May Castellan ergueu os olhos para o relógio, com uma visível ansiedade se projetando em seus dedos trêmulos. O relógio dourado de cuco marcava onze e meia da manhã. A mulher abriu um sorriso radiante. Um sorriso que, outrora, contagiava todos à volta, mas não naquela hora. Qualquer um que visse o sorriso infantil nos lábios de May e olhasse para os seus brilhantes olhos azuis, ficaria com vontade de ir embora. Ela parecia louca. E ela estava louca, isso era um fato. 

Tropeçando nos próprios móveis, May foi até a cozinha. Preparou biscoitos apressadamente, olhando constantemente no relógio. A qualquer hora, Luke poderia chegar. E Luke gostava de biscoitos de chocolate e sanduíches. Após preparar desajeitadamente os biscoitos, colocou a forma no forno e ligou em 250ºC. Não poderia deixá-los queimar naquele dia. Porque naquele dia Luke estava voltando para casa. 

Pegou algumas fatias de pão e, carinhosamente, preparou dois sanduíches, um com manteiga de amendoim e outro com geleia. Luke amava geleia. Sorriu radiante novamente e colocou os sanduíches em um pratinho. Eles estavam à espera de Luke, ela sabia.

Em seguida, ela foi até um dos inúmeros espelhos da casa e parou na frente deles, sorrindo. Seus cabelos estavam desgrenhados e ela estava consideravelmente magra. Os olhos emitiam um brilho constante e o sorriso parecia intacto. Ela estava feliz. Ora, Luke estava voltando para casa! Ela deveria estar feliz, certo?

Ela ouviu três batidas furtivas na porta da frente e pareceu sair do transe. Era Luke. Correu para a porta e abriu-a, alargando o sorriso quando viu o garoto parado à sua frente. Ele era alto e já tinha alguns bons centímetros a mais que ela. Seus cabelos cor de areia estavam desalinhados. Ele estava mais pálido do que comumente. Havia uma enorme cicatriz marcando seu belo rosto abaixo dos seus belos olhos azuis. Ele trazia uma expressão dura no rosto, mas May pareceu não notar aquilo.

— Luke! — ela gritou alegre. Abraçou o filho com força, não sendo retribuída. Luke apenas mantinha uma expressão de apatia no rosto e olhava para os lados, com medo de que alguém visse aquela cena. 

— Luke, meu filho, entre, eu preparei biscoitos e sanduíches para você — May pediu, se soltando do filho e abrindo a porta por completo. Luke sentiu um nó se formar na garganta ao ver a mãe naquela situação. Não sabia o porquê, mas havia uma pequena centelha de culpa fazendo seu coração se apertar. Ele queria abraçar a mãe ali mesmo e deixar Cronos de lado. Mas a mãe era louca. Ela havia escolhido aquele destino. Luke não poderia fazer nada a respeito. 

— Só quero a sua benção — Luke dispensou o convite secamente, com uma expressão fria. May pareceu não notar aquilo, pois seus olhos brilharam com felicidade.

— Luke, eu lhe dou a minha benção — ela disse com uma voz doce. Sem uma palavra, Luke deu as costas, sem ao menos agradecer ou dizer adeus. Ouvia os protestos de sua mãe atrás de si. “Luke, volte, eu preparei biscoitos para você!” ou “Luke, você precisa comer!” e até mesmo “Luke, eu te amo, fique!”. Ele sentia certa vontade de ficar. De começar novamente. De ver a mãe feliz. De ser feliz. Mas ele não podia. Seguiria em frente.

Quando finalmente desistiu de tentar fazer o filho voltar, May voltou desolada para casa. O brilho alegre havia fugido de seus olhos e o sorriso havia desaparecido do rosto. Daquela vez, Luke iria embora para sempre. Ela sabia. Não havia Caixa de Pandora no mundo que pudesse ser aberta e trouxesse novamente a esperança para ela. 

Naquele momento, o cheiro de biscoitos queimados invadiu as narinas de May Castellan.