Um Novo Rumo escrita por Arthemisys


Capítulo 6
Um novo rumo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/915/chapter/6

 

Um Novo Rumo

 

Capítulo 6

 

“Um Novo Rumo”

 

 

A movimentação daquele lugar era enorme, mais isso não era percebido por Ikki.  Seus olhos azuis arregalados, mas perdidos, demonstram claramente a situação na qual o seu coração e espírito se encontravam naquela hora.  Tudo se passara tão rapidamente, que nem mesmo ele soube como conseguiu chegar até ali.  O único pensamento do rapaz naquela hora estava centrado naquela adolescente que fez com que ele descobrisse de uma forma totalmente inesperada, uma parte de sua vida adormecida há muito tempo...

 

Flashback

 

- Sakura!!!

 

Ikki sai correndo pela avenida, fazendo com que os carros que por ali passavam, brecassem furiosamente. Ao se aproximar da aglomeração, viu estendido no chão, o corpo da adolescente inconsciente e as testemunhas que indagavam entre si indignados pelo fato de que o motorista ao cometer o delito, havia fugido do local imediatamente, sem prestar o devido socorro.

 

Sem prestar atenção ao que diziam, ele abre caminho com brusquidão entre os presentes e ajoelhando perto da garota, começa sozinho, a prestar os primeiros socorros.

 

- Hei! Não pode tocar na vítima, espere a ambulância chegar! – um policial de rua tocava o ombro de Ikki com um cacetete, enquanto falava.

 

- Cale a boca! – Ikki retruca sem se virar. – Ela é minha irmã!

 

- Irmã? – retorqui o policial. – Pois saiba que antes do acidente acontecer, ela passou por mim muito transtornada. Parecia até que ela não estava em si de tanto transtorno que aparentava estar passando.

 

- Sim... – nesse momento, o jovem sentiu que tudo começara a fazer sentido. O fato de Sakura ter ido até a casa dele, no lado extremo de Tóquio, não era outra senão a de que ela ainda tentaria convencer ele a aceitar sua mãe. E nesse momento, ele sentiu uma culpa imensurável – Ela é minha irmã...

 

Fim do Flashback

 

- Amamiya-san? – um homem de meia-idade toca em seu ombro, chamando-o.

 

- Como ela está?! – rapidamente ele se levanta e volta à realidade.

 

- Seu estado inspira cuidados. – Kenji Shinomori, o médico de plantão do Hospital Geral de Tóquio, fala pausadamente – Ela está em observação no momento. – e olhando para ele, pergunta – Já comunicou o fato para a família dela?

 

- Sim... – e imediatamente, Ikki se lembra do telefonema rápido que dera para a casa de Sakura e de como Isao reagiu ao saber que sua filha tinha sido atropelada por um veículo desgovernado.  Pelo telefone o jovem notou o desespero do pai de Sakura que falava sem parar que ela tinha ido para a casa da amiga.  “Como será que ela está?” – Ikki se indaga mentalmente em relação à recepção daquela notícia por Asuka.

 

- Eu posso vê-la, doutor?

 

- Sim, mas por pouco tempo, está certo? – o médico fala pausadamente.

 

- Está certo. – Ikki responde maquinalmente.

 

Dentro da enfermaria, Ikki olha mais calmamente para Sakura.  Seus olhos passearam pelo rosto adormecido da menina, onde uma gaze encobre parte do rosto delicado.  Ela havia batido com a cabeça no vidro dianteiro do carro, abrindo uma ferida que tinha levado vários pontos.  No corpo, vários arranhões e um braço enfaixado, mostra que o resultado daquele impacto a fez quebrar aquela parte do corpo.  Pelo que presenciou, Ikki sabia que se fosse outra pessoa, com certeza teria morrido, mas no caso de Sakura foi diferente.  Ainda vivia e isso demonstrava que ela também tinha algo de especial dentro de si...  Talvez, a mesma “maldição” que ele carregava há muito tempo.

 

- Cabeça dura...

 

Aquela voz desperta Ikki de seu torpor.  Sakura, mesmo que inconsciente, parecia que tinha percebido a presença dele ali, naquele quarto.

