoresca! –Annely dizia com um sorriso forçado. –Certamente logo irá embora por não ter nada aqui, senhorita.

–Ao contrário, fräulein. A cidade tem muito a me oferecer. –com um sorriso ela se afasta acompanhada por Chesire. –Tenham uma boa tarde.

Annely contou até dez enquanto observava a alemã afastar-se. Depois fitou Kamus com um olhar mortal antes de pegar em suas saias e pegar o caminho de sua casa, pisando duro.

–Annely! –ele a alcançou. –O que houve?

–Ainda pergunta milorde?

Sinceramente, ele não sabia o motivo do momento de raiva dela até que a única coisa que poderia ter irritado Annely foi à presença de Pandora.

–Está com ciúmes, Annely Hopkins? –ele perguntou com um ar divertido e sentiu de certo modo recompensado quando ela parou de andar e o fitou mortalmente. –Estou certo?

–Não seja... convencido! –ela disse, lívida e claramente com ciúmes.

Kamus a pegou pelo braço, forçando que o fitasse ao abraça-la segurando-a pela cintura com uma das mãos, ignorando quaisquer olhares que houvesse na rua naquela hora.

–Está com ciúmes, minha linda senhorita?

–Como ousa? –ela tenta empurrá-lo. –Como se tivesse ciúmes de uma...

Ele a calou com um beijo nada casto, um tanto exigente até. E quando finalmente seus lábios se afastaram dos delas, observou o rosto corado da jovem com um sorriso no rosto.

–Não tem porque sentir ciúmes, pois é você a dama que escolhi para ficar ao meu lado.

Um pigarrear chamou a atenção de ambos, eles se viraram e avistaram a figura do Dr. Hopkins olhando-os com desaprovação.

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

Na fazenda.

Antes mesmo que os convidados saíssem de seus quartos para o desjejum, Aiolia entrava disfarçadamente na cozinha, surrupiando pão e mingau que havia sido recém-preparado pelos cozinheiros para serem servidos. Colocando o pão dentro do paletó e segurando a tigela de mingau foi saindo de fininho, evitando ser visto. Mas deparou-se com Saga e Kanon que desciam as escadas naquele momento.

–Bom dia, Aiolia. – Saga reparou que o grego escondia algo. –Tudo bem?

–Ah...não... tenha um bom dia também meu caro. Preciso... preciso... –apontava com a mão livre para as escadas. -Tenham um bom dia!

Saiu rapidamente deixando os gêmeos curiosos com o que ele estaria fazendo, mas decidiram que era mais importante descerem e encontrarem os outros para o café da manhã.

Kanon percebeu que Amanda já estava na mesa com sua irmã mais velha, Carla e sorriu, sendo retribuído pela dama. Saga fitou o irmão e em seguida Amanda, repetiu o gesto várias vezes.

–Oh não... –Saga suspirou, parecendo preocupado.

–O que, Saga? –Kanon o olhou confuso.

–Kanon, seu idiota. Você está apaixonado pela garota! –balançou a cabeça negativamente. –O que essas mulheres inglesas têm que sabem atrapalhar os planos honestos de trapaceiros como nós com apenas um sorriso e um beijo?

Aiolia sobe a passos largos as escadas e chega ao corredor que leva aos quartos de hóspedes destinados às Dawes. Ele hesita em bater na porta por alguns instantes e em seguida o faz. Alguns momentos depois a porta se entreabre e aparece Ludmila olhando-o pela fresta.

–Milorde?

–A senhorita Thatiane acordou?

–Quase não dormimos milorde. –ela sorri. –E o senhor tem culpa!

–Eu tenho?

Aiolia a olhou confuso e a garota fechou a porta. Momentos depois Thatiane e Melissa apareceram, saindo e fechando a porta atrás de si.

–Vocês dois tem ideia do que fizeram ontem?-Melissa os repreendeu. –Tivemos que ficar a noite toda acordada para que eles não chorassem e fossem descobertos!

–Bom dia, milorde. –Thatiane ignorava a irmã caçula, sorrindo para o cavalheiro, até mesmo quando Melissa bufou indignada.

–Senhorita. –ele lhe entrega o mingau e em seguida os pães. –Para seus hóspedes peludos.

Thatiane o olha encantada pela preocupação dele com os filhotes e a cachorrinha que resgataram na noite anterior.

–Muito gentil da sua parte, milorde. –ela entrega os alimentos para a irmã que os pegou desajeitadamente. –Eu nem sei como agradecer sua bondade.

–Bem... não precisa. –Aiolia ficou sem graça. –Nos veremos no desjejum, senhorita?

–Certamente. –ela volta para o quarto, acenando e puxando Melissa para dentro.

