Tudo que Vai escrita por Kitty
Notas iniciais do capítulo
Estava indo para o trabalho quando escutei a música "Tudo que vai" do Capital Inicial. A parte "E eu já me acostumei a esquecer" fez simplesmente explodir essa fic em minha cabeça. Não é sempre que tenho essas inspirações repentinas, então escrevi tudo de uma vez, espero que gostem hehehe!
Tudo Que Vai
Capital Inicial
Composição: Dado Villa-Lobos, Alvin L., Tony Platão
Kamenashi caminhava com firmeza, mas sem pressa. Não tinha porque correr e terminar com aquilo rápido. Apesar de doloroso, cada segundo a mais que ele podia prolongar, ele o fazia, já que eram pequenas vitórias dentro do seu coração.
Hoje é o dia
E eu quase posso tocar o silêncio
A casa vazia.
Abriu a porta daquele apartamento localizado em uma área afastada de Tóquio. Apesar de ser quase meio dia, o ambiente estava escurecido. As janelas estavam fechadas. Metade dos móveis já estavam cobertos com lençóis brancos, mas ainda haviam objetos a serem embalados e, por isso, as caixas de papelão estavam espalhadas pelo chão.
- Tadaima... - murmurou, sabendo que não havia ninguém ali para lhe responder "okaeri".
Deu uma boa olhada naquele lugar antes de retirar seus tênis e entrar. E não é que eles realmente compraram esse imóvel?
Apesar de isso ter acontecido há muito tempo, ele sempre se divertia ao pensar nessa pequena conquista que também era uma grande loucura. Tiveram que pedir pedir a um parente distante dele para que fizesse a compra em seu nome, de forma a evitar comentários na imprensa.
Não conseguia acreditar que cinco anos se passaram desde aquele dia em que ele lhe disse de modo alegre:
- Já estou com a chave do apartamento... Vamos dormir lá hoje?
E, desde então, quantas memórias eles não construíram naquele espaço? Era um lugar pequeno. Só tinha um quarto, um banheiro, e um espaço dividido para a sala e a cozinha. Mas, para eles, precisavam de mais alguma coisa? Apesar de pequeno, eles o arrumaram de forma aconchegante. Eles realmente brincaram de casamento por ali. Era algo idiota e que certamente muitos repudiariam, mas eles foram felizes.
Aproximou-se da estante. Ela ainda não estava coberta e ainda guardava muitos objetos. Livros, cds, dvds e, principalmente, fotos. Pegou um retrato. Aquele sorriso, quando foi que ele se apagou? Suspirou.
Se ao menos tivesse percebido no momento certo o quanto, pouco a pouco, ele estava se deprimindo...
Se tivesse feito algo a tempo, mudaria o que estava acontecendo agora?
Só as coisas que você não quis
Me fazem companhia
Eu fico à vontade com a sua ausência
Eu já me acostumei a esquecer
Devolveu a foto para o seu lugar quando aquele filme chamou a sua atenção. Era o dvd preferido dele. Nem ao menos isso ele se dignou a vir buscar. Sabia bem o que isso significava. Um sorriso involuntário.
Tudo que vai
Deixa o gosto, deixa as fotos
Quanto tempo faz
Deixa os dedos, deixa a memória
Eu nem me lembro mais
Essa não era a primeira vez que vinha limpar este apartamento. Em 2006, havia acontecido a mesma coisa. Só que... Naquela época, ele se sentiu totalmente despedaçado. Perdeu o chão, perdeu o rumo.
O que fazer com aquele sentimento de que algo lhe faltava? Sentiu medo, sentiu frio, sentiu a solidão, mesmo tendo tantos amigos valiosos que tentaram o ajudar a aguentar aquele golpe.
Salas e quartos
Somem sem deixar vestígio
Seu rosto em pedaços
Misturado com o que não sobrou
Do que eu sentia
Eu lembro dos filmes que eu nunca vi
Passando sem parar em algum lugar.
Aquela época de sombras e lágrimas. Não queria reviver nunca mais. Aqueles sentimentos horríveis, ninguém deveria viver esse tipo de experiência. Contudo...
Quatro anos depois, estava ali novamente. E de novo para cobrir as memórias daquela época em que se amavam de forma inconsequente, somadas às lembranças que criaram após o seu regresso da América.