 

- Sakura...?!

 

Ela não respondeu.  Talvez tivesse sido apenas algum devaneio.  Novamente o rapaz fecha os olhos e...

 

- Acha que pode tratar a mamãe desse jeito?

 

E quão grande foi o espanto de Fênix, ao ver que ela está de olhos abertos, encarando o seu rosto espantado.

 

- Sakura?!  Você parecia está inconsciente...

 

- Acha que um motorista bêbado iria me evitar lhe dizer algumas verdades? – com dificuldade ela sorri – Eu não sou tão fraca quanto pareço.

 

- Disso ninguém duvida. – ele responde com certo ar de sarcasmo e alívio ao vê-la consciente. – “Pelo visto fingiu que estava inconsciente.” – ele pensa.

 

- Mas não mude de assunto. – ela fecha a cara novamente – Nunca passou pela sua cabeça que a mamãe sofreu durante anos, dia após dia, achando que seus filhos tinham morrido e o pior: de não poder contar isso para ninguém, tendo guardado tudo isso sozinha?

 

- A única coisa que passou pela minha cabeça durante todos esses anos foi que ela morreu ao dar a luz ao Shun. – ele responde quase que em um tom ríspido – E que ontem, como em um passo de mágica, descubro que ela está viva, com outra família?!  Você não faz a menor idéia do que eu e o Shun passamos até hoje.  Sozinhos quase a uma vida inteira, apenas contando com a nossa força para sobreviver. – ele suspira – Não, você não faz a menor idéia.  E nem ela.

 

- Posso até não fazer nenhuma idéia a respeito de sua vida sofrida. – ela olha para o lado, fazendo com que ele não visse que seus olhos se enchiam de lágrimas – Mas mamãe é alguém muito especial para mim e eu prometi que sempre a protegeria de qualquer mal... Prometi que ela jamais choraria de tristeza novamente...  E é por isso que eu digo hoje para você, seu cabeça dura: soque dentro dessa sua garganta todo esse seu orgulho idiota e converse com ela como um adulto faria, ou senão eu mesma vou ter que dizer a ela que esqueça esse filho ingrato que sempre a fez chorar.

 

Ele a olha surpreso.  Jamais imaginou que levaria uma lição de moral de alguém quase dez anos mais nova do que ele.  Ela vira o rosto em direção a ele e ele vê que no fundo daquele olhar, se escondia alguém mais corajosa e decidida do que ele mesmo imaginou.

 

- Sei que ela vai chorar bastante se eu disser isso.  Mas sei que depois de todo o choro, ela nunca mais vai ficar triste novamente. – ela fala com a voz embargada pelas lágrimas – Mas, por favor, Amamiya-san... Não me faça dizer isso com a mamãe... Ela não merece mais chorar...

 

Um silêncio arrebatador se faz presente naquela enfermaria.  Pela primeira vez em sua vida, Ikki não consegue ter uma resposta a altura do que Sakura merecia ouvir.  Mas naquele caso, a única pessoa que merecia ouvir algo, era ele.  Logo, uma enfermeira entra no quarto, anunciando que ele deveria se retirar.   

 

- Descanse Sakura. – ele diz e rapidamente, sai do quarto.  Logo que sai no corredor, ele vê Isao e Shun correrem até sua direção.  Seus rostos mostravam toda a aflição em seus corações naquele momento.

 

- Como ela está?! – Isao é o primeiro a perguntar e antes de Ikki responder, ele continua. – Meu Deus!  Se algo de ruim tiver acontecido a minha filha, não sei do que seria capaz...

 

- Ela está bem. – ele responde um tanto desnorteado, sendo que apenas Shun notara tal mudança. – Por favor, fique aqui, logo o médico aparecerá com mais notícias. – e saindo apressadamente, ele desaparece no final do extenso corredor branco.

 

- Irmão... – Shun pensa alto.

 

- Coitada da Asuka. – lamenta Isao. – Ela não tem forças para agüentar tantas emoções fortes assim...

 

- Fez o que eu disse? – Shun perguntou.

