Amigos e Amantes escrita por Najayra


Capítulo 20
Segunda Temporada - Capítulo Três




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[Narrado por Desirée]

Uma semana havia se passado. Já estava na hora de Lutt chegar de viagem. Ele havia prometido que ligaria para avisar, mas até agora, nenhum telefonema. Eu já estava ficando preocupada. Eu, que tentava distrair minha cabeça mexendo no notebook, fechei-o e o coloquei de lado no sofá.

- Cadê o meu marido?! – gritei para mim mesma.

Assim que gritei, ouvi o barulho de chave entrando na fechadura, ele abria a porta e me cumprimentava. Parecia que eu o havia invocado. Eu saltei do sofá e corri na direção dele, pulei em cima dele, abraçando-o como se estivesse desaparecido por um ano.

- Lutt!
- Ah, Desirée! – ele retribuiu meu abraço. Nós sussurrávamos um no ouvido outro.
- Eu estava com tantas saudades de você.
- Eu só fiquei uma semana fora, meu amor.
- É... Sempre uma semana, aí depois duas, três...
- Depois um mês, ou apenas dois dias... – ele completou a frase pra mim, eu sorri e o beijei.

Aquele beijo foi parecido com o nosso primeiro. Um beijo de alguém que está descobrindo neste momento que ama a pessoa a sua frente.

- Nunca mais... Nunca mais se despeça de mim daquele jeito. – ele contornava os traços de meu rosto.
- Você sabe o quanto eu detesto brigar com você.
- Vamos cuidar para que isso não aconteça de novo. – eu o beijei novamente.

Por um breve instante, cessamos o beijo e pensamos um pouco. Nossa respiração ofegante deve ter interferido em nossos pensamentos. Nós dois sorrimos maliciosamente. Lutt jogou sua bolsa sobre o sofá e começou a tirar o terno. Eu passei a mão em sua gravata, comecei a afrouxá-la e logo a tirei. Nossos lábios avançaram um contra o outro intensamente, ele me erguia do chão, abraçando minha cintura. Dei uma risadinha abafada pelo beijo e fechei minhas pernas em torno de seu corpo, logo ele me segurou pelas coxas e, ainda me beijando, andou comigo até o sofá, onde me colocou sentada sobre o encosto do móvel. Eu comecei a desabotoar sua camisa, mas ele, como bom moço, tentou me impedir.

- Meu bem. A Vittany está logo ali do lado.
- Querido. Ela sabe fazer isso até melhor que a gente se duvidar.
- Pare de falar assim. Me recuso a imaginar minha filhinha fazendo essas coisas.
- Ok, então. Pare de imaginar sua filhinha e se imagine fazendo isso comigo. – eu o puxei pela nuca.
- Meu Deus, mulher. Que fogo é esse? Quantos anos você pensa que tem?
- 1º: Faz uma semana, meu amor... 2º: Tenho 37, mas uma alma de 18; 3º: Se me chamar de velha de novo, irá se arrepender... – ele riu e puxou meu quadril contra o dele. Eu o olhei de forma maldosa.
- Ok, faça-me arrepender. – ele me beijou vorazmente. Eu já estava tirando sua camisa quando ouvimos o barulho surdo de algo caindo no chão. Paramos o beijo. Quando Dio começou a latir, imediatamente arregalamos os olhos e saímos correndo.

- Vittany! – falamos ao mesmo tempo.

Chegamos ao quarto dela e existia apenas um corpo pálido caído no chão. Eu corri desesperada e a peguei em meus braços.

- Vittany! Minha filha, acorde!
- O que será que aconteceu? – Lutt estava igualmente preocupado.
- Não sei... Lutt verifica o pulso dela pra mim. – ele fez o que eu mandei.
- Tem pulso, mas está fraco.
- Tomara que ela só tenha desmaiado. Vittany! Por favor, minha filha, não faça isso comigo!

Ela começava a acordar, de pouco em pouco.

- Graças a Deus. – clamou Lutt.
- Pai... Cadê... – ela estendeu a mão e ele a pegou.
- Eu estou aqui, filha. Não se preocupe.

Ela perguntou por ele. Era como se não houvesse mais ninguém no quarto, mais ninguém ao lado dela. Será que eu era tão irrelevante assim? Eu senti sua afiada pergunta me atingir, e Lutt percebeu minha expressão.

- Vittany, sua mãe também está aqui. Nós dois iremos cuidar de você.
- Hum... Tá...

Total indiferença, de novo. Quando virei o rosto tentando esconder os olhos que começavam a se encher de água, Lutt me olhava com pena. O pior sentimento possível.

- Calma, meu amor. Ela só... Não está bem.
- Não. Claro. – eu concordei – Lutt, cuide dela um pouco. Eu... Eu preciso tomar alguma coisa...
- Tente água com açúcar. Nada mais forte que isso, por favor. – ele a tomou em seu colo.
- Claro... Água com açúcar... – eu saí do quarto e fui até a cozinha.

Apoiei as mãos sobre a pia, meio atordoada. Vittany não era assim. Quando pequena , era adorável, uma menina dócil e muito apegada a mim. Quando tudo começou a mudar? Eu pisquei duas vezes e procurei o açúcar, coloquei um pouco em um copo d’água, misturei e bebi. Então, ouvi Lutt gritando pela nossa filha e saí correndo de novo. Quando cheguei, ela estava debruçada sobre a privada, vomitando.

- O que houve?
- Não sei. Ela só saiu correndo para lá. – eu o ajudei a se levantar do chão.

