Only Need Your Look escrita por NyahM


Capítulo 5
Capítulo Quinto - The filth,




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A Imundíce,

O Abismo do Desespero,

A Escuridão. 

XXX

Quando acordou, sentiu cada osso do seu corpo fraco como um graveto. Novamente, estava naquela sala escura, jogada com as cobras, literalmente. Depois de uma noite de violência como muitas outras que já havia passado, não conseguia levantar-se. Fitava o negro, e escutava o sibilar dos répteis que viviam no lugar. Eles não chegariam perto dela se ela não se mexesse, uma coisa que aprendeu em todos esses anos. Sendo assim, não era difícil. Não conseguiria levantar a cara inchada do chão nem ao menos se quisesse.

Crona não via nada na escuridão assustadora do quarto, mas sabia que algumas dezenas das cobras de estimação de Medusa a cercavam. Ela não conseguia escutar barulho nenhum além do horripilante que os animais emitiam, então provavelmente o relógio indicava três horas da tarde ou algo assim. O trabalho de Medusa começa a uma hora, e se prolonga até cinco horas. O de Ragnarok começa por volta das duas, e ele só volta de madrugada, devido ao trabalho ou não.

Se ninguém estava em casa, provavelmente o sol ainda ardia, transformando a tarde dos habitantes de Death City em um ensolarado descanso.

Crona se arrependia amargamente de um dia ter lamentado por estar sozinha. A companhia de Medusa era a pior, e talvez ficasse feliz quando ela estivesse morta, enterrada o mais fundo possível, numa terra infértil e seca. Ela merecia isso. Assim como Crona merecia um descanso, de sofrimento. Talvez o destino cruel tenha pena dela, talvez um ser superior lhe abençoasse ou quando morresse, tivesse uma nuvem fofa e branquinha reservada no Céu.

Ou talvez não.

Só lhe restava aceitar e aguentar o que estava reservado para ela, fosse o que fosse.

XXX

- Kid, eu sei que talvez seja difícil pra você aceitar, mas talvez Crona esteja melhor sem a gente.

Liz  murmurou, observando Kid andar de um lado para o outro, pensando seriamente.  Sabia que era só questão de tempo até ele ter uma idéia eficiente que o colocasse em problemas. Estava mais preocupada com o tamanho do punho daquele homem indo diretamente para o lado esquerdo do rosto de Kid do que com o que poderia acontecer a Crona. Não que tivesse malícia em não se importar se ela estava no Inferno ou não. Mas é que estava muito preocupada com o fato de que Kid iria até o Inferno buscá-la.

- Hãn? Liz, não fale besteiras. Não acho que exista na cidade - ou no mundo - lugar melhor pra ela do que aqui. E ponto.

Ele recriminou, sem nem olhar no rosto da menina. Teclava alguns números no celular. Iria conversar com seu pai. Ancião do jeito que era, conheceria esse sujeito, e lhe passaria até a cor das cuecas dele, quando contasse o que o troglodita havia feito. Era o tipo de privilégio que tinha como filho do Shinigami-sama.

- Chichiue? Eu preciso de uma identificação. Você acha que consegue lembrar só com um retrato-falado?

XXX

Ragnarok suspirou. Já havia terminado seus deveres sombrios para com Medusa, mas não voltaria para casa. Não agora que Crona voltou para casa. Ele ainda se sentia muito culpado por ter sido o responsável de todo esse pesadelo voltar a acontecer. Não gostava de ir alimentá-la e vê-la jogada no chão, como lixo, com os olhos vazios. Ele a tinha visto crescer e tinha alimentado esperanças de que com ela tudo fosse diferente, e que Medusa iria tratá-la bem. Ver que isso nunca aconteceria tirava toda a sua vontade de levantar da cama quando acordava.

─ Aye, você!

