Nico Di ângelo e a Primeira Profecia escrita por marinadomar


Capítulo 6
Não paro de me coçar




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Analisei melhor o garoto de meias e samba-canção no espelho. Tinham apenas alguns pontos vermelhos como fogo e algumas bolhas espalhados em ambas as pernas. É, dava para agüentar. O abdômen se mantinha no mesmo estado, mas acho que minha palidez ressaltava de mais a vermelhidão, e as queimaduras de segundo grau coçavam como sarampo, eu as coçava, fazendo-as piorar — algumas até sangravam. Mas eu não podia evitar, era incomodo de mais. Ainda era visível um pequeno ferimento com sangue seco em minha perna esquerda, maldito graveto. Estava esverdeado em volta, espero que não seja nada grave, já tenho enfermidades de mais para tratar.

No tórax a situação começava a piorar, pequenos vestígios de queimaduras que corroíam a carne apareciam, subindo por meu pescoço, eu pousei uma das mãos em meu machucado automaticamente, fazendo uma careta. Meu peito estava vermelho e coberto por queimaduras de primeiro e segundo grau. Eu as cocei nervosamente com minhas unhas que não eram cortadas há muitos anos, elas arranham meu peito e fizeram com que algumas cascas recém formadas se rompessem, deixando o sangue colorir ainda mais meu tórax.

E eu encarei meu rosto. A maioria dos ferimentos de guerra eram cortes, muitas vezes fundos feitos por espadas de bronze, raramente você tinha o azar de ser acertado no rosto e ganhar uma cicatriz, como a de Luke. Mas queimaduras? Parecia que eu tinha adormecido com a cara em fogo grego, isso era algo raro de se ver.

Meu nariz fora corroído pela água quente, mostrando minha carne que pulsava vermelha, assim como o ferimento acima de minha sobrancelha esquerda, que havia sido comida pela metade. Minha bochecha estava borbulhante por causa da queimadura de segundo grau que havia se formado ali. Tive o impulso de coçá-la, mas era no rosto, piorar a situação não melhoraria em nada. O lado direito de meu rosto fora totalmente tomado por queimaduras de 3º grau, do queixo te a base do meu olho, estava horrível.

Além de tudo meu cabelo estava uma merda, muitas mechas havia se desintegrado nas chamas, deixando meus cabelos bem irregulares. Antes pousava no ombro, agora só um milagre para uniformizá-los, já que alguns fios estavam na altura no queixo e outros rentes a orelha.

Desviei o olhar do espelho e me apoiei no guarda-roupa, me sentia tonto e enjoado. Sentia ainda mais vontade de coçar meu corpo, dava para sentir os tecidos lutando para se formar e tampar a ferida em cada centímetro de minha pele pálida. Eu não agüentava mais, tinha que me coçar, cada parte de meu corpo se rompia pela coceira, e a mesma foi logo substituída por um formigamento, depois pontadas. E finalmente dor. Sabia que minha velha amiga não ficaria longe de mim por muito tempo.

Eu sei que não foi a dor que me jogou ao chão e me fez ter um ataque epiléptico até desmaiar. A dor era minha amiga, ela não faria isso comigo. Nunca. Só sei que a ultima coisa que ouvi foram três batidas à porta. O que foi um alívio, eu seria salvo a tempo.

 

- - -

 

Se um dia você acordar seminu, pode ter certeza que uma dessas coisas aconteceu:

 

            a) Você teve uma bela noite de sono em sua cama;

            b) Você foi estuprado;

            c) Você foi levado as pressas para a enfermaria por um centauro após ter um ataque epilético.

 

E nós sabemos o que é mais provável de acontecer com um semideus, não é? Tentei me levantar no mesmo instante. Mas alguém pousou a mão no meu tórax, me impedindo de levantar. Me recostei novamente a cama macia. Reconheci Will Solace, do chalé de Apolo, sentado ao meu lado. Ele era, com certeza, o melhor curandeiro do acampamento.

— Você não pode se levantar até eu falar que pode. — Disse ele sem ao menos olhar em meus olhos, estava muito ocupado derramando um liquido de um cantil em um copo de plástico. — É a sua ultima dose de Néctar, você não pode beber mais durante dois dias, a não ser que queira queimar vivo. — Ele riu, e logo parou. Percebendo o que tinha dito. — Desculpe.

Eu bebi ignorando o comentário de Will, pelo visto a noticia tinha se espalhado rápido. O néctar tinha gosto de coca-cola como sempre. Eu me sentei na cama, deixando as pernas penderem na beirada, ignorando todos os xingamentos do filho de Apolo. Esfreguei minha testa e notei algo diferente na textura de meu rosto. Ao contrario de antes, estava mais lisa que o normal. Solance fez uma careta.

— Isso ta horrível, cara. — Comentou o campista me assistindo levantar cambaleando e ir para o espelho mais próximo.

Eu não o levei muito a sério no inicio, ele era um filho de Apolo, se eu não tivesse me queimado, ainda seria feio a seus conceitos. Mas ao chegar no espelho vi que ele tinha razão. Estava feio, mas melhor que antes. Onde estivera meus machucados agora descansavam uma fina camada de pele morena, o que destacava bastante em minha pele branca.

— Eu conseguiria tirar, se não fosse o veneno no seu corpo. — Comentou o garoto desapontado. Eu me virei assustado na hora. Veneno? Will deve ter visto o desespero em meus olhos, pois seu rosto tomou uma expressão de confusão. — Você.. não sabia? Você estava quase morrendo quando o encontramos. O veneno estava a quase 4h dentro de você, ainda bem que conseguimos detectar a fonte a tempo, se não, já era. Cinco horas era o tempo máximo. Onde você conseguiu isso, Nico?

Ele me mostrou uma pequena folha verde. Porque aquilo não me surpreendeu? Galhos envenenados, que clichê! Como eu não pensei nisso. Cocei onde um dia esteve o galho, estava cicatrizado também. Will me jogou um cobertor, o que me fez lembrar que eu estava só de cueca. Meu rosto tomou um tom de vermelho instantaneamente. Joguei o pano per cima de meus ombros, me cobrindo até os joelhos.

— Depois que você se vestir no seu chalé, vá para o de Afrodite. Disseram que tem uma surpresa para você. — Ele deu os ombros. — Não sei por que elas iriam alguma coisa com alguém no seu estado. Mas acho melhor você ir.

E ele se foi me deixando sozinho na manhã seguinte ao meu aniversário.

 


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