O que foi exatamente que você descobriu do outro lado do Oceano? Essa era a pergunta que sempre lhe fazia, mas nunca conseguia uma resposta satisfatória. Isso porque nem o próprio conseguia entender o que havia mudado dentro de si. Mas alguma coisa havia mudado, algo havia se rompido. E não tinha mais volta.
Tudo que vai
Deixa o gosto,deixa as fotos
Quanto tempo faz
Pegou uma caixa de papelão e se sentou ao lado da estante. Começaria com as portas debaixo. Puxou um pequeno baú de madeira que ali estava, mas não tomou o cuidado suficiente e o objeto escorregou de seus dedos, caindo e quebrando momentaneamente o silêncio daquele lugar, esparramando todo o seu conteúdo pelo chão.
A tampa, de vidro, se despedaçou e ele ficou triste. Era um baú bonito, gostava tanto dele...
Deixa os dedos, deixa a memória
Eu nem me lembro mais
Fica o gosto, ficam as fotos
Recolheu as cartas que aquele baú protegia em seu interior. Poucas eram endereçadas a ele, a maioria estava com o destinário Akanishi Jin. Deslizou o dedo naquele nome. Não importava que ele poucas vezes respondia as suas mensagens, o principal era que ele as recebeu e... As guardou.
Isso significava que elas foram importantes... Um dia, ao menos, elas tiveram alguma importância para ele. Abriu uma. Era da época em que ele estava em intercâmbio nos Estados Unidos.
Era uma carta alegre, ainda da fase que Kamenashi tentava se mostrar contente para não prejudicar a Jin... A sua escrita era empolgada, relatava momentos de conquistas para o KAT-TUN, suas conquistas e esperança pessoais, mas era impossível não escrever ao menos uma linha sobre a saudade e o medo que sentia.
Quanto tempo faz
Ficam os dedos, fica a memória
Eu nem me lembro mais
Ah... Isso já era tão distante. No começo, na primeira vez que ouviu sobre essa viagem, ele não quis aceitar. Teve medo e sentiu raiva de Jin. Sentia-se traído, não como amante, mas como um membro do KAT-TUN. No ano do debut... Como perdoar essa atitude?
Isso, porém, já foi há quatro anos... E o tempo que ele passou longe se perdeu no passado. Ele voltou.
Mas voltou diferente.
Quanto tempo, eu já nem sei mais o que é meu
Nem quando, nem onde
Ele ainda sentia falta do Jin de antes, queria ouvir a sua risada escandalosa de hora em hora, como antigamente. Mas... Também aprendeu a amar o homem que ele havia se tornado. Um jovem decidido, determinado, livre... Que fez, faz e fará de tudo para conquistar seus sonhos.
E é por isso que ele compreendeu a decisão dele em deixar o grupo definitivamente. Ele seguiria sua carreira solo e venceria os obstáculos, não tinha dúvidas quanto a isso.
Outra temporada longe um do outro.
Tudo que vai
Deixa o gosto, deixa as fotos
Mais uma época de incerteza, de saudades, de brigas... Porque, se ao mesmo tempo o compreendia, não podia ignorar que seus planos e sonhos foram quebrados por um desejo egoísta do mais velho.
Aquela sombra que o encobriu antes, estaria voltando?
Quanto tempo faz
Deixa os dedos, deixa a memória
Eu nem me lembro mais
Fica o gosto, ficam as fotos
Quanto tempo faz
Ficam os dedos, fica a memória
Eu nem me lembro mais...
Não, definitivamente, não seria como antes. Porque, convivendo todos esses anos com Jin, ele aprendeu a esquecê-lo. Ele realmente se acostumou a esquecê-lo tantas vezes...
Mas não era algo ruim, afinal, isso significava que...
...Ele sempre voltava.
Sorrindo, Kamenashi voltou a guardar os objetos. Precisava deixar tudo organizado, de modo que nada pegue pó e se estrague durante o tempo em que o apartamento ficará abandonado. Assim, quando eles abrirem a porta, juntos outra vez, ainda possam aproveitar tudo o que estava ali novamente. Os filmes, os livros, os cds...
...As memórias.
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