As Brumas do Sol escrita por Sue Dii, Shinigami_Tales


Capítulo 2
Capítulo I - O quebra-cabeça


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo: Tasha-chan, dômo arigatou pela capa, pela betagem e pela força!

Agradeço também às reviews! Queria dizer aqui, que eu sinto muito pela demora.

Mais uma vez: Bleach e suas personagens pertencem a Kubo Tite, mas algumas persoangens são de autoria nossa.

Tenham uma boa leitura!



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Estava sentado sobre o degrau que separava a área da loja de sua casa ao fundo. O silêncio não o incomodava, pois pensava sobre algumas coisas. “A Hougyoku...” havia tomado providências para que Kuchiki Rukia, a hospedeira de sua mais perigosa criação, tivesse a reiatsu reduzida até que se tornasse uma mera humana, e assim esconderia a raridade para sempre de quem quer que viesse a querê-la. Ainda assim, era inegável que em seu plano houvesse muitas falhas, afinal, quando implantara a hougyoku na moça, nem desconfiava que ela pudesse fazer parte da nobreza e, naquele momento, perguntava-se até quando os Kuchiki fariam vista grossa do tempo excessivo que a Shinigami passava em Karakura.

Dando um último suspiro, levantou-se e entrou. Logo Akemi, sua pupila, seria dispensada do treino com Yoruichi, e era bom que ele se mantivesse extremamente calmo, visto o modo como ela o vira na madrugada. Lembrando-se do sonho, retirou o chapéu e passou a olhar pelo seu fundo, como se estivesse refletindo sobre alguma coisa. Balançou negativamente a cabeça e recolocou o chapéu; aquilo era o último fragmento de uma história muito, mas muito antiga, e havia outras coisas com as quais ele devia se preocupar. Com a expressão rotineira de volta ao rosto, sorriu e caminhou até onde provavelmente as duas mulheres com quem vivia estariam se recompondo.

Chegando à cozinha, sorriu ao encontrá-las ali - como previsto. Akemi estava com um copo de água na mão, enquanto a Shihouin montava um sanduíche enorme com ingredientes roubados da geladeira.

- Ah, Kisuke! – a morena chamou, apontando para a pupila – Ela é toda sua agora! – anunciou, rindo da expressão de Akemi em resposta.

- Vamos então, Akemi-chan? – chamou, não dando a ela o devido tempo de descanso; o que já era de praxe.

Resmungando qualquer coisa e arrancando mais risos de Yoruichi, Akemi deixou a cozinha com o ex-taichou, indo até a sala que usavam para pesquisas. Antes de chegar à reservada sala, porém, Urahara não ignorou o fato de que a feição de sua pupila mudava: ela tinha algumas coisas para lhe falar, não?

Parando em frente ao cômodo fechado, voltou o olhar para ela, direcionando-lhe um de seus sorrisos irritantes antes de abrir a porta e lhe dar passagem - cavalheirismo que, mesmo que a irritasse, ele não poderia deixar de demonstrar (serviria para ela mais tarde).

- Então, Akemi-chan, onde paramos? – indagou após fechar a porta, fazendo-a lhe dar um sorriso em resposta.

- Excelente pergunta, Urahara – escorou-se sobre uma das mesas dispostas, e sem pensar muito, averiguou: - Se está tão preocupado com a Hougyoku, quer dizer que já estão aqui. Quem veio? – sabia que para capturar alguém do nível de Rukia não era preciso que chamassem a um fukutaichou, mas o sobrenome da pequena Shinigami certamente a intrigava.

- Por enquanto, ninguém importante – respondeu, o tom mais sério do que o de alguns segundos atrás. – Apenas vieram sondar a Kuchiki-san...

- É porque se trata de uma nobre, não? – ele não respondeu – Por ela ser uma nobre, querem lhe dar uma colher de chá; querem ter a certeza de considerá-la uma criminosa ou não.

Urahara suspirou, sabia bem o que havia acontecido com a pupila. Ela havia passado por maus bocados quando ele tivera que deixar o posto, e Aizen Sousuke continuava a mexer os pauzinhos, ele tinha certeza. Além disso, uma peça não se encaixava em seu quebra-cabeça pré-formado: por que, depois de cem anos, procuravam também Ukitake Akemi? Saberia Akemi usar aquela situação sem se deixar levar pela amargura?