Aiolia ficou um pouco parado em frente à porta, escutando algumas risadinhas femininas e os ganidos dos filhotes que foram resgatados na noite anterior. Não estava acostumado a conversar com uma dama como Thatiane Dawes, as mulheres que conheceu estavam longe dessa categoria. Thatiane era de uma inocência a bondade que ele jamais imaginou que existiria, e essa faceta da jovem o encantava.

Tratou de descer e encontrar os demais hóspedes para o desjejum, certamente seria cercado pelos gêmeos para descobrirem porque agia daquela maneira agora a pouco, e não desejava ficar falando sobre isso com os dois, aos quais considerava dois patetas.

Voltou ao andar inferior, sem sequer desconfiar da conversa séria que acontecia em um dos quartos pelo qual passara. Dentro do dormitório três homens olhavam de maneira inquisidora para o quarto que começava a despertar, sentindo dor no maxilar, onde na noite anterior havia levado um golpe.

–Então? –perguntou Afrodite, impaciente e de braços cruzados.

–Que? –Shura os olhou sem entender, depois as lembranças da noite anterior vieram à mente e ele gemeu de dor. –Eu falei pra vocês...

–Sim. –Aldebaran parecia tão impaciente quanto o amigo. –Como pode?

–Calma... calma... –pedia Giovanni aos demais. –Deixem o homem contar o que houve. –e em seguida o olha ameaçadoramente. –E espero que seja convincente na explicação.

Shura sentiu-se acuado, mas não podia e não queria mais manter isso em segredo. Antes, achava que se a encontrasse iria se livrar daquele incomodo e casar-se logo com Sofia Volland assim que retornasse a Londres, esperando apenas o tempo necessário para que ela cumprisse o luto, como pedia as convenções. Mas agora, quando a viu, sentiu uma enorme agonia. Não tinha coragem de dizer-lhe quem era e o que havia lhe feito. E conversar com a jovem não ajudou em nada.

Ele deu um suspiro profundo e então começou a narrar tudo aos amigos, do tempo que era inconsequente e esbanjava a herança dos avós, fato esse que fez seu pai tomar precauções quanto ao patrimônio que seu filho único iria herdar. Só permitiria que Shura tivesse acesso à fortuna dos Mendonzas sem fosse um homem casado e sério, deixando de lado as festas, bebedeiras e a esbórnia.

Estava em Londres quando recebeu a notícia de que o pai estava morrendo, e quando soube do que ele havia feito em seu testamento, revoltou-se. Mas, com o auxílio do advogado do pai, que foi facilmente corrompido pela promessa de uma soma em dinheiro, procurou alguém que pudesse ajuda-lo a contornar essa situação e herdar o que sempre foi seu de direito.

E contou como dera certo o plano ao conhecer o pai de Ludmila, e que passou anos procurando-a para reparar o que fez a ela. Mas não lhes contou o quanto à imagem do retrato dela tem perturbado seus pensamentos há um bom tempo.

Enfim se calou, observando os rostos dos amigos e esperando seus comentários condenando-o pelo o que fez, sabendo que não merecia outro tratamento.

–Vai fazer o que agora, Shura? –Afrodite perguntou depois de um breve silêncio. –É óbvio que não pode sustentar essa situação temerosa com essa jovem por muito tempo. Não é digno de um cavalheiro agir dessa maneira e ela não merece isso!

–Eu sei, eu sei. –Shura levantou-se e indo lavar o rosto na saleta ao lado. –Eu apenas não sei como resolver essa situação!

Shura fechou a porta, talvez querendo respirar longe dos olhares dos amigos por alguns momentos.

–Isso talvez não seja tão ruim. –Giovanni murmura e sorri.

–Como não é ruim? –Aldebaran pergunta não acreditando no que ouvia.

–Oras, não era de hoje que consideramos o relacionamento do nosso amigo espanhol com Sofia Volland uma cilada. –os dois cavalheiros concordaram com um aceno de cabeça.

–Ela o arruinaria em poucos meses após o casamento. –suspirou Afrodite, depois olhou desconfiado para o amigo que já saia do quarto. –O que tem em mente, “Máscara da Morte”?

–Saber mais sobre a senhora Mendonza. –piscou um olho e saiu do quarto.

Do lado de fora avistou o reverendo Malloren que se preparava para descer, aproximou-se dele.

–Meu caro Reverendo, podemos conversar?

–Certamente. E sobre o que meu jovem? Não me diga que quer confessar algo?

–Não quero deixá-lo com mais cabelos brancos com minhas confissões. –ambos riram. –Apenas tenho uma dúvida. Sabe, tenho um amigo... Que me falou que tem outro amigo que está com certo problema.

–Um amigo de um amigo? –ele o olhou desconfiado. –Pode falar. Qual seria esse problema?

X.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

No andar de baixo, alguns minutos depois.