Caminhei até o banheiro, já me contorcendo por dentro. Meu problema não era o vômito, mas a ideia que passou por minha cabeça. Quem visse minha cara diria que eu estava a ponto de colocar o fígado para fora, minhas mãos se abriam e fechavam em punhos, minha cabeça estava toda revirada e sentia a voz fugir. A respiração acelerava e ódio fervia meu sangue. Esperei Vittany sair da privada e se recompor um pouco.

- Vittany... – minha voz era baixa, mas firme e indignada.
- Mã-mãe. – ela parecia tremer.
- Por favor... Dê-me um presente...
- Mãe, calma...
- Vira pra mim e diz que isso não é o que eu estou pensando! – minha voz baixa agora gritava, de forma estridente.
- Mãe, sinto muito... – ela começava a chorar – Eu... Eu estou...
- NÃO! – eu gritei.

Fechei a mão direita e escondi minha boca, acabei mordendo meu dedo indicador. As lágrimas começavam a correr por minha face, eu me virei de costas e apoiei um dos ombros na porta do quarto. Lutt havia entendido o que estava acontecendo e o porquê de minha angustia. Ele deu um suspiro indignado e escondeu a face com as mãos.

- Mãe, por favor, eu posso explicar! – ela chorava.
- Não, Vittany! – ele falava autoritariamente com ela – Não tente explicar... Aquilo que não TEM explicação!
- Pai... – ela estava surpresa. Esperava a minha histeria, mas não que o pai reagisse daquela maneira.

Eu saí do quarto e fui chorar na sala. Lutt me seguiu e Vittany fez o mesmo.

- Mãe...
- Mãe?! – eu iria começar a falar agora, e ela iria me ouvir. Cada palavra – Não... Eu não posso ser sua mãe! – eu respirei fundo e re-comecei – Diga, Vittany. Onde foi que eu errei?
- Querida, você não está em condições... – Lutt tentou me acalmar, mas foi em vão. Eu passei por ele e me aproximei dela.
- Quem te alimentou fui eu! – agora eu falava em prantos – Quem te deu carinho fui eu! Quando... Você adoecia... Quem passava a noite acordada era eu, Vittany! E não é culpa do seu pai, não! Ele trabalhava... E muito! Aliás, trabalha até hoje. E sabe pra quê?! Pra te pagar uma boa escola, pra te alimentar, pra te dar roupa, casa, uma boa vida! Quando você era pequena... Quem brincava com você era eu! Quando você se machucava... Era a mim que você procurava dizendo: “Mamãe, faz sarar”. E o que eu ganho em troca?! Seu desprezo! Seu desdém! Sua total indiferença! E agora... Uma neta!

Eu desabei no sofá, cachoeiras escorriam por meu rosto. Ela chorava quase tanto quanto eu, e Lutt estava completamente destruído.

- Vá embora...
- O quê? – ela perguntou fingindo que não tinha escutado direito.
- Desirée... – Lutt tentava evitar que eu cometesse um grande erro.
- Vá embora, Vittany!! Eu não quero você nessa casa!! Eu não quero olhar para sua cara! Eu não quero ouvir sua voz! Vá embora!

Ela me obedeceu. Em prantos, ela correu até a porta, abriu a porta e saiu. Eu cobri meu rosto com as mãos e continuei a chorar. Lutt sentou ao meu lado e me abraçou. Eu me aninhei a ele como uma criança assustada.

- Ela era linda, Lutt. Uma menina linda... Eu a amava tanto, Lutt, mas tanto...
- Ainda ama, Desirée. Mas ela... Cometeu um erro muito grave e isso te abalou profundamente. Você está magoada.
- Lutt! Com 21 anos eu ainda não me achava pronta para ser mãe! Ela tem 16!!
- Por isso mesmo que ela precisa do nosso apoio. Se nós a abandonarmos, ela ficará sozinha.
- Não! Eu não quero saber dessa gravidez, e pra cá ela não volta! – eu levantei do sofá e cruzei os braços, abraçando a mim mesma.
- Desirée. Ela é sua filha... Ela é minha filha... Ela volta. – eu respirei fundo e balancei a cabeça algumas vezes, não acreditando que aquilo estava acontecendo.
- Está bem. – por fim, eu cedi – Mas é por causa da criança. – eu me virei para ele – Escute bem essas palavras... Não irei trocar uma palavra sequer com ela. – e então eu fui chorar no quarto.

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[Narrado por Lutt]

Eu não tirava a razão dela, realmente, quem mais passou tempo com Vittany foi ela. E agora isso... Era como traição, uma apunhalada no peito dela. Eu tomei uma água e saí de casa. Peguei o carro e fui procurar por minha filha. Para minha sorte, ela não havia caminhado muito. Estava cabisbaixa, arrastando-se pelas ruas. Eu parei com o carro do lado e abri a porta, sem dizer nada. Ela me lançou um olhar arrependido e entrou. Dentro do carro, mantinha-se o silêncio. Até que ela tentou se manifestar.

- Pai...
- Sua mãe já lhe disse tudo. – ela abaixou a cabeça novamente e não disse mais nada.

Chegamos em casa e ela seguiu para o quarto. Eu fui para o meu e encontrei Desirée, já de banho tomado e de camisola, deitada na cama. Quem visse diria que ela estava morta, mas eu sabia que ela estava quase nesse estado. Mesmo com o rosto virado para o outro lado, eu sabia que as lágrimas enfeitavam seu rosto de forma deprimente. Tirei o resto de minha roupa e fui tomar banho. Quando voltei, apenas com um short e uma toalha sobre a cabeça, joguei a toalha pro lado e me deitei junto a ela. Ainda não tinha dormido, estava desolada. Eu a abracei por trás, passei a mão por sua cintura e a colei em meu corpo. Ela se aconchegou. Tudo o que ela queria naquele momento era carinho, um abraço, amor... E não tocar mais nesse assunto.


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