– Vamos começar? – indagou, mudando totalmente o rumo da conversa. Naquele momento, achava melhor que Akemi continuasse sem saber dos interesses da Soul Society.

***

Não era meia-noite ainda quando já se encontrava deitado e encarando o teto, embora o corpo estivesse cansado como ao final de qualquer dia; a mente trabalhava tanto em suas suposições ou ideias que ele sabia: não dormiria tão cedo.

Em meio a tanta coisa fluindo, inconscientemente e sem a própria permissão, a imagem de uma bela mulher morena, cabelos castanhos e olhos verdes intensos vieram à tona, fazendo-o franzir o cenho - uma expressão incomum para quem convivia com ele. Desconfortável, levantou-se, havia por ora desistido de esperar o sono chegar.

Sabendo que provavelmente passaria horas até que resolvesse se deitar novamente, vestiu-se com a roupa fresca e o sobretudo verde habitual; o chapéu e o leque também não lhe faltaram. Apanhou Benihime e tão logo abriu a porta de correr, uma sensação conhecida o fez se interromper. “Essa reiatsu...”.

Tomado pela sensação de urgência, readquiriu a postura costumeira e caminhou sem alarde até um dos quartos, batendo a bengala na porta de correr antes de finalmente abri-la.

- Yoruichi-san; creio que também sentiu. – soltou, adentrando o cômodo sem se preocupar com o cavalheirismo pertinente.

- É claro – sentada sob o futon e vestida com uma roupa de dormir semi-aberta, respondeu no tom que lhe era devido, afinal, era óbvio que havia sentido. – Acredito que Akemi tenha percebido também – a última parte foi dita em um tom mais sério, no que Urahara assentiu.

- Sabendo que Akemi-chan não hesitará em fazer uma investigação própria, eu presumo que seja melhor você dar uma averiguada antes – era muito bom o fato de a ex-taichou da Onmitsu Kidou não ter suas habilidades enferrujadas, e o fato de ser metamórfica dava-lhe uma vantagem ainda maior. – Volte amanhã de manhã para que ela não desconfie, caso esteja dormindo.

- Aa... – concordando, levantou-se e se despiu da leve yukata sem pudor algum de sua seminudez, no que Kisuke apenas sorriu maldosamente e abaixou o chapéu, virando-se de modo a não conseguir vislumbrá-la.

- Kisuke – o timbre logo o fez se virar e, vendo as roupas íntimas de Yoruichi jogadas no chão, levou apenas um segundo para achar o gato negro de olhos dourados, que erguia uma das patas para lamber.

- Conto com a sua ajuda – ouviu-o dizer em “tom de comerciante” e revirou os olhos.

- Ittekuru.

- Itterasshai!

Viu-a caminhar até a porta e logo sumir de vista e, sorrindo, saiu do quarto e fechou a porta - faria seu próprio dever de casa até o amanhecer.

Adentrando o cômodo onde realizava as pesquisas junto com Akemi, o ex-taichou logo pegou um dos aparelhos rastreadores que havia consertado e, assim que o ligou, o semblante mudou ao ver que - nos últimos quinze minutos - nenhum Senkai mon havia sido aberto.

- Uma reiatsu a nível de taichou, sem o Senkai mon ter sido aberto? – “Interessante...” então, já havia algum taichou ali no mundo humano que havia recebido ordem para ir diretamente a Karakura e levar Kuchiki Rukia embora? – Yoruichi-san, deixarei por sua conta. – visto que estava limitado, soltou por fim.

***

Perto do horário do café da manhã, quando Tessai terminava de preparar a refeição que mais parecia um banquete, Urahara e ele viram Yoruichi adentrar pela janela em forma de gato e caminhar na direção do dono do estabelecimento, parando ao lado dele sobre a mesa.

- Nada – disse simplesmente, e parecia obviamente aborrecida por não ter conseguido qualquer resquício de informação.

- O rastreador também não mostrou nada. – sussurrou, fazendo o gato enrijecer o semblante. – O que eu percebi foi que o número de Hollows que apareceram aumentou drasticamente, e diminuiu quase que instantaneamente.

- Hollows, é?

- O que vocês dois tanto cochicham aí? – ouviram a voz de Akemi e se viraram para a entrada da cozinha; ela se encontrava encostada ao batente. Havia ouvido alguma coisa que não podia?

- Falávamos sobre coisas inapropriadas para menores, Akemi-chan. – a brincadeira de Urahara fez apenas Tessai corar ferozmente, visto que Yoruichi sustentava a piada e Akemi os encarava, incrédula.