A mesa para as refeições estava perfeitamente preparada para o café da manhã dos hospedes da Fazenda. Apenas Lucy estava presente para acompanhar os convidados naquela manhã, seu irmão havia saído bem cedo e sua avó alegava estar indisposta e por isso preferiu ficar deitada mais algum tempo.

Mas a jovem demonstrava ser uma boa anfitriã, recebendo a todos com um sorriso de modo que atenuasse os acontecimentos da noite anterior. Helena evitava olhar para Afrodite sentado diante dela, enquanto Agatha sentia-se em um conto de fadas conversando com Aldebaran sobre assuntos tão comuns, Giovanni dizia algo sobre o humor de Vanessa pela manhã não ser dos melhores, e ela o respondeu com um sorriso amável que não era de seu interesse a maneira que costumava despertar.

Shura parecia inquieto, não tocara na comida e lançava olhares para Ludmila. A criada que ajudava a servir o café da manhã, por um pedido seu, sentia-se constrangida por ser o alvo de um suposto interesse do lorde espanhol.

–Alguém ouviu o choro de cãezinhos nessa madrugada? –Shaka perguntou a Aiolos e Aiolia.

–Não ouvi nada! –Aiolia respondeu imediatamente, desviando o assunto para o alívio de Thatiane, que o olhou agradecida.

–Deve ser impressão sua, milorde. –respondeu Lucy. –Não nasceram filhotes entre os cães da fazenda, e todos ficam no canil à noite.

–Deve ter sonhado. –determinou Aiolia, e Shaka por fim acabou concordando.

Da família Dawes, quase todas estavam chegando para o desjejum, sendo atendidas de imediato pelo mordomo que as acompanhavam e apenas a baronesa não se encontrava à mesa. A ausência dela foi sentida por Saga.

–Senhorita Carla. –Saga dirigia a palavra a jovem, se servindo de uma torrada. –A senhora baronesa não está se sentindo bem?

–De modo algum, senhor Tassouli. –respondeu com um sorriso, permitindo que Igor lhe servisse o chá. –Ela acordou antes de todas nós e já saiu.

–Já? –espantou-se com o fato. –Seria impertinência minha perguntar onde ela foi?

–Cavalgar. –respondeu dando em seguida um gole no chá. –Ela pediu permissão ao Visconde para cavalgar um de seus garanhões. Ela sempre gostou da vida no campo, morou em uma fazenda quando era menina, e desde que chegamos não pode desfrutar disso.

–E como ela sempre cavalga para pensar. –completou Melissa.

–Eu não imaginaria a baronesa morando no campo. –comentou Saga com interesse, levantando-se da mesa.

–Senhor Tassouli, é verdade o que minha avó comentou a noite?-Lucy perguntou com certa curiosidade.

–Depende. –ele sorriu. –O que sua avó lhe confidenciou, milady?

–Que pediu a mão da baronesa e que estão noivos.

Sons de talheres caindo na mesa foram ouvidos, olhares curiosos e surpresos foram direcionados ao grego, que procurou manter a calma diante de uma provável inquisição.

–Eu pedi a mão da baronesa de Blackmoore sim, milady. –dando um gole no chá que lhe foi servido.

–Quando iam nos contar? –Vanessa perguntava não acreditando.

–Foi uma situação complicada. –argumentou Amanda.

–Você sabia e não nos contou Amanda? –Vanessa parecia inconformada de ter recebido a notícia daquela maneira.

–Bem, eu... –sem jeito.

–Acredito que a baronesa pretendia contar a todas no momento apropriado. –Igor respondeu. –Mas as notícias do noivado são como posso dizer, exageradas.

Saga repousou a xícara de volta ao pires e em seguida levantou-se, pedindo licença a todos.

–Aonde vai, meu amigo? –perguntou Milo com indisfarçável curiosidade.

–Talvez cavalgar. –Saga respondeu saindo da sala.

Assim que o fez vários burburinhos entre as damas se seguiram, animadas com a possibilidade de um noivado. O Reverendo Malloren parecia se divertir com a situação, se fartando com as tortinhas de limão oferecidas a ele. E não era segredo que o que mais trazia prazer ao religioso, além das tortinhas com as quais se deliciava, era ver casais começando a se formar. E seus olhos experientes já lhe haviam dito que naquela mesa havia muitas possibilidades.

Aproveitando a oportunidade, o reverendo chama Giovanni que se encontrava sentado ao seu lado, para continuarem a conversa iniciada antes.

–Me ocorreu uma ideia para que possa ajudar o amigo de seu amigo. Fiquei pensando na história fantástica que me contou, sobre como um segredo poderia arruinar a vida desse homem. –disse o idoso em tom bem baixo. –Ele precisa é da oportunidade de conversar a sós com a esposa dele, e não vejo outra solução a não ser que ele conte a verdade.

–Contar a verdade?

–Sim. –o idoso olhou ao redor. –Afinal, Veritas vos liberabit!