 

- Sim. Quando você recebeu o telefonema do seu irmão e me chamou em particular, saí dizendo a Asuka que a Revista para qual você trabalha o havia chamado com urgência e que resolvi ir junto... Mas creio que ela não aceitou essa história que criei. – Isao diz vacilante.

 

- Bem, de qualquer forma, isso retardará um pouco as coisas. – Shun responde e avista um médico. – Olhe! Talvez seja o médico da Sakura!

 

- Sim! Vamos lá!

 

E os dois dão uma pequena corrida até o médico que sorridente, vem com boas notícias sobre o estado da elétrica garota.

 

No lado de fora do hospital, ao montar novamente na moto, Ikki resolve retirar o amassado papel de seu bolso. Ao abri-lo, ele lê exatamente as seguintes palavras:

 

“25 de Dezembro de 1978”.

 

“Nunca mais tive a coragem de pegar nesse velho diário para escrever. Mas hoje resolvi faze-lo, pois se trata de um acontecimento muito especial... hoje é o primeiro Natal que Asuka passará sem a companhia de nossos filhos que nesse momento, estão em um orfanato, longe de nossos olhos. Sei que o ato que cometi há quase seis meses atrás é um pecado sem medidas... tirar dois filhos dos braços de uma mãe zelosa como ela e ainda por cima ter que mentir àquela mulher tão especial para mim, dizendo que Shun, o filho que ela acabara de ter nasceu sem vida e ainda por cima raptar dela o filho mais velho... Não! Eu jamais imaginei que me rebaixaria a um ato tão vil como esse... o que mais me entristece é que mais tarde, quando Ikki começar a criar consciência dos fatos, vai perguntar o que realmente aconteceu e eu, mais uma vez, terei que mentir e dizer com frieza de que sua mãe morreu ao dar a luz a seu irmão mais jovem... sinto-me nesse exato momento, um Cristo que pede suplicante ao Pai, para que retire de minha frente, esse cálice amargo e cruel, mas que no fim tem que aceitar o cálice com devoção, pois do contrário tudo seria muito pior... ah, Asuka! Minha querida Asuka que fez o meu velho coração palpitar apaixonadamente! O que faço hoje é sem dúvida, um ato que jamais mereceria perdão! Mas não há mais como voltar atrás... sei apenas que se eu não tivesse feito tudo o que fiz agora, você sofreria muito mais no futuro, ao ter que ver seus filhos sofrerem o que estarão destinados a sofrerem pelo bem da humanidade, juntos a Saori... só eu sei o que sofro por saber o que o futuro aguarda para Shun e Ikki, por isso, fiz tudo isso... mas seu nobre e inocente coração jamais agüentaria tanto sofrimento... por isso... não peço aos céus o perdões de meus pecados presentes, mas peço sim, que você seja muito feliz no futuro... minha misteriosa dama... a maior paixão que tive em toda a minha boêmia vida...”.

 

Depois de ingerir em sua mente, palavra por palavra lida, Ikki não teve mais dúvidas. Teria que procurar por Asuka. E esse momento seria agora.

 

Meia hora depois. O som rouco de uma moto corta o ar de uma rua pacata de Tóquio, parando exatamente em frente da casa de número 93. Ao tocar a sineta, Ikki nota que o pequeno portão está aberto. Com cuidado, ele adentra a residência, achando a porta de entrada da casa também entreaberta e assim, ele novamente entra na casa de sua mãe.

 

Encontrou a sala vazia, ainda adornada com os enfeites natalinos. Pensou em chamar por alguém, mas preferiu ficar calado e simplesmente esperar. Espera essa que não durou muito tempo, pois de um dos cômodos, ele escuta uma voz singela o convidar para entrar.