- Deixemos isso de lado, por ora – respondeu, sentando-se à mesa normalmente enquanto Yoruichi pulava da mesa e saía do cômodo atrás de roupa.

- Por hoje, Akemi-chan, o que acha de começarmos com as pesquisas? – sugeriu, no que a pupila franziu o cenho. – Nós não fizemos muita coisa ontem, não é mesmo?

- Como quiser – respondeu.

Os dois sabiam: Akemi já havia notado que algo acontecia, e seria impossível mantê-la distraída por muito tempo.

- Eu realmente acho que a senhorita devia dar alguma folga desses treinos malucos, alimentar-se melhor,... – Tessai começou, no que a gata já chegava vestida e com um sorriso demonstrando certo sadismo.

- O que disse dos treinos, Tessai? – indagou, aproximando-se da mesa. – Vou perdoá-lo pela comida. – brincou, sentando-se ao lado do comerciante.

Urahara sorriu, afinal, o humor sempre apimentado de sua parceira conseguia ser mais útil a um disfarce, pelo menos Akemi não desconfiaria de que Yoruichi havia fracassado na busca, o que não era uma novidade, mas era raro, inclusive para ele.

- Jinta e Ururu? – perguntou, por fim, no que Tessai deu de ombros.

- Estão varrendo, como sempre.

- E aquele moleque faz alguma coisa? – ouviram Akemi perguntar – Eu só vejo a Ururu varrendo e o Jinta batendo nela.

- Brincadeiras de crianças, senhorita – Tessai garantiu, sentando-se finalmente à mesa para acompanhá-los.

***

Após o café, não conversou mais com Yoruichi sobre o estranho acontecimento da noite passada, visto que acompanhou a pupila até a sala de pesquisas. Lá, falou de coisas aleatórias como Soul Candy e rastreador quebrado.

Mais tarde, perto do horário do almoço, dispensou-a para que descansasse; a insistência de Tessai deu um ar mais genuíno ao pedido, deixando-o um tanto mais tranquilo.

À tarde, procurou manter um olho sobre tudo enquanto fazia um balancete que havia acabado de inventar; Jinta resmungava alguma coisa de fora enquanto Ururu carregava caixas e mais caixas de produções dele e da pupila, que, por incrível que pareça, era justamente para Shinigamis. “Tirar algo bom do que é ruim, a frase se encaixa perfeitamente em nossa situação, não acha?” lembrou-se de uma vez ter indagado a Akemi, quando lhe disse que se divertiriam com o comércio.

Fazendo cálculos e anotações sobre quantidade de produtos, marcas e afins, não precisou virar para ver quem se aproximava: era Yoruichi, novamente com o corpo de gato.

- Eles estão aqui – a frase curta, dita no tom sério, o fez tirar os olhos das anotações para fitá-la. O quebra-cabeça havia aumentado, e mais prioritário que isso: já estavam ali por Rukia.

Com um olhar, trocaram uma mensagem: esperariam até que a Shinigami fosse levada, afinal, era impossível deter alguém ali.

***

- Por que foi lá!? – ouviu a parceira inquirir, revoltada, e balançou negativamente a cabeça, aproximando-se sorrateiramente.

- Porque vocês estavam me escondendo algo. Seria mais fácil saber que eu não deveria ir lá se tivessem me falado! – ao ouvir aquela afirmação, a expressão de Urahara foi de pequena surpresa, pois se havia escondido tudo de Akemi era por medo de que ela fizesse justamente o contrário.

- Tudo bem, vocês duas... – chamou-lhes a atenção, encerrando a semi-discussão. - Akemi-chan, a Yoruichi-san descobriu esses dias que querem te levar de volta para a Soul Society... Eles sabem que está viva. – resolveu finalmente falar, afinal, o leite já havia sido derramado, o melhor era confiar em Akemi.

- E por que querem me levar!? – a duvida expressa de forma confusa e irritada o fez suspirar; não tinha a resposta para a pergunta urgente.

- Não consegui descobrir, mas... Até lá, você não ficará sozinha – foi a vez de Yoruichi falar; o olhar mostrando clara preocupação com a pupila.

- E a Rukia? – mais calma, Akemi foi à outra parte do espetáculo, ao mesmo tempo em que um som do lado de fora indicava o início de uma chuva densa.