–A verdade vos libertará! –Giovanni repetiu, dando um sorriso, fitando Ludmila, que desvia o olhar desconcertada.

O italiano não percebeu que esse simples gesto havia despertado em duas pessoas sentadas à mesa reações que até então eram desconhecidas a elas: ciúmes.

Vanessa não disfarçava que isso a irritou. A jovem pousou a xícara com tanta força na mesa que quase quebrou o pires, pedindo desculpas pelo gesto. Shura ficou incomodado, não apenas com o fato de Ludmila ser alvo do olhar de outro homem. Perguntava-se por que isso o perturbou. E também, o amigo sabia sobre seu passado com ela. E se resolvesse falar demais?

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

Na cozinha da Fazenda.

Uma das criadas entrava na cozinha para buscar mais chá para os convidados, avisou a cozinheira ditando ordens de maneira brusca aos outros criados, enquanto o mordomo conversava com um homem de aparência rude, que mal chamou atenção dela a não ser o fato que estava usando roupas surradas e parecia necessitado de um emprego.

–Ann May, rápido! –chamou a corpulenta cozinheira. –Leve os chás! Não deixe os hóspedes da Viscondessa esperando!

–E o chá da Viscondessa, madame Arnold? –perguntou a criada, pegando o carrinho com os bules.

–Antonny levará assim que terminar de conversar com o novo jardineiro. –respondeu já a dispensando. –Vá, vá!

Madame Arnold lançou um olhar reprovador ao homem com quem o mordomo ainda mantinha uma conversa sobre seus conhecimentos de jardinagem. Discretamente aproximou-se para ouvir o que eles diziam, ato percebido e reprovado pelo olhar do severo mordomo.

–Bem, então está decidido. –disse o mordomo encerrando a conversa. –Começará hoje mesmo. Paul. - o mordomo chama um rapaz magricela e ruivo que responde imediatamente. –Paul é um dos pastores de sua Excelência. Ele o levará ao chalé usado pelos empregados como residência e mostrará as roupas que deverá usar sempre que vier trabalhar nos jardins da Viscondessa. Lembre-se! Sempre deverá usar o uniforme adequado! A senhora Viscondessa não tolera que seus criados andem por aí como se fossem mendigos!

–Sim, senhor... Obrigado, senhor!

–O pagamento já está combinado? Está de acordo, senhor..?

–Edgard, senhor... Eu me chamo Edgard Gould.

–Certo, senhor Gould. O pagamento pelo trabalho está de acordo?

–Sim, senhor. –sorri, e madame Arnold tem a impressão de que ele escondia algum segredo com aquele sorriso.

Enquanto seguia o magricela Paul até o simples chalé usado como residência pelos criados que não eram casados ou tivessem famílias no vilarejo. Durante o caminho, Edgard fixou o olhar na casa principal, a bela mansão centenária, imaginando em qual dos aposentos estaria o baú que seu verdadeiro patrão desejava ter.

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

De volta a Southampton

Na residência dos Hopkins, Kamus estava sentado em uma poltrona tendo o Dr. Hopkins sentado a sua frente com uma expressão severa e Annely em uma cadeira ao lado do pai.

–Então? –pergunta o doutor, fitando Kamus e em seguida Annely. –O comportamento de ambos está sendo intolerável! Inadequado! Hora não querem se ver... Hora querem se casar... Hora não querem mais... Hora fica beijando minha filha de modo desavergonhado na rua!

–Papai! –Annely se levanta com as mãos na cintura, indignada.

–Sente-se, Annely! –o pai pede e ela obedece contrariada.

–Senhor Hopkins... Permita que eu fale?

–Senhor Visconde! Tem minha permissão, mas não antes de escutar o que eu ainda tenho a dizer. –Kamus concorda com um aceno de cabeça. –Ainda estou profundamente magoado com sua avó, a senhora Viscondessa. Magoado pelo modo que tratou minha filha, desprezou meu nome e minha família!

–Eu compreendo.

–Então compreende porque estou resistindo à ideia de que corteje e case com minha filha, pelo desprezo que sua avó tem por minha família!

–Senhor Hopkins! –Kamus pediu com um tom de voz que fez o médico calar-se. –É comigo que sua filha irá se casar. Minha avó terá que se conformar com isso e com o fato de que a partir do momento que eu desposar Annely ela será a Viscondessa de Chanttél! Juro por minha honra, que jamais irei permitir que ofendam ou magoem Annely novamente!

O médico repousou as mãos sobre a barriga, suspirando e parecendo satisfeito em ouvir aquelas palavras. Pelo pouco que conhecera o Visconde, sabia que sua palavra era algo que ele prezava muito e jamais permitiria que duvidassem dela.

–Pois bem. Agora precisamos marcar a data do casamento logo.

–Por que a pressa? –Annely perguntou. –Não vejo necessidade de apressarmos as coisas!