 

Ao entrar no quarto, que é na maioria das culturas, um recinto muito particular, Ikki se sentiu remontar à uma distante infância. Sentada na cama com as pernas cruzadas como se meditasse, Asuka está vestida com uma blusa de mangas longas e uma saia estilo indiana, também longa e um pouco rodada. Seus cabelos dessa vez estão soltos, emoldurando o rosto belo e amadurecido. Seus olhos de um verde claríssimo parecem contrastar com finas linhas de rugas que começam a aparecer, mas que em nenhuma hipótese, tiram a beleza exótica daquela mulher a sua frente. Várias fotos estavam rodeando Asuka, algumas antigas, outras mais recentes e o álbum de fotos que Shun dera a Sakura no dia anterior, também estava próximo a ela.

 

Os lábios finos do rapaz emolduram um leve e rápido sorriso, pois viera notar tantos detalhes naquela mulher apenas agora e em uma fração de rápidos segundos.

 

- Não se espante com nada. Deixei as portas abertas, pois sabia que você viria. – ela diz cautelosamente, enquanto seu olhar se dirigia as fotos.

 

- E se eu não tivesse vindo?

 

- Nunca subestime os instintos maternos de uma mulher. – ela ergue a cabeça e com um gesto de mão, o convida a se sentar na cama. Ele se aproxima, mas se senta aos pés da cama, bem a frente de sua mãe. – Veja essa foto. – ela estende até ele uma fotografia. – Sabe quem é esse?

 

- Ora, ora... Se não é Ikki Amamiya com dois anos de idade. – ele diz com seu habitual sarcasmo – Um moleque gordo e de orelhas grandes. – e com desdém, ele joga a foto de volta ao local de onde ela havia tirado.

 

- Não diga isso. – ela fala carinhosamente. – Para uma mãe, o filho nunca terá defeito algum. Nem físico, nem moral.

 

- Já ouviu falar no ditado de que toda mãe é cega? – ele retorquiu prontamente, arrancando de Asuka um encantador sorriso. Logo, ele nota que Asuka não sabia do que tinha acontecido a Sakura e isso havia piorado muito as coisas, pois Ikki não sabia com qual assunto conversar com ela primeiro.

 

- Veja essa outra. Aqui eu estou com você e nela, eu já estava grávida de Shun. – e ao notar que o filho mal olhara a foto, diz. - Sinto que quer me contar alguma coisa e não consegue.

 

- Sim. Você está certa. – ele dá um suspiro e começa. – Acho que Isao e Shun não contaram, mas hoje de manhã... Sakura...

 

- Eu imagino que ela tenha aprontado outra das suas e que dessa vez ela não se deu bem, é isso? – Asuka pergunta, assustando o cavaleiro.

 

- Então você já sabia?!

 

- Não. Apenas pressenti. – ela responde com uma tristeza e uma preocupação agora sentidas por Ikki. – Como ela está?

 

- Bem. Precisou de uma transfusão, mas agora está bem e consciente. – Ikki dizia aquilo e sentia ao mesmo tempo, um horrível aperto no peito, ocasionado pelo remorso, uma vez que aquele acidente, na mente de Ikki, aconteceu única e exclusivamente por sua causa.

 

- Sakura... – Asuka balança a cabeça negativamente – Sempre tentando ser a heroína... Será que ainda não percebeu que é apenas uma menina de quinze anos?

 

- Quando eu tinha quinze anos, – Ikki fala com um ar sombrio – cometi atos que sem sombra de dúvida, fariam com que você me repudiasse para o resto da vida. Sakura é o contrário. Ela usa toda a sua energia em prol do que ela acha justo e correto. Ela é uma pessoa de quem você deveria se orgulhar em ter como filha.

 

- Está certo, Ikki. Eu me orgulho muito de Sakura, assim como me orgulho de você e de seu irmão. – ela diz todas aquelas palavras com candura e com certo temor, sua mão vai até o rosto do rapaz, tocando-lhe a face e fazendo com que ele a encarasse. – Não me importo com o que tenha feito em seu passado, meu filho. O que realmente interessa é o presente, este momento mágico no qual tenho a oportunidade de está ao seu lado mais uma vez e o futuro, que mesmo incerto, me promete mais felicidades do que eu mesma havia imaginado.