Virou para trás devagar. Estava acostumado com pessoas arranjando problemas com ele no meio da rua. Viu uma moça loira, baixinha. Um corpo de mulher, mas sua voz era infantil como a de uma criança de dez anos. Quando ela chegou até ele, riu e entregou uma carta a ele.

─ Bye bye!

A menina saiu correndo por entre o vai-e-vem e agitação das ruas.

~

Ragnarok chegou em casa. Como ali, ninguém se importava em vigiá-lo, entrou sem preocupaçã e andou calmamente até seu quarto sem nenhum obstáculo. Trancou-se lá dentro, e se jogou na cama. Tirou do bolso uma carta. Aquela carta.

Quando a abriu, sentiu um papel negro de ótima qualidade saindo do envelope. Ao ver aquilo, sentiu um arrepio subir a sua coluna. Só agora lhe ocorreu que aquela carta poderia ser sinônimo de problema. A escrita elegante, com tinta dourada, era curta e grossa. Shinigami-sama, diretamente de seja lá diabos que ele estava, o convidou cordialmente para uma conversa. Pareceu como se ele fosse obrigado a ir, porque a palavra “judicial” fora incluída naquele pequeno texto. Se a Lei está no meio dessa confusão, ele estaria em apuros até o pescoço.

XXX

Medusa chegou a sua casa ciente de que Crona poderia estar morta, ou muito perto disso. Mas ela não se importava muito. Só tinha ido comprar medicamentos para ela, e chegado mais tarde devido a isso, por não conseguir lidar com consequencias e pendências com a lei. Além disso, seria muito bom que aquela criança fraca e inútil acabasse por morrer. Ela não servia para nada além de comer da sua comida e lhe olhar com desprezo pelas suas costas. O único motivo de tê-la buscado, foi por saber que ela estava na casa de uma pessoa como o filho do Shinigami. Uma conexão tão íntima com uma pessoa que está na cidade para manter a ordem, era um risco.

Já estava tratando de dar fim a vida de Crona. Hoje, não a alimentou, nem ao menos um gole de água. Iria cuidar de seus ferimentos para que, quando encontrassem o corpo, não pensarem que fora algo como um crime. E então, vai fazer com que fique tão fraca, que não consiga se alimentar ou andar.

O único trabalho seria largá-la em uma ruela. De resto, apenas agir como se ela não estivesse ali.

Medusa se sentia extremamente feliz – como uma criança que acaba de comer chocolate – em saber que aos poucos, aquele obstáculo iria se desfazer entre seus dedos como areia.

XXX

Kid sorriu satisfeito, com um papel em mãos. Ali, tinha todas as informações do marginal. Um homem tão promíscuo como aquele, não surpreendia Kid ao ter uma ficha extensa criminal. Sabia tudo, agora. Deduzindo que Crona estivesse na casa de Ragnarok, Kid tinha plena permissão para arrancá-la de lá. Crona não era maior de idade, mas constava que ela tinha sido emancipada. Ao ler isso, sentiu um arrepio na espinha. Ela fora casada? Grávida? Eram as piores opções, mas não deixaram de passar pela sua cabeça.

De qualquer maneira...

Ele gravou bem o endereço.

Amanhã, pela manhã, iria atrás de Crona, resgatá-la de seja lá quem for e seja lá onde.

XXX

Crona havia dormido a tarde inteira. Mas a noite, não conseguia dormir. A noite, os olhos daqueles animais pareciam brilhar na escuridão, como se soubessem que é a essa hora que os humanos se entregam mais ao subconsciente e medo. O pesadelo parecia nunca acabar, e o medo fazia seu coração bater numa velocidade sufocante. Tinha certeza de que aquelas cobras tinham uma maldade especial, como se pudessem pular e arrancar seus olhos em um só bote, e se sentirem tão felizes como se fosse a própria Medusa a fazer isso. Ou talvez Crona estivesse só ficando louca.

De novo.


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Notas finais do capítulo

Eae, ficou melhor que o último, né?
Espero que tenha ficado -q