–Annely, me ouça. –dizia o pai tentando manter-se calmo. –Esse seu relacionamento conturbado com o Visconde já está se arrastando há anos. Eu não quero seu nome na boca das pessoas da cidade que não tem mais nada para fazer a não ser destilar mesquinharias sobre a vida alheia.

–Mas...

–E sinceramente. Tenho medo de que algo aconteça e atrapalhe esse casamento. Ou alguém! –explicou o doutor.

No mesmo instante a imagem da alemã chamada Pandora veio à mente de Annely e sentiu uma pontada de ciúmes e raiva.

–Está bem, mas eu escolho a data e organizo tudo! –avisou Annely. –Será do meu jeito!

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

De volta a Fazenda.

–Uma cavalgada? –Lucy ouvia a sugestão do reverendo com interesse. –Parece ser uma maravilhosa maneira de passarmos o dia. Os demais cavalheiros concordam?

–Sim, decerto é uma ótima maneira de passarmos o dia. –comentou Aldebaran, pensando que talvez esse passeio lhe desse a coragem de dizer a senhorita Agatha o que sentia.

–Adoro cavalgar!- Louise exclamou entusiasmada e virou-se para Shaka. –Podemos ir, milorde?

–Claro. Não vejo porque não. -Gritinhos de satisfação foram ouvidos por algumas damas.

–Podem visitar as ruínas romanas, milady. –Malloren lembrou. –E fazerem um pic-nic.

–Ideia maravilhosa! Não vou naquele lugar desde o último verão que passei na fazenda. –Lucy parecia cada vez mais entusiasmada, avisando a uma criada que providenciasse tudo para um pic-nic e que avisasse aos criados para prepararem os cavalos.

–Com licença, senhorita. –Ludmila apressou-se em falar. –Ruinas romanas? Aqui?

–Não passa de restos de uma estrada, que ficou inacabada. –explicou a dama. –Se procurar bem por toda a Grã-Bretanha encontrará um ou outro resquícios dos romanos em nossa terra. Mas fica fora da estrada, em uma colina adorável! Dá para fazermos pic-nic ali, mas só conseguimos chegar a cavalo.

–Parece interessante! –os olhos de Ludmila brilharam.

–Eu vou! –exclamou Melissa. –Parece uma aventura!

–Se permitem que eu vá. –Aiolos diz, atraindo o olhar furioso da menina.

–Se não se importam, ficarei aqui. –disse Thatiane, pensando em seus pequenos hospedes escondidos no quarto. –Não gosto de cavalgar.

–Desde quando? –Inis perguntou, espantada.

–Desde agora. -Thatiane apressou-se em responder. –E alguém precisa esperar a baronesa voltar.

–Não pode ficar sozinha na casa!

–Eu ficarei também, Inis. –Carla avisou. –Sabe que não gosto de cavalgar também.

–Eu ficarei para fazer companhia às damas. –disse Aiolia, ignorando o olhar do irmão. Naquela manhã, Aiolos achava que seu irmão caçula agia de modo estranho.

–Mais alguém pretende ficar? –perguntou Lucy a todos.

–Eu ficarei também. –Inis avisa, sussurrando para Thatiane. –O que está escondendo?

–Ludmila pode ir conosco? –Amanda perguntava. –Ela parece muito interessada nas ruínas.

–Milady, eu acho que... –ficou sem graça. –Não tenho roupas adequadas para uma dama cavalgar!

–Pode usar a minha! –Thatiane responde se afastando da irmã inquiridora. –Eu não vou mesmo!

–Sem problemas! –Lucy levantou da mesa, batendo palmas. –Vamos nos aprontar? Temos que colocar nossas roupas para esse passeio.

–Igor, nos acompanhará?

Vanessa pergunta ao mordomo, que ao ver o olhar de Kanon, aflito com a possibilidade de ele os acompanhar, diz com um sorriso sardônico no rosto, ajeitando os óculos.

–Certamente que irei senhorita Dawes.

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

Quando a égua atingiu o topo da colina, Julie teve uma vista privilegiada da propriedade do Visconde de Chanttél, da floresta até os pastos com carneiros. Lembrou-se de sua terra natal e da pequena propriedade rural que fora de seus pais, onde nasceu e passou a maior parte de sua infância e adolescência.

Olhou para os céus e viu nuvens de chuva se aproximando, provavelmente iria chover mais ao fim do dia. Algo comum na Inglaterra.

Também se lembrava do quanto apreciava a paz que uma cavalgada, e que precisava disso para colocar sua mente em ordem e o que precisaria fazer para afastar os Tassoulis de sua vida e de Amanda. Não importa o que escolhesse fazer, alguém iria se magoar muito nessa história.

Teria que contar a verdade para Amanda e para lorde Furneval, esperava que o primo do falecido Barão cuidasse daqueles oportunistas. Mas ao mesmo tempo tinha a mente tumultuada pela imagem dos olhos sedutores de Saga, e do quanto os beijos que ele lhe dera a abalavam.