 

Neste momento em que os olhos azuis de Ikki encontraram os olhos verdes de sua mãe, toda a vida que ele vivera até aquele instante passou na sua cabeça, como um flashback. Um maremoto de diversas emoções, sentidos e visões tomaram o seu corpo em uma fração de segundos. Toda a sua vida, tirando raras exceções, eram apenas vingança, tristeza e dor, talvez fosse por isso, que o Destino estava lhe dando novamente uma oportunidade de ser feliz, onde essa felicidade iria começar por uma família de verdade.

 

- A culpa é minha. – Asuka balbuciou trêmula. – Se eu tivesse sido mais forte e não tivesse me dado por vencida logo no elicio, eu teria procurado por vocês até no inferno, se fosse preciso... Mas eu me deixei levar por mentiras e...

 

- A culpa não é sua, m... – Ikki se cala, no instante que seus lábios iriam proferir o que sua mente estava martelando constantemente – Pegue, leia isto. – ele estende o papel escrito por Mitsumassa.

 

Após um breve instante no qual Asuka leu a pequena confissão, ela coloca uma das mãos na boca, como se estivesse horrorizada.

 

- Durante toda a minha vida, pensei que a solidão seria a melhor companhia para mim. – Ikki fala - Nunca me dei conta, porém de que até alguém como eu precisava de uma segunda chance. Por isso... Acho que se tudo aconteceu da forma de como aconteceu, era porque... – ele não termina a frase, pois Asuka o cala, colocando sua mão carinhosamente nos lábios dele.

 

- Sei que o que direi agora é algo redundante, mas... Vamos esquecer os erros e os culpados do passado e vamos, a partir de agora, começar tudo do começo?...

 

- E como começaríamos? – ele pergunta sem jeito, passando a mão na nuca.

 

- Acho que um abraço seria um ótimo começo. – ela diz e com uma delicada afetuosidade materna, ela o “puxa” para um abraço e ambos, cada um do seu jeito, secretou as lágrimas de alegria e saudade.

 

Assim, o dia 25 de dezembro chega a sua metade, trazendo alegria para uns, e bronca para outros...

 

- Mas mãe...

 

- Eu não quero saber de mais nem menos, Sakura Amamiya! Você não pensa nos seus atos não, garota?! Quase mata seu pai e seu irmão do coração, quando souberam que você tinha sido atropelada! – Asuka, já no hospital, dá uma tremenda lição de moral na filha que ao contrário do que se imaginava, não tinha sofrido nada mais do que um braço quebrado e alguns arranhões pelo corpo.

 

- E a senhora?! Nem ligava para mim não é?? – Sakura retorquia indignada.

 

- Sua mãe nem imaginava o que tinha acontecido a você, pois do contrário, ela também estaria hospitalizada! – Isao, não menos furioso, calou a menina.

 

Nesse momento, Shun e Ikki entram na enfermaria, acompanhados do médico que diz:

 

- A paciente Sakura já está de alta. Ela precisará apenas tomar alguns anti-inflamativos e trocar o curativo da testa regulamente.

 

Todos suspiraram aliviados, inclusive Tomoko, que também está ali, mas como sabemos, o suspiro da amiga de Sakura é por outros motivos conhecidos. Quanto a Sakura, ela continuava a bufar de indignação. Será que ninguém compreendia que o que ela fazia era para o bem de todos?

 

- Será que eu poderia ficar a sós com a “Docinho” das “Meninas Super Poderosas”? – Ikki indaga, enquanto olha a menina que dava a língua para ele.

 

- Claro, meu filho. – Asuka consente e todos saem, deixando Ikki e Sakura sozinhos.

 

- Você falou com a mamãe? – ela pergunta desconfiada.

 

- Sim. – ele responde indo se sentar ao lado dela.

 

- E? – ela pergunta aflita.

 

- E agora eu vou ter que aturar uma guria feito você pelo resto da minha vida. – ele responde sério.

 

A resposta de Sakura veio em forma de um caloroso abraço no rapaz.

 

- Ah! Pare com isso! – ele pedia com autoridade, mas seus lábios demonstravam um belo sorriso – Viu o que disse? Puf! Eu mereço!

