Eien no Setsuna - Tristeza Eterna escrita por jp9653


Capítulo 2
I. Fadada a Maldição




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1581 – Período Sengokud22;

Os olhos escarlates passeavam pela paisagem ‘urbana’ da província de Ōshū, sem um foco preciso, tentava apenas apreciar o mar de telhados, o cinzento das tábuas e o colorido das telhas. O outono embelezava a vista: o tempo estava ensolarado, o ar fresco e límpido. As folhas das árvores apresentavam cores quentes, como o amarelo e o vermelho. Os tempos eram difíceis. Toda a população estava envolvida nos acontecimentos que se sucediam no país, independente de sua classe social, sexo ou idade. Era um período conturbado e instável, o qual predominava o derramamento ininterrupto de sangue. Com o declínio do governo anterior, iniciou-se uma guerra civil que tomou conta do Japão, agora dividido entre clãs que pretendiam suceder o shogun. O conflito tornou-se tão contínuo, que conviver com a morte tornara-se algo habitual.

 

É neste contexto em que a kunoichi perdia-se em outrora na sua mente, enquanto ignorava o fato de estar vagueando no momento em que deveria estar disponível ao seu daimyo. Setsuna era uma guerreira de 16 anos nascida no clã shinobi³ de Iga. Uma menina no frescor da juventude, bela e exótica, destacava-se no castelo Yonezawa por seu corpo opulento. Sua beleza era comparável as filhas da aristocracia, deusas da pele de pêssego. Mas possuía a lubricidade de uma cortesã, o que tornava inevitável a ela despertar o desejo dos homens.

 

Apesar da boniteza, sua aparência causara-lhe muitos problemas durante a vida. Não eram agradáveis as pessoas seus olhos vermelhos, que somados ao seu rosto de aspecto selvagem, causavam temor e receio. Era comparada continuamente a um onis, youkais, obakes e até mesmo a uma kyuketsukis. A cor incomum de seu globo afastava os mais ignorantes, que convictos em crenças folclóricas criam que a companhia da mulher significava agouro, ruína, morte..

 

Lembro-me da minha infância. Quando tinha seis anos, meu pai morreu em uma missão. Mas minha mãe acreditava que o próprio clã o havia exterminado por ter gerado uma criança ‘amaldiçoada’, que traria o aniquilamento dos Iga. Não tardou a nos expulsarem dali. Eu, meu irmão e a mulher que me deu à luz fomos morar em uma pequena cabana longe do território dos shinobi, em uma montanha de difícil acesso, próxima a um pequeno povoado.”  

 

Quando Setsuna nasceu, os boatos de uma criança perversa com olhos de demônio se espalharam rápido pelo vilarejo. As pessoas acreditavam que era um presságio da decadência absoluta de Iga. Já não bastasse sua aparência, sempre fora mais ágil do que as crianças de sua idade. Vencia até os meninos em suas brincadeiras, que privilegiavam velocidade e flexibilidade. Era uma acrobata nativa. Não tinha amigos, era quieta e também bastante inteligente. E esperta o suficiente para não demonstrá-lo.  

 

As habilidades inatas e a estética causavam pavor. A família, juntamente da garota, sofriam preconceito. O pai, Shinta, e o irmão mais velho, Daisuke, ignoravam a intolerância e a violência verbal o qual eram submetidos diariamente. Tratava-se da honra e da dignidade que lhes era fundamental, e com certeza, possuíam. Mas a mãe, Arashi, enlouquecia aos poucos. Acostumada a ser invejada pelas outras kunoichi por suas habilidades e beleza, seu ego diminuía drasticamente com a vinda ao mundo de sua menina.

 

“– Bakemono! Bakemono! Akai no bakemono! – As crianças cantavam em coro enquanto apontavam e riam da minha face. Nenhuma lágrima escorria. Eu só os odiava por serem ignorantes, e me odiava por ser tão fraca. O que mais magoava era saber que minha mãe concordava. Com os olhos repletos de desprezo, a única pessoa que eu temia era a minha parideira. Mas nem tudo foi melancolia, os melhores momentos da minha infância foram aqueles em que meu irmão me ensinava, desde a ler e escrever até a arte do ninjutsu.

 

O momento em que Setsuna se questionou pela primeira vez se era certo ou não viver foi quando seu pai faleceu em uma suposta missão. Obviamente, enraivecida, Arashi descontou toda sua ira na filha, aos gritos, espancava-a enquanto dizia que toda a desgraça que se abatia sobre a família era sua culpa. Daisuke interviu assim que chegou a casa após ter recebido a notícia em meio de um dever. Junto à morte precoce, foram obrigados a abandonar o clã. A garota entendia perfeitamente o que acontecia ao seu redor, mas nada podia fazer com seu corpo débil e frágil de apenas seis anos. Apenas cogitou a possibilidade de que se viesse a perder a vida daria fim aos problemas de seu lar, mas sabia que era tarde demais.


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Notas finais do capítulo

Shogun ─ general e chefe militar, encarregado da administração e da segurança do império japonês.
Kunoichi ─ ninja do sexo feminino.
Daimyo ─ senhor feudal.
Shinobi ─ ninja, em japonês.
Oni ─ demônio.
Youkai ─ entidades lendárias japonesas semelhantes a elfos, duendes ou elementais.
Obake ─ monstro em geral. Literalmente: algo ou alguém cuja natureza foi pervertida e profanada, transformando-se em criatura sobrenatural e maléfica.
Kyuketsuki ─ vampiro, em japonês.
Akai no Bakemono ─ monstro vermelho.
Ninjutsu ─ arte marcial dos ninjas.



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