Ao contrário das damas que já foram casadas, Julie não desfrutou de um casamento verdadeiro. Fora uma amiga e mãe para as meninas, uma esposa para o Barão, mas não sua mulher. Estava resignada a passar toda a sua juventude sem saber o que era ser a mulher de alguém, até aquele grego trapaceiro entrar em sua vida.

A égua de pelagem castanha que fora emprestada pelo Visconde parecia inquieta, demonstrando que estava se cansando daquele passeio. Sua agitação fez a baronesa esquecer por um momento do grego, para controla-la. Mas a égua era de natureza tão dócil que a baronesa não encontrava dificuldade em controlar o animal.

De longe avistou um lago e se aproximou dele e guiou a égua através do pasto até ele, tão logo desceu a colina, incitou o a égua a galopar mais ligeira e parou próxima às árvores. Foi quando percebeu que um cavalheiro se aproximava montado em um garanhão negro, e nervosa o reconheceu mesmo de longe.

Saga Tassouli estava se aproximando.

–Milady. –ele a cumprimentou sorrindo. –Bela manhã para cavalgar.

–O... O que faz aqui, senhor?

–Cavalgando? –ele respondeu com um sorriso sedutor.

–Sabe o que quero dizer. –resmungou, irritada.

–Consegue ficar linda até quando está irritada, milady. –disse ficando ao seu lado. –Mas, podemos conversar?

–Agora?

–Que melhor lugar e oportunidade que aqui e agora? –ele fez um gesto com as mãos mostrando onde estavam. –Aqui ninguém irá nos importunar e podemos ser sinceros um com o outro, não concorda?

–Tem razão. O que deseja conversar?

–Sobre Amanda e meu irmão.

–Ora, por favor. –Julie desmontou a égua e segurando-a pelas rédeas aproximou-se de uma arvora, amarrando-a em um galho, depois caminhou até uma macieira. –O que temos a conversar sobre esse assunto o que já não foi discutido? Pretendo dizer ao lorde Furneval sobre suas intenções e deixar que ele resolva isso, seja por meios legais ou por um duelo.

–Não faça algo impensado como isso, milady. –Saga também desmontou, amarrando seu garanhão ao lado da égua e foi até a baronesa.

–E por que eu não faria?

–Porque o idiota do meu irmão está sinceramente apaixonado pela senhorita Amanda.

Julie encarou Saga boquiaberta.

–Espera que eu me comova com...

–Não. Mas é a mais pura verdade.

Nesse momento Julie percebeu que Saga não estava atuando, mantendo a imagem de um lorde, mas sendo o mais sincero possível.

–O que tem em mente, senhor?

–Permita que eles se casem. –ela o olhou indignada. –Ora, não é tão aterrorizante assim! Muitas damas casam sem amar seu marido e tem vidas infelizes! Por que não permitir que duas pessoas visivelmente apaixonadas fiquem juntas?

–Porque esse casamento começaria se baseando em uma mentira? Um casamento de interesse? Afinal, é o dote e a herança de Amanda que os motivou a se aproximarem dela.

–Esse tipo de casamento a senhora entende bem, não é? –disse-lhe com certa impaciência na voz.

–Como ousa?

A indignação de Julie atingiu o seu limite. A dama lhe deu as costas e caminhou até a sua montaria, pronta para ir embora, mas foi impedida por Saga, que a segurou firmemente pelo braço.

–Acaso estou mentindo, senhora? –ele a obrigou a encará-lo. –Diga algo que mude essa imagem de minha mente, então!

–Não devo nada e muito menos explicar minha vida ao senhor!

–Julie... Perdoe-me... –ele sussurrou, fazendo-a desviar o olhar dele.

–Não me casei com o Barão por causa de seu dinheiro. –ela respondeu, fitando-o. –Todas as propriedades do Barão pertencem às filhas, com exceção de uma propriedade, que ele adquiriu na época de nosso matrimônio. Casei sabendo disso. Mas sou grata a ele por me tirar de um futuro incerto e me dar um lar, e por isso, cuido de suas filhas como se fossem da minha família. Satisfeito, senhor? Não sou uma caça dotes.

Ele a soltou, envergonhado de sua atitude e deu um passo para trás.

–Perdoe-me.

–Está tudo bem, milorde. Estou acostumada a ser conhecida pela sociedade londrina como uma aventureira que se casou por dinheiro.

Um pesado silêncio se instaurou entre eles. Julie acariciava o pescoço da égua, se preparando para montar e ir embora, mas a voz dele a impediu.

–Espere senhora. Não quero que vá pensando o pior de mim.