 

- Eu é que não mereço ter um mala como você como meu irmão! – ela responde com mais seriedade, mas logo ao se olharem, ambos começam a rir. Só naquele momento é que tinham notado que no fundo, eram bastante parecidos.

 

- Mas você se revelou uma péssima atriz, não acha? – Ikki pergunta, depois do acesso de risos.

 

- Eu?! Como assim??? – Sakura retruca, dando ao seu rosto, um ar de indignação.

 

- Pensa que me enganou na hora do atropelamento? Eu vi que você estava fingindo que estava inconsciente.

 

- Eu?! Tá doido?! Eu estava quase morrendo ali!

 

- Morrendo? – ele devolve com o seu costumeiro ar de desdém – Acredite guria, já vi a morte de perto várias vezes e posso garantir que você estava sentindo tudo, menos a morte.

 

- Ora seu...! – Sakura então começou a discutir e bem... Não vale a pena descrever o que eles começaram a dizer um do outro, até porque estamos em tempos de festas.

 

Alguns dias depois, na mansão da família Kido...

 

- E a lenda conta que sempre que alguém vai só até um banheiro de colégio, este pobre azarado sempre terá que levar algodões, pois “ela” não deixa vivo ninguém que ao entrar no banheiro, não traga algodões para tapar os buracos onde antes, eram os olhos dela... – com uma voz baixa e aterrorizante, Sakura conta a lenda urbana da “Loira do Banheiro” para algumas crianças do Orfanato “Filhos das Estrelas”.

 

- Ai que medo! – uma das crianças diz olhando com temor para os lados.

 

- Eu também estou com medo, Sakura-cham! – Tomoko agarrava um dos braços da amiga, que revirava os olhos.

 

- É só uma lenda, sua boba! Acham mesmo que a tal Loira do Banheiro existe mesmo?!

 

- Ela existe sim! – Seiya fala de repente, fazendo com que todos, inclusive Sakura e Tomoko gritassem de susto.

 

- Ah! É você seu mané! – Sakura suspira aliviada.

 

- Não me chame de mané! – Seiya diz com exaltação e sentando-se ao lado dela, prossegue. – Eu fui uma testemunha viva de que a Loira do Banheiro existe! Eu já fui atacado por ela aqui mesmo, há anos atrás!

 

Nesse momento, todos os órfãos, dão um grito de surpresa.

 

- Fala sério! – Sakura o olha para ele de soslaio (¬¬).

 

- Tudo começou assim: - Seiya nem deu atenção a Sakura e continuou – Quando eu era pequeno e em uma noite acordei apertado para ir até o banheiro, eu fui e tudo estava escuro e sombrio, ela apareceu!

 

- Oh! – as crianças voltaram a exclamar. – E o que você fez? – uma delas perguntou curiosa.

 

- Ele saiu correndo, urinando nas calças. – Hyoga responde com naturalidade, se sentando entre a roda que as crianças fizeram no chão. – Só que na realidade, não era a Loira do Banheiro que estava lá, mas sim, o Ichi (o cavaleiro de Hidra que aparenta não ter olhos). E o Seiya teima até hoje que era a Loira do Banheiro... – o loiro balança a cabeça negativamente.

 

Todas as crianças, incluindo Sakura e Tomoko, começaram a rir da cara de tacho que Seiya fez.

 

- Você vai me pagar! Seu... Seu... Seu pato! – Pégaso se levanta, fechando os punhos.

 

- Do que você me chamou?! – Cisne se levanta também.

 

- Eu te chamei de...

 

- Chega vocês dois! – Saori interfere, se aproximando junto a roda com Ikki e Asuka. – Por favor, não quero mais discursões hoje! Afinal – ela diz sorrindo – está perto da virada do ano e o jantar já está sendo servido!

 

Então, todos deram um viva, indo até a farta mesa que Tatsumi preparou. Claro que Seiya foi o primeiro a chegar e Sakura, “arrasta” a mãe para a mesa, pois como boa irmã que é já havia notado de que era hora do irmão se arranjar também.

 

- Esta casa fica tão feliz quando todos nos reunimos! – Saori diz com satisfação.