- Por enquanto não podemos nos meter nesse assunto – a resposta havia sido vaga, mas esperava externar para Akemi pelo menos a importância que ele dava ao assunto.

Encarando de um ao outro, perguntou:

- Eles ainda querem me matar? - havia algum motivo para ela não poder se aproximar, obviamente.

- Não sabemos, mas provavelmente não. Há algo acontecendo – Yoruichi finalmente deixou clara a escassez de informação que tinham, algo que Kisuke sabia, devia estar fazendo com que se mordesse internamente. – Se formos voltar, voltaremos juntas e clandestinamente! – encerrou, um sorriso maroto deixando claro que não estava realmente abalada.

- Yoruichi... – o loiro sorriu discretamente. Diziam que uma relação mestre-aprendiz era muito forte, e ele sabia o quanto uma prezava a outra nesse sentido.

Mesmo sem a intenção de estragar o momento, ele e a mulher-gata ainda tinham coisas a fazer... Suspirou:

- Precisamos buscar Kurosaki-san, afinal...

- Aa...– e Yoruichi novamente tomou forma de gato, sem se importar com as roupas sobre o chão frio – Ele pode estar ferido – e antes que qualquer dúvida surgisse, explanou: - Ele entenderá após isso que precisará treinar antes de ir para a Soul Society.

- Esperarei vocês, então – disse com serenidade, no que Shihouin e Urahara apenas assentiram e tomaram seus rumos. Tessai os aguardava do lado de fora com um guarda-chuva.

Chegando ao local, encontraram não só um falso shinigami como também o quincy que armara tamanha confusão há alguns dias, e algo dizia a Urahara que o caminho daqueles dois se cruzaria várias vezes.

Abrindo o guarda-chuva, indicou os dois ao amigo, que os pegou como sacos de batatas sem problema algum.

- Este garoto está perdendo sangue, Tenchou.

- Então, sejamos rápidos – disse simplesmente, no que Yoruichi e Tessai passaram a correr e ele foi atrás, tranquilamente.

No meio do percurso, sentiu outra vez a reiatsu da madrugada, e detendo-se por um instante, fez um desvio. Como se lhe fosse algo natural, saltou para o telhado de uma casa e passou a averiguar tudo a volta - a expressão de quem estava meramente especulando, procurando...

Levado pela curiosidade, saltou para o telhado de outra casa e prosseguiu com a busca, que acabou levando-lhe até a grande ponte da cidade, onde ele viu: com sua lâmina traiçoeira, dançava em meio à tempestade numa luta sem sangue; a velocidade com a qual se movia fazia as madeixas balançarem mesmo com o peso da umidade, e no rosto estava estampado um sorriso, que o levou inconscientemente a sorrir, mesmo em meio à grande surpresa e à dor que começava a transpassá-lo.

Vendo-a tão radiante naquele baile de matança, sentiu-se impelido a aproximar-se, mas, ainda que a distância fosse de apenas alguns hectômetros, havia outra medida que não o deixava dar um passo a mais: os mais de cem anos em que ela se manteve inalcançável; as décadas em que tudo o que ele podia fazer eram perguntas.

Começando a se ver num dilema que nunca havia vivido, a única coisa que o tirou da breve e intensa divagação foi a voz conhecida:

- O que está olhando, Kisuke?

Virando-se para a gata que o fitava intrigada, voltou o olhar para o cenário que observava: não havia mais nada ali. Sorriu um tanto aliviado, e apenas voltou o olhar para ela, sereno.

- Nada, eu só estava dando uma volta.

- Tessai já cuidou dos ferimentos do garoto quincy, e disse que os do Ichigo são mais graves... Mas tem algo mais o preocupando. – anunciou, indo diretamente ao assunto.

- Hipotermia? – chutou. A gata confirmou com o olhar.

- Tessai disse que Ichigo perdeu muito sangue e que isso abalou a resistência do corpo dele.

- Bem, vamos voltar – disse simplesmente, ajeitando o chapéu ainda seco sobre a cabeça, passando a andar acompanhado pela gata enquanto os cobria com o guarda-chuva que segurava monotonamente.

Dando uma última olhada para o cenário que observava até segundos atrás, não soube se desejava que a visão fosse apenas ilusão, ou se queria que Youkou realmente estivesse ali.


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Notas finais do capítulo

Tasha-chan, só tenho a agradecê-la por tudo!

E minna-san, eu agradeço a atenção!

Até o próximo capítulo e... Reviews? .-.