Ele tocou levemente seu pescoço com as pontas doe dedos, fazendo-a estremecer. Julie lembrou-se da maneira lasciva que aqueles dedos a tocaram na noite anterior, bem como os lábios do cafajeste grego. Ela umedeceu os lábios, mas afastou esses pensamentos nada decentes de sua mente.

–E o que quer que eu pense, senhor?

–Que sou apenas um homem que perde a razão quando imagina que outro homem a tenha tocado. Mesmo que seja seu falecido marido. - Para sua surpresa, Julie notou certo amargor no comentário.

–Que?

–Eu sei que sou um patife, tenho o caráter duvidoso. Dou golpes para viver desde criança e, modéstia a parte, sou bom nisso. –continuava a falar. –Mas também amo minha família, isso a senhora sabe dizer que não estou mentindo. E que estou disposto a ajudar meu irmão a conquistar a dama pelo qual está apaixonado, mesmo que tenhamos que assinar algum contrato abrindo mão de cada libra que a senhorita Amanda tenha direito por sua herança.

–Está tentando me enganar?

–De modo algum. Ao fazer isso estarei colocando meu pescoço no fio de uma navalha. –sorriu de lado. –Mas não é algo que devo ficar contando a uma dama. Não seria adequado a senhora ficar sabendo de todos os meus maus passos. Mas, o que devo fazer para que acredite que meu irmão tem sentimentos verdadeiros e nobres pela senhorita Amanda?

–A única coisa que me faria acreditar na sinceridade dos sentimentos de seu irmão por Amanda. –dizia Julie fitando-o. –É ele lhe contar a verdade.

–Porque não lhe dá um tiro no peito? Seria menos doloroso.

–E terá que se afastar de mim e de minha família também. –disse sentindo uma incômoda dor no peito.

–Mais humano seria me dar um tiro na testa, senhora.

–Francamente... Não consegue manter um diálogo sério?

–Eu tento, mas... Tem algo que acho demasiadamente sedutor na senhora que me move a falar sem pensar. –as palavras dele, mudando completamente o assunto, a surpreendeu. –Essa expressão de contrariedade em seu rosto à deixa atraente.

–E por isso vive a me irritar, senhor Tassouli?

–Também é divertido.

–Oh, por favor. Você quer conversar de modo sério ou não?

As palavras que se seguiram pareceram emergir sem que ele ponderasse.

–Quero que me beije.

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

De volta a Fazenda.

Todos pareciam ansiosos para a tal cavalgada. Melissa havia se negado a permitir que Aiolos tornasse seu passeio desagradável com sua presença, o grego se divertia com a ideia de passar o tempo irritando a menina. Ela fez questão de escolher o cavalo que desejava montar, ignorando o cavalariço que lhe oferecia uma égua mansa.

Ludmila que raramente montava escolheu a montaria oferecida antes a Melissa. Ignorando o olhar de Shura sobre ela, montou com certa segurança, como uma verdadeira amazona. O espanhol deu um sorriso, com certo orgulho de vê-la conseguir a proeza de dominar sua montaria.

Nesse momento, ele fora cercado por Giovanni, Afrodite e Aldebaran. Os três lançaram olhares severos a ele.

–Algum problema? –indagou o espanhol sem alterar o semblante.

–Você tem que falar com ela! –avisou Aldebaran.

–Não é digno de um cavalheiro o que está fazendo! –replicou Afrodite.

–Eu sei o que esperam que eu faça?

–Aproveita esse passeio e diga a ragazza a verdade. –disse Giovanni, ajeitando o casaco. –Nós estaremos próximos e explicaremos ao lorde Furneval, o atual empregador dela, o que está havendo. Ele parece ser um homem honrado, tenho certeza que pode interceder por ela sobre qualquer questão legal sobre esse caso.

–Questão legal? –Shura estava indignado. –Eu jamais pensei em causar qualquer prejuízo à moça! Penso até em lhe dar um bom soldo para que possa viver bem!

–Acho pouco... Penso que deveria dar-lhe um dote! –Giovanni disse sério.

–Dote?

–Sim. Para que se case com alguém de posses. Para lhe dar uma vida mais tranquila. –Shura sentiu uma pontada no boca do estômago. –Penso que talvez ela possa ficar noiva do irmão de Helena!

–Gilen? –Afrodite pareceu pensativo. –Ele é adequado?

–Claro. Está criando juízo! Claro que sob minha supervisão. –Giovanni sorriu. –Mas podemos sugerir que se casem dentro de dois ou três anos, quando Gilen se tornar um oficial mais graduado. E olha só! Ela vai ser da minha família!

Shura cerrou o punho.

–Algo errado, Shura? –Giovanni perguntou sorrindo. O espanhol lhe lançou um olhar gélido. –Por um momento achei que a ideia da futura ex-senhora Mendonza casar-se com outro homem o desagradou.