 

- Tem razão Kido. – Ikki confirma. – Espero que esses bons tempos não terminem tão cedo. – ele a olha e nota que a deusa ficou um pouco ruborizada.

 

- E... – ela tenta mudar o assunto. – Como vocês dois estão se saindo na nova família?

 

- Está tudo correndo muito bem. – ele sorri – A cada dia que se passa, eu e o Shun parecemos aprender mais e mais com eles.

 

- E sua mãe faz sempre perguntas sobre o passado de vocês? – Saori pergunta curiosa.

 

- Constantemente. A última vez, aliás, foi ontem, sobre a cicatriz de queimadura que o Shun tem na mão.

 

- E qual foi a resposta que ele deu? – Saori pergunta um pouco aflita.

 

- Nada de interessante. – e vendo o olhar que ela deu a ele, Ikki complementa. – O que queria que eu tivesse respondido? Que um espírito de um deus dos infernos tinha incorporado nele e que para que a maldição fosse eliminada, foi necessário que o sangue de Athena tivesse tocado no corpo dele e quando isso aconteceu, ele se queimou?

 

- Claro que não, Ikki! – Saori retruca com uma pontinha de ira na voz. – Eu só imaginei que Asuka-san não fosse acreditar no que disse.

 

- E ela não acredita. Mas aos poucos, contaremos o que realmente aconteceu. Mas enquanto esse dia não chega, estamos nos reconhecendo. – ele termina com um belo sorriso.

 

- É verdade. – Saori suspira e indo até a sala de estar onde está sendo servido o jantar de reveillon, diz. – Bem, espero que dê tudo certo para vocês.

 

- Saori. – Ikki a chama, fazendo com que a deusa se virasse em sua direção – Está muito bonita hoje.

 

E não era sem razão que Ikki dizia tais palavras. Vestida de forma simples, mas elegante, a jovem parecia ainda mais bela naquele kimono branco, enfeitado por pequenas flores de laranjeira. A cor rubra que cobriu a face de Athena ao ouvir tal elogio deu a ela uma beleza ainda maior.

 

- Obrigada. – e levantando o rosto, dando a ele um tom mais orgulhoso, diz – Ficarei assim sempre que desejar.

 

E saindo, antes que o cavaleiro visse suas faces vermelhas, foi até a mesa do jantar. Ikki por sua vez, deu um belo sorriso e ingerindo um gole de champanhe, disse a si próprio que aquilo era apenas o começo... Um ótimo começo.

 

- Mãe! – Shun chama Asuka, enquanto a abraçava por detrás da cadeira onde estava sentada. – Quero que conheça alguém.

 

Ao se virar, a mãe do rapaz o vê ao lado de uma jovem loira de traços finos e expressivos olhos azuis.

 

- Essa é June, a minha namorada! – ele diz prontamente.

 

- Namorada? – Asuka diz com admiração. – Por Deus, como você é linda, June!

 

- Obrigada. – a amazona responde um tanto tímida, deixando-se abraçar por Asuka.

 

- Se amas meu filho, considere ser a minha filha também. – ela responde com um carinho todo maternal.

 

- Eu me sinto honrada! – June responde com um sorriso.

 

Enquanto isso, no lado extremo da sala...

 

- Namorada?! – Tomoko parece não acreditar no que vê.

 

- Sim Tomoko, namorada. Algo contra? – Sakura pergunta inocentemente à amiga.

 

- Se eu tenho algo contra?! – a garota não parece acreditar na naturalidade com que Sakura está reagindo. – Sakura-cham! Eu pensei que ele, o seu irmão...

 

- Ah, não! Eu não acredito que você tava se iludindo com ele Tomoko?!

 

- Isso que eu sinto não é ilusão, Sakura! – Tomoko responde ofendida. – Você só diz isso, porque nunca sentiu o seu coração bater mais forte.

 

A resposta da amiga veio com um revirar de olhos. Nessa hora, Ikki adentra a sala, e Tomoko suspira novamente.

 

- Agora esse seu irmão mais velho...

 

- O Ikki? – Sakura pergunta, apontando para ele. – Pode esquecer amiga! Aquele ali é outro que tá na vista de outra, pode esquecer!

 

- Ah, Sakura! – ela bufa de raiva. – Como você pode ser tão insensível?

 

- Eu não sou insensível. Sou realista. – e abraçando a desiludida amiga, ela diz com um enorme sorriso. – Ah, Tomoko, vamos! Nem só de namorados vivem as mulheres! Olha, eu ainda tenho uma vaga sobrando lá no Greenpeace, talvez você...

 

- Olha Sakura! Já vão servir o jantar! Vamos! – e assim, a sonhadora garota consegue mais uma vez, se livrar dos intentos salvacionistas da intrépida Sakura.

 

Após o jantar, ainda houve um pouco mais de conversas e brincadeiras entre os presentes. Shiryu e Shunrei apareceram, ela com uma gravidez ainda mais acentuada. O orgulhoso pai anunciou a todos que o bebê seria uma menina, o que fez com que todos comemorassem ainda mais o acontecimento. Jabu por sua vez, resolveu ficar ouvindo mais e falar menos, o que fez com que ele fosse uma agradável companhia, principalmente para Minu. Hyoga, como bom russo que é, trocou várias idéias com Isao, que iam desde a nova política do mundo globalizado, até as diferentes marcas de vodka e saquê, cada um firmando uma promessa de que trocariam entre si, suas bebidas favoritas. Sakura, nunca esquecendo seus ideais, fez com que Saori prometesse averiguar se havia excessos por parte da Fundação Graad, na exploração de petróleo na costa do Caribe e por fim, Shun, sempre perto de June explicava a uma sonhadora Tomoko como se usava uma máquina estilo Polaroid. 

 

Em pouco tempo depois, o novo ano entrou, enchendo de alegrias e esperanças, o coração de todos. Logo em seguida, todos foram a um templo budista, elevar orações e agradecer graças alcançadas, ritual típico dos japoneses.

 

Entretidos com os folguedos, a madrugada passou rapidamente, fazendo com que todos se dirigissem até a praia, a fim de contemplarem o primeiro nascer do sol do ano.

 

- Tem certeza de que o ângulo está certo? – Shun pergunta.

 

- Sim! Você me ensinou direitinho, não tem como errar! – Seiya responde confiante.

 

- Mano você tem certeza de deixar o Seiya tirar essa foto? – Sakura pergunta desconfiada.

 

Shun responde com um sorriso sem graça.

 

- Bem, agora não tem mais solução. – diz Isao. – Pode bater rapaz!

 

- Seiya! – Ikki fala com um tom sério. – Se não sair perfeita, você caminhará de cabeça para baixo por muito tempo.

 

- Como assim cabeça para baixo? – Seiya pergunta, enquanto inclinava a cabeça, para ter a sensação de como seria se andasse realmente de cabeça para baixo.

 

- Chega! – Sakura gritou. – Tira logo essa foto ou senão eu mesma tiro ela!

 

- Tá bom, tá bom... – Seiya disse com desgosto. – Humpf! Não é a toa que você é a irmã do Ikki!

 

- Ikki. – Asuka diz baixinho. – E se a foto não sair bem mesmo?

 

- Por mais que tudo pareça dar errado agora, sei que no final, tudo tomará um caminho certo. – ele diz, sorrindo para ela. - Não se preocupe com nada, mãe.

 

Os olhos de Asuka brilharam de uma forma toda especial. Era a primeira vez que Ikki a chamara assim.

 

- Sim, meu filho. Você tem razão.

 

E com uma precisão milimétrica, a primeira foto em família de Shun e Ikki saiu como planejado: Toda a família reunida no cais do porto, de costas para o belo mar azul e para o majestoso nascer do sol.

 

Claro que aquela foto seria a primeira de muitas que viriam, mas aquela seria sempre uma foto especial, pois esta seria a prova de que mesmo que as conseqüências dos erros do passado continuem a persistir no presente, haverá sempre a esperança de que o futuro tome para si, um novo rumo no qual a felicidade irá finalmente nascer... E sorrir.

 

...x... FIM ...x...

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Novo Rumo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.