Shura nada disse, se afastando do grupo. Na verdade nem ele mesmo sabia dizer por que se sentia incomodado pela conversa. É bem a verdade não poderia exigir nada à Ludmila, teria era que pedir por seu perdão pelo o que fizera com ela, por tê-la usado. Nada mais.

Nada era mais justo que a ajudasse a reconstruir a vida, ter um bom futuro ao lado de alguém que cuidaria dela. Então por que a ideia começava a lhe incomodar? O fato é que não imaginava que a jovem que ficou anos admirando em um retrato fosse uma moça de qualidades, com um sorriso juvenil. E os mais belos olhos que conhecera.

Lembrava-se da noite do “casamento”. Os olhos grandes e curiosos de Ludmila foi algo que chamou sua atenção. Era a única coisa que realmente se lembrava, pois após a “cerimônia” foi embora sem olhar para trás com o documento que precisava para recuperar sua herança de direito. Os mesmos olhos que ao fitar no retrato feito pelo artista de rua, anos depois, ainda o cativavam.

Absorto em seus pensamentos esbarrou em lorde Furneval. Murmurou um pedido de desculpas e se afastou do grupo. Shaka achou a atitude do espanhol sem cortesia alguma, mas não estava disposto a atrapalhar aquela bela tarde ao lado de Louise com alguma discussão sem sentido.

Shaka queria aproveitar o tempo e ter alguns momentos a sós com Louise, o mesmo se aplicava a Mu. O tibetano sabia que na presença da avó seria impossível ter alguma conversa em particular com Lucy e ansiava novamente poder compartilhar da companhia da dama.

–Senhores, melhor se apressarem! –disse o cavalariço, entregando o último animal a Afrodite. –Meu pai disse que provavelmente vai chover hoje!

–Como pode afirmar tal coisa? –perguntou Afrodite, achando graça.

–Meu pai nunca erra. Ele tem um ferimento na perna que sempre dói quando vai chover! –o rapaz falou sério.

–Está bem. –replicou Lucy. –Vamos até as ruínas e voltaremos antes do chá da tarde.

Todos concordaram e o passeio deu início. Do lado oposto a eles, observando de longe, Edgard sorri. Aproveitando o fato de que a fazenda teria menos convidados, poderia vasculhar os quartos de hóspedes, fazendo jus às suas habilidades de ladrão. Não iria procurar nada além do baú que seu patrão tanto quer.

Mas a curiosidade de saber o que havia em tal baú começou a atiçar a cobiça dele.

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

–Quero que me beije.

As palavras de Saga Tassouli a deixaram sem reação, em seguida ele a tocou no queixo com delicadeza. Julie o fitou sem conseguir sequer se mover. No fundo ela ansiava para sentir novamente aqueles lábios tocando-a novamente, mas precisava agir com bom senso.

–N-Não é o correto. Está tentando me seduzir para me persuadir a não contar tudo ao lorde Furneval!

–Não. Eu quero mesmo beijá-la.

Ela viu os lábios sedutores se aproximando lentamente, e fechou os olhos ao sentir o toque gentil e suave quando ele lhe roçou os lábios, traçando as curvas da boca com a língua. Em seguida, segurou-a pela cintura para ampará-la e impedi-la de se afastar.

A noite anterior na biblioteca só fizera com que o desejo que sentia pela viúva Dawes só aumentasse. Mal dormira a noite e quando conseguia conciliar o sono, tinha belos sonhos com a beldade ruiva em seus braços, se deliciando com suas curvas generosas e lábios tentadores. Tomando-a para si, fazendo-a experimentar o que era realmente o prazer de ser amada por um homem jovem e vigoroso.

Queria sua baronesa mais do que quisera qualquer outra mulher em toda a sua vida. Todas as mulheres que possuiu eram conquistas visando um lucro, faziam parte de intricados jogos de sedução, e sempre tirava proveito delas. Mas agora, pela primeira vez, sentia que desejava de verdade uma mulher e sentia que não a merecia.

Com um suspiro, finalmente encerrou o beijo fitando o rosto ruborizado da baronesa, seus olhos castanhos mais brilhantes do que nuca refletiam a confusão e a hesitação em se entregar que pareciam dominá-la.

–Se eu continuar irei colocar em risco sua reputação, minha senhora. –ele dizia quase em um sussurro, se controlando e se afastando dela.

–Chega desses jogos. Vamos embora.

Seus olhos pareciam hipnotizá-la. Por um instante, ela não conseguiu se mover ou respirar. Com um gesto apenas, Saga afastou-se de Julie.

– Ainda podemos ficar aqui um tempo. Tem certeza de que quer ir embora, milady?

–Sim.

A baronesa respondeu e pegando as rédeas da égua retirou-se, caminhando devagar e se afastando dele, impedindo-a de ouvir seu último comentário, acompanhando seus movimentos com o olhar.

–Bela e mentirosa.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Verão Inesquecível" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.